Mais Uma Vez Presente: Saudade

Não sei por onde começar. Em uma busca incansável pelas palavras certas, perco o rumo dos sentidos. Será que a verdade está escrita dentro de mim e eu não quero mais enxergá-la? Mais uma pergunta para a minha lista sem respostas. Eu não planejei que as coisas fossem assim, não tenho mais o controle - na verdade, acho que nunca tive.

Enquanto aquela antiga melodia percorre os cantos do meu quarto, procuro entender cada parte de sua letra, mas suas frases vão se desfigurando formando contornos conhecidos de uma face que se esconde a cada dia mais dentro de mim. Fujo de entender, fujo de encontrar os vestígios. É tão fácil perceber o que sinto, porém torno essa facilidade uma complexidade, porque já não posso deixar isso se sobressair em meus olhos. Então, procuro outros sorrisos, olhares, qualquer verso que me acalme, que possa preencher esse vazio que há aqui. Às vezes encontro, contudo não passam de distrações momentâneas. O que realmente é requesitado está nas entrelinhas, as quais eu já não posso interpretar.

O meu inconsciente contém as minhas receitas de compreensão, meu sonhos dizem o que eu já não posso dizer e minhas cartas provam a existência daqueles dias ensolarados. Talvez houvesse algo que eu pudesse fazer, dizer ou não sei, gritar? Eu queria falar tanta coisa, mas acho que me contentaria com um simples "tudo bem?", porém nem isso sou capaz de fazer. Não tenho certeza se ainda existe orgulho demais percorrendo minhas veias ou se é apenas um receio de ser mal interpretada.

Cansada desses pensamentos.Cansada dessa melancolia que me persegue a cada data significativa. Cansada desse mesmo assunto. Entretanto, bem disposta a lembrar. Pode parecer estranho, no entanto essas memórias foram as únicas coisas que me restaram. É bom olhar pro canto da minha estante e encontrar com aquele presente, é incrível poder ler aquelas palavras de novo, é inexplicável tocar aquela música e sentir como se ainda estivesse aqui a minha frente elgiando minha voz desafinada. Eu odeio essa saudade. Eu amo essa saudade: foi real.

Nem tudo está em seus conformes como deveria. E só pra constar: tá doendo sim. As lágrimas ainda caem dos meus olhos, minha capacidade de ajeitar o meu cabelo desarrumado pelo vento ainda não se aperfeiçoou e tomar sorvete de limão não tem a mesma graça de antes, entretanto, já não vivo somente em volta disso. Eu me faço presente nesses novos lugares, dou risada de novas inutilidades, me permito olhar para novos lados. Não é a mesma coisa e acho que não vai ser. Acontece todos os dias: sinto falta de tudo, até dos mínimos detalhes. Quero voltar, mas preciso continuar. Será que ainda é possível encontrar o caminho para o certo? Não sei, portanto, deixo ao destino a capacidade de fazer o seu trabalho.

"E mesmo longe dos olhos ainda permanece perto (até demais) do coração."

Bela Afonso
Enviado por Bela Afonso em 16/03/2012
Reeditado em 16/03/2012
Código do texto: T3558742
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