Last Goodbye

Não resistiu, teve que ver com seus próprios olhos o que havia acontecido. As cores mudaram, os sorrisos já eram outros e o sentimento não tinha a mesma força de antes. Tudo estava diferente, ela não era mais capaz de distinguir quem era aquela pessoa que via a sua frente. Evitou até quando pode dizer para si mesma: é aquele quem tem tirado o seu sono. Tal que antes lhe fazia companhia, ouvia suas besteiras, ria das suas caretas. Evitavam-se, agiam como se aquilo não tivesse importância, como se não precisassem do abraço um do outro. Aquilo não deveria estar acontecendo, como assim? Ela chegou a se culpar, mas não foi suficiente. Não que estivesse certa, não estava, contudo já não merecia carregar um peso que, agora, parecia tornar-se inútil.

Olhou no fundo daqueles olhos, um filme passou dentro de sua cabeça, e depois procurou forças para desviar e não dizer as palavras que gritavam em sua mente. Tentou acreditar na hipótese de ser mais uma foto no fundo do armário dele, um livro já fechado e esquecido na prateleira da biblioteca. Entretanto, havia esperança dentro dela, algo meio quebrado, mas existente. Um nó subia em sua garganta e não foi corajosa o bastante para dizer o "eu te amo" enquanto podia, porque na sua cabeça essas três palavras não fariam diferença, não mais. Então, correu pra longe dele. Quis não olhar pra trás, no entanto, não podia se enganar e deixar os vestígios vivos ali dentro dela, e foi por isso que cometeu a proeza de visitar aquele lugar novamente...

Quando chegou, logo avistou as árvores e as flores esbanjando a mesma beleza de sempre, depois se voltou para a parede a sua frente. Algo a queimava por dentro, tudo a sua volta parecia girar. Tentou fugir de si mesma e dos pensamentos que a assombravam, porém não foi possível. Aquilo que acreditava se despedaçava com as folhas que pisava. Ela sentou no mesmo lugar que costumava durante aqueles tempos, sorriu ao lembrar das idiotices ditas ali, chorou ao perceber que havia chegado ao fim. Quis correr para trás e dizer-lhe todos os versos que haviam sido congelados dentro de seu coração, mas tudo o que foi capaz de fazer foi se levantar, secar as lágrimas e olhar para a parede novamente. Ali ainda se encontravam escritas as lembranças vivas dentro dela, enquanto pra ele, na sua concepção desconfiada, não passava de uma velharia cheia de histórias passadas e finalizadas.

Não teve mais coragem para se manter naquele lugar, na verdade seu coração não estava suportando mais. Duas lágrimas rolaram pela sua face, e então o viu de longe passando ali perto. Por alguns instantes, ele ficou parado a observando e até chegou a acenar, e ela fez o mesmo, ainda que estivesse de todas as formas procurando seu auto controle para não correr até seus braços e dizer o que se passava. O silêncio dela o libertou, enquanto o dele a prendeu na sua dor. Ele voltou para o seu caminho e ela ficou a observá-lo ir embora, juntamente com uma parte de seu coração.

E mais uma vez, terminou como havia chegado: apenas com a companhia das lembranças de um livro que não tinha dado tempo dela terminar de escrever.

Bela Afonso
Enviado por Bela Afonso em 22/02/2012
Código do texto: T3514010
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