O Preço de uma Estrela (Capítulos 8, 9 e 10)

CAPÍTULO 8: CONHECENDO UM FAMOSO

Eu conversei com a atendente da pousada e ela falou para eu falar com a dona. Assim, implorando, pedindo uma carta para o dono da lanchonete, confirmando o meu emprego e sendo meiga com ar de responsável, a senhora Doroteia me deixou ficar na pousada, pagando mensalmente R$600,00. Como eu ganhava R$ 630,00, mas com as gorjetas uns R$ 655,00, sobrava pouco para eu comer bem, por isso eu só me presenteava com uma boa refeição (PF por exemplo) nos domingos do mês, no resto dos dias eram bolachas, salgadinhos, pão, entre outras coisas mínimas que me sustentavam, além de água, claro!

Contar para minha mãe que eu ia ficar no Rio por algum tempo era difícil, então eu inventei uma história.

- Mãe, eu consegui entrar em uma peça de teatro. A história é muito legal. É uma adaptação da Valsa Nº6 do Nelson Rodrigues.

- Mas como você vai sobreviver ai, filha? Abre uma conta em um banco para...

- Não mãe, não se preocupe! Eu estou em uma pousada. Consegui um emprego de garçonete perto da pousada e a companhia de teatro também vai me pagar para atuar na peça. Está tudo dando certo, mãe, não se preocupe.

Menti, bem feio ainda. Não gosto dessas coisas. Não gosto de mentir para minha mãe, mas ela não entenderia se eu dissesse a verdade. Se eu dissesse que vou ficar no Rio arrumando um jeito de ser reconhecida como atriz. Não liguei para o meu irmão, deixei para minha mãe dar a notícia para ele, pois eu sei que ele iria fazer um monte de perguntas e iria me pegar na mentira.

Bom, chega de chorar, ou de ficar triste com saudades de casa e com as dificuldades daqui. Eu preciso trabalhar na lanchonete e nos meus dias de folga, procurar no Rio de Janeiro inteiro, algum curso ou teste para o teatro, a tv ou o cinema, e pensar em tirar o meu DRT.

- Então agora você foi contratada, depois de duas semanas vendo como é sofrido?

- É Joana.

- Pensei que você fosse sair como as outras.

- Quando a necessidade é muita, qualquer emprego serve.

- Mesmo se for para ficar depois do horário, para lavar os banheiros?

- Eu precisei fazer isso ontem, não foi? E não morri.

Joana falou mal do emprego e fez de tudo para eu sair na primeira semana, pois ela é filha do dono e quando tem outra garçonete, seu salário é reduzido, ou seja, quando era somente ela trabalhando, ela fazia o papel da atendente e da garçonete, ganhando R$1260,00, mas não dava conta de tudo. Agora com uma garçonete, no caso eu, ela ganha R$630,00, pois só trabalha como atendente do balcão, fazendo o seu trabalho corretamente.

- Cliente chegando.

- Vou lá.

Chegando perto do cliente, eu não tive reação para perguntar algo. Ele tinha acabado de entrar, nem se sentou em uma das mesas vazias perto de si, parecia procurar algo com aqueles lindos olhos azuis que sempre vi na televisão. Era impossível de acreditar, devia ser um sonho, mas não era, percebi pela dor que senti depois de bater a minha cintura em uma cadeira, pois estava tão hipnotizada em vê-lo, que nada em minha volta importava. Marcos Sandret, o ator mais lindo que eu vi pessoalmente. Na verdade, ele é o único que eu vejo pessoalmente, certeza que existem pessoas mais bonitas que ele, mas neste momento ele é minha gravidade.

- Com licença, preciso de sua ajuda.

Balancei a cabeça positivamente. A voz dele é mais grossa ouvida assim, pessoalmente. E ele não tem sotaque de carioca. Que lindo! É tão emocionante você conhecer o seu ídolo. Tudo bem que ele não é meu ídolo mesmo, mas só de conhecer alguém famoso como ele, eu já me derreto toda.

- Primeiro, eu preciso saber como que eu faço para ir nesta rua aqui.

Ele me deu um papel com o nome de uma rua. Fiquei toda boba quando sua mão tocou a minha, para entregar o papel. Fiquei ainda olhando para ele, enquanto ele falava.

- Meu motorista é novo na cidade e eu acabei me distraindo, não guiando-o corretamente, daí ele se perdeu.

Não respondia nada, apenas ficava olhando para ele. Até que uma cutucada no meu ombro me despertou. Olhei para trás e vi Joana perto de nós dois, com um sorriso enorme no rosto.

- Algum problema, senhor?

Marcos olhou para Joana e respirou como se estivesse agradecido por ela ter chego. Tirou o papel da minha mão e deu para ela.

- Você conhece este endereço, preciso chegar rapidamente lá. E eu posso usar o banheiro?

- Claro. É aquela porta ali. Enquanto o senhor vai ao banheiro, eu vou falar com o seu motorista. Explicar como se chegar neste lugar.

- Obrigado!

Enquanto os dois conversavam, eu ficava olhando para o Marcos. Assim que ele passou entre nós duas e foi em direção ao banheiro, Joana chamou a minha atenção.

- Acorda do sonho, garçonete.

- Hã?

- Se quiser, eu te dou um babador de presente.

- Eu não estou babando.

- Liani, estamos no Rio de Janeiro. Tem que te acostumar a esbarrar com gente famosa e não ficar toda boba assim. É difícil aparecer aqui no bairro, mas quando acontece, não ficamos boba como tu. Ele só é um ator e detesta tietes assim, desse jeito.

Joana olhou para mim dos pés a cabeça.

- Se controle! Chega de pagar mico, né?

Talvez ela estivesse certa, pois ele tirou o papel da minha mão com uma grosseria e pareceu aliviado depois que a Joana chegou perto da gente.

Joana saiu de perto de mim e foi até a janela de um carro, do qual o Marcos Sandret saiu, para informar o motorista.

Fiquei encostada no balcão, quando o Marcos saiu do banheiro. Olhei para ele, ele deu um passo em minha direção, dei um sorriso grande, então ele me deu sorrisinho, forçado, deu dois passos para trás e seguiu diretamente para a porta da lanchonete, para sair desta.

Fechei o meu sorriso e fiquei triste. Ele nem falou nada comigo. Nem perguntou meu nome. Nem me deu oportunidade de tirar um foto. Nem me deu oportunidade de pedir um autógrafo. Ele deve mesmo não gostar de pessoas como eu. Devo tê-lo assustado.

- E aí, tiete? Conseguiu algo com o bonitão?

- Não, ele nem me deu a mínima.

- Também. Você o assustou, coitado!

Sabia que Joana estava certa, então nem me dei o trabalho de pensar em algo para lhe responder.

CAPÍTULO 9: UMA LUZ!

Dois meses se passaram, desde que me encontrei com Marcos Sandret. Nada mudou, tudo continua a mesma. Decidi até procurar outro emprego e uma outra moradia, mas não encontrei. O emprego, pois não possuo experiência com nada. A moradia, pois ou são muito mais caras do que pago, ou precisam de fiador/calção, ou ainda estão lotadas.

- O que você tem, garota?

- Nada!

- Nada? Então porque essa cara de tristeza?

Tudo bem que Joana é a única pessoa com quem eu mais converso aqui no Rio, já era até para eu considerá-la como amiga, mas não consigo me abrir com ela, tenho a insegurança de que ela vai rir de mim, fazer piada sobre os meus planos de ser atriz, que até agora não deram certo.

- Não é nada Joana.

- Ah, conta ai. Estamos sem movimento mesmo.

- Como sempre, né?

- É!

Joana sorriu, mas depois começou a falar de um jeito descontraído.

- Ah, conta aí! É como se fossemos irmãs. Conta seus segredos e eu conto os meus.

Até parece! Ser irmã dela? Na idade talvez, ela tem a mesma idade do meu irmão, 24 anos, mas não parece nem um pouco com ele.

- Não vai contar, ent...

- Aqui Joana! Coloca esse jornal aí embaixo, que depois eu vou ler.

- Tudo bem, pai!

O dono da lanchonete apareceu com o jornal da cidade e uma foto me chamou a atenção. Na foto estava uma mulher loira abraçada com um ator famoso. Em cima da foto estava escrito: UM NOVO TALENTO NA NOVELA DAS SEIS.

Eu conheço tudo no mundo dos famosos. Ou melhor, eu fico mexendo na internet quando tenho tempo, pesquisando sobre a vida de todos os famosos. Bom, aquele ator eu conheço, então o novo talento deve ser a mulher loira. Quem será que ela é? Posso pesquisar como ela conseguiu chegar na novela e talvez seguir os passos dela. Isso!

Assim que o dono da lanchonete saiu de perto de mim e da Joana, eu pedi o jornal para ela.

- Ah, mas você está em horário de trabalho, queridinha.

- Fala sério, Joana! Está vazio este lugar e assim que eu ver algum cliente chegando, eu o atendo rapidamente.

- Papai não vai gostar.

Fiquei com uma raiva. Tudo bem que ela é filha do chefe e é mais velha do que eu, mas resolvi dar o troco nesta abusada.

- Ele também não vai gostar de saber que você ficar pintando as unhas na cozinha, onde estão as comidas dos clientes.

Joana arregalou os olhos para mim e ficou vermelha de raiva.

- Você não seria capaz.

- Se você não me deixar olhar o jornal, poderá ver se eu sou ou não capaz de fazer isso.

Ela pensou e depois me entregou o jornal com a cara amarrada.

Nossa! Nunca pensei que fosse capaz disso. Sempre abaixei a cabeça para todo mundo. Talvez eu tenha voz ativa. Afinal, é somente um jornal.

"Jovem atriz está arrasando na novela Gotas de Amor, exibida as seis da tarde na red...."

Fiquei lendo a matéria na mesinha dos fundos da lanchonete. Somente um cliente apareceu enquanto eu lia, mas o atendi rapidamente e voltei para o jornal para terminar de ler a notícia.

"Fernanda Goy. É o primeiro trabalho que faz de atuação na vida e já está cotada para ser indicada como revelação nos prêmios de melhores do ano das revistas".

Estava deitada em minha cama na pousada e desde que eu li a matéria não conseguia tirá-la da minha cabeça.

- Que droga! Tem pessoas que nascem para tudo na vida. Essa mulher acabou de decidir que queria ser atriz e já conseguiu um papel de destaque na novela, além de estar namorando o lindo Rafael Histan há três meses. E eu que sempre quis SER ATRIZ NÃO CONSIGO NAD...

- Hey!

Olhei para o lado e uma garota americana, que estava dormindo na cama de cima, me olhava com um pouco de raiva e me fazia gestos para ficar quieta. Dei um sorrisinho sem graça, com muita vergonha, e um "sorry!" para ela, virando-me para a parede e somente pensando em quanto eu sou azarada.

A novela começou há dois meses, pelo que informava o jornal, e a garot....Espera aí! Uma luz me surgiu agora! E se eu conseguir namorar um cara famoso? Quer dizer, a tal de Fernanda já namorava o Rafael antes de conseguir o papel, não é? Não estou afirmando que ela fez isso, também não sou ninguém para afirmar nada sobre ela, mas eu sei muito bem, ou melhor, suspeito muito bem, que a maioria dos namoros ou amizades eternas dos famosos são puro marketing, ou seja, para conseguir status perante o público. Pensando assim, eu posso me aproximar de algum famoso, virar amiga ou quem sabe até namorada dele e fazer contatos para conseguir um papel, mesmo não tendo DRT.

Como meu irmão falou, neste mundo artístico tem que ter talento sim, mas também tem que ter QI - Quem Indica. Assim, se eu arrumar um amigo, ou um namorado, famoso, eu já tenho meu QI. Mas será que vai ser fácil?

Caderno de planos:

4. Arrumar um amigo/namorado famoso.

5. ....

Hum, não, eu não posso começar com isso, eu preciso antes conhecer alguém famoso.

Marcos!

Mas ele nem me deu bola aquele dia, dificilmente vai querer ser meu amigo. Já sei!

4. Frequentar lugares que os famosos frequentam, como bares, baladas, praias, etc.

5. Arrumar um amigo/namorado famoso.

6. Conversar com vários famosos para fazer contatos.

7. Conseguir um papel em alguma novela, peça ou filme.

8. .....

Bom, o oito eu ainda não sei, na verdade eu nem sei se vou conseguir o sete, ou o cinco, ou o.....Ah!

Pareceu fácil no começo, mas não é nem um pouco. Bom, mesmo assim eu irei tentar, só preciso lembrar do que o meu irmão disse: "Pare de superestimar as coisas, para não sofrer muito depois". Nesse caso, preciso concordar com ele.

Pelo menos agora eu tenho mais um objetivo aqui nesta cidade: me infiltrar no meio dos famosos.

CAPÍTULO 10: AVISO

- Oi Joana!

- Parece mais contente hoje. É a folga de amanhã, ou arrumou alguém?

- Os dois, ou somente o primeiro, e o segundo quem sabe.

- Aaaaaaah! Me conta tudo!

Ai! Quando ela vai aprender que eu não vou contar nada para ela.

- Agora não. Mas você pode me contar uma coisa: quais são os lugares mais badalados do Rio? Tipo, onde gente importante frequenta, entende?

Joana caiu na gargalhada, me zombando.

- O quê? Você quer saber os lugares que as pessoas importantes, tipo os famosos atores da televisão, ou do cinema, frequentam?

- Pode ser esses lugares. Por que você está rindo?

- Simplesmente, porque é impossível Liani. Com o dinheiro que ganhamos aqui, e eu sei que você precisa pagar aluguel, mal sobrando dinheiro para comer, você ainda acha que irá poder frequentar os lugares que os famosos frequentam?

Joana era bem realista, fiz uma burrice perguntando essas coisas para ela. Tudo bem que eu não como muito bem mesmo, desde que vim para cá devo ter perdido uns oito quilos, pois não sobra muito dinheiro para mim, mas eu não perguntei a opinião dela. Não quero saber se será muito caro ou não, quero saber os nomes dos lugares e não quanto custam.

- Bom, se você não quer me dizer, vou perguntar para um cliente, ou para o seu pai.

- Papai vai te achar louca.

- E?

Joana me deu um sorriso amarelo e depois respondeu o que eu queria seriamente.

- Ok! Eles frequentam alguns lugares, não são muitos. Sempre tem uns lugares preferidos.

Enquanto falava, ela pegou um guardanapo e uma caneta e começou a rabiscar algumas informações.

- Toma! Aqui estão as três baladas mais frequentadas, depois os três restaurantes e por último o nome de algumas praias. Das prais você deve saber, pois são as mais faladas nas redes de comunicação.

- Certo. Obrigada!

- Tinha certeza que era isso que você queria.

- O quê?

- Você quer entrar no mundo artístico, não quer? Ser famosa?

Estava tão na cara assim? Com certeza. A história que eu contei para o dono da loja, sobre vir para cá para estudar, não me dava mais crédito acho que fazia muito tempo. Ou talvez, nunca me deu crédito.

- Não interessa. São assuntos meus.

- Tudo bem! Mas saiba que quando eu era mais nova, meu pai tentou tudo comigo. Book. Videobook. Amigos. Nada deu certo. Sem contar que é um mundo concorrido. Você precisa ser a melhor das melhores. As vezes até contar mentiras. Ouvia tantas coisas nas agências. Fofocas. Manipulações. Rsrsrs. Mas é passado. Com você poder ser diferente, ou não. Somente tome cuidado.

Fiquei arrepiada com o que ela me disse. Meio fria, meio séria, meio estranha. Bom, talvez comigo seja diferente, como ela disse, e eu sei que será diferente.