Biscoito Estrelado - Capítulo I

Antes era só o todo, que eram todas as coisas juntas e misturadas, sem uma forma definida como o masculino e feminino, o claro e o escuro, o espírito e a matéria, a semente da vida. Tudo estava junto, sem ordem e definição.

No começo essa energia se recarregou energeticamente e descansou. Depois ela tomou ciência de seu ser e teve necessidade de movimento, de sonhar e de se dividir. Então ela se dividiu em masculino e feminino. A metade masculina tornou-se a parte física e se expandiu pelos planos enquanto a parte feminina ficou com a outra metade sendo o lado espiritual, emocional e intuitivo.

A metade feminina é o sentimento, enquanto a masculina o físico, complementando-se mutuamente um ao outro. A metade masculina se expandiu em forma de luz e fogo, passando pelo processo de esfriamento das estrelas e dos planetas solidificando dessa forma a matéria.

Enquanto essa energia masculina esteve nessa jornada, sua outra metade sentiu muita falta dele e desejou tê-lo de volta. Então ela mesma, depois de consultar o seu Eu Superior, desceu a matéria.

Porém, essa descida não foi igual a de sua outra metade, a masculina,

pois tendo ela ficado com a parte espiritual,

se dividiu em várias almas tendo dessa forma várias experiências de vida e percorreu a descida a matéria em busca de sua outra parte. Ao tomar a forma física, a metade feminina se apaixonou pela metade masculina e depois de cantar o encantamento, se uniu a ele em corpo e alma.

Para criar o universo e manter a união entre o espírito e a matéria, a parte feminina cantou em seu encantamento a música da vida, fazendo tudo vibrar e organizando todas

as coisas por meio dessa vibração colocando tudo em suas freqüências. Ela entoou vários acordes, desde o mais grave, indo em um harpejo de sonoridade mágica ao mais agudo.

Então ela sentou-se no meio da roda e cantou a roda da vida.

Esse encantamento fez com que a parte física girasse em torno da roda em uma dança contínua da vida, criando o tempo. E com o tempo veio a noite e o dia, e as estações do ano. Ele dança, ela canta e tudo se faz cumprir.

Assim que a metade feminina deu início a criação, várias e várias partículas se desprenderam de seu ventre, dando origem a infinitas coisas com as mais diversas formas.

Foram-se criando dessa maneira, os universos com todo tipo de criatura e energia. Um desses universos adquiriu a forma de um biscoito estrelado, e atraindo para si 5 poderosas borboletas, segue percorrendo seu destino carregado em cada extremidade de seu pentáculo por uma delas. E é nesse biscoito estrelado que nossa história começa.

Capítulo I

Uma Chegada Inesperada

No centro do Biscoito estrelado, cercada pela Floresta Gostazônica,

havia uma pequena cidade chamada Bruxópolis.

Bruxópolis era uma linda cidade onde viviam muitas bruxas, claro, como indica o seu nome. Porém, engana-se quem pensar que em uma cidade de bruxas, apenas estas ali habitam. Não, onde há bruxas, certamente haverá também gnomos, duendes, gatos, sapos, morcegos e muitas mais criaturas mágicas. E Bruxópolis era assim. Uma cidade de bruxas, gnomos, duendes, sapos, gatos, morcegos e vários outros seres encantados.

Por possuir uma terra fértil, jardins, hortas e pomares era o que não faltava e árvores frutíferas mantinham sua fantástica produtividade com os mais inocentes encantamentos das bruxonas mais idosas.

Passarinhos anunciavam a chegada de cada dia e o murmúrio dos bichinhos noturnos davam as boas vindas à noite e, devido à sua proximidade da floresta, não era raro ver certos animais andando pela cidadezinha como se fossem os seus donos.

Contudo, apesar da aparente harmonia, não podemos afirmar que Bruxópolis fosse uma cidade pacífica...

Os seus habitantes, em casos de iminente perigo ou ameaça hostil, se juntavam para defendê-la e à honra bruxuleante, a qualquer custo! Afinal de contas, "bruxos unidos, dificilmente são vencidos"!

Mas, sabemos também que bruxos unidos são bastante fedidos! Fedidos no bom sentido, é claro. Fato é que, apesar de toda a ética bruxística, dois chapéus pontudos não se pontuam. Ou... melhor dizendo, um bruxo é pouco, dois é bom mas, três é demais! Melhor ainda, esclarecendo: em sua maioria, bruxos são detentores de personalidade um tanto quanto expressiva demais. E aí, quando um discorda de outro, faíscas que emanam de suas varinhas são facilmente perceptíveis... e haja trabalho dos gnomos para consertar tais utensílios!

Aliás, graças há muitas desavenças desse tipo, os gnomos se mantêm no mercado de reparos, compra e venda, há séculos.

Naquele dia, da chaminé de uma casinha, saía certa fumaça que, progressivamente, adquiria uma cor um tanto agressiva...

O motivo para tal ocorrência era a visita que Debruxa,uma bruxinha carioca recém chegada à cidade, fazia à Pequetita.

- Você de volta?

- Olá Pequetita, como vai?

- Mas... Mas... Eu não te esperava...

O que faz aqui?

O que quer?

- Eu adoro esse tipo de recepção, Pequetita!

Como você é amável...

Inclusive, eu aceito o chá e aqueles maravilhosos biscoitinhos.

- Não tem chá nem biscoitinhos pra você aqui, Debruxa!

- Nossa, Pequetita! Mas...

- Nem mais, nem menos! Pensa que não sei que você veio buscar a Miau?

- Miau? Eu?!

- Sim, ou você é tão relapsa que se esqueceu que a deixou comigo?

- Ah, sim... a Miau!

E como ela está?

- Está ótima. Até agora...

Não sei como ficará quando encontrar com você.

- Que história é esta, Pequetita?

Eu adoro a miau!

- Sim. Mas, você a deu para mim!

E, não pense que não sei que veio buscá-la.

- Buscá-la?

- Não se faça de tonta!

E a fumaça que saía da chaminé, adquiriu um tom avermelhado!

- Volte para onde veio, Debruxa. Você não é bem vinda aqui.

- Ora, Pequetita! Você está me deixando...

- Deixando o quê?!

Ah, sim! Com fome, não é?...

Aqui estão os biscoitinhos que tanto quer!

Nesse momento, a porta se abriu e uma linda bruxinha loira, trajando um vestidinho cor de rosa e chapéu verde, entrou na sala e foi totalmente coberta pelos biscoitos que Pequetita acabava de atirar em Debruxa!

- Uau! Que ótima recepção, Pequetita!

Bem que eu vi, pela fumaça que está saindo da sua chaminé, que algo estava acontecendo por aqui...

É algum festival de biscoitos, ou o quê?

- É o "quê" mesmo, Madrea.

é o que esta bruxa em desenvolvimento está fazendo aqui!

- Madrea! - gritou Debruxa, se jogando nos braços da amiga que, ainda coberta pelos biscoitos, mal pôde se preparar para o abraço e acabou caindo no chão, levando Debruxa junto!

- Debruxa! Quanto tempo! Que coisa boa você aqui!

- Até que enfim, uma recepção digna!

- Digna ou não, Debruxa, não pense que irá levar a Madrea para o seu

lado! A Miau fica aqui e ponto final.

- O único lugar para onde a Debruxa conseguiu me levar por enquanto, Pequetita, foi para o chão!

Deixe-me levantar, Debruxa, por favor.

- Eu não sei do que esta doida está falando, Madrea.

- Você finge que não sabe, Debruxa! Mas, eu sei muito bem quais são as suas intenções com a Miau...

- Miau?

Então, você veio buscar a Miau, Debruxa?

- Buscar quem?

- É isso mesmo Madrea. Esta coisa entrou em minha casa para buscar a Miau!

Depois de sabe-se lá quanto tempo sem ver a bichinha, esta aí se acha no direito de pegá-la de volta!

Pois fique sabendo, Debruxa, que a Miau agora é minha, ouviu bem?

Enquanto você estava lá pelo Mar de Janeiro, se divertindo, pegando aquela praia, tomando sorvete de casquinha, eu fiquei aqui, cuidando da Miau! Eu a alimentei, cuidei de seus machucados, cantei para ela dormir...

Pequetita não conseguiu continuar, pois gotículas de lágrimas começaram a rolar de seus olhinhos cor de mel.

Apesar de seu metro e meio, tinha um temperamento super explosivo! Era a menor bruxinha de Bruxópolis mas, uma das mais bravas! Possuíauma farta cabeleira negra como a noite, que batia em sua cintura e, quando brava, a sacudia; fazendo com que as pessoas ficassem momentaneamente cegas.

E foi exatamente o que fez... Sacudiu a cabeleira para disfarçar as lágrimas, pois odiava ataques sentimentais... especialmente os seus!

- Pare com isto, Pequetita! - disse Madrea, enquanto prendia os cabelos da amiga em um rabo de cavalo.

- Madrea, sua bruxa, largue o meu cabelo!

A fumaça, que estava apenas avermelhada, agora assumia um tom vivo, vermelho sangue.

- Pequetita! - gritou Debruxa.

Acho que sua chaminé está com problemas...

- Se acalme, Pequetita! - Continuou Madrea, agora acariciando o cabelo da amiga.

Tenho certeza de que Debruxa irá entrar em um acordo com você.

- Não tem acordo nenhum, Madrea. - falou Debruxa, com a boca cheia de biscoitos.

- Viu só, Madrea? Ela é ruim! Ela é terrivelmente ruim!

Depois de ter deixado a pobre gata quase órfã, ainda tem a petulância de dizer que não tem acordo.

- Mas, que droga, Pequetita! - Explodiu Debruxa.

Não tem acordo porque eu não vim para pegar a Miau. Você tá doida, é?

- Doida é você, sua louca, amalucada!

- Ai, Pequetita!

Por favor, não dê este seu grito estridente, por favor!

Debruxa, se acalme também!

- Me acalmar? Ela quase me afoga nos biscoitos, Madrea!

E você ainda quer que me acalme?

Fiz uma viagem longa; o vassourito, coitado, quase quebrou no meio do caminho!

Cheguei aqui com fome, cede, morrendo de cansaço e ainda tenho que aturar o temperamento da Pequetita!

- Ei, vamos todas tomar um chá para nos acalmar.

E, dizendo isto, Madrea largou os cabelos de Pequetita e foi preparar um chá de camumila para todas.

- Debruxa... Então, é verdade?

- Sim. É verdade que estou morrendo de fome, cede e cansaço, Pequetita.

- Eu me referia à Miau, Debruxa.

- A sim, como está ela?

- Eu só digo se você disser a verdade.

- Ora, que coisa, Pequetita!

Você acha que eu seria terrivelmente má a ponto de, depois de sei lá quanto tempo, pegar a Miau e, simplesmente, tirá-la de você?

- Jura que não irá tirá-la de mim?

- Não para muito longe.

- Como assim?

- Estou voltando para Bruxópolis. Irei morar aqui perto e você...

- Não! - gritou Pequetita. E a casa deu uma sacudida; fazendo com que Debruxa se engasgasse com os biscoitos que estava catando no chão e as xícaras tilintassem em cima da bandeja que Madrea estava trazendo!

- Então, é isto, sua bruxa má e terrível!

Você veio morar em Bruxópolis e irá levar a Miau para morar com você?

- Mas, Pequetita, a gata é minha!

- É sua uma ova de Salmão estragado!

- Que nojo, Pequetita! - resmungou Madrea, que estava trocando as xícaras entornadas por outras limpas.

- Ela é minha, ouviu bem?!

Minha, minha, minha!

- Se você der mais um desses seus gritos pavorosos, Pequetita, eu irei lançar aquele feitiço do pum e você ficará roxa como a fumaça que está saindo da chaminé, agora!

Ou, melhor! Eu irei fazer com que a fumaça exale aquela fragrância de pum pela cidade toda e sabe o que isto significa, não é?

Todos os habitantes de Bruxópolis irão pensar que você é a maior peidorreira de todo o Biscoito Estrelado!

Ameaçava Debruxa, enquanto Madréa colocava a bandeja sobre a mesinha a resmungar:

- Éca, como vocês duas são nojentas!

- O feitiço do pum não, Debruxa! Por favor! - pediu Pequetita, mais calma.

Se Pequetita era explosiva... Debruxa era inconsequente! Madréa estava temendo que não se contivessem. Servindo o chá, tentou contemporizar:

- Debruxa, se vai morar aqui perto, por que não deixa Miau morando com a Pequetita? Ela se apegou muito àquela gata vermelha.

- E Miau também se apegou a mim, Madrea.

- Então, a questão é esta?

- Mas, é claro!

A questão é só esta: nem Você, nem ninguém, irá tomar o que é meu.

- Seu, nada, Pequetita. Vamos ser corretas.

Tudo bem que Debruxa deixou a Miau para que você tomasse conta dela mas, daí a ser sua...

Não, Pequetita. Miau é da Debruxa.

Mesmo morando com você, a gata pertence a Debruxa.

- Pertence. Mas, mora aqui, comigo.

Ninguém melhor do que eu para cuidar dela!

- Ok, Pequetita. Então, temos a solução. - Disse Debruxa, levantando-se do chão e limpando a roupa, que estava cheia de biscoitos e farelos.

- Eu irei morar aqui perto; Miau ficará morando com você, mas...

- Mas? - disseram Pequetita e Madrea, em coro.

- Mas, ela continua sendo minha.

- É razoável, Pequetita, que acha? - perguntou Madrea.

Pequetita deu uma golada no chá; desprendeu o rabo de cavalo, soltando suas longas madeixas e atirando-as para o lado; crusou as pernas; empinou o nariz e disse:

- Tá bom. Eu aceito.

Mas, nunca se esqueça de que a Miau continuará morando aqui, Debruxa!

- Certo.

e você, nunca se esqueça de que a Miau é minha, Pequetita!

- Não me esquecerei. E temos a Madrea como testemunha desse acordo.

Mas... Debruxa, o que lhe trouxe até Bruxópolis?

- Ah, sim! O que, exatamente, você veio fazer aqui, Debruxa?

E... que história é esta de morar aqui?

- Ainda não sei, amigas.

- Como: "ainda não sei"? - perguntou Pequetita.

- É meio estranho mesmo... Há uma semana, recebi uma pétala de rosa diretamente de Merlin!

vocês acreditam?

- De Merlin? - surpresas, exclamaram Pequetita e Madrea.

- É estranho, não é?

- Estranhíssimo! - disse Pequetita, levantando-se e, dirigindo-se à cozinha, concluiu:

Vou fazer mais biscoitinhos, pois essa conversa, pelo que estou sentindo, vai ser longa!

- Bom, deixe-me então dar os presentinhos que trouxe do Mar de Janeiro para vocês.

- Presentes?

Que maravilha! Eu adoro presentes!

- Só você, Pequetita?!

Eu também amo receber presentes!

Ainda mais do Mar de Janeiro!

- Então, Pequetita, para agradecer a sua tão calorosa recepção...

- Ora Debruxa, isso já passou.

- Sim, estou brincando.

mas, antes, venha aqui e me dê aquele abraço que, até agora, não recebi de você!

Pequetita, que era tão intensamente afetiva quanto explosiva, levantou-se e, desta vez, sem tentar esconder as lágrimas,, abraçou a amiga, dizendo:

- Ah, amiga! Como eu estava com saudades de você!

Na verdade, acho que nem me importaria tanto em deixar a Miau ir morar com você... desde que, é claro, você morasse aqui perto!

Acho que eu estava com raiva mesmo é de nunca ter recebido nenhuma pétala de rosa de sua parte...

Até que a Interlex via bola de cristal fosse desenvolvida em Biscoito estrelado, as bruxas e a maioria dos seres encantados, se comunicavam escrevendo em pétalas de rosas e folhas de árvores. Muitas bruxinhas ainda preferiam este tipo de correspondência, por conta do seu toque romântico.

- Óh, Pequetita! Me desculpe mas, é que eu não estava no Mar de Janeiro só curtindo praia e tomando sorvete de casquinha. Pelo menos, não o tempo todo...

Estava também fazendo aquele curso de Tarot, você sabe disto.

Tudo bem que, às vezes... pelo menos umas 3 por dia, eu ia até a praia e tomava um sorvetinho mas, o material de estudos ia junto. Tenha certeza!

Pequetita, ainda com o rosto molhado de lágrimas, pegou o pacote que Debruxa lhe dera e o abriu com todo cuidado.

Mal pôde se expressar direito, tamanha foi a sua surpresa! Dentro do pacote, havia uma linda coruja de madeira!

Pequetita, assim como Debruxa, adorava as corujas e as duas viviam competindo para ver quem faria a maior coleção de corujas de todo o Biscoito Estrelado.

- Mas... é linda, Debruxa!

Poxa, muito obrigada!

- Não é apenas uma coruja, Pequetita.

- Não?

- Não.

Esta coruja, na verdade, é um sinalizador.

- Um sinalizador? - inquiriu Madréa que, até então, estava quieta, sem conter o espanto!

- Sim. E trouxe um para você também, Madrea.

- Um sinalizador para mim?

- Sim. Abra-o.

Madrea pegou o outro pacote e o abriu com o mesmo cuidado que Pequetita havia aberto o seu.

- Mas, pelas barbas de Merlin, Debruxa!

O presente de Madrea era uma linda concha do mar!

- Mas... mas... ela é maravilhosa, Debruxa!

E, da cor que eu mais gosto!

Veja, Pequetita, parece que tem todos os tons de abóbora!

- Não só os tons de abóbora, Madréa...

Todos os matizes do arco-íris se refletem nela!

É que, como você gosta muito de cor de abóbora, a vê deste jeito.

- É verdade! - exclamou Pequetita.

Eu mesma posso ver o violeta e o roxo com todos os seus tons e sub tons!

- Sim! E eu, como adoro a cor verde, são os seus matizes que enxergo na concha da Madréa!

- Mas, Debruxa, para que um sinalizador?

- E, como saberemos utilizá-lo?

- Pois é, meninas...

Nessa pétala de rosa que recebi do Merlin, havia instruções para que eu procurasse, nas praias do Mar de Janeiro, uma concha que tivesse todas as cores do arco-íris. Bem como, me fez ir às florestas para buscar algo parecido com uma coruja.

Ainda mais me escreveu...

Quando encontrasse tais objetos, deveria presentear as minhas duas melhores amigas com eles.

- Poxa, somos mesmo as suas melhores amigas?! - disse Madrea, também emocionada com tal declaração.

- Mas, isto não é "algo parecido com uma coruja", Debruxa! É uma coruja de madeira mesmo! - protestou Pequetita.

- Sim, Pequetita. Foi o que encontrei.

- Está nos dizendo que encontrou esta coruja numa floresta?

- Exatamente. Eu estava procurando no meio do mato; ora andando, ora voando no vassourito; quando fiquei cansada e resolvi descansar.

Me sentei debaixo de uma árvore e, quando apoiei minha mão no chão, senti um volume sob ela...

Aí, peguei-o e, tirando a terra... Lá estava a sua coruja!

- Que maravilha! - Exclamou Pequetita.

É um presente que veio diretamente da Floresta!

- E, pelo que sei, quando esses sinalizadores vêm diretamente da natureza, são mais eficazes!

- É isto mesmo, Madrea.

- Bem... mas, para que iremos precisar de um sinalizador?

Você também tem um?

- O meu sinalizador é... Bem, é algo muito simples.

- Diga logo, Debruxa! - pediu Pequetita, já ficando impaciente.

- Bem... o meu sinalizador é uma pedra.

- Uma pedra? - perguntaram, chocadas, as duas outras bruxas.

- Sim.

Agora... para quê, eu não sei.

Aliás, também não sei como vocês poderão utilizar os seus sinalizadores...

- Ora, mas que coisa mais sem graça! - indignou-se Madrea.

Ganhamos os presentes e não sabemos como usá-los!

- Mas, saberão.

Nessa pétala de rosa que recebi, Merlin dizia que o Beringelo...

- Ahahahahahahaah!

Beringelo?

ahahahahahaha!

Que raio de Beringelo é esse, Debruxa? - rolando de rir, perguntaram as bruxinhas.

- Como vocês são ingratas, não?!

Então, eu lhes trago presentes e as duas, simplesmente, riem da minha cara?!

Muito bom... muito legal! - Espera um pouco, Debruxa! - pediu Pequetita, ainda rindo. Deixe-me tirar os biscoitinhos do forno...

Essa história de Beringelo parece ser divertidíssima!

- É. Vai rindo, vai rindo...

Saibam vocês que será o Beringelo a nos dizer como utilizar os sinalizadores, tá?

- Mas, quem é Beringelo, Debruxa? - perguntou Madrea, tentando parar de rir.

- Beringelo é o rei das berinjelas, ora bolas!

- Você está nos dizendo que, uma berinjela...

- Uma beringela não! - corrigiu Debruxa, rispidamente.

"o Beringelo"! Respeito com a masculinidade dele!

- Ahahahaah!

Então, temos uma berinjela macho que, pelo jeito, ameaça destruir o coração de nossa amiga Debruxa, Madrea!

- Ahahahaah só você mesma, Debruxa! Ahahahaha!

- Bem, se vocês vão continuar assim, eu vou para a minha casinha, que está me esperando.

Preciso mesmo desarrumar minhas malas e....

- Vai porcaria nenhuma! - gritou Madrea que, até então, falara baixo.

Você vai é ficar aí sentadinha, saboreando os maravilhosos biscoitinhos da nossa amiga Pequetita e nos contar quem é Beringelo!

Prometemos, não é, Pequetita, que não iremos rir mais.

- Ah, sim! Prometemos. - respondeu Pequetita, cruzando e beijando os dedinhos, em sinal de pacto.

- Assim é melhor. - continuou Debruxa.

Bem... Beringelo, como já disse, é o rei das berinjelas, claro!

- Tch, tch, tch...

- Ah, assim não dá!

Tá vendo, Madrea?!

Ela fez o juramento e está rindo!

- Se comporte, Pequetita.

Debruxa vai nos contar. Mas, se você rir, ela para.

Será que não percebe?

- É que... é que...

- É que o quê, Pequetita? Não consegue nem manter um juramento?

Francamente, hein?!

Protestava Madrea, que era muito severa nestas questões de juramento, fossem quais fossem.

- Tá bom! Mas, não precisa fazer esta cara de má, não é, Madrea?!

- Posso continuar agora?

- Claro, Debruxa!

E, se a Pequetita interromper, eu lanço todos aqueles biscoitos que ela me jogou quando cheguei aqui, em cima dela.

- Aqueles biscoitos, querida Madrea, estão muito bem guardadinhos dentro da barriga da Debruxa.

- E você pensa que não sei disto?

É exatamente o que irei fazer.

Eles irão sair da barriga dela e se dirigir diretamente para a sua linda cabeça, ok?!

- Éca, Madrea!

Você sim, é uma nojenta do mais alto grau! - reclamou Debruxa, fazendo cara de nojo.

- Também tenho múltiplas facetas, lindinha!

Agora, continue, por favor.

- Como eu ia dizendo, o Beringelo, rei das berinjelas, nos dirá como deveremos usar os sinalizadores.

Merlin, em sua pétala de rosa, dizia que eu deveria procurar o Beringelo

e conversar com ele sobre os sinalizadores.

- E você, já conversou com ele? - perguntou Pequetita, trazendo os biscoitinhos recém tirados do forno.

- Aí é que está...

Ainda não.

- Mas, como não, Debruxa? - se impacientou Madrea.

- É que antes de falar com ele, preciso encontrá-lo disposto a conversar.

- E onde irá encontrar esse tão famoso Beringelo?

- Aqui, Pequetita.

- Aqui na minha casa?!

- Não, lindinha; aqui em Bruxópolis.

- Ah, então está explicado porque você voltou!

- Mas, não é só por isto, Madrea.

- Não?

E o que mais?

- Na segunda pétala de rosa, Merlin me contou sobre coisas estranhas que estão acontecendo em alguns lugares de Biscoito Estrelado e pediu para que eu, juntamente com duas amigas, tentássemos remediá-las, o mais rápido possível!

Do contrário, o Biscoito Estrelado sofrerá conseqüências terríveis!

- Não sei porque mas... algo está me dizendo que essas duas amigas somos precisamente eu e Pequetita, certo?

- Certíssima! Afinal de contas, amigos são para essas coisas, não é?

- E que conseqüências terríveis são estas que o Biscoito Estrelado poderá sofrer, Debruxa?

- Poderá se despedaçar todo e ser até comido pelas borboletas!

- Isto é pavoroso! - exclamou Madréa.

- É nojento! - gritou Pequetita.

- Precisamos fazer algo, Debruxa.

- Sim, Madrea. Mas, antes, temos que falar com o Beringelo.

- E você ao menos tem noção de onde ele possa estar plantado? Ele está plantado em algum lugar, não é?

- Claro, Pequetita! Berinjelas ficam plantadas mesmo.

E, respondendo à sua outra pergunta: sim, eu sei onde ele está!

- Sabe? Onde?

- Em minha casa.

- Ora, Debruxa! E por que não falou com ele ainda? - perguntou Madrea, nada satisfeita com tantas voltas para falar com o que, ela julgava, seria uma simples berinjela.

- Porque ele estava dormindo.

- ? E berinjela dorme, é?

! Pois essa é nova pra mim! - gracejou Pequetita, soltando até uma exclamação típica da sua terra natal, a Bainha.

- Olha... devo confessar que estou, no mínimo, estupefata com tudo isto!

- O que quer dizer com isto, Madrea?

Você não irá me ajudar?

- Não é exatamente isto, Debruxa.

Claro que irei lhe ajudar!

É só que este dia está sendo muito cheio de surpresas.

- Eu também estou nesta, Debruxa!

Irei ajudar no que for possível para salvar Biscoito Estrelado.

aGORA, SÓ TEMOS QUE ESPERAR ESSE TAL DE Beringelo , REI DAS BERINJELAS, ACORDAR..

Se quiser, posso ir até à sua nova casinha e gritar no ouvido dele!

- E berinjela tem ouvido? - inquiriu Madréa.

- Ora, Madrea! - respondeu Pequetita.

Se dorme, deve ter ouvido, olho, nariz e outras peculiaridades de uma berinjela macho!

- A, sim... deve ter! - falou Debruxa, com um ar sonhador.

- Bem, eu só espero que ele não seja muito dorminhoco. - disse Madrea, mordendo um biscoitinho.

- Dorminhoco, eu não sei se é mas, que ronca um bocado... isto ronca!

Assim que terminaram de lanchar, Madréa foi para a cozinha ajudar Pequetita a guardar a louça, enquanto Debruxa ficava tirando uma sesta no sofá. Mal havia terminado de se esticar para em seguida relaxar, viu de relance um vulto vermelho saltando pela janela e mal pôde

assimilar que este se dirigia velozmente em sua direção.

- aah! Socorro! - Gritou.

Pequetita e Madréa que mal haviam começado a arrumar a cozinha, vieram correndo em auxílio da amiga.

- Debruxa! - Gritou Pequetita.

- O que houve? Você está bem? - Perguntou Madréa, mas interrompeu o interrogatório quando percebeu do que se tratava.

Em cima de Debruxa, estava uma grande e lustrosa gata vermelha.

- Miau! - Reconheceu Debruxa. - Minha linda! Minha fofura! Minha gata amada! Mas assim você quase mata a sua mãe aqui, filhota!

Miau era uma linda gata vermelha de olhos bem verdes. O que chamava atenção nela, era seu tamanho. Era enorme, da altura de um gato do mato. Era super freqüente ser confundida com um leão, devido sua cor e seu tamanho.

E nem era preciso prestar muita atenção, para perceber a semelhança desta com sua Dona. Debruxa tinha seus 1 Metro e 69

de altura, longos cabelos ruivos e olhos expressivamente verdes.

- Nós deveríamos ter previsto este tipo de situação. - Falou Madréa, se dirigindo a Pequetita que começava a demonstrar um

certo ciúmes diante de tal acontecimento. Mas o ciúme se desfez, assim que miau, após ter deixado Debruxa totalmente cheia de lambidas, se dirigiu para Pequetita e se jogou em seus pés, virando a barriga para ser coçada.

- Boa gata! Já fez seu passeio diurno, não?

e FALANDO COM DOÇURA E CARINHO, Pequetita se abaixou para acariciar a barriga da bichana. Não que fosse preciso, dado sua altura,

mas para Pequetita, era uma questão de honra se abaixar para lidar com os bichos.

- Mas ela está enorme Pequetita. Andou dando fermento para a bichinha?

- Claro que não! - Respondeu Pequetita com aquele peculiar tom de impaciência. - A comida da titia aqui que é boa de

mais, - e se voltando para a gata continuou: - Não é princesa da titia?

- Quando perguntei sobre o fermento, não quis dizer exatamente que você havia dado fermento para ELA, Pequetita. é SÓ UMA EXPRESSÃO. É só uma maneira de se dizer, sacou?

- Claro. E quando respondi que claro que não, também é só uma forma de se responder a tal expressão, certo?

- Certo. - Respondeu Debruxa, não querendo aborrecer Pequetita, pois conforme ela mesma estava vendo, a amiga cuidara muito bem de sua gata.

***