Vivendo em um engano (Capítulos 36, 37, 38 e 39)

CAPÍTULO 36

A Amélia voltou para a favela e foi à casa do Xupeta. Chegando no topo do morro, ela rondou a casa, se escondendo como podia, então encontrou um lugar no fundo do imóvel, havia um buraco na parede e não tinha ninguém vigiando, então ela passou por ali e correu para entrar na casa e encontrar o quarto onde o Bernardo estava.

Preciso subir as escadas, preciso achar o quar.....Ai! Tem alguém descendo.

Me escondi atrás do sofá que se encontrava na sala ainda bagunçada, enquanto alguns homens desciam as escadas com armas e pedaços de madeira nas mãos. Assim que os criminosos saíram da sala, eu fui rapidamente para o andar de cima, me lembrava fracamente qual era o quarto que eu estava, sabia que era do lado esquerdo, mas não me lembrava se era a primeira ou segunda porta, então tentei as duas, sorte que na primeira não havia ninguém, pois não era onde o Bernardo estava, mas sim a segunda.

- A-mélia?

- Oi! Vim te tirar daqui!

O Bernardo não estava mais pendurado no meio da sala, colaram ele no mesmo canto que eu estava, amarrando apenas as mãos deles na parede.

- Você não....Não devia estar aqui....irão te pegar.

- Eu não vou deixar você morrer. Como faço para tirar as correntes?

- A chave.....pendurada ali....na parede, atrás de....você.

Olhei para onde ele falou, havia uma pequena chave ali, corri, peguei e voltei ao Bernardo para libertá-lo.

- Pronto, você acha que consegue andar?

- Sim, eu....água...preciso.

- Mas onde vamos...Aaaaah, espera, eu vou pegar.

Corri até o outro lado da sala, havia uma garrafa com água ali, provavelmente era um jeito de tentá-lo, fazendo-o sofrer ainda mais.

- Bebe! Precisamos sair daqui, antes que o Xupeta apareça. O Edgar já está vindo para cá, mas ele disse que preciso tirar você antes, parece que ele descobriu algo, será perigoso ficar aqui quando eles chegarem.

- Edgar?

- Depois eu te falo, beba a água e vamos.

Ajudei o Bernardo a se levantar, ele se apoio no meu ombro e eu e ele saímos dali.

CAPÍTULO 37

- Espere!

- O que foi? Tem uma saída lá atrás, podemos sair por lá sem sermos percebidos.

- Não!

- Não? Pare com isso Bernardo, não temos tempo para mais nada, precis...

- O Xupeta, eu....Amélia, eu preciso acabar co....

- Você é louco Bernardo? Olha o estado que você está, você não duraria nem dois minutos brigando com ele. Vamos!

- Eu...

- Bernardo não....

Ele colocou o dedo na minha boca, me silenciando. Milésimos de segundos depois eu entendi o motivo, ele ouviu algo que eu estava ouvindo agora, passos de duas pessoas que estavam conversando e descendo a escada, nos escondemos rapidamente embaixo da mesma até o momento ideal para sairmos da casa.

- É o Xupeta.

Entendi o que ele queria fazer, então balancei a cabeça negativamente para ele.

- Ele matou a minha família.

- Não foi ele.

Ele fez uma feição de interrogação, não entendendo o que eu queria dizer.

- Depois eu te conto. Agora, por favor, faça o que eu disser.

Fiz um gesto indicando para ele permanecer em silêncio e passamos a ouvir o que o Xupeta e a outra pessoa conversavam.

- Tenho que mandar alguém arrumar isto tudo.

- Mas Xupeta, quem vamos mandar para o assalto?

- Eu estou pensando em você como mentor e no Gabriel, meu filho tem que largar aquele emprego ridículo e começar a participar dos negócios da família, temos que ser realistas, ele nunca vai conseguir ser detetive, por que ficar se iludindo? Já tenho pessoas de confiança lá dentro, não preciso dele.

- Certo! Vamos lá fora então, eu preciso te mostrar o carregamento que chegou para o assalto.

- Vamos então, tenho que voltar logo.

Assim que eles saíram, eu e o Bernardo fomos rapidamente para os fundos da casa, fugindo pelo lugar de onde eu entrei.

CAPÍTULO 38

Chegando no fim da favela, começamos a ouvir tiroteios e vimos helicópteros indo para o topo do morro, a polícia já estava chegando.

- Para onde iremos agora?

- Eu conheço um lugar, vamos por aqui.

Andamos por um bom tempo até chegarmos perto de uma mata.

- Mata de novo?

- Única opção que temos.

Mais uma vez no meio das árvores e gramas, andamos mais um tanto até chegarmos a um lugar que parecia um caverna, entramos ali para ficarmos até o Bernardo se recuperar um pouco.

- Pensei que estava morta.

- Quando me colocaram no carro e me levaram para o meio do nada, eu pensei que me matariam, mas somente me deixaram lá, me abandonaram, não sei o motivo do Xupeta fazer isso.

- Acho que ele só queria que você me odiasse.

- Hã?

- Eu ouvi alguma coisa parecida com isso, ele comentou com um dos capangas dizendo que uma parte estava cumprida, te tirar do caminho, fazendo você me odiar para eu sofrer, pensei então que haviam te matado.

- Acho que ele assiste muito filme, além de ser doente, quer dizer ele devia ter te matado logo, porque ficar querendo te fazer sofrer psicologicamente para depois te matar, que loucura.

- Seu comentário me otimiza muito.

- Ah, desculpa, não foi o que eu quis dizer, é que......

- Tudo bem, estou me acostumando com você falando o que não devia na hora errada.

- E eu com a sua sinceridade insensível.

Nós dois começamos a rir um do outro, afinal que conversa boba. Depois que paramos de rir, o Bernardo ficou todo sério e começou uma conversa que devia mesmo acontecer.

- Eu não matei o Eduardo.

- Sei. Quer dizer, por um momento pensei que sim, mas depois eu.....Bernardo, por que você não me disse que era você? Que você era o homem que eu havia visto?

- Eu não sabia no momento em que fugimos da cadeia, só percebi depois que você me contou a tua história, o motivo de ter sido presa, foi aí que eu liguei uma coisa na outra, no entanto te contar não seria legal, não tinha necessidade pois ficaria um clima estranho, você estava presa com o homem que podia ter te livrado da penitenciária, seria horrível, não é mesmo?

- Pensando assim, você tem razão.

- Me desculpe, eu disse que odeio injustiça, mas te deixei ser presa por algo que não cometeu, tudo para salvar meu irmão.

- O Gabriel?

- Eu estava respondendo em liberdade e pesquisando secretamente sobre o assassinato do minha família, então naquela noite, o meu irmão disse que o tal de Eduardo, o seu amigo, tinha informações sobre o crime, mas depois que tudo ocorreu, fiquei sabendo que foi um engano do Gabriel, o Brandão não sabia de nada. O meu irmão achou que o Eduardo estava mentindo, então o matou, ele agiu impulsivamente, como sempre. Sem saber o que fazer, só pude disse mandar o Gabriel fugir, assim que ele saiu de perto de mim e do morto, você apareceu. Estava escuro, eu não sabia quem era, não dava para ver seu rosto ou qualquer outra coisa, fiquei assustado, me lembrei que estava respondendo em liberdade e que aquilo iria me deixar em uma situação pior do que eu já estava, então eu fugi. O problema foi que na minha fuga, eu vi o Gabriel, ele não tinha avançado muito e a polícia já estava chegando, para salvá-lo eu tive a ideia de assaltar uma joalheria que havia ali perto, com isso os policiais me pegarem e o meu irmão escapou.

- Então foi o Gabriel que matou meu amigo, ele precisa pagar pelo que fez.

- Amélia, eu irei assumir toda a responsabilidade, meu irmão não teve culpa, ele se enganou, assim que chegarmos na deleg.....

- Se enganou? Não me parece engano.

- Olha, ele perdeu o pai muito cedo, é todo revoltado, sou o único que o compreende, se ele for preso, ele irá ficar pior do que é.

Ele ainda insistia em defender aquele traste, isto está errado, ele precisa saber quem é este tal de Gabriel.

- Bernardo, o Gabriel matou sua família.

- O quê?

CAPÍTULO 39

Contei tudo o que eu sabia para ele, tudo que o Xupeta havia me revelado enquanto estava presa.

- Eu sinto muito, mas ele não é o irmão que você acha que é.

- O Xupeta mentiu para você.

- Hã? Não, foi tudo verdade.

- Como você pode saber? Você não o conhece, você não passou quase vinte anos da sua vida com ele, você nã....

- O Edgar confirmou isso!

O Bernardo se silenciou rapidamente, parecia em choque, do Xupeta ele pode desconfiar, mas do Edgar, seu melhor amigo, ele não pode.

- Depois que me abandonaram naquele lugar que eu não sei onde, eu encontrei o cartão do Edgar, então resolvi procurar um telefone e ligar para ele. Andei bastante até encontrar uma casinha, conversei com os idosos que moravam lá, usei a história do sequestro novamente, então eles me emprestaram o telefone, liguei para o seu amigo e conversei com ele, contei rapidamente o que havia acontecido com a gente e o que o Xupeta me revelou. Bernardo, ele me disse que iria te contar isto naquele dia que vocês se encontraram, porque foi o que ele descobriu, parece que ele ouviu uma conversa do Gabriel com uns outros dois policiais, então resolveu investigar, disse que só não o incriminou ainda por falta de provas concretas, testemunhas, etc. O Gabriel é um policial corrupto, ele sempre esteve do lado do Xupeta, foi ele quem matou a sua família.

- Eu não posso acreditar.

- Eu sinto muito. Depois da conversa que eu tive com o Edgar, o dono da casa me deu uma carona até a cidade, combinei com o Edgar que eu iria te pegar antes dele chegar com a polícia.

O Bernardo levantou e saiu da "caverna" em silêncio. Coitado! Saber daquilo tudo deve tê-lo machucado muito, melhor eu deixá-lo sozinho por um tempo para pensar melhor.

Agora eu estou aqui pensando, o Gabriel nunca gostou do Bernardo, foi ele quem matou a família do irmão, isso quer dizer que ele nunca quis ajudá-lo a achar o criminoso do assassinato, então, provavelmente, ele não se enganou com o Eduardo, ele devia saber que o meu amigo não sabia de nada, ele o matou por matar ou será que tem mais algum outro motivo nisso tudo? Por que ele matou o Eduardo?