Como na Primeira Vez

"Nós estávamos naquele velho lugar novamente. Desacreditei ao vê-lo ali depois de tanto tempo, pra falar a verdade, eu não esperava que ele ainda lembrasse. E acho que ele sentiu o mesmo ao me ver encostada naquela parede com os olhos borrados. Foi tão estranho, aquilo não podia estar acontecendo. Só podia ser um sonho ou mais uma das minhas ilusões estúpidas, eu simplesmente não conseguia acreditar no que enxergava, ou então, não podia."

Sendo sincera, eu não sabia porquê tinha ido àquele lugar. Algo dentro de mim só precisava se refugiar de tanta confusão, então deixei meu coração me guiar e caí ali. No momento em que percebi onde estava, senti a saudade percorrer cada parte de mim e, sem controle algum, as lágrimas começaram a cair inconstatemente. Entretanto, mesmo tão afetada emocionalmente, sentia-me em paz. Aquele lugar me trazia calma, como ele, antes, também me trazia. E era impossível olhar para cada detalhe daquele espaço e não enxergar um pouco dele, porque cada centímetro dali tinha uma história a ser contada.

Eu deixei minhas emoções se aflorarem ali, eu precisava disso naquele momento e também não me preocupava se alguém iria chegar, afinal quem iria ficar andando por aquela rua escura à uma hora da manhã? Ele iria. E foi bem assim que aconteceu, ouvi passos fortes se aproximando, até que finalmente cessaram. Cheguei a ficar com medo, mas ao olhar para a minha frente e ver quem era, não consegui ter reação alguma. Fiquei imobilizada, sem saber o que dizer ou o que fazer. Por fora, manti a calma, enquanto por dentro, meu coração palpitava a mil, querendo gritar.

O silêncio foi a única música reproduzida durante um bom tempo. Ele me encarava e eu o evitava - olhar dentro de seus olhos poderia ser um erro fatal. Tudo dentro de mim estava em colapso, minhas mãos suavam, minhas pernas tremiam. Eu desejava com todo o meu eu correr para os seus braços, dizer a ele o quanto sentia sua falta e como tinha sido difícil me manter afastada. Porém, tinha medo de ser rejeitada e me conti o quanto consegui.

Os minutos passavam lentamente, e enquanto isso, meu coração e minha mente estavam em plena Terceira Guerra Mundial. Até que não aguentei e tive que tomar partido dessa confusão e como sempre, deixei meu coração vencer. Então, levantei a cabeça e fiz o que mais temia: olhei para ele. Ao encontrar os seus olhos consegui enxergar o mesmo brilho de sempre, como também senti aquela velha calmaria dentro de mim.

Involuntáriamente, sorrimos os dois, mas dava para perceber a presença de lágrimas em nossos olhos. Sem ter nenhum controle da situação, me vi caminhando em sua direção e ao chegar perto, ele me puxou, envolvendo-me em um abraço confortante. Naquele momento, pude perceber que seu coração palpitava como meu, que suas pernas também tremiam e suas mãos suavam. Não resisti e acabei dizendo: "sinto sua falta", e inesperadamente ele disse: "também sinto a sua, você não faz ideia". Nossos dedos se entrelaçaram, nos entreolhamos novamente e, surpreendemente, nossos lábios se tocaram, deixando a mesma sensação do primeiro dia em nos encontramos ali. Eu senti que o amava como se nunca tivesse deixado de, e sabia de alguma forma, que ele também sentia o mesmo.

"O tempo pode passar, mas o que é verdadeiro fica."

Bela Afonso
Enviado por Bela Afonso em 25/02/2012
Código do texto: T3518330
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