Adele (Capítulos 83 e 84)

CAPÍTULO 83: ADMIRAÇÃO

Acordei mais decidida neste domingo, já sei o que eu devo fazer. Nossa, até me sinto mais mulher, mais amadurecida, também sempre agi como criança, pelo menos eu acho isso, eu era meio infantil, mas faz parte da vida, agora com esta decisão tomada percebo que estou madura o suficiente para saber o que eu quero. Tudo bem, estou exagerando um pouco com esta história de maturidade, mas pelo menos tomei uma decisão.

"Alô!"

- Alô! Tudo bem Murilo?

"Tudo! E você?"

- Eu estou bem. Hum, você está ocupado hoje?

"Não."

- Então, é que eu preciso falar com você, a gente pode se encontrar na pracinha perto da minha casa umas nove horas da noite?

"Podemos sim."

- Está bem, eu vou te esperar então.

"Ok."

- Teh.

"Até!"

Pronto, agora é só esperar.

Estava na pracinha umas oito e meia. Na verdade acho que até mais cedo, eu sai da missa e já fiquei sentada no banco esperando o Murilo.

Oito e quarenta. Oito e cinquenta. Que saco! As horas estão demorando a passar.

Nove e cinco. Cadê ele? Já está atrasado!

- Oi!

- Ah,....oi Murilo!

Ele me abraçou e me deu um beijo no rosto, retribui o gesto por ele feito. Estava muito diferente, tudo bem, não muito diferente porque eu já o tinha visto com o novo visual nas fotos do face dele, sei que é errado e feio, mas eu fiquei entrando no face dele para saber como ele está, quem nunca fez isso?

Forte, andou malhando, cabelo bem curtinho, raspou faz pouco tempo pelo que parece. Lindo, muito lindo. Cheiroso, muito cheiroso. Ai! Se concentra Adele, você sabe o que veio fazer aqui, então fale logo, não se distraia com as características físicas dele.

- Desculpa.

- Transe de novo, rsrsrs.

- É, rsrs.

- Faz tempo que eu não te vejo, você está bem melhor.

- Tenho tido muitas horas particulares com os terapeutas, conversamos muito, tenho mudado alguns conceitos, aprendendo a viver melhor.

- Percebo, você parece mais radiante.

- Obrigada. Você também mudou um pouco.

- Malhação.

Eu já sabia disso, rsrs. Aaaaaaah, que lindo! ADELE! CONCENTRAÇÃO, CONCENTRAÇÃO! É! FOCO! MUITO FOCO!

- Então Murilo, eu te chamei aqui porque a gente precisa conversar, muito sério.

- Isso quer dizer que você pensou no que eu te disse.

- Pensei, e eu tomei uma decisão. Vou ser direta e sincera, espero que não me leve a mal.

- Não te leve a mal?

- Eu....Ah! A gente não deve ficar juntos.

Ficamos em silêncio por um tempo. Espero estar agindo certo. Não! Eu ESTOU agindo certo.

- Por que você está dizendo isso?

- Me desculpa, você deve estar querendo me matar agora. Eu sei que fiz você esperar muito tempo, mas eu na verdade não te fiz esperar, eu conversava com você como se fosse meu amigo, claro que uma amizade colorida, as vezes a gente falava sobre relacionamento, me dava indiretas e eu fugia, apesar de as vezes dar trela e dizer que gosto de você, sem contar que...

- Adele, Adele! Pode parar.

- Desculpa, eu estou nervosa, quando fico nervosa eu falo de mais, eu não sei o que acontece, acho que talvez seja um jeito de esconder as coisas, ou de tornar o momento mais fácil, mas eu...

- Adele, vocês está fazendo de novo.

- Ai desculpa!

- Eu não estou com vontade de te matar. Eu só estou querendo entender o motivo de você me dizer que a gente não pode ficar juntos. Você sempre demonstrou que gostava de mim, agora mesmo, quando eu acabei de chegar você ficou daquele jeito que você sempre fica quando me vê. Aconteceu alguma coisa? Porque pelo que eu percebi, você ainda gosta de mim. E eu de você.

- Desculpa. Eu sei, eu fico assim mesmo, como uma boba falando com você, mas......eu preciso de algo real Murilo.

- Algo real?

- Eu sei, é idiota, principalmente pelo fato de você ser um cara real, quer dizer.....deixa quieto, eu vou me complicar tentando te esclarecer. Só entenda que a gente não pode....

- Não, eu não vou entender. Adele me diz a verdade, você não vai se complicar, mesmo que isso aconteça, pelo menos eu terei uma ideia.

- Tudo bem. Murilo eu gosto de você, mas ultimamente eu tenho percebido que isso é mais idealização do que paixão. Você é lindo, inteligente, fofo, romântico, faz meu coração disparar, fico como uma boba perto de você, mas tudo isso não é real, não é vivo. Sei que é complicado de entender, porque eu mesma não entendo, só entenda que não há chama nisso tudo. Para mim você é apaixonante, possui muitas qualidade que eu admiro em um cara, mas não possui todas. Não existe ninguém perfeito nesse mundo, mas existe a pessoa que chega perto, que faz você se sentir viva, que faz o relacionamento ter movimento, que faz você pensar em tudo e ao mesmo tempo não pensar em nada, a pessoa que te completa. Nós somos um pouco parecidos, principalmente nas nossas ideias. Desculpa, mas eu não quero isso, eu gosto de mudanças, eu preciso de coisas diferentes, preciso de alguém que me complete, não de alguém parecido comigo. Eu tenho um carinho muito grande por você, fico boba sim, mas é coisa de momento, eu sinto mais admiração por você do que paixão. A gente não vai dar certo, eu vou ter momentos lindos com você, sei que você vai me fazer feliz, mas terá momentos que eu estarei pensando em outras coisas, em outro cara. Eu sou contra a isso, mesmo muitos não achando, para mim isso é traição, mesmo sendo só em pensamentos, mas será assim. Me desculpa, por favor, eu não queria que isso acontecesse, sempre achei que você fosse o cara certo, mas hoje vejo que não. Amei te conhecer, os momentos que tivemos juntos foram maravilhosos, vou guardar a minha primeira vez em lugar muito especial do meu coração.

- Entendo. Você disse que tem outro cara, é aquele seu amigo? O do hospital?

- Eu disse que seria sincera.

- Eu vou guardar nossos momentos também em um lugar muito especial. Agradeço a sinceridade, não vou ficar bravo com você, cada um sabe o que quer e você me parece bem decidida, por isso não direi nada.

- Me desculpa, de verdade.

- Não precisa se desculpar, eu já passei por isso, sei como você se sente, pois agora eu sei como a Ana se sentiu.

O Murilo colocou uma de suas mãos em meu rosto e me acariciou.

- Eu nunca fiquei com o Lucas, nunca nos beijamos nem nada. Sei que não preciso dizer isso, mas acho que você precisa saber: quando eu fui tua, eu fui inteiramente tua, só você me importava e ninguém mais.

- Eu fico feliz em saber.

- Mas eu tenho que parar de ser idealista, tenho que parar de confundir admiração com paixão. Te admiro muito por você ser assim, carinhoso, fofo, romântico, inteligente, mas é somente isso: admiração.

- Se cuida.

- Você também.

Nos abraçamos e ficamos assim durante um tempo. Ah, acho que agi do jeito que devia agir. Preciso pensar seriamente nas coisas que faço. Preciso mesmo pensar.

CAPÍTULO 84: JANTAR

Sabe aquela sensação que se sente quando se faz algo que devia ser feito, tipo uma sensação de alívio? É isto que sinto. Como é bom sentar no sofá e pensar "Acabou, acabou esta confusão louca!".

- Oi querida.

- Oi mãe!

- Já está pronta?

- Pronta?

- Sim. Ai Adele, você se esqueceu! Sabia que isso ia acontecer, era para começar as nove, agora já são quase dez horas da noite e nada ainda.

- Mãe do que a senhora está falando?

- Do jantar Adele! Do jantar!

- Que jantar mãe?

- Do jantar que eu te disse hoje de manhã que daria. Adele eu te avisei, seu irmão já está chegando, precisei ligar para Luisa e pedir para ela chegar as dez, o Augusto já está chegando também, sua avó está no banheiro e você......ai meu Deus, está tudo dando errado, você nem está pronta, não é mesmo?

- Mãe eu não estou entendendo nada do que a senhora está falando, eu esqueci deste jantar, nem me lembro da senhora me falando sobre ele, eu estava com tanta coisa na cabeça.

- Está bem, vai se arrumar então, eu só preciso dos meus filhos bem arrumadinhos, é um jantar importante.

- Hã?

- VAI ADELE!

- Está bem, estou indo.

O que será este jantar, eu não me lembro da minha mãe falando sobre ele. Deixa eu ver, preciso ficar bem arrumadinha, este vestido, esta sandália, o que mais? Já ia me esquecendo, o mais importante: BANHO!

Me arrumei rapidinho, gostei da roupa, estava bonitinha. Em outros tempos pensaria se a roupa estava me deixando gorda, mas ultimamente eu percebo que não, claro que não estou super magra, mas também nem quero, me sinto bem, estou confortável com este vestido azul, estou me sentindo linda.

O jantar da minha mãe na verdade era uma apresentação do relacionamento dela com o Augusto para a família, junto com uma surpresa do Augusto para minha mãe, pelo menos foi o que ele me contou.

- Oi Adele.

- Oi. Eu não sabia do jantar, estou muito feliz pela minha mãe, sabia que vocês tinham algo, já estava na hora de assumir para toda família, né?

- Sua mãe que não queria, eu vivia insistindo.

- Sei, conheço a peça. Então, como filha mais velha e super protetora, eu já vou te avisando: se machucar minha mãe eu tomarei providências.

- Eu sei, vocês são super unidas, uma ajudando a outra.

- E tem meu irmão também.

- Ele já falou comigo, mesmo antes da gente assumir.

- O macho alfa da família. É, meu irmão é intrometido mesmo.

- Rsrsrs. Mas para você ter certeza que eu quero algo sério e certo com tua mãe, só fazê-la feliz, eu vou te contar algo que estou afim de fazer hoje a noite, uma surpresa. Quando estivermos na mesa, jantando, eu irei pedir a mão da tua mãe em casamento.

- Sério?

- Mais do que sério, eu a amo Adele.

- Que lindo Augusto! Minha mãe, ah ela vai amar isso.

- Então, eu quero que você guarde isto, pode ser? Quando eu a abracei quase ela percebeu a caixinha no meu bolso. Perguntou por que estava meio alto esta parte da minha jaqueta, eu precisei desconversar.

- Entendo, vou colocar no meu quarto, me avisa quando for falar com ela.

- Será na hora do jantar, assim que ela nos chamar para comer você pode pegar a caixinha.

- Ok! Está em boas mãos.

Que lindo! Minha mãe ficará muito feliz, ela merece muito.

- E aí mana!

- Oi! Ai Nando, ainda bem que você chegou, mamãe estava surtando dizendo que nada estava dando certo.

- Acabei de chegar.

- Já falou com a mamãe?

- Já falei com todo mundo, só esperei o Augusto te liberar.

- Ele estava me contando uma coisa muito importante. Ah, precisamos conversar, hein senhor penetra.

- Eu sei, e o nome da conversa é Beatriz.

- Isso mesmo. Entra aqui.

Entramos no meu quarto para conversar mais abertamente.

- A Bia gostou muito de você.

- Eu sei.

- Você sabia que ela é minha amiga?

- Não. Eu a achei muito gata, fiquei insistindo, sabia que ela tinha namorado porque a dona da festa me contou. Peguei amizade com a aniversariante rapidinho, então ela me contou tudo que eu queria saber. Parece que o namorado dela não foi porque estava fazendo provas ou algo do tipo, não entendi o motivo.

- A Bia falou que ele ia fazer prova de recuperação do semestre passado no dia seguinte, não podia ir à festa, precisava estudar ou já era.

- Ele é do tipo que deixa tudo em cima da hora.

- Igual a você no passado, sorte que você aprendeu algo, né?

- Acontece que eu sabia que ela queria ficar comigo, estava na cara, só que não queria na frente de todo mundo.

- Por que vocês homens são assim, insistentes?

- Porque sabemos que vocês mulheres sempre fazem doce. Eu achei ela bonita, sabia que ela queria, que se dane o namorado, ninguém mandou deixá-la sozinha.

- Primeiro eu não faço doce, só não sei deixar claro o que realmente quero, porque eu não sei o que realmente quero. Segundo, aposto que você a segui, não é mesmo?

- Sim. Ficamos em um beco e trocamos telefone, daí na quarta ela me mandou uma mensagem dizendo que é sua amiga.

- Vocês estão juntos?

- Não ainda, programamos de nos encontrar semana que vem. Ela é muito gata.

- E você vai ficar com ela só por causa disso? Não quero que você a machuque, eu conheço a Bia, ela diz que você é gato e tudo, mas daqui a pouco vai dizer que você é lindo, fofo, ou seja, estará apaixonada. Por favor, fique com ela não pela aparência, mas pelo que ela é. Se você a machucar Nando, eu sei que não tenho nada com isso, mas eu vou ficar muito chateada com você.

- Tudo bem! Adele, eu vou ficar com ela sim, quem sabe até comecemos a namorar.

- Você é um idiota sabia?

- E você muito certinha.

- Não vou dizer mais nada, só quero que pense no que está fazendo, não a machuque. Já chega aquela menina da faculdade daqui da cidade, você disse que gostava dela, fez ela se apaixonar por você, daí você simplesmente terminou com ela quando passou no vestibular, fazendo-a sofrer.

- Passado! Eu tenho que curtir.

- Não com minha amiga!

- Ok! Não se preocupe, tudo bem? Vamos voltar para o jantar.

- CHAAAAATO!

Meu irmão é um zé mané, idiota. Saber que existem mais meninos como ele no mundo. Ai meu Deus!

No jantar estava eu, minha mãe, o Augusto, minha avó, meu irmão, a Luisa e o Maurício, que são os pais do Lucas. Isso mesmo: pais do Lucas. Minha mãe e a dona Luisa são muito amigas ultimamente. Elas se conheceram em uma reunião de pais, quando eu e o Lucas ainda fazíamos ensino médio, mas a amizade ficou mais forte quando eu fui para faculdade, elas se juntam e ficam falando sobre mim e o Lucas, uma ajudando a outra a matar saudades, rsrsrs.

Para mim não faltava mais ninguém, até que a campainha tocou e minha mãe, que estava toda ocupada com o frango no fogão, me pediu para atender.

- Não mãe, vai a senhora, deixa eu cuidar da cozinha, a senhora vai ficar cheirando gordura.

- É assado Adele! Deixa eu cuidar daqui, sua avó está com a salada, o seu irmão acho que está tomando banho. Vai lá atender por favor.

- Ah, está bem!

Fico sem graça toda vez que passo perto do senhor e da senhora Rocha. O Augusto está fazendo sala para eles, ainda bem, porque eles ficam falando comigo sobre o Lucas na faculdade, perguntando que curso que eu vou prestar no vestibular, entre outras coisas. Não sei o que acontece, mas eu vivo lembrando de alguns momentos com o Lucas toda vez que eles começam a falar dele, então fico sem graça e não sei responder direito as coisas que eles perguntam, assim que tive uma oportunidade eu sai da sala e fui para cozinha. Bom, agora eu tenho que ir até o portão, quem será o atrasadinho?

Abri a porta da sala, olhei para o portão mas não conseguia ver quem era. A minha rua não é muito iluminada e para ajudar não temos uma luz que ilumine aquela parte, já disse para minha mãe que precisamos resolver isso, vai que alguém do mal aparece ali, daí quando chegamos lá no portão ele faz algo ruim. Sorte que meu bairro é seguro, então não precisamos pensar muito nisso, mas é bom cogitar todas as possibilidades, por isso deixo sempre uma faca perto do portão, escondida entre os vasos, ninguém sabe disso.

Chegando no portão a minha surpresa foi maior do que se fosse um cara do mal, pois esta ideia já estava cogitada, mas a ideia de aparecer aquela pessoa que estava na minha frente, nem tinha piscado na minha mente.

- Oi Adele!

- Lucas!