Adele (Capítulo 56, 57 e 58)

CAPÍTULO 56: A IDEIA

Minha avó recebeu alta no fim da tarde, assim minha mãe e o Augusto levaram-na até a nossa casa, parece que ela vai ficar lá até se recuperar. Minha mãe trabalha das oito da manhã as quatro da tarde, nesse período meu irmão cuidará da vovó, mas não fará nada que prejudique seus estudos, só terá que dar comida e carregá-la da cama para o banheiro, do banheiro para cama, pois ela quebrou o osso da perna esquerda, logo não consegue andar sozinha.

Coitada, a vovó ficou dizendo do hospital para cá, que não queria ser um problema na nossa vida, mas minha mãe, toda bondosa, a acalmou. Minha avó não será um problema, ela precisa se recuperar, tadinha.

Em casa minha avó ficou no meu quarto, pois eu voltarei para a faculdade, logo por essa noite apenas, eu irei dormir na sala, dormiria com meu irmão no quarto dele, mas é meio fedorentinho lá, portanto prefiro a sala.

- E aí vamos ao cinema hoje?

- No cinema, Fernando? Você é um idiota ou o que?

- Por quê?

- Para de ser sem noção garoto. A vovó está no meu quarto com a perna enfaixada.

- Eeeee?

- Ah! E que temos que respeitá-la, ela acabou de sair do hospital, a mamãe e ela acabaram de se reconciliar, foram muitos sustos hoje. Só você mesmo para ser egoísta e pensar em se divertir depois de tudo que vivemos.

- Sustos? Para de ser idiota garota! A vovó não morreu, só quebrou a perna. Vai, fala logo, você quer ir ao cinema para relaxar ou prefere ficar aqui pensando "em tudo que vivemos hoje"?

- Já disse que não falo assim! Além do mais, garoto sem noção, você não tem aula hoje a noite não? Como você quer ir ao cinema?

- Para sua informação garota desesperada, eu não tenho aula, e pretendo ir de carro. Rsrs.

- Você não tem aula? Como assim?

- Teve um negócio lá com o pessoal, parece que é uma reunião ou algo do tipo. Só sei que hoje não tem aula e eu estou afim de assistir um filme. Como você está aqui, eu resolvi te convidar para ir junto, afinal você é minha irmã e a gente nunca saiu junto.

- Que bonitinho! Mas isto está me cheirando estranho. Eu irei falar com a mamãe, depois eu te respondo.

- Ok! Vê se a mamãe deixa você ir, CRIANCINHA. Rsrsrs.

Meu irmão é uma coisa. Como assim "quer ir ao cinema"? Acho que o cheiro do hospital mexeu com o cérebro dele. Não acredito que ele não terá aula. Já sei, eu tenho o telefone da secretaria do cursinho, vou ligar para lá e perguntar. Boa Adele!

Liguei, parece que ele não estava mentindo. Eles não terão aula por causa de uma dedetização no prédio onde ocorrem as aulas, parece que o cheiro do produto é um pouco forte, só a secretaria, que fica em outro prédio, está sem problemas, as aulas voltarão somente amanhã.

Agora eu falo com minha mãezinha. Ah, por que ir ao cinema? Não estou nem no clima, mas quem sabe eu também não relaxo um pouco com um filminho? Mesmo assim, pareço uma filha desnaturada agindo assim.

- Oi mãe!

- Oi!

- Então mãe, o Fernando me convidou para ir ao cinema. O que a senhora acha?

- Ele já me falou. Você quem sabe filha, se você achar melhor.

- Mas e a vovó mãe?

- Eu cuido dela. O Augusto vai chegar daqui a pouco, acho que vou fazer uma sopa e ficamos aqui com ela.

- Eu não estou afim de ir.

- Por quê?

- Ah mãe, eu estou cansada, a viagem foi....ah, ruim. E eu tenho que voltar amanhã, acho que vou na aula só na quarta.

- Então? Adele, para de ser fresca, vamos comigo. Mãe, dá permissão para a criança ir, senão ela não vai.

Meu irmão entrou no meio da minha conversa com a mamãe. Ai que menino idiota, eu não sou criança, eu decido o que eu quero.

- Eu não preciso da permissão da mamãe Fernando, pois eu não sou criancinha. Eu vou nesse cinema e ponto final.

- Isso mesmo maninha. Vai se arrumar então porque meu amigo vai passar as dez da noite.

- Dez? O cinema vai ter fechado.

- Ele já comprou os ingressos, o filme começa dez e meia, última sessão.

- Estranho. Mamãe, a senhora não vai precisar de mim? Não vai se sentir mal porque eu e o Fernando iremos sair? Não vai se sentir sozinha? Será que a vovó não vai pensar que a gente não se preocupa com ela?

- Calma Adele! Sua avó já está dormindo, estava muito cansada. O Augusto está vindo para cá, eu já disse, não vou ficar sozinha.

Fui me arrumar. Tomei um banho, coloquei um vestidinho preto básico e uma sandália de salto alto. Não estava afim de me arrumar, estava cansada, por isso peguei a primeira coisa que vi no guarda-roupa, contudo antes de sair perguntei várias vezes para minha mãe se a roupa me deixava muito gorda. Passei só um lápis e um brilho, pronto estava linda, rsrs, irônica não?

O amigo do meu irmão, Luciano, nos pegou as dez e dez da noite em casa. O Nando nem sabia o nome do filme, que menino desinformado, está louco para ir ao cinema, mas nem sabe o nome do filme que vai assistir.

- Ei Luciano, qual o nome do filme?

- Que filme?

- Aquele que vamos assistir no cinema?

- Cinema? Que cinema?

- Fernando?!

- Foi mal maninha, se eu te dissesse a verdade você não viria.

- Fer-nan-do?!

- Lembra da ideia que eu falei que havia tido, quando nós estávamos no hospital?

- Fernando! Eu....Ai-meu-Deus! Onde estamos indo?

- Em uma festa! Esta era uma parte da minha ideia!

CAPÍTULO 57: É MUITA COINCIDÊNCIA OU SERÁ O DESTINO?

Não tinha como voltar para casa, pedi para o Luciano, briguei com o Fernando, que para sorte dele estava no banco da frente, porque se estivesse atrás junto comigo, ele ia sentir a força do meu braço, aí eu poderia ver se a malhação está dando resultado.

- Não acredito que você me fez isso! Por quê?

- Eu preciso ver uma garota!

Fiquei olhando seriamente para ele. COMO ASSIM ELE ME TRAZ ATÉ ESSA CASA PARA VER UMA MENINA?!

- Não olha para mim assim! Lembra da garota que eu te falei que conheci no aniversário do meu amigo? Aquela que me fez entrar no cursinho?

Continuei olhando-o seriamente.

- Acho que você lembra, então, eu e ela estamos ficando, já faz um tempão, desde que eu entrei no cursinho. Ela é uma garota difícil, só queria conversar quando me conheceu, até que na festa junina do cursinho eu consegui fazer meu gol. Um belíssimo gol. Só que acabei me amarrando.

- Onde essa linda história de amor me inclui nessa maravilhosa festa que você me trouxe?

- Senhorita ironia, eu fui convidado pela minha namorada, e logo, logo você vai entender porque eu te trouxe. Afinal te trazer aqui só foi uma parte da minha ideia, portanto ela não terminou de ser colocada em prática. Agora por favor, vamos beber e se divertir.

- Logo, logo? Aff, eu apenas irei ficar sentada. E a propósito, eu não bebo.

- Caraca, que irmã mais chata eu tenho. Eu vou ver a Julia.

A festa estava ocorrendo em uma casa, acho que este deve ser aqueles imóveis que só são alugadas por uma noite, para ocorrer eventos. Ai que chato, eu não conheço ninguém. O amigo do meu irmão nos deixou aqui e foi procurar algumas pessoas, meu irmão só me falou lorota, não me explicando porque me trouxe aqui, e saiu para ver a namorada dele. Namorada! Nem acredito que ele usou esta palavra, a menina o amarrou mesmo, também, 18 anos, já estava na hora dele criar juízo para essas coisas.

Sabe, eu até entendo que o Fernando deve ter me visto triste, cansada, quis bancar um grande irmão, mas poxa, me trazer aqui, onde eu não conheço ninguém e ainda me deixar sozinha! Fala sério, não podíamos ter ido apenas no cinema?

Acho que eu já sei o que eu vou fazer, vou beber um pouco de água porque estou com calor de tanta raiva que estou sentindo, depois vou pegar um táxi e voltar para casa. Espero que tenha um ponto de táxi por aqui, eu nem sei onde estou, que bairro será esse? Sou muito lerda para localidade, sempre vivi nesta cidade e mesmo assim, não sei nada.

- Oi, me vê um pouco de água gelada.

- Água?

- É!

- Putz, aqui não tem água não.

- Para de ser idiota e dá uma água para a garota Alberto.

Não acredito! Meu destino, o que você ainda me reserva?

- Ouvi alguém pedindo água! Tive que confirmar, claro que seria você!

- Rsrs. Pelo visto eu sou a única. Hoje você não é o motorista da rodada?

- Não! Hoje eu estou liberado para beber, mas não se preocupe eu não vou ficar bêbado e pagar mico.

Murilo! Quem diria que eu o encontraria aqui? Ainda estou boba. Agora sim a festa ficou interessante, acho que não vou pegar um táxi.

CAPÍTULO 58: COLOCANDO EM PRÁTICA A OUTRA PARTE

Ficamos conversando sobre várias coisas. Os alunos do último ano estão dando a festa para arrecadar dinheiro para a formatura, por isso ele está aqui, por isso meu irmão foi convidado, todo pessoal do cursinho foi convidado.

- Hã, Murilo? Você sabe onde fica o banheiro? Acho que bebi muita água.

- É naquela porta ali.

- Valeu.

Caraca! É tão bom se aliviar quando se está com a bexiga cheia. Rsrsrs. Ele está aqui, que legal, mas eu não vou ficar planejando nada, não vou fazer nada também, cansei de falar algo e ele falar algo , e por fim os dois não dizerem nada. Saindo do banheiro levei um susto com um irmão todo animado.

- Oi maninha!

- Ah, que susto garoto!

- Esvaziando a bebida?

- Água apenas!

- Aqui, bebe isso!

- Você está louco? Claro que não!

- Não confia em mim?

- Na verdade não. Você já mentiu para mim hoje, se esqueceu?

- Não, mas foi por uma boa causa.

- Boa causa? Fala sério, você só queria ver sua namoradinha.

- Se eu quisesse apenas vê-la, eu não precisava trazer você aqui. Viria sozinho.

- Então por que você me trouxe? Qual é a sua FABULOSA IDEIA? Até agora eu não vi nada.

- Vai me dizer que não ficou feliz por ver o Murilo?

Fiquei chocada. Ele sabia que o Murilo estaria aqui, foi tudo programado, mas por quê?

- Então? Estou esperando. Já pode me agradecer.

- Você sabia que ele estaria aqui, por isso você me trouxe?

- Digamos que esta é a outra parte da minha.....como você disse mesmo? FABULOSA IDEIA? Rsrs. Adele, eu via como esse cara mexia com você, quando você estava no cursinho. Via você chorando para mamãe e uma vez eu li no seu diário.

- Você o quê?

- Calma! Não tinha nada do que eu já não soubesse lá, tudo que estava escrito, você já tinha contado para mamãe e por consequência da minha bela audição e do seu alto tom de voz, eu também já sabia.

- Mesmo assim!

- Adele, quando eu falei com você lá no hospital, eu percebi que esse seu amor...

- Não é amor!

- Tanto faz. Eu percebi que você ainda gosta desse cara. Desculpa maninha, mas eu não gosto de te ver assim.

- Assim como?

- Adele, você estava meio....nossa, nem sei qual palavra usar. Também não importa, só sei que eu estava ali, observando de longe vocês dois conversando, não sei quem não sabe do seus sentimentos por ele, mas eu sei, e poxa vida, você baba por ele maninha. Já faz quanto tempo que você está assim? Acho que um ano e meio, quase dois não é?

- Fernando...

- Adele, eu sabia que ele estaria aqui porque esta é uma festa da faculdade dele. A Julia é bixete da mesma facul que ele estuda, você sabe, a única daqui da cidade, e como eu e ela estamos juntos, e esta é uma festa aberta, ela me convidou. Na verdade, mesmo se fosse fechada, eu viria, rsrsrs. Bom, lá no hospital, depois de te ver daquele jeito por esse garoto, eu tive uma ideia, te trazer junto. Liguei para a Julia, ela conseguiu o seu convite, e menti para te trazer aqui.

- Com o objetivo?

- Com o objetivo de você resolver essa história de uma vez por todas.

- Hã?

- Adele, a gente não tem segredos, eu sei tudo sobre você, ou por você contar para mamãe ou por você ser a irmã mais previsível do mundo. Eu sei da balada nas férias.

- Você ouviu eu e a mamãe ou leu no meu diário?

- Os dois, provavelmente.

- Que idiota você é!

- Resolve isso, você não pode ficar sofrendo sem ter motivos. Sofrer por causa dos seus pensamentos só lhe causa dor e faz você não seguir em diante. Me responda, você quer ter no futuro um relacionamento de verdade ou quer continuar vivendo em um presente com uma relação imaginária?

- Não estou em uma relação imaginária.

- Não sei, mas que você não está se deixando ser amada, que você não está conseguindo se envolver com outros caras por causa de um babaca por quem você está apaixonada e que você vive em dúvida sobre a reciprocidade dessa paixão, isto é verdade.

- Ele não é um babaca!

- Não ouviu nada do que eu disse.

- Ouvi sim! Só que ele não é um babaca.

- Está bem, me expressei mal, também não acho ele seja um babaca. Ele é legal. Pelo menos em sala ele é.

- O que você quer que eu faça? Eu tenho medo, e se ele me rejeitar, se ele não falar comigo?

- Primeiro: se ele deixar de falar com você não faz a mínima diferença na sua vida, pois você já não fala com ele, você só o encontra as vezes, quase nunca, daí sim você fala com ele. Segundo: se ele te rejeitar ele é um idiota, pois você tem seu valor, existe um monte de caras que te desejam nesta festa, tem uma fila de amigos meus que já perguntou de você hoje. Terceiro: se você não acreditou na segunda justificativa, acredite nesta: você é irmã do cara mais gato da festa, portanto é genética, logo você tem seus valores. Quarto e último: quero que você vá lá e fale seriamente com ele, joga a real.

- O quarto foi uma imposição e não uma justificativa sobre as minhas suposições.

- E daí? Coloque a minha ideia em prática. Vamos mudar essa noite, chega de sofrer, eu quero ter um cunhado mana. Chega disso! Carpe Diem, como você sempre me disse. Viva!

- Tentarei!

- Espera! Beba isso antes e espere um pouco.

- Por quê?

- Eu te conheço. Isso é para você não falhar na hora.

- Fernando...

- É só uma bebida. Vai lá, para de ser bobona. Prometo te levar em segurança para casa, caso eu não esteja bêbado.

- Bobo. Me dá aí então!

Bebi aquele negócio, forte pra caram.....Esperei um pouco. O Nando continuava falando que era para eu mostrar quem eu sou, me dando forças, rsrs. Meu irmão, mais novo e parece mais velho. Ele está certo, chega de ser idiota e ficar sofrendo por um menino que talvez nem se sente atraído por mim. Chegou a hora Adele! Vamos lá!