The life of a soul Hunter S01C01 | The birth

Preat.

Norte de Chicago; 1899.

O choro era alto e agudo, sinal de que a vida tão esperada havia se iniciado. Todos na aldeia de Preat, como era chamada, comemoravam o nascimento da criança, festejando entre risadas e bebidas.

As pessoas que se atreviam a caminhar entre a aldeia ,corriam para chegar na casa onde o bebê havia nascido, com medo da escuridão. Era muito difícil chegar lá, mas ninguém se atrevia a negar sua presença. A aldeia era pequena, com cerca de vinte casas dispostas em um meio circulo que delimitava o espaço entre a grande praça central, onde havia um grande pedestal de mármore, e a floresta. O céu estava claro, as poucas estrelas que haviam, estavam espalhadas em constelações de diferentes formas. A lua parecia estar prateada e iluminava as poças d’agua no chão, havia chovido recentemente.

A casa onde o bebê estava era a única que mantia-se acesa, era de madeira, uma madeira antiga e escura. Ficava a alguns centímetros do chão, apoiada sobre montes de pedras e conchas, era comum isso nas vilas próximas. Havia poucas janelas que não estavam quebradas, as intactas eram divida em quatro partes e revestidas de vidro, que era sujo e embaçado. Próxima a porta, que era da mesma cor que toda a casa, apenas definida pelo formato de desenhos entalhados, ficava uma escada de pedra que dava acesso ao chão.

A única Possibilidade de caminhar pela aldeia era por uma estrada de pedra que circulava toda a região, as casas não possuíam cercas ou postes que pudessem iluminar, as pessoas que caminhavam na rua usavam lampiões para poder enxergar. Uma mulher de certa idade caminhava pela rua, segurando em uma das mãos um lampião fabricado em casa e na outra uma trouxa de panos em que estava enrolado algo que ninguém sabia. Ela possuía um olhar acolhedor, suas rugas eram expostas e sua boca parecia estar rachada com o frio, seus tufos de cabelos grisalhos estavam cobertos por um lenço amarelo que lhe cobria o rosto, o vestido vermelho escuro era sujo por uma lama que encrustava em suas unhas grossas. Ela era gorda e suas mãos grandes balançavam cada vez que ela dava um passo. O lampião e a trouxa de pano ameaçavam cair a toda hora, mas ela parava de segundo em segundo, olhava para trás, arrumava os dois objetos em sua mão e seguia para o seu destino, a casa no final da rua.

Seu sorriso foi visível ao chegar em frente a casa, ela não fez qualquer sinal de que estava entrando, bater palmas ou chamar, ela apenas subiu os três degraus com dificuldade e girou a maçaneta enferrujada, abrindo a porta e entrando sem hesitar.

As vozes eram altas. A sala era pequena, com apenas uma janela era coberta por cortinas amareladas pelo tempo, havia apenas um sofá antigo e rasgado, quadros na parede e uma cômoda de canto. As paredes eram revestidas de papéis de paredes, onde havia infiltrações. Em frente a porta, a passagem para o corredor era apertada, mas a mulher conseguiu passar. Caminhando até o fim do corredor. Ela olhava para os lados, toda a vez que passava por um quadro antigo ou uma escultura na parede. O lugar era escuro e ela nem se atreveu a apagar o lampião. Ao perceber que as vozes vinham do ultimo quarto, a mulher entrou sem bater ou perguntar e com o calcanhar fraco empurrou a porta para que a mesma fechasse. O quarto era pequeno, possuía duas janelas que permaneciam abertas, não ventava há semanas. As paredes eram do mesmo papel de parede da sala, um pouco mais limpo, mas era facilmente visível as teias de aranhas e arranhões nos móveis antigos. Havia uma cama e um guarda roupa enorme que ocupava uma das paredes sem janelas, o resto do quarto agora era ocupado por um aglomerado de pessoas que conversavam e riam em volta de uma mulher deitada sobre a cama.

A mulher estava fraca, pois sua pele era muito branca e ela suava, mas ela estava feliz por que sorria ao olhar para a criança que estava em seus braços. A velha contente em saber o estado da criança, correu para cumprimentar as pessoas que estavam na sala. Um homem magricela, de chapéu amarelado que usava óculos e um jaleco branco, deduzia-se ser o médico. Uma mulher gorducha e sorridente, que demonstrava muita afeição á mãe do bebê, a velha pensou ser a mãe ou a avó. Ao lado dos dois uma outra mulher estava sentada em uma cadeira de madeira. Dos três ali presentes, ela era a que menos demonstrava felicidade ao ver a criança. A mulher virava o rosto, ignorando a situação.

— Ora...Ora...Ora Então você entra assim, sem nem pedir permissão! — A mulher que estava sentada, Pôs-se de pé em só um pulo. Seu sorriso sínico era pertupador e a velha não estava gostando da situação. Ela respondeu com palavras duras e frias:

— Pare Marilha, deixe de ser hipócrita! Não precisamos brigar! — Marilha temeu a voz da velha e de alguma forma se encolheu na cadeira, pensando e olhando para os lados sem encarar a velha ou a mulher com a criança.

A mulher sobre a cama observava o conflito entre as duas, O bebê agora chorava. O silêncio involuntário fazia parte da fúria que Marilia estava sentindo, como se ela estivesse sido desafiada e ela não gostava disso, nem um pouco.

— Geneva, como você está minha amiga?— A Avó da criança perguntava a velha, recém chegada. Geneva sorriu e virou a cara, antes olhava para Marilha, agora ela olhava para a mulher.

— Vou muito bem, obrigada Laura e Parabéns pela sua filha!— Geneva abraçou Laura que acolheu seu abraço sorrindo e dando fracas palmadinha nas costas.

A mulher na cama ainda estava em silêncio observando a sala e olhando para o bebê com um carinho maternal. Geneva se aproximou para olhar o bebê e ao ver seus olhos, se identificou muito com a criança. Ela possuía olhos azuis, como o do seu filho. Seu filho Morto.

O bebê possuía uma aparência angelical, seus braços pequenos estavam grudados ao corpo da mãe, uma mulher muito magra e frágil, cabelos longos e olhos castanhos. Ela vestia uma camisola amarela que estava suja de sangue. O olhar da mulher suplicava para Geneva, ela estava sentindo dor. Geneva queria pelo menos tentar acabar com a dor da mulher, mas não havia possibilidade.

— O que houve com ela?— Geneva perguntou a Laura, olhando para a garota na cama.

— A criança não conseguia sair, ela se virou de um jeito que deslocou o útero. — Ninguem ficou espantado com o que Laura falava, naquela época as crianças não nasciam de uma forma comum, levando muitas vezes as mortes das mães.

Geneva sabia que a morte da mulher estava próxima, era como um pressentimento, ela sempre sentia um aperto no coração quando alguém iria morrer.

A velha ainda estava ao lado da mulher que agarrou um de seus braços e puxou o rosto de Geneva o mais perto possível. Sussurrando palavras fracas e interminadas:

— Cui...de, Cu...i...de do meu Fi...lho! Pro...meta-m...e! — A voz da mulher era fraca e rouca em alguns momentos, impedindo que as palavras soassem no singular.

A resposta que a mulher esperava logo foi recebida, Geneva assentiu e respirando fundo, desabou suas lagrimas sobre os lençóis ao lado da mulher. Entre um soluço e outro, Geneva respondeu:

— Minha filha, eu vou cuidar dessa criança! Eu prometo que darei minha vida por ele! — A mulher soltou o braço de Geneva, que recuou para trás. Os olhos da mulher se fechavam e abriam, piscando em uma velocidade muito lenta. O ultimo olhar da mulher foi para a criança, que olhava atentamente e sorria para a mãe.

Os olhos da mulher tremeram, como se falhasse. E simplesmente pararam... imóveis, olhando para o teto do quarto. As mãos caíram, deixando com que o bebê ficasse deitado sobre a cama, apenas escorado no seu ombro.

Uma lagrima escorreu dos olhos da mulher.

A criança percebeu que havia alguma coisa de errado com sua mãe e começou a chorar. Geneva como sabia que agora seria esse o seu destino, pegou a criança, colocando-a em seus braços.

Laura, a mãe da mulher agora se derramava em lagrimas e estava sendo consolada por um abraço do homem magricela. Geneva não sabia se choravam, por mais que ela foçasse, não havia lagrimas. Mesmo se culpando por sentir uma certa felicidade, ela não conseguia chorar. As lagrimas estavam presas.

Ela se aproximou de Laura, que olhou para criança e passou a mão enrugada sobre a frágil cabeça da criança:

— Oh Meu Neto, Sinto muito! — Laura não sabia ao certo o que falar, a dor de perder uma filha era grande, mas mais grande ainda, era a dor de saber que ela deixara um filho sozinho no mundo.

— E agora? E a criança? — A mulher que ainda permanecia sentada no canto, em silêncio, possuía olhos cheio de lagrimas. Marilha mantinha-se concentrada nos detalhes, não dando importância as emoções.

— Minha amiga... mesmo que eu queira, eu não posso ficar com a criança! Roger, meu marido está muito doente! Meu tempo ultimamente está sendo só dele, não haveria forma de eu cuidar de uma criança.— Laura também estava se sentindo culpada, por não cuidar do seu neto que precisava mais do que nunca dela.

— Se não se importa, Laura, Eu posso cuidar da criança! Além disso, eu prometi a ela! — Geneva estava com muita vergonha de falar assim com Laura, o que ela não precisava agora era que Laura pensasse que ela queria roubar seu neto.

— Geneva... Você faria isso?— Após as palavras ainda fracas saírem dos lábios de Laura, Geneva sentiu-se mais aliviada.

— Claro, apenas com sua Permissão. — Ela sabia que a melhor forma de conseguir a confiança total de Laura era fazendo com que ela lhe entregasse, Laura estava prestes a fazer isso.

— Sim, Geneva... Eu lhe concedo minha permissão e lhe agradeço por fazer isso por mim!— A mulher tentou sorrir em meio as lagrimas e voltou a berrar sobre o ombro do homem. Geneva ainda estava com a criança nos braços, ele parecia entender pois sorria para ela. Era como um instinto, como se a pessoa que havia lhe dado a luz fosse Geneva.

Ela o abraçou e entregou a Tia, Marilia, que continuava sentada no canto agarrou a criança sem jeito e tentou abraça-la. Não houve muito tempo para sentimentalismo, um barulho alto e rápido invadiu o quarto e ela entregou a criança a Geneva. Em poucos minutos uma figura magra e alta surgia pela porta, um homem de aparência requintada e esnobe, se vestia de roupas nobres e joias nos dedos, seus olhos meio cinzentos devido a pouca luz eram verdes, os cabelos loiros eram presos por uma corda atrás dos ombros erguidos, estufando o peito ele tentava impor uma figura de poder.

— O que está acontecendo aqui? — Sua voz grossa ecoou por toda a sala, todos se viraram para olhar o homem, menos a mãe da garota que ainda chorava.

— Alfred deixe de ser insolente! — Marilha falava como se conhecesse-o a muito tempo, e conhecia.

— Sr. Odgen o que aconteceu? — Ele falou mais calmo e desta vez diretamente para Laura.

— Meu filho, oh meu filho! — Laura soltou-se do homem e se recompondo falou com Alfred.

— Ela, Mary... Ela faleceu! — Os olhos do homem assustado não pareciam estar acontecendo, ele se manteve imóvel e sorrindo como se ele estivesse em frente a Mary neste exato momento, uma lagrima escorreu dos seus olhos e o seu sorriso se desmanchou.

— O que vocês fizeram com ela? — Alfred estava furioso e era impossível ele evitar que a culpa fosse de alguém, seria muito simples colocar a culpa em alguém, retirar sua própria culpa.

— Nós? Tem certeza Alfred? — Marilha se ergueu da cadeira em um só pulo, a voz provocando não incomodava o homem, ele se mantinha seguro, ela estava apontando o dedo para Alfred, culpando-o.

— Marilha, Não se meta! Essa história é entre mim e sua mãe! — Suas palavras agora calmas não fizeram qualquer efeito sobre a mulher que continuou em pé, olhando nos olhos dele.

— Parem, Nós não fizemos nada com ela! Era a hora... Ela deixou... Ela deixou alguém na terra, para que lembrem dela! — Geneva mostrou a criança para o homem.

O homem não gostou do que viu, após uma breve olhada ele virou o rosto com cara de nojo. Geneva recuou com a criança, abraçando-a mais forte.

— Ele é seu filho, não olhe para ele assim! — Geneva criou coragem e disse o que estava preso na sua garganta.

— Isso não é meu filho, essa coisa matou minha mulher! — Alfred falou com desgosto, sua voz falhada não estava segura do que falava.

— Seu...— Geneva não tinha palavras para descrever o nojo que tinha de Alfred. Todos na sala observaram a reação de Alfred com um certo desgosto. Ele percebeu e se retirou em silêncio batendo a porta. Ninguém se atreveu a falar nada, nem mesmo “ o quem esse homem acha que é?”.

O homem magro que estava consolando Laura, empurrou os braços para o canto tentando separar-se dela e buscou em um criado mudo, uma Maleta. O homem não sorriu ou abanou, apenas colocou seus dois dedos no chapéu acenando em sinal de Despedida. Ninguém retornou o sinal, todos em silêncio esperaram o homem sair. A porta foi fechada com um estrondo e todos ainda continuavam sem falar nada. Geneva não sabia como ou quem havia chamado o médico, era de costume pois os hospitais ficavam longe da aldeia, o mais próximo ficava em Chicago, a cidade mais próxima.

A maioria dos habitantes das aldeias próximas, não sabiam sua exata localização. Chicago. Era a única pista, uma cidade não tão próxima assim e que possuía muitos habitantes, quem não sabia qual era a verdadeira capital dos estados unidos, acreditava que Chicago era esta. Geneva nunca havia saído da Aldeia, o mais próximo que ela havia ido fora em uma Fazenda aos arredores da Alpharom.

Alpharom era uma aldeia, uma das primeiras, classificando como próximas á Chicago. Possuía esse nome por que era habitada por Franceses e Americanos.

Geneva durante sua vida toda trabalhou para sustentar seu filho, vendia frutas e flores quando a cidade ainda era segura e faturava uma boa quantia. Seu primeiro marido havia “falecido” antes mesmo de seu primeiro filho nascer, Daniel III era filho de um príncipe Inglês que logo depois da morte da esposa, viajou até Chicago para viver seus últimos dias de vida. Seu filho, Daniel III, não se interessou muito pela cidade e procurou o campo , quando pequeno, seu pai morreu depois de um ano em Chicago e ele ficou vivendo com a Governanta que cuidava da casa.

Daniel III cresceu ,se apaixonou e se iludiu, depois de dois casamentos enfim encontrou Geneva que saia recém de seu primeiro casamento. Depois de alguns meses eles se casaram e tiveram um filho, mas como tudo não é um conto de fadas, quando Geneva estava em seu sexto mês de gestação, Daniel III desaparecera misteriosamente. Eles estavam em Casa, Daniel saíra para buscar mais lenha e simplesmente não voltou mais, todos, inclusive a policia concluíra que o homem estava morto.

Geneva demorou para aceitar que seu marido não voltaria mais, em depressão permaneceu alguns meses isolada de todo mundo. Seu filho, Daniel Jr. Foi cuidado por uma amiga da família, quando Geneva decidiu que ela não estava louca e que teria que viver sozinha cumpriu uma promessa feita a sim mesmo. Ela prometeu cuidar de seu filho até que ele estivesse pronto para a vida, não deixaria que nada de mal se aproximasse dele e lutaria com o que fosse preciso para mantê-lo em segurança.

Sua promessa foi cumprida até o dia em que ele simplesmente sumirá, igual ao pai. Era noite de sexta-feira e como todas as semanas, homens e mulheres se juntavam no centro da aldeia para dançar e festejar, mesmo que não houvesse motivo ou alguém havia morrido, era certo que todos estariam festejando ao som de trompetes e flautas.

Daniel se juntou aos seus amigos, todos eles entre 20 e 22 anos inclusive Daniel. Ele estava interessado em uma garota e ele iria pedir a mão dela para os seus pais. Isso era essencial naquela época, se o homem não pedisse a mão da garota para os pais, o namoro era rotulado como proibido. Era hoje o dia em que Daniel pediria a mão dela para os pais.

Era um dia muito importante para Daniel, sua vida poderia mudar a partir daquele dia ou também poderia cair em um fim possivelmente suicida. Ele a amava, sim, Margaret Lond era a mulher da sua vida. Não muito alta, mas na medida certa, cabelos loiros e longos que sempre estavam presos a um lenço rosa, possuía olhos azuis ,brilhantes e cristalinos. Sua boca devia ter sido desenhada por muito tempo, pois ela era completamente perfeita, delicada e linda, as maçãs do rosto avermelhadas contrastavam com sua pele intensamente branca e ainda havia o corpo, Daniel nunca vira uma garota tão linda. Ela era disputada por todos na cidade.

Os dois caminhavam pela rua distraidamente, feliz e contente com a resposta dos pais de Margaret, eles haviam aceitado e faziam questão de que as despesas do casamento fossem todas pagas por eles. O pai de Margaret possuía um salário “alto” pois trabalhava para um homem na cidade, com o banco talvez. Eles aceitaram sem hesitar e após um magnifico jantar e um cafezinho, os dois saíram para caminhar, a noite estava encantadora. As estrelas brilhavam entre uma e outra constelação, não havia vento e isso era normal pois estavam em pleno verão.

O comércio permanecia fechado durante as noites e alguns poucos bares estavam abertos, a aldeia estava deserta, não havia qualquer sinal de pessoas a muitos quilômetros. Margaret achava assustador, mas Daniel fazia questão de que eles passassem por aquela rua, foi ali onde os dois haviam se conhecido, em um desses bares. Ela olhava para os olhos de Daniel com algum brilhos, alguma coisa diferente. Eles se beijaram, um beijo silencioso e único.

Então tudo aconteceu: Margaret olhou para um dos lados da aldeia e em menos de um segundo, ela sentiu uma pressão sobre seus ombros, onde Daniel estava abraçado e simplesmente ela olhou para o lado e não havia mais nada ali. Não havia rastros de Daniel. Todos procuraram por meses depois e ninguém encontrou nada, a não ser um colar que Daniel usava na noite, Geneva guardou durante todo o tempo uma corrente com um pingente em formato de um circulo deformado no ouro. Na esperança de encontrar seu filho ou seu marido outra vez, Geneva viveu solitária em meio a alguns amigos e familiares que há apoiavam. Era o seu único porto seguro.

Ninguém sabia, nem mesmo Geneva do que estava prestes a acontecer naquele quarto. Todos ainda em silêncio transitavam pelo quarto na esperança de que alguém pudesse ter uma solução para enterrar Mary. Mas não foi preciso, a criança começou a chorar, um choro agoniante e antes que todos dissessem “O que é isso?” um vento tão forte invadiu o quarto fazendo com que Geneva e todos fossem empurrados contra a parede. Estava tudo calmo e não havia motivo para a ventania, apenas aconteceu. Todos protegeram os olhos dos galhos e da poeira que entrava pela janela, o som alto e insuportável se misturou a som da cama arrastando pelo assoalho. A cama estava sendo puxada pela janela, como se uma mão arrastasse-a diretamente ao seu encontro. Marilia tentou segurar a cama, mas não conseguiu, ela foi jogada longe pelo vento e colidiu sua cabeça contra a quina de uma cômoda. Marilia desmaiou. Luiza tentava segurar em algum lugar e simultaneamente segurar a cama, ela caiu sentada no chão tentando ainda segurar a cama. A cama balançou-se encostando na janela e o corpo sem vida sobre ela começou a tremer e se balançar, como se estivesse vibrando o corpo começou a subir da cama e depois de alguns poucos centímetros o vento a carregou como papel. Ela sumiu entre a noite e o vento cessou. Ninguém ousou comentar ou falar alguma coisa depois daquilo, isso foi escondido de todos. Mary Gold Ogden teve um funeral e um enterro digno de uma mulher normal, todos compareceram ao funeral: Geneva, Laura e Marilia não se olharam ou ousaram falar alguma coisa. Como se nada houvesse acontecido, elas permaneceram sós. O bebê ficara com Geneva e ela mesmo morando sozinha conseguiu cuidar da casa e principalmente dar muito carinho a Prince, como ela batizou. Um verdadeiro Príncipe segundo Geneva. Ela não cogitou a ideia de registrar o bebê com seu nome, então a única solução foi registrar no nome de sua falecida mãe:

Prince Philips Ogden.

— Prince? — Geneva gritava pelo jardim a procura do menino, ele já com três anos era esperto e gostava de se esconder nos lugares mais difíceis e improváveis.

Desta vez o menino se escondera em um canteiro de arvores, na casa ao lado. A aldeia de Preat não era a mesma, algumas coisas haviam mudado e mais casas haviam sido construídas. A aldeia tinha crescido muito em poucos anos, as casas que poderiam ser consideradas velhas ,no ultimo verão elas haviam sido reformadas e agora não pareciam ser as mesmas.

As janelas estavam inteiras, sem vidros quebrados ou qualquer sinal de sujeira. As paredes de madeiras reluziam ás cores Branca, Verde, Amarelo e Vermelha, os “jardins” ou espaços entre a casa e a estrada eram cercadas por cercas de ferro e as gramas permaneciam sempre aparadas e vivas. Havia mais arvores do que há três anos atrás , não só a aparência da cidade mudar.

Mortes e nascimentos faz a Aldeia Sorrir e chorar, entre elas a de Carl Ogden ou como todos ali conheciam, o avô de Prince. Laura, caíra em uma forte depressão e acabou se matando, enforcada. A filha de Marilia com um Francês de Alpharom nasceu meses após a morte dos seus pais e foi chamada de Isabelle. Marilia não reconhecia Prince como seu sobrinho, para ela, o menino havia morrido junto com a mãe. Ocorreram muitos outros nascimentos e mortes deixando a Aldeia com cerca de 1000 habitantes. O grande Pedestal permanecera no centro da aldeia, mas agora era rodeada por bares.

Geneva ainda continuava a mesma, ou pelo menos por dentro. Ela estava mais velha e isso era claramente visível no seu corpo e principalmente nos seus olhos, havia poucos cabelos na cabeça, ela usava um chapéu de tricô para cobrir, os olhos estavam caídos e avermelhados. As rugas e Verrugas eram muito comuns em seu rosto, ela ainda continuava com o mesmo sorriso no rosto, mas estava muito velho.

Prince se tornara uma criança muito arteira, não era alto e nem baixo, a estatura correta para a sua idade. Seus olhos criaram uma cor brilhante, o azul. Seus cabelos cresceram e tornaram-se loiros, tão acinzentados como um por do sol na Antartida. As feições de Mary e Alfred eram muito fáceis de identificar.

Mesmo que Geneva corresse o máximo que ela pudesse, não alcançaria de jeito nenhum, o menino era muito rápido e ela, coitada, não conseguia acompanhar. Prince parou para pegar folego e foi assim que Geneva agarrou por trâs lhe enchendo de beijos, eles riram e brincaram a tarde toda. Eles faziam isso todos os dias. Até que...

Era uma noite normal, como todas as outras. Os dois jantaram, a luz de velas como sempre e sentaram-se nas poltronas da sala de estar para que Geneva pudesse Contar uma história para Prince.

Os dois se divertiam e viviam uma vida como a de todas as outras pessoas, uma vida monótona e normal.

Próximo Capitulo S01C02 - A vision of the shadows

Dia 26/07

Tainan sOliveira
Enviado por Tainan sOliveira em 19/07/2012
Código do texto: T3786925
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