[LIVRO] Perfeito para mim. Cap 2
Depois de passar no meio de carros em alta velocidade e enxerga-los feito um borrão de tinta, depois de me sentir a menina mais poderosa do mundo, depois de sentir a sensação dos cabelos esvoaçantes ao vento, finalmente havíamos parado. Agora, eu estava sentada numa cadeira na mesa de jantar, numa cozinha, esperando o Daniel (sim, eu havia descoberto seu nome) achar alguma coisa para comer. Estava vasculhando aquele armário a mais de meia hora. E eu estava entediada.
- Tudo bem, eu admito. Eu não tenho nada para comer. Lamento. – mas ele não parecia se lamentar de verdade.
- Tudo bem, não estou com fome – apoiei –me na mesa – Na verdade acho que quero ir para casa.
Ele sorriu me observando.
- Eu já entendi. Você esperava outra coisa... Do nosso passeio? Acertei?
- Você errou, eu não esperava nada. – dei de ombros – mas estou meio entediada se você quer saber.
- Você achou o que? Que eu iria te levar para um lugar escondido ao qual eu sempre adoro ir quando quero pensar e achei que você era a pessoa certa para dividi-lo? Ou então você achou que eu ia te levar para uma aventura e te meter em enrascadas para depois te salvar como naqueles filminhos clichês?
Aquele comentário me irritou profundamente, como ele conseguia fazer aquilo sem parecer arrogante?
Respirei fundo e contei até cinco antes de dizer:
- E você pensou o que? Que eu fosse uma adolescente boba e medrosa. Ah! Fala sério, aposto que você duvidava que eu iria subir no seu apartamento. Achou o que? Que eu ficaria com medo? – eu estava literalmente desafiando ele, queria que ele fizesse algo que me botasse em perigo.
- Ainda da tempo de sentir medo. Na verdade , eu estava esperando o momento certo de te contar, mas eu sou um maluco pedófilo que tal? Você é minha próxima vítima.
Nos encaramos por um momento. Até que caímos na gargalhada. O que estávamos fazendo? Era incrivelmente ridículo.
- Okay, você é bem corajosa. Eu lamento não ter um lugar secreto para te mostrar – agora, ele parecia se lamentar de verdade.
- Okay, eu admito. Fiquei na duvida se subia ou não. Você é mesmo um maluco e eu sou sua próxima vitima?
- Hum... Não que eu me lembre. Mas nunca se sabe não é... – e depois anunciou o momento fatal - Acho que vou te levar embora agora.
- Mas agora eu não quero mais ir...
Ele sorriu pegando as chaves.
- Mas eu sim tenho que ir.
E nem ao menos se lamentou em me levar embora.
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Ele arrebentava em cima daquela moto, dirigia muito bem, muito bem mesmo, dava vontade de comprar a primeira moto eu visse só para tentar, um dia, chegar aos seus pés.
Chegamos em casa, e a festa rolava solta. Ainda.
- Puxa! Quatro da manhã! – exclamei
- Hora de menina boazinha estar na cama.
- Se isso foi uma indireta, esquece. Eu não sou boazinha.
- Tá, tá, bad girl...
Gostei disso. Sorri.
- Como posso te encontrar? – disse num ato desesperado de tentar segura-lo, já que ele começava a montar em sua moto novamente.
- Me encontrar por quê?
- Como por quê?! – me constrangi – você é legalzinho sabe...
- Ahã... – ele concordou – você é legalzinha também, mas eu não sou o tipo de cara que você gostaria de encontrar de novo, acredite.
- Ah... Então não vai mais acontecer? Nunca mais?
- Não sou eu que dito as regras – ele deu de ombros – Durma bem.
Estava me sentindo uma menina mimada querendo colo.
- Vai se ferrar Daniel – estava furiosa nesse momento – Tenha uma péssima noite. E você não dirige tão bem assim.
- Também foi um prazer conhece-la.
E arrancou dali, roncando a moto.
Ninguém me entendia, será que eles não viam que dizer “não se aproxime” era a mesma coisa que dizer “ seja bem vinda ao perigo”?
- Marina! Quem era ele?! – Era Helena trás de mim – Que festa é essa?
Virei-me devagar e com cautela. O que eu iria dizer? Esse era o Daniel, o conheci hoje e em menos de cinco minutos de papo e sai com ele, fui para seu “apê”? Ou então eu diria “ Oi, essa festa não é nada, é apenas uma reuniãozinha entre amigos, estamos esperando o meu pai que fugiu da cadeia, ele estava com saudades de mim.”
- Ain Helena! Que susto?!
- Vamos, estou esperando uma resposta! – começou a bater os pés impaciente, mau sinal.
- Tá, tá... Ideia minha, estava realmente precisando, espero que entenda.
- Não, eu não entendo. Quero que você acabe com isso já! Imediatamente!
-Agora? Tem certeza?
- Absoluta!
Aquilo para minha reputação, com certeza não iria ser nada bom, mas o que eu podia fazer?! Helena era minha prima mais velha, tinha minha tutela e era a única que eu poderia contar no mundo. Não estava a fim de obedece-la, mas caso contrario, um orfanato ou algo do tipo me aguardava.
Com muito pesar entrei em casa, ou que tinha restado da minha casa. Copos de bebidas estavam espalhados por todos os locais da casa, os objetos de decorações estavam todos espalhados, a música era extremamente alta, e todos estavam fora de si. Isso que é festão!
Me dirigi até o aparelho de som e o tirei da tomada. Todos me encararam:
- E ai Marina?! Ainda tem muita festa para rolar... – Juan, um menino da minha turma, se manifestou.
- Desculpem ai galera... Mas minha tia pintou na área, foi mal.
- Ela não vai estragar tudo agora vai?
- Ah vou, vou sim rapazinho... Quantos anos você tem? Seus pais sabem que você está em uma festa até essa hora se embebedando?! – seu tom de voz aumentava gradativamente – Acho que não né, pois bem, se não saírem daqui exatamente daqui cinco minutos vou chamar a polícia e eles resolvem o que farão com você...
- IIh! A coisa ficou feia gente, tem polícia no meio, vamos embora, vamos vazar daqui! – gritou um menino meio "barra pesada" da escola.
E em dois minutos minha casa estava esvaziada, apenas eu, Helena e aquela bagunça imensa. Ela andou devagar pela sala, chutando os copos vazios e se sentou no sofá, parecia cansada.
- Você vai querer mesmo me dar uma bronca? Preciso me preparar para isso, não tenho mais idade para essas coisas...
- Acorda garota, você tem apenas dezesseis anos!
E foi ai que eu percebi que tinha algo errado com ela, algo maior que apenas cansaço. Helena cuidava bem de mim, mas sempre foi liberal. Quer dizer, por sermos primas, nos dávamos bem mais como primas, do que se ela me tratasse como filha. Eu sempre aprontei das minhas, e ela sempre me dava um sermão. Mas nada que depois a gente não desse boas risadas. Mas hoje, ela estava estranha, diferente.
- Tenho sim, e você tem trinta. Agora me fale algo que eu não saiba.
Ela batia os pés nervosamente, estava inquieta.
- Você pode arrumar essa bagunça?
- Você sabe que eu arrumo não sabe? E esse não é o problema...
- Não, não é Marina, mas eu não vou conversar com você agora, não nessa bagunça. Eu estou cansada, trabalhei muito. Vou subir. – tirou os sapatos e descalça foi para seu quarto.
O que teria acontecido para deixa-la assim?
Virei-me para a jornada de limpeza que me esperava, não seria nada agradável, por outro lado eu poderia pensar em tudo quanto aconteceu hoje. Poderia pensar na Rafa por exemplo, onde estaria ela? Poderia pensar no Daniel e como tudo fora intrigante e excitante hoje... E como eu daria qualquer coisa para revê-lo, como ele era incrivelmente irresistível e como ele dirigia bem...