Capítulo 1 - Águia Assassina

CAPÍTULO 01

— Alô! — atendeu ao telefone, um rapaz robusto, moreno claro, olhos puxadinhos e pretos, cabelo com um corte de militar e também preto, debaixo de um edredom estampado por símbolos japoneses, vestido apenas de cueca boxe. Ele conversava sonolentamente, com os olhos ainda cerrados.

— Ygor, filhinho! Já arrumou o seu quarto? Não quero saber de bagunças aí em casa, hein? — falou uma voz de mulher do outro lado da linha.

— Ô mãe, eu acordei agora mesmo...

— Você não levou mulher aí pra casa, não é?

— Não... Ô mãe, onde você tá, afinal?

— Estou aqui no Times Square te esperando para a excursão como havíamos combinado. Você se esqueceu? Peraí... não acredito que você não se arrumou ainda Ygor?

— Nossa, mãe, eu esqueci! — sobressaltou o rapaz, pulando de sua cama — E agora, o que eu vou fazer? Será que dá tempo ainda?

— Seu irresponsável! Nunca poderia esperar isso de você...

— Calma mãe, dá tempo ainda.

— Se você se apressar, quem sabe, né?

— Então tchau, mãe - terminou o rapaz, metendo abruptamente o telefone no gancho.

— Droga! Eu ainda coloquei a porcaria desse celular pra despertar — resmungou Ygor, olhando furioso para um smartphone próximo ao telefone fixo que havia conversado com a sua mãe, sob a mesinha de cabeceira. — Eu devia jogar essa porcaria pela janela — ele pensou bem e sorrindo, disse — Ou melhor, não devia não. Tenho contatos valiosos nesse celular.

Ygor só tinha meia hora para se arrumar. Correu para o banheiro todo desequilibrado, derrubando tudo pela sua frente. Por lá escovou os dentes e molhou o rosto na água fria do lavatório. Voltando ao quarto, vestiu uma regata vermelha e uma calça jeans, cujo se esqueceu de fechar o zíper. E ainda com o guarda-roupa aberto, pegou a sua colônia favorita, espremendo alguns jatos pelo corpo. Ele aproveitou ainda e enfiou de qualquer jeito algumas peças de roupa dentro de uma mochila. Em seguida, agachou-se para pegar um par de tênis esportivo e calçou-os. Sem tempo nem para tomar café, ao passar pela cozinha, devorou uma banana que estava sobre a mesa numa fruteira, deixando a casca por ali mesmo. Comeria alguma coisa no caminho. Depois, saiu do apartamento e entrou no elevador a mil.

Para sua surpresa, viu que dentro do elevador estava a garota mais linda de seu colégio: Hilary Steven, filha de um dos empresários mais milionários de Nova York.

Não era exagero dele, Hilary era uma bela jovem de cabelos lisos, compridos e negros; pele clara, como a de uma boneca de louça; olhos verdes; seios médios, combinando com seu corpo escultural de 1,68 metros. Isso, sem falar no seu jeito meigo de ser. Ele ficou todo sem jeito e ainda, quando viu que seu zíper estava aberto, todo envergonhado, fechou-o.

A garota tomou a iniciativa e, com um risinho no rosto, suavemente lhe cumprimentou:

— Oi!

— Oi, tudo bem? — respondeu ele, ainda muito sem-graça.

— Tudo. E você?

— To bem. Só um pouco apressado.

— Ah é? Você está indo viajar?

— Sim — balbuciou o rapaz, enquanto o visor numérico do elevador ia diminuindo a cada andar percorrido, sem que ninguém entrasse. — Vou com minha mãe para uma ilha aí, fazer uma excursão.

— Tá, mas que dia você volta? — perguntou a moça, inclinando ligeiramente para mais próximo do rapaz, apertando os olhos cintilantes.

— Eu não sei te dizer — respondeu ele, estranhando a pergunta de Hilary, embora seu coração se alegrasse — Quando minha mãe sai para essas excursões, ela costuma ficar por lá uns três, quatro dias no máximo.

— Sei. Que pena! É porque amanhã irei fazer uma festa em minha casa, para comemorar o meu aniversário de dezoito anos. Inclusive eu vim a este prédio, porque tenho uma amiga que mora no décimo segundo andar e vim convidá-la pessoalmente. Nós fizemos aula de balé juntas e há muito tempo não a via. Ela se chama Victória, conhece?

— Na verdade não — respondeu o rapaz coçando a cabeça.

— Então, eu pedi ao meu irmão para te dar o convite, já que vocês jogam futebol juntos e frequentemente se vêem. — E lendo nos olhos de Ygor ela concluiu — Ai... eu não acredito que ele não lhe entregou!

Ygor notou que Hilary ficara ligeiramente nervosa e pode perceber que isso a deixava mais bela.

— Não. Ele não me falou nada não.

— Eu mesma que devia ter te entregue o convite. Sabia que não podia contar com o imbecil do meu irmão. Mas se você voltar amanhã e quiser ir lá, a festa começará às dez da noite.

— Dez da noite... Dez da noite!

— O que foi? Você vai ficar aí? A porta do elevador já abriu.

— Ahn? Ah, é mesmo! – respondeu o rapaz, desconcertado.

Hilary tampou a boca com a mão, abafando o riso.

Saíram os dois em silêncio do prédio e sobre a calçada, onde passavam pessoas muito apressadas a ponto de atropelá-los, tratando de estarem no centro de Nova York, Hilary perguntou a meio ao som de buzinas de automóveis, sirenes da policia e vozerio dos pedestres:

— Você está de carro?

— Não. O meu está no conserto.

— É mesmo? O que houve com ele?

— Hã...Bem, na noite passada eu estava vindo de uma festa em um sítio. Daí, um cavalo atravessou na minha frente. Então, para não atropelá-lo, acabei batendo em uma árvore.

— Nossa! Você se machucou? — ao fazer a pergunta, uma brisa soprou os cabelos sedosos de Hilary para o seu rosto. Logo ela os desvencilhou para o dorso, prendendo algumas mechas pra trás das orelhas delicadas.

— Graças a Deus que não. Só que o carro amassou legal, viu.

— Ô meu Deus!... E você pretende chegar aonde com pressa e a pé? Se você quiser, o meu carro está estacionado logo ali, poderei te dar uma carona.

Ygor pensou muito em dar uma resposta instantânea. O convite era bastante tentador, porém em seu íntimo surgiu uma nova opção.

— Não, eu agradeço... mas acabei de mudar de ideia aqui.

— Como assim?

— Não irei mais a excursão alguma com minha mãe. Já não estava muito a fim de ir, sabe? Passar o dia no meio do mato deve ser um tédio. Então, prefiro ir a essa sua festa que com certeza irá bombar.

— Êêêêêêêê!

Hilary começou a bater palminhas de felicidade. Mas ao se sentir corar com aquela atitude infantil parou de imediato. Logo, perguntou, retornando a postura de uma jovem madura.

— Mas e sua mãe, Ygor? Será que ela não irá ficar aborrecida com você, hein? Olha, eu não quero estragar um programa entre mãe e filho. Longe de mim.

— Não se preocupe. Vou ligar pra ela avisando que não vou mais. Ela irá compreender.

— Já que é assim, vou contar com a sua presença lá, ok?

— Pode deixar que vou ser o primeiro a chegar.

Ygor ficou parado alguns instantes, vendo a garota dos seus sonhos caminhar até seu carro que estava estacionado a poucos metros dali. Pensou e pensou, já imaginando a bronca que tomaria de sua mãe pelo telefone. Sentia-se um tanto arrependido por ter preferido ir a uma festa de última hora — mas que seria única, se tratando de ser o aniversário de dezoito anos da irmã de seu amigo que tanto balançava seus sentimentos — e não de ir àquela excursão planejada com muito carinho por sua mãe. Continuou pensando um pouco e finalmente disse para si mesmo, decidido:

— É, minha mãe que me perdoa, mas nunca que eu perco um festão desses!

Assim como ocorreu a Ygor naquela manhã, poderia ocorrer com qualquer pessoa em qualquer momento do dia. Isso se chama “escolhas”. A nossa vida gira em torno de escolhas, desde o momento em que acordamos até o momento que vamos dormir. É cada indivíduo quem decide que após ouvir o barulho irritante do despertador irá trabalhar ou não, quem decide se no café da manhã irá querer torrada com geléia ou com patê; leite ou suco. Quem decide também se no almoço irá querer algo mais leve, do tipo uma salada ou algo mais gorduroso como um bife volumoso e suculento acompanhado por batatas fritas. Ygor fez a escolha dele. Decidiu ir à festa de aniversário da irmã do seu melhor amigo, a quem tanto balançava o seu coração ao invés de ir ao encontro com sua mãe para um programa planejado há dias. Porém teria feito a escolha certa? Bom, isso só os dias poderiam dizer. Mas mal podia imaginar que aquela escolha mudaria pra sempre a sua vida.

warley torres
Enviado por warley torres em 19/06/2012
Código do texto: T3733617
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