American Idol - EPISÓDIO 16

EPISÓDIO 16

Quando chegamos ao topo, estremeci e segurei forte numa parte de metal da estrutura da cabine. “Não olhe pra baixo, não olhe pra baixo Calvin Harris!” fiquei pensando e repetindo isso inúmeras vezes, mas o instinto de olhar para baixo era incontrolável.

É claro que eu paralisei, mas fiquei no meu canto discretamente com meu pânico, enquanto suava frio e mesmo assim continuava olhando para o píer lá longe debaixo de meus pés. Encarar seu medo. Deve ser assim que as pessoas chamam.

— Tudo bem Calvin? — Logan perguntou baixinho, aproveitando a distração de Mary, Cooper, Tessa e outras pessoas que ali estavam.

— Claro... Que não. É óbvio que não Logan, eu estou aqui sem me mexer, suando em bicas e me tremendo todo. Mas fique tranqüilo, não vou ter um ataque ou algo do tipo, se é isso que te preocupa. — esclareci.

Olhar nos olhos dele é uma boa maneira de desviar minha atenção do píer, que lentamente, muito lentamente, ficava mais próximo.

— Vou ficar perto de você. — respondeu sem ofensa. Ele não se sentiu ofendido pela forma como falei quando me perguntou se eu estava bem. E ainda por cima entendeu que sua proximidade me deixou melhor.

Fiquei calado, me sentindo errado.

Quando descemos da roda gigante fomos à beira do píer e permanecemos lá nos banquinho tomando algumas poucas cervejas enquanto o tempo passava. Às oito horas Cooper nos levou ao hotel e em seguida deixou as meninas em casa, eu acho.

Peguei logo meu diário e o abri antes que me esquecesse do que aconteceu hoje.

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Diário de Calvin Harris – Página 37

O dia foi muito proveitoso, tomamos banho na praia e demos uma volta na roda-gigante do parque sobre o píer. Cooper foi muito legal, mas temo que essa nossa amizade em construção venha a prejudicar a amizade que eu Logan compartilhamos. Mary e Tessa são legais, mas são típicas garotas de cidades praianas.

Eu fiquei todo tenso com a volta na roda-gigante. Não vou me esquecer disso.

Calvin Harris (oito e vinte da noite) mesmo dia – de volta ao hotel. – CA

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Logan tomou banho, eu fui em seguida. Não jantamos nesta mesma noite, apenas nos deitamos e dormimos até uma hora da tarde do dia seguinte.

Nosso café-da-manhã se tornou almoço. Cerveja tem um poder terrível de destruição sobre mim, então passei o resto da tarde descansando na cama com um exemplar antigo de “O bebê de Rosemary”, o primeiro livro que li, quando deixei a minha infância (é claro que passei as noites seguintes tendo pesadelos com o bebê, cujo ninguém vê a face) e reli o

terceiro capítulo.

Reler um livro que você leu há muitos anos atrás sempre trás lembranças do momento em que você leu na época, por exemplo: lembro-me de estar debaixo das cobertas à meia-noite, sentado na cama com uma lanterna presa no pescoço e com esse mesmo livro aberto.

E da próxima vez que reler, eu me lembrarei de Logan assistindo TV na cama ao lado da minha, num hotel vagabundo em Los Angeles - Califórnia. Acabei cochilando no fim do capítulo e quando acordei já estava anoitecendo. Tomei um banho gelado e percebi que já tinha descansado o bastante. Estava pronto para minha aula de canto em casa.

— Cooper deve passar aqui em breve para me dar umas dicas. — comentei com Logan, enquanto dividíamos uma caixa de comida japonesa.

— Hum... E quem ele pensa que é para te dar aulas? — questionou ainda prestando atenção apenas na comida.

— É sempre bom estudar com alguém que entenda de música né? A pinga não vai funcionar para sempre. — respondi descontraído.

Ele fez careta.

— Não há nada de errado com minha pinga, ah eu não quero estar aqui quando ele vier. Não quero atrapalhar a aula de vocês. — comentou abandonando os pauzinhos e pegando um garfo de plástico para segurar o sushi.

Minha vez de fazer careta.

— Atrapalhar? Nada a ver, a não ser que você esteja querendo insinuar alguma...

— Não estou insinuando nada Senhor Harris, ok. Talvez eu esteja insinuando que você vai ficar cada vez mais amigo desse Cooper todo perfeito e que vai me deixar cada vez mais de lado como aconteceu hoje na praia. — respondeu acusando e confessando ao mesmo tempo.

Eu soltei uma gargalhada nervosa.

— Fala sério Logan, um futuro modelo da Calvin Klein com ciúmes de um mero projeto de cantor? — falei constrangendo-o.

Peguei o diário imediatamente.

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Diário de Calvin Harris – Página 38

Só uma nota rápida: Logan está com ciúmes de mim.

(Eu sei! isso é inacreditável)

Calvin Harris (oito e quarenta da noite)

09 de Julho quarta-feira, no quarto. – CA

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— Cego idiota! Você é mais que um mero projeto de cantor para mim.

Logan agora me pareceu magoado, mas continuou com sua expressão comum, comeu seu último pedaço de sushi, pegou a caixa (agora vazia) e saiu do quarto. Eu ia perguntar aonde ele ia, mas talvez ele tivesse ido apenas jogar o lixo.

Minutos depois Cooper apareceu.

— Você não precisa forçar tanto, o microfone já aumenta sua voz o bastante. Para saber qual o ponto certo, nunca deixe sua jugular aparecer enquanto canta, a não ser que a canção exija isso de você. — aconselhou-me, foi o terceiro conselho desde que chegou.

Passamos mais horas treinando, cantando um para o outro, ele trouxe um violão. (esquecer o violão é um pecado (e eu pequei) terrível). Toquei em seu violão e ele disse que tenho muito talento, que vou longe e essas coisas que todos os não-profissionais dizem. Aposto que os jurados serão bem mais duros comigo da próxima vez.

Como dizia meu pai: A tendência é piorar.

Terminamos nossa “aula” às dez horas, ainda era cedo e não havia nenhum sinal de Logan, então Cooper me chamou para tomar um drink rápido na esquina. Eu aceitei, não queria ficar sozinho no quarto esperando Logan aparecer.

Caminhamos pela rua à noite, seu carro ficou o hotel por que o bar era perto demais para sair se exibindo de carro. Cooper vestia jeans, tênis causais, uma camisa pólo aberta e um suéter preto por cima, as meninas nos olhavam enquanto passávamos. Já eu devia parecer um estranho no paraíso, vestindo minha roupa sem-graça de sempre.

— As meninas não param de te olhar. — Cooper disse quando sentamos á pequena mesa do bar, havia muitas mesas na calçada e quase todas elas estavam ocupadas.

— Não é para mim que elas olham, além disso, não ligo. Meu foco é a música ou minha possível carreira musical, preciso pagar contas e estou desempregado, acho que essas coisas são mais importantes que possíveis paqueras. — declarei.

O garçom perguntou o que íamos beber, pedi uma pequena dose de vodka e Cooper pediu um energético para si.

— Sabe, eu concordo com você. Não que elas estejam me olhando, mas concordo que há mais coisas importantes que paqueras fúteis. Um brinde a isso. — ergueu seu copo.

Ergui o meu e brindamos, tomei um gole pequeno. You & i soava como música de fundo, as pessoas estavam animadas, ou melhor, elas nunca parecem desanimadas aqui.

— Cooper, vocês não desanimam nunca? Desde que cheguei aqui não vi uma parte sequer da cidade que não seja animada.

— Nunca somos desanimados. Los Angeles é um paraíso de badalação e isso basta, nem de ressaca desanimamos. Você deve saber como é, New York não deve ser muito diferente disso. As pessoas chamam a cidade de paraíso em vários sentidos. — Logan tomou mais um gole de seu energético, prestando atenção no meu copo.

— Você está enganado. — outro gole. — New York não é um paraíso, pelo menos não a parte que eu conheci. Tem todo aquele ar de cidade imensa, os sons do trânsito, das pessoas, a badalação também, mas acho que a cidade é um paraíso apenas para os “bem de vida”, pois os que não estão incluídos nessa classe lutam muito para se manter lá. Eu sou prova disso, meu orçamento está por um fio. — falei.

— Você mora com Logan e a garota num apartamento, não deve ser tão difícil assim de se manterem...

— Acredite, é sim. O aluguel é caro e ainda tem as compras do mês, passagens diárias e tantas outras despesas. New York é maravilhosa, mas é muito cara. — expliquei-lhe.

Ele pareceu surpreso.

— Não imaginava. Pensei que o apartamento era próprio, nem passou pela minha cabeça que vocês pagam aluguel. — disse Cooper realmente surpreso.

— Pois é.

— Sairia bem mais barato se você morasse aqui. Eu tenho uma casa boa em Hollywood, ganhei do meu pai. Seria uma boa unir alguns inquilinos lá. Lá tem três quartos e é bastante espaçosa, acho que seria perfeita para você, eu e seus amigos. — sugeriu.

Uma oferta tentadora, mas improvável de acontecer.

— Seria sim, eu até fico grato pela sua atenção, mas eu planejei minha vida inteira em NY e meus amigos vivem lá há muito tempo e dependem disso, portanto é impossível para nós sairmos de lá. — expliquei outra vez. Cooper pareceu entristecido de alguma forma, mas continuou conversando sobre outras coisas.

Então nós voltamos na madrugada, eu fui para o hotel e ele partiu para sua casa. Quando entrei Logan estava dormindo e eu consegui fazer o mínimo de barulho possível para não acordá-lo enquanto fazia algumas coisas antes de dormir.

Fui ao banheiro, fiz a barba que não estava necessariamente grande, baguncei meu cabelo e encarei meu belo par de olhos azuis.

— Você é tão comum Calvin Harris. — falei para meu reflexo, um ato tolo.

Lavei o rosto, tirei minha roupa, tomei um banho rápido, vesti uma cueca boxer branca e sentei na escrivaninha para fazer uma última nota no diário, antes de dormir.

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Diário de Calvin Harris – Página 39

Cooper se mostrou legal mais uma vez, até ofereceu sua casa para morarmos, mas acho totalmente impossível tirar Irina e Logan de New York, sem mencionar o fato de que seria totalmente egoísta trazê-los para cá só por causa de um sonho meu.

Logan está ressentido, há algo que não me conta, mas não importa. Logo estarei nos estúdios novamente.

Calvin Harris (madrugada) mesmo dia – de volta ao hotel outra vez. – CA

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Fechei o diário indignado, por que eu estava com Cooper no bar e nós acabamos esquecendo de que a estréia do American Idol era nessa quarta logo após Glee. Idiota! Pensei.

Mas lembrei-me de que a Fox sempre reprisa, então fiquei tranqüilo e deitei-me na cama, sentindo meu corpo seminu debaixo das cobertas.

Será que as meninas têm razão? Será que eu sou bonito ou sexy?

Abracei a mim mesmo e fechei os olhos, ansioso pela quinta-feira de descanso, antes da sexta-feira de gravação, onde eu poderia ser reprovado em rede nacional.

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