Bleakness S01C01 - A night to die
Os pingos de chuva pareciam fazer parte da cidade, já fazia uma semana que a chuva não parava e isso estava ficando constrangedor para Paris. Meu voo fora adiado mais uma vez e a única solução era pagar mais uma diária de uma pensão barata. Wia estava extremamente intoxicada, seus olhos vermelhos não sabiam o que fazer e muitas vezes vacilavam deixando velhos encabulados na sala de espera do aeroporto.
A paciência não era minha virtude, principalmente quando uma cantiga de ninar estava tocando pelos alto-falantes. A voz feminina cantarolava uma melodia estranha e de certo modo assustadora. Caminhando de uma lado para o outro eu encontrava uma forma de passar o tempo. A enorme janela de vidro possibilitava a visão do céu imundo.
— Garoto? — Alguém mexia em meu braço durante uma cochilada, meus olhos se abriram e eu avistei o paraíso, ou quase isso. Uma mulher jovem e extremamente bonita tentava me acordar, ela parecia ser funcionaria do aeroporto, pois possuía um crachá onde estava escrito : Judi.
— ã? — Um som involuntário saiu pela minha boca e meu nariz ao mesmo tempo. Eu sorri tentando disfarçar e ela retribuiu o sorriso, mostrando seus lindos lábios.
— Só para Informar que temos uma ocorrência.
— O que aconteceu? — Perguntei.
— Uma garota que diz estar com você, está tentando passar pela portão de embarque. Não estamos conseguindo acalma-la. — A mulher não estava sorrindo mais, ela estava com vergonha de falar aquilo. Eu sabia que Wia tinha aprontado outra, sem querer tropecei em meus próprios pensamentos e lembrei que ela estava sob minha responsabilidade.
— Onde ela está?
— Por aqui! — A mulher começou a caminhar e ficou claro que ela mostraria o caminho.
O aeroporto era enorme e mantinha um aspecto Francês, mas modernizado. A porta da Sala de espera era enorme e pesada., me ofereci para abri-la, mas a Mary já havia feito. Ela conduziu-nos a uma área cercada por fitas vermelhas, deveria ser aquilo o portão de embarque. Uma garota estava sendo segurada por seguranças, eu conhecia bem aqueles olhos azuis e também aqueles cabelos loiros. Era Wia.
Ela não parava de gritar, estava prestes a se jogar no chão quando um segurança apertou seu braço e ela parou.
— Erick! — Ela gritava meu nome, mas eu sabia que nada podia acalma-la agora. — Wia, Pare!
Ela ainda continuava se debatendo, seus braços nus estavam roxos devido a tombos ou brigas. Saber que aquilo era normal doía, todas as vezes que Wia cheirava o seu corpo não sustentava essa ideia.
— Ela esta ... — A mulher começou a falar, mas eu completei: — Drogada.
— O que devemos fazer com ela? — Os seguranças perguntaram e a mulher não hesitou em responder:
— Eu não vou entrega-la para a policia, mas você tem que me prometer que irá tirar ela daqui imediatamente! — Ela Sinalizou para mim. Eu sabia que seria muito difícil leva-la até a pensão long de la nuit, que em uma tradução improvisada seria “noite longa”. Já era noite e como de costume esperamos algum vôo ser liberado. A pensão era a alguns quilômetros dali, íamos caminhando, mas nessas condições era impossível.
— Eu vou leva-la até a pousada. — Eu arrisquei, essa era única solução.
Os seguranças ajudaram a Wia se locomover até a entrada do aeroporto e logo após entregaram-na a mim. Ela colocou um braço sobre meu ombro e começamos o percurso para chegar na pensão. As ruas de pedras eram silenciosas e escuras, os prédios eram pequenos e espremidos um contra os outros, as poucas arvores que haviam estavam sobre as calçadas. Não tinha ninguém nas ruas, um ou outro policial vagava pelas esquinas, pois alguns postes estavam estragados.
Justo nesta esquina, havia um aglomerado de jovens. Eram entre quatro ou cinco e estavam cochichando uns com os outros. Um deles aparentava ter a minha idade e foi este que assoviou quando passamos, eu parei e ele se aproximou. Ele estava fumando e entre seus dedos um cigarro aceso balançava.
— Oh! — Ele gritou.
— Que beleza galera! Trouxeram outra para nós! — O garoto abriu os braços apontado para Wia, ela gemeu e continuou inconsciente . Todos os outros demonstraram surpresa ao olhar para Wia, mas logo se aproximaram também.
Eu não falei nada e tentei caminhar mais rápido, mas os eles continuavam investindo gritando e assoviando.
— Por que estão correndo?
Não respondi e continuei na mesma velocidade de antes, eu sabia que eles iriam me alcançar e por isso não adiantaria correr. Wia estava soluçando, como se estivesse chorando, acreditei que aquilo era da minha imaginação e continuei caminhando. Após alguns minutos, eu virei para trás e não havia mais ninguém, os garotos haviam sumido.
Aquilo era estranho por que eles pareciam estar consciente de conseguir algo de Wia. Eu retornei a olhar para frente e continuei caminhando, na esquina seguinte dobrei para a direita em um beco muito escuro. Não havia luz alguma ali, sabia que era perigoso, mas aquele era um grande atalho para a pensão.
Minha visão parecia confusa, eu não estava drogado ou bêbado, mas era como se tudo girasse. Claramente foi possível ouvir uma voz feminina sussurrando ao meu ouvido, olhei para Wia e ela estava desacordada ainda. Uma voz fascinante reproduzia uma frase como se fosse um robô programado para falar aquilo.
— Não tenha medo. Não tenha medo. Não tenha medo.
A voz parou no momento em que uma mão encostava no meu braço esquerdo. Parecia ser aquela, uma pele morta, fria como o gelo e brilhante como a lua. Eu olhei para a mão e ao erguer meus olhos ele se encontraram com outros olhos, olhos negros e encantadores.
Aqueles foram os últimos olhos que eu vi, não restou mais nada a não ser lembranças e um Sorriso estranhamente tentador...