O Preço de uma Estrela

Imagine um triângulo amoroso. Dois homens que gostam da mesma mulher? Duas mulheres que gostam do mesmo homem? Ou pode ser uma mulher e um homem que gostam do mesmo HOMEM?

Imagine o que você faria para conseguir o que quer. Mataria alguém? Torturaria alguém? Ou quem sabe chantagearia alguém, além fingir para todos?

Liani Mendes está em uma situação assim, em um triângulo amoroso e disposta a tudo para conseguir o que quer: ser uma atriz de sucesso.

CAPÍTULO 1: TUDO ERRADO

- E aí? Como você está Lia?

- Está vendo o meu estado Rubens? O que você acha?

- Maninha, não fica assim.

- Como não? Dois anos Rubens! DOIS ANOS!

Meu irmão se aproximou de mim e me abraçou, mas nem isso me confortou como das outras vezes em que eu chorava.

- Filha! Filha!

Minha mãe entrou no quarto toda desesperada, devia estar chegando do trabalho, e vendo o Rubens me abraçando, se aproximou e fez o mesmo.

- Oh, meu bem, não fica assim.

- Não adianta mãe, nunca vai adiantar.

Falando em uma voz abafada, fui me afastando do abraço dos dois e sentando em minha cama, enquanto eles ficaram me olhando com dó, até minha mãe dizer algo para me confortar.

- Presta de novo. Você pode prestar, não pode?

- Ela pode sim, mãe. Olha maninha, não era o que você queria, sair da faculdade foi a melhor coisa que você fez, agora você estuda mais e...

- Estudar mais? Rubens, eu estudei durante dois anos...

- Mas acabou prestando para o curso errado. Lia você não pode ficar assim, se sentir derrotada só por causa de um obstáculo.

- Seu irmão tem razão, minha filha. Você é jovem, ainda dá para você conseguir fazer a faculdade que quer.

Ouvir aquelas palavras me magoavam. Eu não sou jovem, eu já sou uma velha.

- Agora você presta para Jornalismo e passa, só...

- Eu não sou tão boa em geografia e história para passar na faculdade que eu quero. Jornalismo é muito difícil e eu nunca vou conseguir.

- Você nunca irá conseguir mesmo se continuar pensando assim. Lia, é como mamãe disse, você é jov...

- Eu não sou jovem! Eu já tenho 20 anos! Minha vida está passando Rubens e eu não tenho nada! NADA!

Comecei a chorar mais ainda. Minha mãe sentou ao meu lado e me abraçou. O celular do Rubens tocou quando foi dizer algo em resposta a minha histeria de idade, então ele saiu do quarto.

Minha mãe percebeu que dizer algo não adiantaria, então apenas me deu colo: coloquei a cabeça nas pernas dela, enquanto ela passava a mãos nos meus cabelos loiros e lisos.

20 anos! 20 ANOS! Odeio esta idade, odeio ser velha! O que eu vou fazer agora que sai da usp? Todo mundo vai perguntar e zombar de mim. O que eu vou responder à eles? Contarei a verdade? Que não consegui me enturmar? Que não consegui me focar nas aulas? Que não consegui me ver na profissão? Que só pensava no motivo de não ter sido tão aclamada pelos outros, quanto a minha colega que passou em engenharia mecânica também na usp? Não, melhor não.

Talvez eu devesse ter esperado mais, antes de sair, fiquei apenas duas semanas: uma semana de brincadeiras e uma semana de estudo. Para alguns o meu ato de desistir logo no começo será visto como ridículo, para outros, como uma boa atitude, pois assim posso me dedicar para o que realmente eu quero, mas para mim, fiz a maior besteira desde que o resultado saiu, pois não consegui o que eu queria: glamour.

Lembro-me de quanto eu tinha 18 anos, ano seguinte do término do ensino médio, e eu me matriculei em um cursinho pré-vestibular para passar na prova e entrar em uma faculdade pública. Não passei em jornalismo e nem em artes cênicas, que foi o que eu prestei naquele ano.

No ano seguinte, fiz 19 em fevereiro e depois de tanto chorar voltei para o cursinho e resolvi prestar algo diferente, mais fácil para eu passar logo, pois já me sentia velha. Matemática foi meu curso escolhido e foi a matéria que me fez entrar na usp. No entanto a felicidade de ver meu nome na lista de aprovados durou pouco, pois ao ver que mesmo assim ninguém se importou comigo e deram mais crédito para a garota que passou em engenharia mecânica, eu me decepcionei comigo mesma e vi que fiz uma burrada, nem o menino mais lindo veio me dar os parabéns, afinal matemática é um curso fácil de se passar. Idiota!

Duas semanas na facul e eu liguei para casa dizendo que ia sair, minha mãe aceitou normalmente, me apoiando até, e hoje eu cheguei de viagem. Arrasada! Por que? Simplesmente pelo fato de que eu sou uma fracassada e nada dá certo para mim. TUDO ERRADO! SEMPRE TUDO DÁ ERRADO!

CAPÍTULO 2: RUBENS E ELISE

Rubens Souza Mendes. Este é o nome do meu irmão, o cara mais fera que eu já conheci. Ele tem 24 anos, trabalha em uma empresa de São Paulo, mas está em casa hoje porque é final de semana e porque soube sobre minha desistência. Sempre foi um ótimo filho, não que eu não seja, mas é que ele é mais esperto do que eu, pelo menos eu acho. Ele sabe de tudo, é inteligente, passando direto em engenharia da computação na unicamp, isto porque, assim como eu, estudou em escola pública.

Ele sempre cuidou de mim porque minha mãe precisava trabalhar fora, então além de meu irmão, ele é como um pai para mim, mesmo sendo jovem. Ele me entende muito, por isso sempre é otimista comigo, me apoia em meus atos e me aconselha sobre minhas decisões. Ele foi contra eu prestar matemática, mas ficou do meu lado me ajudando para as segundas fases, pois eu insisti com ele. Devia tê-lo ouvido.

Elise Souza Mendes. Minha mãe é a mulher da casa. Mesmo meu irmão ajudando em algumas coisas, minha mãe é quem sustenta a família e dá a última palavra. Ela é separada, na verdade é solteira mesmo, meu pai somente se amigou com ela e foi embora quando ela estava grávida de mim. Ele disse que "eram muitas bocas para sustentar" e mesmo sendo pai do meu irmão e de mim, abandou minha mãe com nós dois. No entanto ela deu a volta por cima e conseguiu nos criar, trabalhando de diarista. Ela é uma verdadeira guerreira, eu a admiro muito por isso e estou dedicada a ajudá-la no que quer e vier. Este é mais um dos motivos de eu querer ter sucesso em algo logo, para ganhar dinheiro e ajudá-la.

CAPÍTULO 3: UM NOVO RUMO

- Ela dormiu?

- É o que parece.

Estou de olhos fechados apenas, não dormi no colo da minha mãe, mas não estou afim de falar com eles, quero ficar sozinha, por isso vou deixar eles pensarem nessa hipótese.

Meu irmão e minha mãe, depois de me ajeitar na cama e me cobrir, saíram do quarto. Sozinha, deitada e de olhos fechados, várias coisas começaram a passar pela minha cabeça: VESTIBULAR, ESTUDO, CURSO, PROFISSÃO, DINHEIRO.

O que eu quero da minha vida? Por que eu fui largar a faculdade?

Todos esses dias que eu fiquei lá, eu só soube pensar em quanto estava infeliz. Sem amigos, cansada, tudo dava errado, desde ficar trancada, na hora de dormir, para fora do quarto, até chegar tarde para participar da festa de iniciação. Nenhum menino bonito, nenhum parabéns daquele carinha do cursinho. Tudo bem, é ridículo eu querer que todos ficassem conversando comigo só porque eu passei na usp, mas poxa, também foi ridículo ficarem puxando o saco daquela garota só porque ela passou em engenharia.

O que eu faço? Eu não quero trabalhar em qualquer coisa. Quero ter uma profissão, fazer faculdade, ganhar muito dinheiro. Jornalismo é muito difícil e mesmo que não fosse, não é tudo que eu quero. Na verdade, o que eu mais quero na vida é ser atriz, mas prestar artes cênicas DE NOVO! E se não der certo e se....Já sei! Eu sempre pensei nisso, mas somente agora caiu a ficha. Já sei o que eu vou fazer da minha vida! Ninguém vai me zoar por ter ralado tanto para entrar na faculdade e já ter saído, e eu irei começar uma vida nova, onde ninguém me conhece, por enquanto. Vou para o Rio de Janeiro e lá eu vou mudar a minha vida!

CAPÍTULO 4: COMUNICANDO A FAMÍLIA

- Liani! Isso está errado filha.

- Mas mãe, pensa comigo: eu sempre quis ser atriz, mas aqui no interior eu nunca irei conseguir nada. Eu preciso ir para cidade grande, onde há agências e pessoas mais informadas sobre o assunto. Rubens! Ajuda aqui.

No dia seguinte eu comuniquei a minha mãe e o meu irmão sobre a minha decisão. Estava tão feliz por tê-la tomado, que ninguém iria me impedir de ir para o Rio de Janeiro, nem a cara de zangada da minha mãe, nem o estranho silêncio de meu irmão.

- Isso está errado! Até ontem você estava chorando por ter saído da faculdade, que foi uma decisão sua, que foi por não ter se sentido bem com o curso, agora você seja toda feliz dizendo que vai para o Rio de Janeiro. Você não conhece ninguém lá filha, você não sabe como as coisas são. E não temos dinheiro! Você sabe que para se sustentar, principalmente em cidade grande, é muito caro.

- Eu procuro um emprego, um bico, alguma coisa para fazer e ganhar dinheiro. Mãe, eu preciso ir, pelo menos para conhecer. Rubens!

Estava pedindo apelo para o meu irmão, mas ele ainda estava em silêncio comendo o seu pão, não entendia o que aquilo queria dizer. Eu sei que minha mãe tem a última palavra aqui em casa, mas se ele disser que me apoia, que eu estou certa, minha mãe pode refletir um pouco e aprovar a minha decisão.

- Eu não irei opinar Liani.

O quê? Ele não vai opinar? E ainda me chamou de Liani, ele nunca me chama de Liani, a não ser quando não concorda comigo. Eu não acredito nisso.

- Como assim, Rubens?

- O seu irmão tem juízo!

- Não! Mãe, eu vou para o Rio, eu preciso ir.

- Com qual dinheiro?

Não tinha pensado nisso. Minha mãe é quem me arruma dinheiro para tudo, se ela não me der nada, nem para passagem, eu nunca irei para o Rio de Janeiro.

Furiosa por ter pensado no dinheiro, sai correndo da cozinha e fui para o quarto sem responder a minha mãe.

"Com qual dinheiro?", as palavras da minha mãe penetravam pelos meus ouvidos, entravam na minha mente e corriam pelo meu corpo, me fazendo ter raiva e tristeza ao mesmo tempo. Se eu for para o Rio de Janeiro, poderei entender melhor sobre ser atriz. Farei cursos na cidade, testes e posso até conseguir algum papel na televisão. Eu quero ir para lá, eu preciso ir para lá, EU QUERO SER ATRIZ!

Toc toc.

- Entra!

Meu irmão abriu a porta e veio se sentar ao meu lado na cama. Não estava chorando, mas só foi ele colocar a mão na minha cabeça para lágrimas despencarem de meus olhos. Então ele me abraçou e começou a conversar comigo, sobre a minha decisão.

- Ir para o Rio é complicado, Lia. É uma cidade maior que a nossa, são costumes diferentes, sem contar no dinheiro a ser gasto para você ficar lá.

- Eu sei de tudo isso, mas eu estou disposta a correr o risco. Por que a mãe reagiu daquele jeito? Não há motivos para se preocupar.

- Sair para ir estudar em outra cidade é uma coisa, sair para se AVENTURAR em outra cidade é outra complemente diferente.

- Mas eu não vou me aventurar, eu vou seguir o meu sonho de ser atriz e lá...

- Você sabe que essa profissão é difícil. A gente já conversou sobre isso você se lembra?

- Me lembro, eu ainda tenho guardado a pesquisa que você fez para me mostrar o quão difícil é.

- E mesmo assim você quer tentar se suicidar praticamente, tentando ser atriz?

- É o que eu mais quero nesta vida. Eu não me vejo seguindo outra profissão.

- E ser jornalista?

- Não é o ar que eu respiro.

- E ser atriz é?

- Preciso atuar todo dia, seja na frente do espelho, seja debaixo do chuveiro, mas eu preciso atuar como se fosse o meu oxigênio, entende? É por isso que eu quero transformar isso como minha profissão, pois eu sei que aí sim eu serei feliz.

- Jura?

- Com toda a minha alma.

- Acredito que você está atuando agora, rsrsrs.

Eu sorri para ele, mas não estava atuando. Desde pequena eu fiz teatro na escola e sempre amei atuar. Sendo atriz eu posso ser tudo, sendo eu ao mesmo tempo. Atuar é uma mágica para mim, é um frio na barriga que me ajuda a viver. Eu amo atuar e receber os aplausos do público me faz ser feliz. Acho que é o único momento que mesmo eu não chamando a atenção, sendo figurante por exemplo, eu me sinto a melhor e não uma fracassada. É o que eu quero para mim.

- Eu e mamãe conversamos, depois que você saiu com raivinha, e concordamos em deixar você ir para o Rio.

Uma explosão aconteceu dentro de mim. Meu sorriso deve ter escondido meu rosto todo, de tão grande que estava.

- Mas não se alegre tanto, pois temos condições.

- Não importa as condições, eu vou para o Rio.

Rubens ria também com a minha felicidade.

- Tudo bem, tudo bem. Então escuta.

- Certo! Qual a condição?

- Condições! Pensamos bem e temos apenas R$300,00 para te ajudar, por isso você ficará apenas alguns dias lá.

Fechei o meu sorriso e minha euforia acabou por um momento. O que eu irei fazer com apenas R$ 300,00 no Rio.

- R$ 300,00 reais?

- O dinheiro que eu ganho, eu preciso pagar a nossa casa, se lembra? E a mamãe precisa pagar contas e comprar alimentos. Iremos nos apertar para lhe dar esta quantia, pois é o que mandaríamos para você se você estivesse na facul.

- Compreendo.

Não podia ficar triste, a quantia é pouca mas eles estavam se esforçando para eu correr atrás do meu sonho. Alguns dias já estavam ótimos para eu correr atrás e perguntar para as pessoas sobre como eu consigo ser reconhecida como atriz.

- Tudo bem Lia?

- Tudo ótimo Rubens. Eu vou me esforçar para conseguir o que quero.

- Então vai lá conversar com a mãe, pois a discussão foi chata para uma mulher que pensa muito em te ajudar.

- Desculpa.

- Não é para mim que você precisa dizer isso.

- Certo. Valeu Rubens.

Eu sai do quarto junto com o Rubens, corri para minha mãe e nos abraçamos. Pedi desculpas e não disse mais nada. Eu e ela somos assim: um toque ou um olhar de uma para outra, valem mais que mil palavras.