Caminho Perigoso: O Olhar

Evitei até o último minuto possível, mas não resisti. Vesti a máscara de princesa do gelo e me senti inabalável, como se nada pudesse me atingir, e me enganei. Não quis enxergar as hipóteses, nem me deixar levar pelos sorrisos meigos, muito menos pelas palavras doces, simplesmentes guardei os retalhos dos mínimos acontecimentos aos poucos na inteção inocente de sorrir e nada mais. Tudo parecia ir bem: autocontrole em perfeito estado e o coração um gelo intacto, porém nada que é agradável dura por tanto tempo.

Foram os olhos. Sempre são os olhos. O meu grande ponto fraco são os benditos olhos. As minhas histórias insistem em começar assim e não entendo o porquê. Um olhar difícil e quente, capaz até de derreter um coração gelado como o meu. Não foi possível relevar ou deixar pra lá como quem não quer nada, porque eu queria. Talvez fosse apenas um desejo estúpido de chegar mais perto e tentar decifrar o mistério guardado ali dentro, mas depois as coisas mudaram de rumo. Não resisto a essa profundidade dos olhares doces, eles escondem caminhos que me instigam a querer compreender, contudo é óbvio que na maioria das vezes não os compreendo e passo a insistir no que não devo.

Tinha a consciência do perigo que eu poderia enfrentar entrando ali, só que ainda assim não me importei em pisar naquele território. Era instigante, arrebatador, esbanjava adrenalina. Não aguentei a tentação que a minha curiosidade formulava, entrei e me perdi. Quis me provar que poderia sair intacta, porém o que consegui foi me provar a superficialidade dos meus pensamentos. E então, chego mais uma vez a velha conclusão de que quem é movida pelo coração não pode querer usar a racionalidade tão radicalmente. As coisas não funcionam assim, nunca o fizeram.

Nego às minhas percepções, nego esses disparos dentro de mim. Fujo de enxergar as palavras que quero dizer, fujo de sentir. Procuro não clarear os meus argumentos, muito menos deixar explícito esse sorrisinho bobo que anda me vindo à tona. Entretanto, como já afirmei antes, os olhos insistem em clarear a situação que tanto tento encobrir, mas estes não aprendi ainda a resistir.

Bela Afonso
Enviado por Bela Afonso em 22/04/2012
Código do texto: T3627863
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