Vivendo em um engano (Capítulos 40, 41 e 42)

CAPÍTULO 40

Estava sentada encostada na parede, fazia muito frio naquele lugar, era muito úmida aquela "caverna". O Bernardo entrou, estava complemente silencioso, ele ficou muito tempo lá fora, devia estar muito triste.

Algum tempo depois, eu já estava cansada daquele silêncio, estava agoniada com aquilo tudo. Preciso que o Bernardo me ajude a entender o motivo do Gabriel matar o Eduardo.

- Bernardo, eu sei que você talvez não queira conversar, mas acon....

- Você disse que o Edgar confirmou toda a história que o Xupeta te contou.

- Eu disse, mas....

- Será que ele também não está envolvido nisto tudo?

- Hã? Ele sendo amigo do Xupeta? Não Bernardo. Olha, ele me con...

- O homem que estava conversando com o Xupeta naquela hora que estávamos embaixo da escada, ele era o Edgar.

- O Edgar? Como você sabe? Estávamos ESCONDIDOS, eu não conseguia ver nada e acredito que...

- Eu reconheci a voz dele. Eu conheço o Edgar há muito tempo, eu sei quem ele é, ele é muito ambicioso, capaz de tudo para conseguir poder.

Não dava para acreditar naquilo que o Bernardo estava dizendo, tudo bem que eu não conhecia o Edgar tão bem quanto, mas as coisas que ele me disse, ele foi tão convicto.

- Bernardo, talvez você deva ter se confundido.

- Talvez, mas até eu saber a verdadeira história de tudo isso, até eu saber o que está acontecendo mesmo, eu não irei confiar em mais ninguém.

- Pode ser, mas....Bernardo, se o Edgar está do lado daquele criminoso, por que ele pediria para eu tirar você de lá? Por que aqueles policiais apareceram no morro?

- Não sei.

Eu queria ajudar, mas não sabia como, aliás eu nem sei como me ajudar, como irei ajudá-lo. Preciso de respostas, de muitas respostas.

CAPÍTULO 41

No outro dia, nem havia clareado ainda e nós já partimos atrás do Edgar, o Bernardo não queria que eu fosse com ele, mas eu fiz questão, quem sabe eu encontro o Gabriel, daí que já posso fazer umas perguntinhas para ele.

O Bernardo roubou um carro, desta vez eu não disse nada contra, estávamos errados, mas muita coisa já havia acontecido, fazer isso era bobeira praticamente.

- Chegamos!

- Esta é a casa do Edgar?

- Não, eu resolvi visitar meu irmão.

O Gabriel! Isso! Tudo o que eu queria, agora saberei toda a verdade, mas espera um minuto, por que ele está vindo aqui ver o irmão?

- Bernardo o que você está fazendo aqui?

- Precisamos conversar, Gabriel.

O Bernardo empurrou o Gabriel pelo portão, entrando na casa e puxando-o junto com ele, eu segui os dois e fui fechando o portão e a porta da casa.

- Para cara, o que você quer?

- A pergunta não é essa! Eu sei de tudo, descobri, foi difícil mas eu descobri.

- Do que você está falando?

- Da morte da minha família.

Percebi que o Gabriel começou a ficar nervoso, ele já estava até suando.

- Bernardo eu não fiz, quer dizer....Desculpa, o Xupeta.

- Ele já me disse a verdade toda, me mostrou provas.

Agora eu entendi o jogo do Bernardo, ele está blefando para o Gabriel se entregar, muito esperto e assustador, como ele pode ficar tão frio diante do assassino da família dele, eu estou me segurando para não dar um soco no rosto dele.

- Provas, não acredito que aquele.....

- Por quê? Só me diz o motivo, pois eu não entendo, eu fiz tudo por você, eu te protegi dos seus crimes, eu te ajudei a subir na polícia, eu fiz tudo que um irmão podia fazer para o outro e você mata a minha família em troca. Por quê?

- Você tem certeza que não sabe o motivo Bernardo? Por que mais seria?

- Não entendo, eu sempre quis o seu bem, eu....

- Meu BEM? NÃO! Você sempre quis se mostrar, esfregar na minha cara o quanto você era melhor do que eu.

- O quê?

- Você tinha uma família, UMA MÃE E UM PAI! Aquele cachorro do Xupeta, sempre bajulei ele para ter um pouco de carinho e o que ele me fez? Me tratou como escravo dele, você sempre foi o melhor.

- Gabriel...

- Eu lembro do meu pai entrando na frente do Xupeta que te segurava no colo, para salvar vocês dois no tiroteio, meu pai morreu para TE SALVAR! Em troca o que o Xupeta fez? Ele me pegou para criar, dizia para todos que eu era filho dele, mas eu ouvi muitas conversas, ele sempre dizia que eu tinha que começar a trabalhar com ele pois este era o meu único futuro, não era tão esperto quanto você para subir na polícia, não era tão inteligente quanto ele para liderar o morro, eu nasci para ser um peão.

- Mas eu sempre fui diferente dele, eu sempre te ajudei.

- Ajudava mesmo, me dizia o que era para fazer, parecia uma babá. Só que você sabe que eu sempre odiei isso, eu queria fazer algo sozinho, algo para que a sociedade pudesse se orgulhar, pudesse ver o quão bom eu sou, para verem que eu não preciso de você para nada.

Nossa, ele fez tudo por inveja, até onde ele precisou ir para mostrar o seu valor, o Bernardo que me desculpe, mas a família dele só tem pessoas doentias.

- Quando o Xupeta me disse do plano, agarrei a oportunidade com unhas e dentes, pois você estaria fora do meu caminho e as pessoas teriam que comer na minha mão, eu não precisava mais ser comparado com o lixo assassino que você se tornou. Matei sua família com prazer.

O Bernardo deu um soco no rosto do Gabriel e os dois começaram a lutar. O Gabriel conseguia bater no irmão adotivo, mas o ex-detetive era mais habilidoso e mais forte, então dava mais murros e pontapés.

CAPÍTULO 42

Apesar de estar sentindo uma satisfação dentro de mim por ver o assassino do meu amigo apanhando, eu fiquei tensa com aquilo tudo e resolvi entrar no meio da briga para fazer o Bernardo parar, o Gabriel já estava no chão e ele não parava de bater nele, aquele homem parecia que ia morrer, pois já estava com o rosto todo ensanguentado, precisava fazer alguma coisa.

- Para Bernardo! PARA! SOLTA ELE! SOLTA!

- Sai Amélia!

- Não! Solta ele! Bernardo para! Você vai matar ele! PARA!

Eu tentava tirar o Bernardo de cima do Gabriel, mas ele é muito forte, no entanto depois de muito esforço e vários gritos dizendo para ele se afastar, ele largou o verdadeiro assassino no chão.

- Ele precisa morrer, precisa pagar pelo que fez.

- Claro que precisa, mas se você matá-lo agora, você passará o resto da vida na cadeia e não irá conseguir se inocentar.

- E daí que eu não consiga, estarei feliz de saber que ele está morto, que eu o matei com minhas próprias mãos.

- E ser igual a ele? Um assassino? Jogar no lixo tudo o que você lutou tanto para construir? Sua carreira, a imagem da sua família? Pensa Bernardo, se você o matar agora, você voltará para a cadeia e pagará por um crime que não cometeu, ainda continuará lá por ter matado SUA FAMÍLIA, algo que sabemos que não foi você quem fez. No entanto, se você levar o Gabriel para o justiça, ele será preso, sua honra estará lavada, você poderá ser o Bernardo de antes, e ELE pagará pelo que cometeu.

O Bernardo não disse nada, somente virou as costas e saiu dali. Aproveitei a situação para esclarecer algumas coisas. Me virei para o Gabriel, ele ainda estava caído no chão, todo lesado mas ainda acordado.

- Agora você vai me responder algumas coisas.

- Já disse tudo.

- Para o Bernardo, não para mim.

- Eu não tenho....(Cof-Cof)...Sai daqui!

- Por que você matou o Eduardo? Dizem que você é louco, que mata os suspeitos para fazê-los pagar pelo suposto crime que cometeu, mas o Eduardo não era suspeito, não foi engano, você teve um motivo e eu quero saber qual é este motivo.

- Sai!

- Não, você vai me contar.

O Gabriel soltou uma risada de deboche, fiquei com tanta raiva dele, então olhei ao redor e percebi que ao lado da sala, onde estávamos, havia uma cozinha, corri até lá, olhei dentro das gavetas do armário, peguei uma faca, voltei até a sala e puxei a mão do idiota para perto de mim.

- Nunca pensei que faria isso, mas sabe que eu estou gostando, acho que será divertido, então vamos jogar, você me conta o que eu quero saber, caso contrário você perde um dedo.

Estava morrendo de medo, não tinha coragem de matar uma mosca, sabia que não cortaria o dedo dele, mas ele não precisa saber do disso.

- Você não tem coragem.

- Então vamos ver. Irei começar pelo mindinho.

Coloquei a faca no início do dedo mindinho dele, estava tremendo, não iria cortar, mas e se ele não me contasse nada, terei coragem de fazer isso? Ai, e agora? O que eu estou fazendo é tortura, eu sou contra isso, mas o que eu faço para ele me contar tudo que quero saber?

- Está bem! Eu falo!

Ufa! Olhei o dedo dele, fiquei nervosa que nem percebi que pressionei a faca e o dedo dele sangrou um pouco.

- Então diga, por que você matou o Eduardo?

- Me mandaram matar ele! Me mandaram. Apenas aproveitei a situação para mandar o Bernardo de voltar para a cadeia.

- Quem te mandou matá-lo?

- Uma senhora.

- Qual o nome dela.

- Não sei.

- Resposta errada.

- NÃO! Espere! Por favor, espere. Eu não me lembro o nome, mas parece que era irmã dele, irmã do homem que eu matei. Ela pediu para o Xupeta, daí ele me mandou, eu não sei direito, só fiz o que ele mandou.

Estava boquiaberta, como assim a irmã do Eduardo mandou matá-lo? Qual o motivo? O que ela ganharia com aquilo tudo? Não dava para entender, não dava.

- Vamos Amélia, deixe este traste ai, já encontrei o que eu queria.

- Certo.

Saímos da casa do Gabriel, pegamos o carro e fomos direto para casa do Edgar, espero que ele não seja amigo do Xupeta e espero que ele possa me ajudar.