Vivendo em um engano (Capítulos 5, 6 e 7)

CAPÍTULO 5

- Olá!

- Quem é você?

- Seu advogado.

- Mas eu não chamei nenhum advogado, não tenho dinheiro para te pagar.

- Sou um advogado público.

- Ah, e quem te chamou?

- Seus pais!

- E o senhor vai me tirar daqui?

- Tentarei.

- Hã? Tentará?

- Amélia seu caso é complicado, a família da vítima entrou com uma ação contra você, pelo jeito eles querem te ver muito tempo na cadeia.

- A família do Eduardo? Você quer dizer a irmã dele, não é mesmo?

- Isso. Continuando: tudo incrimina você. Suas digitais foram as únicas encontradas na faca, você foi pega na cena do crime, o seu caso secreto com a vítima foi descoberto, eles sa.....

- Caso secreto? Não doutor, eu não tinha nenhum caso com o senhor Brandão, eramos apenas amigos, ele me ajudava pois minha família não estava nem aí para mim, eu so....

- Isso é o que você diz, eu pesquisei muito, fui atrás de pessoas para conversar, parece que a família do senhor Brandão tem testemunhas contra você, testemunhas que afirmam o namoro de vocês.

- Namoro? Ai meu Deus, eu não fiz nada senhor, me ajude por favor!

- Me chame de Thales, por favor. O julgamento irá acontecer daqui dois meses. Eu sei, falta pouco tempo, mas é que eles têm dinheiro, a irmã está em cima para que a justiça aconteça rápido. Entrarei com um pedido para você ficar em liberdade até que ocorra o julgamento e irei trabalhar para que você seja inocentada, eu prometo.

- Eu não fiz nada.

- Tudo bem, por enquanto comece me contando tudo que aconteceu naquela noite.

- Espera um minuto, havia um homem, um homem perto do corpo do Eduardo, quando eu cheguei ele saiu correndo, por que não investigam isso?

- Eu vi que você mencionou este homem no seu depoimento para a polícia, acontece que ninguém mais o viu, você não apresentou nenhuma descrição....

- Porque estava escuro, eu não conseguia ver nada, só havia um fio de luz, não era possível eu distinguir algo....

- Calma Amélia, calma! Irei trabalhar neste caso, você precisa ter paciência.

Esmurrei a mesa e me levantei da cadeira, estava muito nervosa, nunca havia me sentido assim antes. Eu sei aproveitar as maravilhas da vida, mas aquilo é um pesadelo, eu não poderia aceitar cometerem uma injustiça desse jeito.

- Paciência? O senhor me diz que preciso ter paciência? Eu não consigo ter paciência, durante meus 23 anos de vida eu tive paciência: paciência para ser adotada, paciência para aguentar a minha suposta família, paciência para conseguir arrumar dinheiro e me tratar do déficit de atenção, paciência para conseguir sair daquela casa, paciência para tudo que há de errado na minha vida E agora o senhor vem me pedir paciência para resolver esta injustiça que estão cometendo?

- Acho melhor a senhorita sentar.....

- Não irei me sentar, EU QUERO SAIR DAQUI, O SENHOR PRECISA ME TIRAR DAQUI, ESTÃO COMETENDO UM ENGANO, EU NÃO MATEI O EDUARDO, EU SOU INOCENTE!

Uns quatro guardas apareceram na salinha em que eu estava com o advogado, eles me seguraram e começaram a me algemar.

- ME SOLTEM! ME SOLTEM!

- Eu darei um jeito Amélia, darei um jeito, tenha paciência, paciência.

- Melhor o senhor ir embora.

- Já estou indo, guarda. Se acalme Amélia.

- NÃO VAI EMBORA! EU QUERO SAIR DAQUI, VOCÊS ESTÃO COMETENDO UM ENGANO, UM ENGANO.

O advogado saiu por uma porta e eu fui carregada por outra, como se fosse uma perigosa criminosa.

CAPÍTULO 6

Fora do pesadelo de Amélia, as coisas aconteciam ameaçadoramente entre a irmã do Eduardo, Joana, e os pais adotivos da Amélia.

- Olá senhora Melo!

- Quem é a senhora?

- Irmã do homem que sua filha matou.

- Me desculpe senhora, mas eu acredito que minha filha não matou ninguém. Ela pode ser o que for, mas assassina ela não é.

- Creio que o senhor seja o pai da mocinha. Acontece que eu estou sofrendo muito, meu irmão era tudo para mim, a morte dele está me levando a depressão. Eu sei que foi ela quem o matou, ela estava querendo o dinheiro dele, ela o estava extorquindo, ele gastava muito dinheiro com ela.

- Bom, a Amélia sempre foi meio estranha mesmo.

- Que isso mulher? A minha filha não é desse tipo, a Amélia é honesta.

- Pois eu não acho que ela seja, nossa filha Angélica é que sempre foi honesta, nunca se envolveu com homem mais velho que ela por causa de dinheiro.

- A Amélia é nossa filha também e eu....

- SUA FILHA! Não se esqueça que foi você quem quis adotá-la, eu não fiz a maior satisfação disso. Boa ação?! Olha o que a SUA boa ação está fazendo agora: matando velhos ricos!

- Não me importo com a discussão de vocês, só lhes digo que isso não irá ficar barato, quero que a tal da Amélia pague pelo crime que cometeu. Soube que vocês arrumaram um advogado para ela, acontece que ninguém irá tirá-la do xadrez, ela irá apodrecer lá, E se vocês ficarem do lado dela, também sofrerão.

- ELA É NOSSA FILHA!

- ELA É UMA ASSASSINA!

- Espera um minuto, o que você disse foi uma ameaça?

- Entenda como quiser, mas se prepare desde já, pois a filha do senhor irá ficar na cadeia pelo resto da vida.

CAPÍTULO 7

O julgamento ocorreu em São Paulo, havia pouca gente, pois o caso não abalou o Brasil inteiro, afinal o senhor Brandão não era um cara famoso, nem ficou sequestrado pela ex-namorada junto com amigos. A irmã do Eduardo só queria justiça e para ela colocar a Amélia na cadeia era a melhor forma de fazê-la.

Para testemunhas de defesa o pai da Adele fora chamado.

- Minha filha não é desonesta, ela jamais mataria alguém por causa de dinheiro. Eu não digo isso porque ela é minha filha, digo isso porque eu a conheço como pessoa.

Nunca pensei que meu pai adotivo pudesse dizer algo assim por mim, acho que no fundo ele gosta de mim como filha de verdade.

Para defesa da Adele, não havia muitas pessoas, no entanto para acusação, principalmente para confirmar que a acusada e a vítima tinham algo, havia muita gente, até a mãe adotiva da Amélia.

- Não sei se ela matou ou não o senhor Brandão, mas ela sempre foi uma pessoa estranha, na escola não tinha amigos, sempre pensou em sair de casa, viver sua própria vida, mesmo a gente lhe dando todo amor que ela merecia. Muitas vezes eu me pergunto como ela conseguiu dinheiro para alugar o apartamento em Minas, como conseguiu dinheiro para se tratar do déficit de atenção, sendo que todo o dinheiro que ela ganhava no trabalho ela dava para família, dizendo que queria nos ajudar. Não estou acusando a Amélia, mas suspeito que a vítima a ajudou com isso, daí eu me pergunto outra coisa: o que o senhor Brandão ganhava em troca com as boas ações que fazia para Amélia?

Como ela pôde ser contra a mim? Amor? Ela nunca me deu amor! Eu consegui minhas coisas com meu esforço, mentindo para ela sobre o dinheiro que eu ganhava E ela me obrigada a dar o dinheiro. Que vaca!

- Depois de tudo que foi dito neste julgamento, o juri chegou a conclusão que a senhorita Amélia de Melo é culpada pelo assassinato do senhor Eduardo Brandão e que.......

Acusada? Não eu não matei o Eduardo! Eu não fiz nada, isto é um engano. Eles estão sendo injustos, isto está errado, completamente errado.

- NÃO! EU NÃO MATEI O EDUARDO!

- Calma Amélia!

- Me acalmar uma ova! O senhor me disse que eu seria inocentada, o senhor prometeu.

- Eu fiz o possível, tentarei recorrer, mas.......

- EU NÃO VOU SER PRESA, EU NÃO FIZ NADA, O EDUARDO ERA MEU AMIGO, MEU MELHOR AMIGO, A GENTE NÃO TINHA NADA! EU CONSEGUI TUDO COM MEU ESFORÇO. POR FAVOR! ME SOLTEM, ME SOLTEM! EU NÃO QUERO IR, EU NÃO POSSO SER PRESA!

Os policiais me pegaram e me algemaram, agora era oficial, eu estava sendo presa para sempre. Eu estava presa!