Vivendo em um engano (Capítulos 8, 9, 10 e 11)

CAPÍTULO 8

Do tribunal fui levada direto para uma cela, parecia muito com aquela que eu estava na primeira vez que me prenderam em Minas. O advogado conseguiu que eu esperasse o julgamento em liberdade, mas desta vez ele falhou. Estou aqui nesta cela sozinha, pelo menos não estou dividindo com outras dezenas de mulheres, os policiais me deixaram com minha roupa também, não me mandaram colocar aquela de presidiária, assim me sinto mais como aquela Amélia confeiteira que só precisava se preocupar com o déficit de atenção.

- Amélia de Melo?

Que policial idiota! Por que perguntar se eu sou a Amélia? Sou a única pessoa na cela, é óbvio que este é meu nome. Ai como estou estressada.

- Sou eu mesma.

- Você tem uma visita, seu advogado.

O guarda me levou até uma salinha onde se encontrava o senhor Thales.

- Oi!

- Oi! Você conseguiu provar a minha inocência?

- Não!

- Então quer dizer que eu vou ter ficar aqui?

- Não também.

- Não? Quer dizer que você conseguiu que eu responda em liberdade?

- Na verdade não, seu caso é muito complicado, eu tentarei conseguir que você responda em liberdade, mas será muito difícil.

- Muito difícil? Como assim muito difícil? Para as outras pessoas é muito fácil, eu já vi na televisão.

- Acontece que seu caso é diferente e televisão, você não pode confiar 100%. Você terá que se aceitar isso.

- Falar é fácil.

- Amélia eu disse que você não ficará aqui porque este lugar é apenas uma delegacia, na semana que vem você será transferida para uma penitenciária.

- Transferida?

- Isso. É uma penitenciária aqui em São Paulo mesmo, fica a duas horas daqui, é isolada, maior. É para lá que eles levam os criminosos.

- Mas eu não sou criminosa! Thales você sabe a minha vida toda, eu te contei, eu não matei o senhor Brandão, EU SOU INOCENTE!

- Tudo bem, eu posso confiar em você, acreditar nisso tudo, mas eles têm provas contra você E eu não tenho nada para te inocentar, a não ser a tua palavra.

- Droga! E quanto tempo eu terei que ficar.....PRESA!

- 12 anos.

- 12 ANOS?

- Que bom! Passa rapidinho, melhor do que 20 anos.

- Você está brincando, não é mesmo?

- Amélia eu vou fazer o possível, mas será difícil conseguir te inocentar. Olha, você ainda pode fazer uma coisa para sair mais cedo: bom comportamento. Se você for uma boa detenta, se você tiver um bom comportamento ficando longe de encrenca, eu posso conseguir que eles te liberem daqui dois ou três anos.

- Sério?

- Sim, mas você precisa se comportar, ficar longe de encrenca, o que pode ser pouco difícil. Temos que ser sinceros Amélia, a cadeia não é o melhor lugar do mundo, você precisa ficar na sua.

- Eu não tenho mais nada para fazer, não é mesmo?

- Não. Agora eu já vou, se cuida.

- Espera! E o meu pai? Ele me defendeu no julgamento, eu não posso falar com ele?

- Amélia, eu sinto muito, mas assim que acabou o julgamento, seu pai foi parar no hospital, parece que ele não aguentou o resultado do julgamento.

- Mas ele vai ficar bem?

- Não sei. Olha, não se preocupe, provavelmente aqui ele não vem te visitar, mas ele ficará melhor e poderá te visitar lá na penitenciária.

- Nossa! Que ótimo, você me deixou muito feliz!

- Aviso: ser irônica na cadeia é um modo de dizer que você quer briga, então evite o que você acabou de fazer. Até mais Amélia, darei um jeito de te acompanhar na transferência, mas não garanto.

- Tudo bem!

A cena se repetiu como da última vez, o senhor Thales saiu por uma porta e eu fui levada, algemada, por outra.

CAPÍTULO 9

A penitenciária é um nojo, algumas pessoas diriam "Nossa! Até que aqui é melhor do que eu esperava", se elas não fossem detentas, pois para mim isto aqui é pior do que eu imaginava.

Já se passaram seis meses desde que eu entrei aqui, é um local bem isolado mesmo, não ouço som de nada, é um completo silêncio. Dentro deste maravilhoso lugar, estamos divididas por cela, em cada cela ficam oito prisioneiras, ao todo parece que somos em 100 pessoas, mas dizem que daqui um tempo virão mais 50 prisioneiras para dividirem este pesadelo com a gente.

A penitenciária é mista, mas tudo é bem separado, exite um bloco para as mulheres e um bloco para os homens. Cada bloco tem sua área de lazer, sei disso pois a nossa área e a deles é dividida por uma grade. Cada área tem jogos, tipo dama e xadrez, tem utensílios de esportes, como futebol e basquete, tem religião (detentas pastoras), tem uma mini academia ao ar livre e tem bancos (assentos), para tomarmos um Sol.

Temos também oficinas aqui, parece que é um jeito de reintegração social, aprendemos a cozinhar, costurar, estampar, entre outras coisas, assim quando sairmos daqui poderemos trabalhar como operárias em alguma fábrica, uma fábrica própria para detentas, pois não é todo mundo que tem compaixão e nos contrata, isso é bom, pois é tudo o que queremos quando saímos daqui: um emprego em alguma fábrica própria para ex-detentas, logo entraremos na classe trabalhadora da sociedade, nossa família nos aceitará tranquilamente, o mundo nos aceitará tranquilamente e tudo será um mar de rosas. Puff! Até parece!

Aqui temos horários de refeições a serem seguidas, almoçamos as 12:30 e jantamos as 19:30, no intervalo entre o almoço e o jantar temos um lanche da tarde, sem contar que também nos dão café da manhã. Isto é ridículo quando se pensa que existem pessoas que passam fome, mesmo sendo todas certinhas.

Ao chegar neste lugar eu não conversei com ninguém, quando me perguntaram o que eu tinha feito para estar aqui, eu disse que havia matado um homem mesmo sendo mentira, eu pensei que se dissesse isso eles ficariam com medo de mim e não falariam comigo. Meu plano meio duvidoso acabou dando certo, ninguém fala comigo e eu não falo com ninguém. Bom, claro que não estou inteiramente muda aqui dentro, tem uma menina, ela é da minha cela, um dia eu a vi chorando e fiquei com dó, o nome dela é Carina, ela tem 19 anos, faz um ano que está aqui, foi presa por traficar drogas.

- Ei mué, tô ino lá fora, hora do tempo livre, vamo lá?

- Não estou afim Carina, vou ficar aqui mesmo, pensando.

- Que isso mué? Vamo, você fica aqui sempre, não sai pra nada, vamo!

A Carina é boazinha, mas a fala dela me mata, disse à ela que eu poderia ajudá-la a falar certo, mas ela não deu a mínima, então eu tento me acostumar com o jeito dela falar, afinal ela não tem culpa, é a criação, o ambiente, isso influência muito. Sei que eu não sou a rainha do português, mas me esforço para falar correto.

Fui até a área de lazer, estava um tempo ameno, fora dali eu poderia dizer que estava até gostoso, mas ali dentro para mim nada é bom.

- Então? O que tem de bom aqui?

- Nada! Vai vamo joga bola.

- Falando desse jeito até parece que você gosta daqui.

- Eu não gosto daqui, eu odeio isso tudo. Acontece que já tô aqui faz um tempo e vô fica mais ainda, não posso fica chorano, vô morre desse jeito, enterrada naquela jaula. Eu mereço esta aqui, tenho que me acostuma.

MAS EU NÃO MEREÇO ESTAR AQUI! Melhor eu relaxar, parar de pensar nestas coisas, não posso e nem quero brigar com alguém.

- Vamo sair daqui!

- Por quê?

- As GAROTAS estão vindo.

- Ah sei, vamos.

As GAROTAS são umas mulheres que cometeram crimes muito ruins, tipo vários assassinatos, vários assaltos a importantes bancos, esposas de traficantes perigosos, etc. Elas se juntaram e andam juntas na cadeia, para ficar longe de encrenca é melhor ficar longe deste grupo, pois para elas funciona assim: "faça o que eu quero ou você e sua família que está lá fora já eram!".

Eu e a Carina fomos sentar perto de um banco que ficava próximo da grade, de frente para a área de lazer dos homens.

- Por que você não entra pro grupo das GAROTAS? Você matou um cara, é misteriosa, durona, séria, as vezes tenho até medo de você. Ah, não sei, mas para mim você tem a cara delas.

- Primeiro, eu não tenho A CARA delas, segundo, eu quero sair o mais rápido possível daqui, não quero ficar conhecida pelos policiais e pelas detentas, não quero encrenca.

- Ah, então é melhor você ficar de boa memo.

A Carina devia ficar de boca fechada as vezes. Estava olhando para o frente, dispersa das bobeiras que a Carina falava, foi quando eu vi um homem sozinho, sentado em uma mesa. Aquele homem, eu acho que o conheço, quer dizer, conhecer não, mas eu já o vi em algum lugar, o formato do corpo dele não me é estranho.

- Ei Carina, quem é aquele homem ali?

- Que homi?

- Aquele do outro lado da grade, na área de lazer dos homens, o que está sentado sozinho na mesa.

- Nosssss, nem olha pra ele, eu já ouvi fala dele, ele é o cara mais temido daqui, tanto das mué quanto dos homi.

- Nossa! Por quê? Qual o crime que ele cometeu?

- Ele matô a família toda, as duas filha e a mué dele. Dizem que foi a queima roupa, assim sem emoção nenhuma. Ele é muito sombrio, uma vez quebrou os dente de um cara daqui só com um soco. Ele dá medo em todos, parece que é de uma gangue muito terrível aqui de São Paulo. Parece que é o líder da gangue.

Senti um frio na barriga quando ela me disse que ele matou a família, confesso que estou com medo dele, sorte minha que existe esta grade separando as áreas, porque senão.....Ai meu Deus, este lugar é horrível!

- Mas ele é um gostoso, né? Olha o corpo dele, aquela tatuagem de dragão nas costas, ele é muito delícia. Loiro, olhos azuis, corpo definido, quem diz que ele é louco assassino?

- Eu vou para minha cela, fica aí DESEJANDO ele. Até!

Aquele cara me dá medo, olhar para ele já me deixa arrepiada. Sombrio, horrível. Ah, e a Carina? Que menina cega!

CAPÍTULO 10

- Oi!

- E aí? Veio me tirar daqui?

- Um ano e oito meses depois e já está com o tom de voz de um verdadeira prisioneira. Eles te transformaram.

- Primeiro: eu estou aqui há um ano, nove meses e quatro dias. Segundo: você está livre, não está pagando por um crime que não cometeu, meu tom de voz é de uma pessoa que odeia injustiça e não de alguém transformado por este lugar, talvez ele tenha me ajudado um pouco, me mostrando como este mundo é injusto, que eu preciso lutar e parar de ter pena e ser caridosa com as pessoas. Terceiro: todo este tempo que eu estive aqui, ninguém se quer me deu mandou uma carta, você nem se quer apareceu para me dizer como anda o meu processo, por isso te ver é um pé no......

- Tudo bem, tudo bem! Eu entendo sua raiva, este lugar deve ser horrível mesmo, passar pelo que você está passando deve ser insuportável, mas eu não pude vir antes, meu negócio está dando certo, estou tendo vários casos e vencendo-os, E claro, além de ficar conversando com o pessoal que está envolvido no seu caso para ver se consigo te tirar daqui por bom comportamento.

- Fala logo, não quero saber se as coisa estão dando certo para você, não sou tua psicóloga nem nada, me diz: conseguiu algo ou posso voltar para minha cela?

- Bom, senhorita bravinha.....

- Não te dei intimidade para brincar senhor Thales. Você é meu advogado e eu sou a sua cliente, seja direto por favor.

- Desculpe Amélia, acontece que eu só queria descontrair a sua tensão.

- Não estou tensa.

- Ok! Então mais uma vez eu consegui, seu comportamento está sendo excelente, você é uma boa presidiária, participou dos projetos que eles trouxeram para prisão, sempre se apresentou para a equipe de limpeza, está em todas as oficinas, não arrumou encrenca com ninguém, faz tudo o que uma boa detenta precisa fazer para sair antes da pena ser completada.

- Quer dizer que eu consegui? Eu vou ser liberta antes do tempo?

- Sim, você irá responder em liberdade, seu comportamento me ajudou a conseguir isto par você.

- Obrigada! Muito obrigada! Quando eu saio?

- Daqui uma semana! Existe umas papeladas para assinar, umas coisas para resolver, preciso do carimbo de um juiz, mas já está tudo certo, daqui uma semana você pode respirar o ar da liberdade novamente.

- Eu estou muito feliz, eu nem sei como te agradecer.

- Me agradeça se comportando bem na próxima semana, não coloque nada a perder E principalmente, não comente com ninguém, você está vivendo aqui, sabe com as coisas funcionam, existem pessoas ruins aí, pessoas, que se souberem, farão de tudo para te meter em encrenca nesta semana.

- Eu sei! Ficarei de boca fechada. Agora, o senhor sabe pelo menos do meu pai? O que aconteceu com ele? Ele saiu do hospital? Ele está bem?

- Ah, Amélia! Me desculpe, sua mãe me ligou três meses atrás, mas eu não pude, nem conseguia te dar a notícia, estava muito ocupado e te dizer o que aconteceu é complicado.

- O que aconteceu? Fala logo Thales, o que a senhora Melo te disse?

- Seu pai morreu Amélia. Ele foi para o hospital depois do julgamento, algum tempo depois ele passou muito mal e o ligaram em aparelhos. Há três meses os médicos disseram a tua mãe que não adiantava mais, então ela deixou que eles desligassem os aparelhos. Sinto muito! Preciso ir, até!

Do que adiantava a felicidade de sair daquele lugar em breve se a única pessoa que me importava ultimamente estava morta? Sentir o ar da liberdade, viver sem o Eduardo e meu pai, coisas que irão acontecer em breve, preciso estar preparada. Deitei na minha cama e olhei para aquele buraco com grades que chamamos de janela, dá para ver um pedaço do céu, assim eu posso admirá-lo e pensar.

CAPÍTULO 11

- Acordem! Acordem!

- O que está acontecendo?

- Que hora é?

Ninguém conseguia entender o motivo dos policiais estarem nos acordando. Olhei para a janela, ainda estava escuro, será que aconteceu algo grave?

- Agora é três e dez.

- Como você sabe, Jamanta?

- Peguei um relógio de um policial semana passada, Carina.

Isso explica porque desde a semana passada ela anda pontual, afinal a tal de Jamanta sempre foi a mais atrasada daqui da cela.

As grades das celas foram todas abertas, os policiais no colocaram em fila e nos algemaram umas as outras, fiquei atrás da Carina e na frente da Jamanta.

Estava muito escuro, só havia a luz das lanternas dos policiais, pelo que pude perceber todas as detentas estavam do mesmo jeito que eu e as meninas da minha cela. De repente a Carina começou a andar e eu a acompanhei, tentei olhar mais a frente, não dava para perceber muito bem, mas parecia que um policial conduzia a gente. Depois de um tempo paramos, senti um brisa então percebi que estávamos em algum lugar aberto, olhei ao redor e ao ver o teto, percebi que era o céu todo estrelado, confirmando a minha suspeita, só faltava saber que lugar aberto era aquele e o motivo dos policiais nos levarem até ali.

- O que está acontecendo Carina?

- Não sei, nunca passei por isso antes.

De repente um clarão, as luzes dos postes que estavam a nossa volta se acenderam, tudo ficou bem iluminado. Que bom! Apesar de meus olhos estarem lacrimejando agora, eu ficou feliz de estar em um lugar iluminado.

- Por que os cara está aqui?

A Carina sussurrou, não consegui entender muito bem. Tentei olhá-la, mas a minha visão não estava muito boa, meus olhos lacrimejavam muito. Então olhei para direção que ela olhava, bem na nossa frente, os homens prisioneiros, que sempre ficavam do outro lado da grade, estavam também enfileirados e algemados como a gente. Comecei a olhar ao redor novamente, agora com a iluminação percebi que os policiais nos levaram para a área de lazer dos homens, mas ainda faltava saber o motivo.

- Boa madrugada, queridas e queridos. Sejam bem vindos a minha FESTA!

Festa? De quem era aquela voz? Olhei na direção que a voz vinha, parecia uma varanda de apartamento, lá estava um homem bem vestido, meio gordo e barbudo, nunca o vira antes. Tudo bem que eu não conhecia os pessoal da cadeia, mas tinha um noção de quem trabalhava ali e aquele homem, nem na minha imaginação estava.

- Quem é ele?

- Não sei!

- Meu nome será um mistério, vocês só saberão que eu estou dando uma festa para comemorar minha vinda para cá! Quero que vocês se divirtam com água e dançando, pois esta será a última vez que vocês terão um pouco de lazer neste lugar, já que a partir de hoje mais tarde normas serão implantadas e vocês desejarão nunca mais cometerem crimes, pois nunca mais irão querer vir para cá.

O que aquele louco pensa que está fazendo? Ele não pode fazer isso, é contra as leis, somos presos mas temos direitos humanos, ele não pode fazer isso, não pode nos tratar assim!

- Policiais, façam o que eu disse.

Os policiais vieram até a gente e desalgemaram nossos braços. Fiquei com uma algema em um dos braços e a outra ficou sem, para o nosso prazer, angústia ou medo, que foi o meu caso, nos algemaram a um homem, cada detenta com um detento, assim a outra argola da algema que estava presa no meu braço, foi parar no braço do homem solitário que matou a família.

- ISTO ESTÁ ERRADO! VOCÊS ESTÃO INDO CONTRA OS NOSSOS DIREITOS HUMANOS!

- Quem disse isso?

- Foi ela senhor!

- Uma mulher? Essa tem peito para me enfrentar. Espere um minuto, estou descendo.

Um pequeno tempo depois o senhor barrigudo estava na minha frente com capuz cobrindo o rosto.

- Hum, então foi a senhora! Eu sou o dono deste lugar, eu mando aqui. Direitos humanos? Para saber que eles exitem você deve pelo menos ter um pouco de estudo. Bonita, um pouco estudada! Gostei de você, por isso desta vez irei passar e não deixarei te machucarem, mas tome cuidado, pois agora eu estou bonzinho, mas da próxima vez eu não estarei.

Senti um frio na espinha. Aquele homem era mau, muito mau!

O barrigudo fez um gesto para o policial que me segurava pelo braço e ele me algemou com o homem sombrio. Meu coração batia muito forte, estava tremendo, estava gelada, sentia um medo que eu nunca sentira antes.

O barrigudo apareceu novamente na varandinha.

- Agora quero que vocês DANCEM!

Uma música agitada começou a tocar, todos estávamos em pares, mas ninguém movia um pé.

- Vocês querem que eu fique bravo? Mandarei os policiais atirarem, por isso acho melhor dançarem, ou vocês querem morrer?

De repente todo mundo começou a dançar, até eu e o meu parceiro tenebroso! Não o tinha olhado no rosto ainda, estava de cabeça baixa desde a hora que o policial nos prendera.

Depois de umas três músicas agitadas, começou a tocar uma música lenta. Eu, toda me tremendo, olhei para o rosto do assassino doentio, ele nem olhou para mim, simplesmente me pegou pela cintura e começou a dançar, rodar.

- Policiais os casais parecem estarem pegando fogo, não quero sem-vergonhice na minha cadeia, deem água para eles.

Uma jarro de água foi jogado em nós prisioneiros, fiquei um pouco molhada.

- Isto tem que acabar!

A voz do meu parceiro me assustou um pouco, era grossa e ao mesmo calma, muito doentio.

- Sabe correr bem depressa?

- Hã?

- Continue dançando, não dê na cara que estamos conversando.

Não entendi o que ele queria, mas continuei dançando, estava com mais medo dele do que dos policiais.

- Então, você sabe correr bem depressa?

- Por quê?

- Sabe ou não?

- Sei!

- Certo! Você acha que consegue subir naquela grade?

Ele me virou, como se estivéssemos dando um giro de dança, de frente para uma grade perto de uma mesa de som, havia um pedaço sem cerca elétrica, percebi que além disso a grade era um pouco alta.

- Acho que não, ela é muito alta para mim.

- Tem medo de altura?

- Não, mas ela é muito...

- Entendi, terei que te jogar então.

- Você o quê?

- Assim que eu te jogar, eu subirei também, quando estivermos do outro lado teremos que correr bem depressa.

- Não, eu não vou com você, eu serei solta daqui uma semana, eu....

- Você não tem escolha, estamos algemados juntos, ou você vai comigo, ou você perde um braço e vai ser mulherzinha do gorducho um tempão, sem contar que eu acho difícil ele deixar você ser solta daqui uma semana.

- Você é louco!

- Só me acompanhe!

- Não!

Não adiantou eu dizer que não queria ir com ele. O maníaco assassino me jogou de lado em um passo de dança, de repente ele começou a correr em direção a grade, não consegui ficar parada, seria arrastada se ficasse. Então ele passou por um guarda, como eu estava de um lado, ele de outro e o guarda no meio, a algema pegou o pescoço do guarda, o maníaco virou com tudo, passou por debaixo do meu braço e enforcou o policial que estava perto da grade. Com uma agilidade impressionante, ele pegou a arma do policial, me girou de uma maneira para soltar o homem que foi enforcado e apontou o revólver para os outros que estavam vindo nos pegar. De repente ele me pegou no colo e derrubou a mesa de som que estava perto da grade, atrapalhando e derrubando muitos policiais, então me jogou por cima do pedaço da grade que estava sem a cerca elétrica, subiu correndo aquela e pulou a barreira. Cai com muita força no chão, enquanto ele aterrissou com os dois pés suavemente. Olhei pela grade, os policiais já estavam se recuperando e se preparando para atirar, mas o muito esperto fugitivo, me pegou rapidamente no colo e saiu correndo.

Acho que preciso começar a pensar em não ter a minha sonhada liberdade.