Vivendo em um engano (Capítulos 28, 29 e 30)

CAPÍTULO 28

Começamos a andar pela favela como se fossemos moradores, mas em algum momento os subordinados do Xupeta iriam perceber e o momento chegou.

Percebi que estavam nos seguindo, então segurei a mão da Amélia e a puxei para começarmos a correr.

Depois de entrarmos em algumas casas que estavam abertas e ficarmos atrás de alguns muros para nos escondermos, conseguimos chegar a frente da casa do Xupeta. Não é tão fácil se aproximar do "quartel" do criminoso, mas para quem conhece aquela favela detalhadamente, pois já viveu ali, é menos difícil do que para outras pessoas.

Eu e a Amélia estávamos escondidos atrás de um caçamba de lixo, observando a frente da casa do Xupeta, que é bem grande, diferente daquela que eu me lembrava.

- E agora Bernardo? Estamos em desvantagem, eles estão armados e nós não temos nada.

- Eu já havia pensado nisso, mas o meu plano não te incluía então terei que mudar algumas coisas.

- Por exemplo?

Expliquei o meu plano, depois segurei a Amélia com as mãos para trás, como se fosse uma prisioneira e caminhei em direção aqueles capangas do Xupeta.

- O que cê qué?

- Calma, estou desarmado, só vim trazer este presente para o Xupeta.

- Essa daí?

- Claro!

- Deixa eu ver!

O homem se aproximou de nós dois, olhou a Amélia com uma feição de aproveitador, o que me deu vontade de dar um soco nele.

- Então? Vai me deixar entrar?

- Apesar de ser jeitosinha, eu preciso confirmá com o chefe se ele pediu pro cê trazê ela memo.

- Então diga à ele que quem está trazendo o presente é o Bernardo.

O subordinado saiu para avisar o Xupeta. Algum tempo depois, ele e mais três voltaram e nos levaram para dentro da casa.

CAPÍTULO 29

Tudo ali é de alto padrão, pude perceber isso enquanto eu e o Bernardo esperávamos o tal de Xupeta chegar, na sala.

Eu sei que não devia estar aqui, não devia ter subido com o Bernardo, isto é uma coisa dele, não me interessa, mas tive medo de algo ruim acontecer com ele e perdê-lo.

Não posso conter, eu tenho uma afeição muito forte por este policial, no começo eu o odiava, mas depois que eu vi quem ele realmente é, depois que vi no olhar dele que ele não é aquele louco assassino que eu pensava, depois que percebi que por trás desta máscara de durão, agressivo e insensível, existe um ser humano, que tem amor dentro de si, eu comecei a sentir um carinho muito especial por ele.

Ontem, quando estávamos na água, eu senti algo muito forte, uma felicidade imensa por estar ali com ele, principalmente depois que ele me beijou, pois senti que ele também sente algo por mim, teve sentimento aquele beijo. Contudo, ele disse que foi um erro, pois ainda sente algo pela mulher falecida.

O Bernardo já havia parado de me segurar como uma prisioneira, este foi o plano para podermos entrar aqui, parece que ele conhece este criminoso. Estava de pé perto da estante, enquanto ele estava impaciente, andando de um lado para o outro, perto da mesinha de centro. Comecei a observá-lo.

Nestes dias que estamos juntos, eu posso afirmar que antes da cadeia ele era uma pessoa doce, alguém meio agitado por causa do trabalho, mas maravilhoso quando em tempo livre. A prisão transforma as pessoas, transforma muito. Quem diria que eu estaria aqui, na casa de um criminoso, ajudando um homem encantador a se vingar? Quem diria que eu teria ódio de alguém que matou meu melhor amigo? Quem diria que eu teria coragem de entrar em uma favela? Quem diria que eu conseguiria tomar decisões tão radicais como continuar fugitiva ao invés de me entregar para a polícia? Quem diria que eu me atrairia por um homem como o Bernardo? Quem diria?

- Um bom filho sempre retorna a casa de seu bom pai, não é mesmo Bernardo?

Um velho desceu uma escada que dava para a sala, quem será ele? E porque ele se utilizou daquela frase?

- Olá Xupeta!

- Olá Bernardo, ou melhor, FILHO.

CAPÍTULO 30

FILHO? ELE ESTÁ CHAMANDO O BERNADO DE FILHO? COMO ASSIM?

Olhei indignada para o Bernardo, mas ele nem me notou, estava olhando com tanta raiva para o tal de Xupeta, homem que eu achava que seria bem mais novo, que apelido ridículo para uma pessoa desta idade, ele parece ter uns 70 anos, devia estar na cama, assistindo um filme e não sendo um criminoso muito perigoso.

- Quem diria que você pisaria novamente nesta casa?

- Muito modificada por sinal.

- Preciso gastar toda a minha grana em alguma coisa, já tenho meu estoque de armas, de drogas, de empregados, onde mais eu poderia colocar todo o dinheiro roubado?

Estava mais do que incrédula, aquele senhor idoso falava todos os seus crimes para o Bernardo como se estivesse contando sobre uma viagem de férias. Olhei para o Bernardo e ele estava vermelho, sua mão estava fechada, como se fosse dar um soco em alguém.

- Vejam só, então é este o presente que você me trouxe? Que linda, muito bonitinha.

Aquele velho nojento colocou a mão no meu rosto, eu dei um tapa na mão dele.

- Não toca nela!

O Bernardo veio para perto e se colocou entre mim e o Xupeta.

- Achei que você havia dado o brinquedo para mim.

- Você sabe muito bem o motivo de eu estar aqui.

- Você está se referindo a sua prisão?

- Você foi quem me incriminou! Você matou minha família, não é mesmo? Diga!

- Bernardo, dos meus dois filhos você é o que eu renego. Trabalhar na polícia, ser todo a favor da lei, que estúpido. Eu sempre te ensinei que o mundo do crime é mais prático e dá muito mais dinheiro, o esperto do seu irmão, o Gabriel, mesmo não sendo do meu sangue, me ouviu corretamente.

- Não ouse falar dele!

- Por que não? Ele é o único que eu tenho orgulho, ele herdará tudo que é meu, ELE SIM É UM CORTEZ DE VERDADE! Você é como a porca da sua mãe e matar sua família foi a melhor coisa que eu mandei fazer na vida.

O Bernardo deu um soco nele, então três homens que trabalham para o Xupeta vieram em cima do ex policial, mas ele parece que se preparou para isso, bateu nos três, depois jogou a mesinha de centro no chão, virando-a como um escudo, me puxou pela mão e me colocou atrás da mesa-escudo.

- Fica aí!

Eu estava entre os dois sofás, a mesa era grande até. Olhei por cima dela e o Bernardo estava brigando com mais homens, de repente alguém me pegou pelo cabelo.

- ME SOLTA! ME SOLTA!

Enfiei dois dedos nos olhos do meu agressor, então sai de trás da mesa e corri, aquilo não daria certo por muito tempo mesmo. Um homem veio ao meu encontro, me agarrou pelas costas, tentei me livrar dele mordendo sua mão, mas não deu certo como nos filmes, então comecei a me debater contra ele até que consegui soltar uma das minhas mãos, peguei um vaso que estava na estante e bati na cabeça dele, ele me soltou e consegui ficar livre por mais um tempo, até que dois capangas do Xupeta me encurralaram na parede, então o criminoso-mor deu um tiro para o alto, veio para perto de mim e apontou a arma na minha cabeça.

- Você vai parar de bancar um homem nervosinho e se render, Bernardo, ou terei que explodir a cabeça da sua nova dama?

O Bernardo soltou o homem que estava nas suas mãos, deixando-o cair no chão, dois homens foram até ele, um o agarrou por de trás e o outro lhe dou um soco no estômago e uma joelhada no rosto, tudo com muita força que ele desmaiou. Eu só tive tempo de gritar.

- NÃO!