[LIVRO] Perfeito para mim. Cap 3
Só fui tentar dormir depois das oito da manhã, e ainda que me certifiquei de que estava tudo certo naquela casa. Helena já estava perturbada demais para quando acordar, rever toda aquela bagunça. Mesmo assim não deu muito certo, pois assim que abri meu quarto, lá estava Rafaela apagada na minha cama.
Acordei a coitada na hora.
- O que? Como?! – e ao se levantar caiu derrubada de volta na cama – Que dor horrível de cabeça! Credo!
- Deve ser a ressaca. – respondi apenas.
- O que você está fazendo aqui?
- Na minha casa?! O que será que eu estou fazendo não é mesmo?
- Sua casa?! Nossa! – e então com custo se levantou – A festa de ontem, claro!
- É, a festa de ontem...
- Você sumiu sem mais nem menos.
- Na verdade eu não sumi, você que estava muito ocupada com um carinha que tinha namorada.
Ela deu de ombros.
- Desculpa por ontem, estava bêbada.
Com a Rafa era assim, não dava para ficar brigada por muito tempo.
- Acho que eu te desculpo...
Ela sorriu satisfeita e voltou a se sentar na cama.
- Minha mãe não pode nem sonhar das coisas que eu fiz ontem, senão adeus fazenda do tio Wisley nessas férias.
Sempre achei o nome do tio dela um horror, mas não me atrevia a falar, ela adorava aquele tio.
- Relaxa, você tem um álibi.
- E a propósito você não estava na festa. Nem tenta me enganar. Onde esteve?
Ela sempre sabia de tudo.
- Sai com um motoqueiro. Dos lindos Rafa!
- Me conta isso direito, quero saber tudo...
Contei todas as coisas da noite anterior com detalhe. Parecia que eu estava revivendo cada delicioso momento.
- E nada aconteceu? – perguntou meio desconfiada
- Nadinha. Nem um beijo.
- Você é louca!
- Eu sei.
Então rimos, era realmente divertido estar com ela.
Helena entrou sem bater, ainda estava inquieta e diferente.
- Marina, que bom que já acordou – nem tinha dormido na realidade – Podemos conversar agora?
Ela nem reparou na Rafa. Mau sinal.
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Eu lutava comigo mesma para não sair por ai derrubando e chutando tudo que encontrasse na minha frente. Olhava para a Helena sem acreditar nela, olhava para baixo para tentar botar meus pensamentos em ordem, olhava para o teto tentando achar uma saída.
- Então é isso mesmo? Ele foge, depois liga e diz que eu sou dele? Assim? Do nada?!
- Ele te quer, a qualquer momento virá te buscar. Pode estar aqui neste momento nos espiando do lado de fora, te vigiando, te seguindo. Não tem como saber Marina.
- Mas como... – eu estava a beira de um transtorno – Ele não pode simplesmente fazer isso, quer dizer, você é minha tutora sabe, e se ele ousar botar as mãos em mim eu chamo a polícia, ele é um foragido agora, e eu não vou permitir que... Ai meu Deus, o que eu faço?
- Marina, calma...
- Calma é tudo que eu não posso ter agora, preciso agir imediatamente, preciso agir rápido e... – me virei para ela - Você não pode o deixar fazer isso ouviu Helena!?
- Ei, ei, ei! Segura a onda ai.... Acha que eu estou a pessoa mais tranquila do mundo agora? Ele não pediu permissão, ele praticamente fez uma ameaça... Ele virá!
- O que nós vamos fazer?!
Ouvi um pigarro, quando dei por mim, Rafaela estava parada atrás de nós, com os olhos perdidos, ouvindo toda a conversa.
- Desculpem, eu não queria... – Estava visivelmente constrangida – mas vocês estavam gritando e... Eu nunca vi a Helena gritar.
- Oi Rafa, não sabia que você tinha dormido ai.
- A culpa foi minha, eu que não avisei.
E nessa hora eu queria mata-la por estar ali, odiava que as pessoas vissem a minha fraqueza, mesmo que essa pessoa fosse a minha amiga Rafaela.
- E bem... – ela continuou – eu ouvi a conversa...
- Ah droga! E acha que não sabíamos? – disse com raiva – olha Rafaela, estamos no meio de um assunto importante e se...
- Eu sei que é importante – ela me interrompeu – seu pai... Mas acho que tenho uma solução.
Ela falava com tanta certeza, com tanta clareza que nem parecia estar de ressaca.
- Não! – disse Helena – Não Rafaela, não vamos te envolver nesses assuntos e...
- Você nem ao menos ouviu Helena! – implorou ela – eu só quero ajudar...
Helena e eu nos olhamos tomando uma decisão rápida. Ela tinha cinco minutos para explicar.
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Será mesmo que eu tinha pegado o necessário? Faltavam duas semanas para as férias, mas devido ao plano, adiantamos um pouco. Eu iria para a fazenda do tio Wisley com a Rafaela, e acreditem, uma fazenda não era propriamente o que eu chamaria de "plano de diversão de férias", mas eu tinha que ir. Eu precisava de um lugar para me esconder, acho que uma fazenda no fim do mundo não era nada mal para isso.
Assim que a Rafa propôs o plano para minha tia nessa manhã, ela tinha relutado até o ultimo minuto, afinal ela teria que mentir para os pais da Rafaela, ele nunca poderiam saber que eu estava fugida lá. Teria que mentir para o tio Wisley, que concordara na hora em me abrigar lá. Teria que mentir para os diretores da minha escola, já que eu ia sair mais cedo do que o previsto, e mentir para resto do mundo que perguntasse de mim. Mas ela tinha pavor a mentiras, nem sabia fazer isso muito bem.
E agora, a uma da madrugada, eu estava no banco de trás do carro dos pais da Rafaela, com ela do meu lado, empolgadíssima me contando sobre as inúmeras cachoeiras ao redor da propriedade, e blá, blá, blá. Mas ela havia salvado a minha vida.
- Não sei pra que se precipitar querida... – dizia a dona Lurdes, uma mulher requintada, beirando os quarenta e muito bonita, com seus cabelos claros num corte modernos curto – Estava combinado que você iria apenas daqui a três semanas..
- Mãe! Conversamos sobre isso já. Eu não expliquei que a prima da Marina vai ter que viajar para cuidar de um parente doente?
O pai dela, dirigia alegre, parecendo alheio a nossa conversa, mas eu sabia que ele estava escutando.
- Sim, explicou, mas porque ela não vai junto?
- Mãe, por favor! Assim a Marina vai achar que ela não é bem vinda na casa do tio Wisley, que a senhora não queria que ela fosse...
Eu ri internamente, ninguém sabia manipular tão bem como a Rafa.
- Não, longe de mim fazer isso!! – ajeitou suas roupas impecáveis – mas eu sou curiosa, você sabe...
- Tudo bem, eu não ligo... – disse, dando uma ajudinha para Rafa, a mentira tinha que ser convincente, e sem modéstia, eu sabia mentir tão bem quanto respirar. – Acontece que não estamos tão bem de grana sabe... – dei um ar mais triste a minha voz – e ela só tinha dinheiro para uma passagem de avião, e como eu já tinha combinado com a Rafa nessas férias... Quem sabe se adietássemos um pouquinho? – dei uma risada leve sem graça readquirindo o ar simpático de antes – Nunca terei como agradecer vocês por isso...
Em parte era verdade, serei eternamente grata a Rafaela por isso.
- Oh! Imagina... Amiga da nossa filha é amiga nossa também! – agora, quem se pronunciava era o senhor Luan.
Rafaela sorriu para mim, estava tudo saindo como o planejado.
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E ela não estava mentindo quando disse que a fazenda era enorme. Situava-se no interior de são Paulo, em Atibaia, e era um hotel fazenda lindo, chamado Vale dos Sonhos. Logo na entrada tinha um lago, ao qual o carro dava a volta para chegar no casarão principal. O casarão era de um amarelo cor de sol, com muitas janelas e uma enorme porta de madeira. O carro parou bem em frente.
Eu estava definitivamente deslumbrada.
- E então, o que achou Marina? – perguntou Senhor Luan empolgado.
- Nunca estive em um lugar parecido, é maravilhoso!
A mãe da Rafa ainda estava dentro do carro tentando acorda-la.
- Nossa, o que vocês ficam fazendo quando a Rafaela vai dormir na sua casa? Ela sempre volta cansada desse jeito! – mal sabe ela que simplesmente demos uma festa.
A Rafaela estava se espreguiçando do lado de fora do carro, com uma carranca nada amigável, parecia estar de mau – humor.
- Droga! Pelas minhas contas essa viagem demoraria muito mais para terminar, o que vocês fizeram com o caminho? Encurtaram ele? – disse num resmungo.
E então, um homem bronzeado, de cabelos escuros, curtos, vestindo um jeans surrado, uma regata branca e uma bota marrom, apareceu. Aparentava uns 45 anos.
- Crianças, sejam bem vindas novamente!
Rafaela mudou completamente, correu para abraçar o tio.
- Ah tio! Que saudade suas...
- Que bom ouvir isso, temos as férias inteiras para mata-la – e afagou a cabeça dela. – e me diga, quem é esta belezura ai atrás?
- Ah tio, essa é a Marina, a amiga que falei no telefone...
- Boa Tarde senhor Wisley. – disse – é um prazer te conhecer. A Rafa fala muito a seu respeito.
- Senhor?! – ele pareceu procurar alguém – Acho que não estou vendo nenhum senhor por aqui. Me chame apenas de Wisley.
- Claro, como quiser Wisley – e sorri.
Depois dos cumprimentos, todos nós entramos no saguão principal do hotel. Era simplesmente espetacular. O chão e os móveis eram de madeira. Por todo o canto havia decorações com artesanatos locais e, mais adiante, tinham sofás em frente a uma lareira, que estava apagada, obvio. Apenas as velas iluminavam o local.
- Podemos ficar tranquilos Wisley quanto a elas? Nenhum problema?
- Oras Luan, e quando foi que a Rafa me deu alguma dor de cabeça?! – e sorriu amigavelmente – sabe que nos adoramos e que vai dar tudo certo não sabe?
- Sei, claro, mas a Rafa anda muito rebelde para meu gosto...
Só porque estávamos sentadas diante da lareira, não significava que não estávamos ouvindo toda a conversa a nosso respeito. Adultos adoravam fazer isso.
- Vai dar tudo certo amor, pare de implicar com ela... – disse Dona Lurdes – Podemos ir embora? Tenho mil coisas para fazer!
- Sim, vamos sim...
Wisley chamou um tal de Matias, este se prontificou imediatamente, vindo de uma salinha dos fundos da recepção:
- Queira fazer o favor de pegar as bagagens da Rafaela no carro?
- Claro! – era Loiro dos olhos claros e tão límpidos que chegavam a ser puros. Ah! E era extremamente musculoso e alto.
Os pais da Rafaela se despediram da gente com muitas recomendações, me senti como no primeiro dia de aula do primário.
Em seguida, Wisley foi nos apresentar nosso quarto, qual ele prometeu ter reservado uns dos melhores de todo o hotel. E era.
Grande era a palavra para descreve-lo. Uma suíte com móveis de madeira e uma cama que nos fazia ter vontade de passar o dia por lá mesmo. Ao lado de cada cama tinha uma escrivaninha com telefone, e dois espaçosos armários, mais adiante tinha um pequeno sofá daqueles se transformavam num baú. Da janela se via o aras do hotel fazenda.
- Nossa tio! não que eu que eu queira esnobar nem nada – deu uma boa olhada no quarto – mas está bem melhor que o do ano passado, com certeza!
Ele riu:
- Sabia que ia gostar... Bom, vou deixar que se arrume, estão chegando mais hospedes. – se dirigiu a porta – e oficialmente, sejam bem vindas!
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Tudo que consigo me lembrar é que antes de apagar totalmente nessa cama deliciosa, a Rafaela não parava de falar sobre as inúmeras coisas que poderíamos fazer juntas nesse lugar.
Agora, ela estava me acordando com toda a força:
- Ei! Ei... É a Helena!
Dei um salto da cama:
- Aqui?!
Ela riu:
- Não sua boba, no telefone...
- Ah! – peguei o fone – alô.
- Marina? Tudo bem?
- Por enquanto... Eu quero saber do meu pai, como andam as coisas?
- Na mesma, sabe, ele não ligou mais, e é disso que eu tenho medo. Ele planeja algo, eu sei.
- Não tem como ele descobrir que eu estou aqui não é mesmo?
- Eu espero que não...
Ficamos em silêncio.
- Melhor a gente não se falar tanto assim pelo telefone Marina...
- Também acho...
- Tudo vai acabar bem, você vai ver – disse com voz triste
- Eu sei Helena... Eu sei.
- Fica bem okay? Já estou com saudades das suas maluquices – e riu
- Logo eu volto... – hesitei, mas disse por fim – Tchau...
- Tchau....
E o bip conhecido do telefone se fez presente.
Rafaela recolocou o telefone no gancho para mim, me observando por uns minutos.
- Alguma notícia?
- Nada. Parece que o desgraçado sabe mesmo onde se esconder! – eu nem mesmo disfarçava minha raiva.
E foi então que eu me dei conta de que devia ter dormido demais.
- Que horas são?!
- Seis horas...
- Da manhã?! Dormi desde as seis da tarde de ontem, até as seis da manhã de hoje?! – estava espantada.
- Não. Você dormiu desde as seis da tarde de ontem, até as seis da tarde de hoje. – e riu.
- Não brinca!
Em geral, eu não dormia muito, mas relacionei isso ao fato de ter dado uma festa, ido parar no apartamento de um motoqueiro desconhecido, limpado toda a casa e lidado com a difícil situação de um pai foragido tentando me sequestrar, além de ter feito uma longa viagem. E tudo isso no dia anterior.
-Tá, e o que vamos fazer então?! – perguntei
- Bem, tem “um certo alguém” que eu gostaria que você conhecesse... – Não! Quando a Rafaela assumia aquela postura maliciosa, é porque tinha cara na jogada.
- Tá, quem é ele?
Ela apenas sorriu e se dirigiu a janela, escancarando a cortina.
- Veja você mesma...
Fui até lá, meio zonza ainda, estava mesmo cansada, e dei uma olhada. Tudo que consegui ver foi o tal Mathias, empregado da fazenda, cuidando dos cavalos no aras.
E então saquei tudo.
- Nossa, mas você não perde tempo mesmo hem! Cara, ele é lindo!
- Lindão mesmo né?! – disse empolgada. – Que tal irmos até lá?
- Claro, é só o tempo de tomar um banho e me arrumar!
Assim que me arrumei com um shorts jeans básico e uma bata branca e lisa, descemos. Mas nada que eu usasse se comparava ao vestido que a Rafaela colocara. Ele era azul turquesa, frente única e que um decote que me fazia inveja. Sua pele morena mega bronzeada dava um contraste legal com aquele azul. Seu cabelo é castanho escuro com algumas luzes mais claras todo enrolado, que ela havia amarrado numa trança embutida que caia de lado, ao seu ombro. Estava Com pouca maquiagem.
Quando chegamos no aras, o tal Mathias estava tão envolvido em seu trabalho que nem havia nos notado.
- Ei, Mathias!
Ele se virou e de repente parou de fazer o que estava fazendo. Parecia... Assustado.
Nada que a Rafaela não desse um jeito.
- Como você está hoje? Não te vi o dia inteiro... – e se aproximou dele com um beijo de tirar o folego e que certamente durou uns bons minutos.
Ao final, ele estava levemente vermelho.
- Com o início da temporada de férias, o trabalho aumenta bastante.
- Não ligo para seu trabalho, quero mesmo que você arranje um tempo para ficar comigo... Entendeu?
Ele sorriu, abraçando –a. Formavam um casal muito bonito mesmo.
- Mat, essa daqui é minha melhor amiga... Marina. Também veio passar as férias aqui...
Ele apertou minha mão de modo tímido.
- Tudo bem? – perguntei, mas para quebrar o gelo do que qualquer outra coisa.
- Sim... – se limitou a responder.
- Ah não! Vocês não vão ficar com cerimônias perto de mim vão?! – disse Rafaela rindo – quero que sejam melhores amigos também...
Não é uma coisa que se consiga da noite para o dia minha querida best friend!
- Por mim, é como se eu o conhecesse desde pequena.
Ele sorriu para mim. Tá, no fundo era só tímido, tinha certeza que com o tempo iríamos no dar muito bem. Esperava por isso.
- Tá, assim está melhor. Que tal darmos um passeio a cavalo? – exultou Rafaela.
- Acho uma boa ideia. É só vocês escolherem o cavalo e eu os arrumo para vocês!
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Nossa, ao hotel fazenda Vale dos Sonhos era maior do que eu pensava. Em volta da propriedade havia muitas trilhas, e o Mathias se encarregou de nos apresentar uma delas. Segundo ele, essa trilha era muito usada por escravos que fugiam das senzalas no tempo da escravidão.
- Caracas, você entende muito bem sobre tudo por aqui mesmo hem! – exclamei, a essa altura, a timidez dele já havia passado e como eu havia suposto, ele era realmente legal.
- Ah, eu moro aqui desde que nasci. Minha mãe também trabalha para o Wisley. Ele é como um pai pra mim.
- É, ele é bem legal mesmo...
E assim seguimos nosso passeio à cavalo...Estava adorando.
- Nesse ponto da trilha – tornou Mathias, que dividia seu cavalo com a Rafa, que agarrava na cintura dele o mais forte que conseguia. – Se cortamos pela mata por ali – apontou um ponto ao leste – tem uma cachoeira linda com uma água tão cristalina...
- Tão cristalina quanto seus olhos... – tornou Rafaela sorrindo.
- Nem tanto, meus olhos não são nada perto daquela água... – estava vermelho.
- E podemos ir ver? - pedi
- Hum... – ele olhou no relógio – acho melhor deixarmos para outro dia, já vai começar a escurecer. Não é bom andarmos nessas trilhas de noite. Tudo bem para vocês?
- Claro! – respondemos juntas.
Quando voltamos para o hotel fazenda, já eram oito horas da noite. E ainda estava um calor de matar! A recepção, logo menos, ficaria a luz de velas, aliás uma das coisas que eu havia achado mais agradável lá, a tornava mais aconchegante do que já era, como se fosse possível. Me trazia uma sensação familiar que há muito eu não tinha. Sou até capaz de supor que sequer tive uma família para possuir uma sensação familiar.
O saguão estava cheio aquela hora, certamente por causa da janta, que logo menos seria servida. Enquanto isso as pessoas se relacionavam e conversavam entre si. Pessoas simples, nada daquelas madames ricas cheias de jóias.
A Rafa estava do lado de fora, tendo sua despedida final com seu namoradinho, ela ainda teria que me explicar direitinho como as coisas haviam ocorrido tão rapidamente assim entre eles. Quer dizer, eu dormia durante umas horinhas e quando acordava ela estava num namoro firme? Como assim?
Wisley apareceu cumprimentando seus hóspedes que ali se encontravam. Veio em minha direção.
- Ora, ora... Da ultima vez que tive notícias suas, você estava dormindo... – e sorriu.
- Pois é, eu estava realmente muito cansada. Não durmo muito na verdade.
- Sem problemas. Eu adoro dormir, uma atividade que eu indico!
Era impossível não lhe sorrir, ele era tão simpático!
- E bem – ele continuou – Onde está a Rafa?
- A Rafa? – tentei ganhar tempo, não sabia se ele sabia sobre o Mathias. – Não sei, acho que foi dar uma volta...
- Se está com medo de me contar sobre o Mathias, não tenha. Eu já sei.. – parecia estar se divertindo com a situação.
- Eu realmente não sei do que esta falando wisley – vai que ele estava blefando? Não iria colocar nem a Rafa nem o Mathias em perigo. – Não que eu não confie no senhor, eu apenas...
Foi então que tudo aconteceu.
A Rafaela entrou, trazendo pela mão um homem, devia ter no mínimo uns 25 anos. Ela estava empolgada, saltitante, vindo em nossa direção. E meu peito só não saiu pela boca porque eu o segurei com a mão. Eu estava palpitante, suando frio. Wisley abriu um sorriso enorme ao ve-los juntos. O homem que Rafaela trazia pela mão era o Daniel. O motoqueiro misterioso.
- Olha tio quem eu encontrei na entrada! – e apontou o motoqueiro, que ainda segurava o capacete.
Wisley e eles deram um abraço apertado e empolgante. Minha cara não devia estar uma das mais atraentes neste momento, pois deveria estar parecendo de panaca. Eu não conseguia entender absolutamente nada. E começava a ficar profundamente irritada com a situação. Me sentia traída, me sentia como se tivessem armado para mim.
- Daniel?!! – exclamei confusa.
- Não, Luke! – gargalhou Rafaela
- Luke?! – tornei
- Desculpem, vocês se conhecem? – tornou Wisley parecendo mais confuso que eu.
E então o “filho da mãe” resolveu falar.
- Eu não sei bem o que está acontecendo... – e sorriu – mas de qualquer modo é sempre um prazer conhecer pessoas bonitas. Luke... A seu dispor.
Eu sei quem é você, e você não é droga de Luke nenhum! Pensei.
- Hã... – todos olhavam para minha cara esperando uma resposta – Marina, prazer.
Respirei fundo.
- Nossa, por um momento pensei que vocês se conhecessem... – tornou a Rafa.
- Pois é, eu também...
E ele nada respondeu. Nem se quer olhava para mim.
Covarde!
Wisley logo o levou embora dali, empolgadíssimo!
- Ei, Marina... Tudo bem?
Percebi que não parava de encara-lo, com toda minha raiva.
- Não, não está nada bem.
- Isso eu percebi... Anda, desembucha!
- Não, aqui não! Se eu ficar mais um segundo se quer perto desse cara eu acho que tenho um treco.
- Vamos subir então. Anda, estou ansiosa... Adoro novas histórias.
Você gosta de confusão, isso sim!