O fomos que não foi

Desculpe-me por ter demorado tanto para estar aqui. Na verdade, não era para eu estar deixando escapar essas palavras, meu autocontrole não me permitiria isso, mas acho que ele deve estar com algum defeito no momento. Enfim, deixa esses acasos pra lá e fique onde está. Escute, não pense e finja não entender mesmo que tudo esteja claro demais para não ser compreendido.

Preciso dizer tanto. Mas, não consigo. E sabe porque? Esse seu bendito sorriso, durante uma viagem entre nossos olhos, resolveu se estacionar na minha mente. Isso não podia acontecer. Você sabe que não. Todo mundo sabe que não! Eu evitei, fui chata, briguei, virei a cara, fui embora, deixei você se afastar. Tudo pra não sentir. Construí barreiras em cima de barreiras para que cada discurso doce que você fazia, simplesmente evaporasse dos meus pensamentos. Eu odeio ilusões e você adora provocá-las. Eu não gosto de ser chata e você conseguiu me tirar do sério. Cretinos deixam claro as suas lábias, mas você escondeu a sua.

Eu não te quis e tanto quis. Seus olhos difíceis, seu temperamento doce e coração complicado. Caramba, por quê? Nesse momento, depois de tudo. É sério? Não pode. Complicada já me basta. E você já foi embora. Não sei se fui eu que te coloquei em um trem pra o outro lado da estação ou se sou tão insuportável que resolveu ir por conta própria. Mas, agora eu sinto falta. Das ligações surpresas de madrugada, das longas conversas nas tardes de domingo, dos olhares inocentes e tão perigosos, da sua mania de me tirar do sério e de te fazer cócegas pra ouvir sua risada. Sinto falta de você. E de mim. E desse "nós" que nunca existiu. O "nós" que eu neguei até o fim não querer que existisse por um medo bobo, ou um sentimento mal resolvido, ou por saber que você era um cretino e não iria abrir mão de várias por uma, ainda que essa uma fosse eu, e eu seja diferente.

O que mais precisa ser esclarecido aqui? É, você sempre disse que nunca iria ganhar um texto meu, porque havia outros "alguém" que eu preferia escrever sobre. Pois bem, aqui está. Quanto ao ciúmes, eu tive sim, mas não quis deixar aparente. Eu me importei com você por trás da minha armadura gelada. Mesmo não devendo. Mesmo sabendo que seria um risco gigantesco. Mesmo sabendo que uma hora você ia embora. E você foi, muito cedo por sinal. E eu fiquei com uma saudade irracional do que foi e do que poderíamos ter sido.

Bela Afonso
Enviado por Bela Afonso em 29/06/2012
Código do texto: T3751837
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