O mundo dos sonhos.
Um homem muito solitário vivia tristemente sozinho, numa casa antiga cujas raízes remontam a um passado histórico de uma família de cinco gerações, mas agora era habitada por uma pessoa só. Pelo que a casa lembrava, havia nela muitas vidas dos que se foram para contar e somar às inúmeras velharias que davam um aspecto sombrio à casa. O nome desse homem era José.
José começou a ter problemas no trabalho, quando ouviu falar que todos os seres humanos eram capazes de se comunicar com os espíritos e, então, teve um sonho, quase acordado. Tinha dificuldades para dormir e, por isso, passou a dormir acordado e, consequentemente, a sonhar acordado. Sonhou com um anjo. Ele veio até ele, enquanto ele dormia, e falou de outro mundo: um mundo que dormia e pediu a permissão dele para abrir o portal para esse mundo na mente dele, e ele consentiu.
José sofreu uma crise no trabalho e foi posto de licença. Assim, passou a ter mais momentos solitário ainda, até que, certo dia, resolveu verificar o que se passava em seu inconsciente, pois sonhava muito acordado, e viu o portal. Atravessou o portal e caiu num mundo diferente, em que o Céu era habitado por anjos. Caiu exatamente numa nuvem e foi aparado por um chão macio. Logo em seguida à sua queda, foi recebido por um anjo em forma de mulher e por Jesus. Este disse-lhe que José morreria e ressuscitaria ao terceiro dia. Logo em seguida, José, que parecia ser constituído de uma fluido traspassável para o anjo, cuja mão não conseguiu segurar para se reerguer, e para o chão, que atravessou e caiu. Morreu durante a queda e seu corpo inerte atingiu o chão.
José ressuscitou ao terceiro dia e estava pronto para uma nova aventura. Não sabia onde estava, mas intuía que sonhava. Acordou num bosque de uma relva bem verdinha e com árvores esparsadas, mas que terminava numa floresta. Estava vestido de uma túnica branca e tinha flores jogadas sobre ele. O céu o viu levantar-se e espreguiçar-se. Pensava estar sozinho, mas ouviu um canto ao longe que se aproximava rapidamente. Era um canto que parecia vir do norte, onde havia uma montanha, mas, ao mesmo tempo, o canto parecia vir de todas as direções. As árvores pareciam cantar, a relva parecia cantar e até o céu parecia cantar. Entretanto, algum tempo decorrido o canto cessou de soar e José se deparou com uma fada. Tinha o tamanho de uma libélula, mas a sua forma era de mulher e seu corpo estava nu. As asas eram de borboleta e segurava uma pequenina varinha na mão e seu corpo brilhava à luz do Sol. Ele perguntou-lhe o nome.
-José.-Disse ele apaixonado.
-Eu sou Mapiça. -Disse ela. -Sou uma fada e moro neste bosque. Você foi encontrado num barco sendo levado pelo rio e o povo da floresta constatou que você dormia e trouxe você até nós, fadas, e nós cuidamos de você enquanto você dormia. Agora venha, você deve estar com fome.
José seguiu Mapiça até uma depressão, a sul do bosque, e, nela, encontrou um roseiral enorme, onde encontrou outras fadas, tanto machos quanto fêmeas. As fadas machos eram maiores e chegavam ao tamanho de um chipanzé, mas, diferentemente das fêmeas, vestiam-se com tangas de folhas. Além disso, não portavam varinhas, mas instrumentos diversos, tanto para fazer o mel do qual se alimentavam, quanto armas para defender o roseiral. No caso dos machos, pareciam homens, ou melhor, crianças.
Quando José chegou ao roseiral, foi rodeado pelas fadas machos, que o inquiriram com as suas armas, querendo saber quem ele era e o que ele queria, mas Mapiça convenceu-os a interrogá-lo depois do café-da-manhã.
O mel foi servido num pote de barro que tinha sido feito para ele pela própria Mapiça, para que, quando ele acordasse, ele tivesse onde comer. Tinha um gosto delicioso, semelhante ao sabor de chocolate misturado a mel com leite condensado, mas também tinha o sabor da mistura dos três, que diferia de cada um, ao mesmo tempo. No momento em que terminou de comer, as fadas machos levaram-no para um canto do roseiral destinado ao interrogatório.
O interrogatório foi longo e José foi devassado pelas fadas. Eles o conheceram nos mínimos detalhes e concluíram que ele era um intruso no mundo do sonhos.
Depois do interrogatório, José foi levado até o líder das fadas, que era uma fada macho muito velha.
-Meu nome é Nyétneço. -Disse o líder. -Aqui deverás ser julgado pelo coração. Há quem o odeie e quem o ame. Mapiça te ama e o par dela foi assassinado por mortos-vivos e tornou-se um deles. Nós o capturamos e não sabemos o que fazer com ele. A cura para um morto vivo é praticamente impossível hoje em dia, pois os sábios que tem conhecimento para curar há muito foram aprisionados na escuridão pelas bruxas satânicas. Há duas opções para você: lutar até a morte com Buzuioço, o morto-vivo, ou ir em busca de um sábio para curar Buzuioço. Qual delas você escolhe?
José respondeu que preferia ir atrás do sábio e Nyétneço concluiu dizendo que, se José não achasse a cura para Buzuioço, ele ficaria preso no mundo dos sonhos para sempre.