Adele (Capítulos 54 e 55)

CAPÍTULO 54: FAMÍLIA

- Você não vai para lugar nenhum Adele!

- Eu conheço as regras Água. Agi errado me desculpe, eu...

- Eu não sei direito o que está acontecendo, mas que eu saiba eu sou a garota que comanda a Vuvuzela, então antes de você sair daqui, a gente precisa conversar. Ainda mais nesse estado que você está, sair assim não está certo.

- A Maria tem razão. E agora deve ser aquela hora para você contar tudo. Eu vou deixar vocês sozinhas, preciso falar com um cara ali, ele também precisa se acalmar.

- Está bem Grande. Valeu!

Eu e a Água ficamos sozinhas, então com um jeitinho calmo que eu nunca pensei que ela tivesse, ela me acalmou e eu contei tudo para ela, sobre o relacionamento que eu e o Legal tínhamos e a parte da terrível briga que acabou de acontecer.

- E foi por causa disso que ele ficou todo bravo. Eu não o trai Maria, só cometi a burrada de ficar com ele gostando de outro.

- Ele entendeu tudo errado.

- Com certeza não quer nem olhar na minha cara.

- Isso é verdade. Eu nunca passei por isso, mas imagino a raiva que ele está sentindo. Ele saiu muito furioso daqui.

- É! Ele tinha....ÓDIO no olhar quando disse que tudo foi uma mentira.

- Licença. Bom, eu conversei com ele, ele está mais calmo, mas acho melhor você não falar com ele por enquanto, Adele.

- Tudo bem Grande.

- Olha Adele, você e o Rafael falharam mesmo. Pelo visto todo mundo aqui da Vuvu já sabia, né?

- Acho que sim Maria, mas eu não tenho certeza.

- Não quero que você me leve a mal, mas são as regras. Se ninguém soubesse, eu até abriria uma exceção, mas todos sabem, por isso se eu falar "tudo bem" para vocês, amanhã ou depois irão descumprir outras regras e eu vou acabar não podendo fazer nada. Sem contar que o clima vai ficar pesado, mesmo que vocês se entendam, não voltará a ser a mesma coisa. Eu sinto muito, de verdade, mas assim como eu direi para o Legal, você só tem duas semanas para se mudar.

- Eu entendo Maria, você está certa. Na verdade hoje mesmo eu já vou sair daqui.

- Não precisa ser hoje Adele, vo...

- Não! Ah, eu irei para uma pousada hoje mesmo, eu não posso ficar aqui, eu não quero, entende? Eu irei acabar encontrando com o Rafael aqui na Vuvu e eu sei que precisamos conversar, mas eu o conheço, ele não vai querer me ouvir, vai ficar assim por um bom tempo, eu não vou conseguir suportar.

- Você é quem sabe, se você acha melhor assim, eu não posso impedir.

- Obrigada!

Arrumei minhas coisas e sai da Vuvu. Não podia ficar ali, pelo pouco que eu conheço do Legal, ele irá me tratar friamente, não irá conversar comigo, será tudo muito estranho e doloroso. Eu não consigo ficar em um lugar, onde sou indesejada, nem se for só por uma pessoa. Agi errado, agora tenho que aguentar as consequências.

Vou para uma pousada aqui perto, guardei um pouco de dinheiro no banco, é pouco pois era o dinheiro que sobrava da alimentação e de outras bolsas que eu recebia da facul, além de um pouquinho que minha mãe me mandava todo mês, mas acho que dá para ficar com um quartinho por um mês mais ou menos. Estamos em outubro, acho que dá para ficar até terminar ano letivo.

Quatro horas da manhã. Estou na cama desde as onze e ainda não dormi. Que droga! Ai que dor de cabeça. Eu fecho os olhos e só consigo ver o olhar do Rafael, cheio de ódio. O que eu faço?

Miau-miau-miau-miau.

Minha mãe? Será que aconteceu alguma coisa?

- Oi mãe!

- Oi filha, tudo bem?

- Ah....eu....Por que a senhora está ligando esta hora da noite? Aconteceu alguma coisa?

- Não! Não aconteceu nada! Esta tudo na mais perfeita harmonia, só queria saber como você está?

- Sério mãe?

- Não consigo esconder, né?

- O que aconteceu?

- Sua avó Adele!

- O que aconteceu com a vovó?

- Ela sofreu um acidente de carro, está no hospital!

- Ai meu Deus! Mãe ela está bem? Ela....ela...

- Ela não morreu Adele! Ela está bem, só está sedada por causa das dores, mas está ótima, logo, logo os médicos lhe darão alta.

- Jura?

- Juro, só liguei para te avisar porque ela ficou falando no teu nome o tempo todo.

- Ela está no hospital aí da cidade?

- Está!

- Eu vou pegar o primeiro ônibus. Estou indo para casa, mamãe.

- Não Adele, você precisa estudar.

- Eu não sou tão bitolada assim a ponto de esquecer da minha família. Depois eu recupero. Chego manhã, eu acho. Beijo.

- Beijo.

Que droga! Como assim, a minha avó? Tenho que ir rápido para lá. Espero que tenha ônibus. Vou deixar as coisas aqui na pousada. Vai dar tudo certo! Preciso me acalmar.

Minha avó já estava bem quando cheguei na minha cidade, ela se envolveu em um acidente na estrada, enquanto ia para casa da mamãe. Tadinha, ela disse que teve um sonho, por isso estava vindo pedir desculpas para minha mãe.

- Tantos anos sem falar com minha filha, eu só sabia pensar em vocês, todo hora. Foi aí que tive um sonho horrível. Sonhei que todos vocês estava morrendo, que você Adelaide morria em meus braços, só que mesmo assim eu não podia fazer nada.

- Que horror vovó!

- E a senhora chama de sonho? Isso é um pesadelo vovó, fala sério, morrer todo mundo? Espero que eu tenha sido o último, lutando até a morte. Daí seria legal, maneiro, guerreiro.

- Cala a boca Fernando. A vovó está falando sério. Você leva tudo na brincadeira.

- Tudo bem Adele. Cada um tem seu jeito de viver, eu compreendo meu neto, para ele esconder-se da realidade é um modo de não demonstrar os seus medos. Igualzinho ao seu avô.

- Viu Adele. Peraí vovó, isso foi um elogio?

- Rsrsrs. Acho que não, seu mané!

- É tão bom ver vocês!

- Vovó será que aquele sonho não foi um sinal do acidente?

- Sendo um sinal ou não meu bem, o importante é que foi a partir dele que eu vi que preciso de vocês, por isso peguei o carro e decidi chegar aqui, para pedir perdão, para voltarmos a ser uma FAMÍLIA. Adelaide, minha filha, me perdoe por agir errado, me perdoe por tentar fazer você viver uma vida que eu queria para mim, por tentar fazer você e sua filha realizarem o meu sonho. Minha filha, eu fui um velha ignorante, eu amo tanto vocês, mas precisei viver todos esses anos assim, sozinha, triste, para descobrir que o meu orgulho e o meu péssimo sonho, só me valeram para me afastar de vocês. A Adele será ótima naquilo que ela quiser fazer, que é.....O que você está fazendo querida?

- Engenharia vovó.

- Então, uma ótima engenheira.

- O Fernando também será ótimo naquilo que ele julgar que é certo para sua vida, que é....O você está fazendo meu neto?

- Cursinho.

- Hã? Acho que você bateu com a cabeça, né?

- Engraçadinha você, né Adele? Quero ser Historiador vovó.

- Então você será um ótimo historiador querido. Todos vocês serão ótimos, assim como sua mãe foi e ainda é. Eu subestimei sua capacidade querida, você foi ótima em tudo que fez, é ótima mãe, dever ser ótima secretária, e certeza que é uma ótima mulher, assim como foi uma ótima filha. Me perdoe Adelaide.

Ficou um silêncio no quarto do hospital por um tempo, até que minha mãe abraçou minha avó, aceitando seu perdão, as duas não paravam de chorar. Fiquei tão emocionada com aquela cena. Minha mãe e minha avó, juntas novamente. Que felicidade!

Eu e meu irmão olhamos um para o outro, o bobão também estava chorando, mas como é homem, não admitia, então enxugava toda hora o olhos. Fomos os dois até minha avó e minha mãe e as abraçamos. Ficamos os quatro ali, abraçados. UMA FAMÍLIA NOVAMENTE.

CAPÍTULO 55: ORGULHO DE VOCÊ SER MEU IRMÃO

- Você é um bobão! Não acredito que está fazendo cursinho, sempre disse que não queria fazer faculdade!

- Acontece que secretamente eu fiz a prova do cursinho, secretamente eu me matriculei e secretamente eu comecei a frequentar as aulas.

- Uau! James Bond! Rsrsrs.

- James Bond? Nada ver Adele! Agora você foi infeliz na piada!

- Eu achei engraçado. Bobo.

- "Eu achei engraçado. Bobo".

- Eu não falo assim.

- "Eu não falo assim".

- Ai que raiva Fernando.

- "Ai...

- Ei! Vocês dois, silêncio! Estamos em um hospital.

- Desculpa, enfermeira!

Fiquei toda envergonhada, meu irmão ficou dando risada. Tínhamos deixado minha mãe e minha avó conversando e saímos para comer alguma coisa, na verdade PARA ELE comer alguma coisa.

- Mas então, o que te motivou fazer faculdade?

- Não sei. Conheci uma menina no aniversário de um amigo, ela faz a faculdade daqui da cidade, sabe?

- Ah, sei!

- Então, a gente conversou sobre isso, ela me falou do cursinho e eu me inscrevi.

- Peraí, você conheceu a menina em 2011? Você nem me contou que havia se inscrito, eu fazia o cursinho também, você podia ter me dito.

- Eu só fiz a inscrição para ficar mais perto dela, e foi no finalzinho, me inscrevi no último dia, fiz a prova, passei e comecei a cursar. Só que vi que tudo era bem legal e hoje estou aqui, há um mês das provas começarem.

- Pelo menos esta menina te ajudou em alguma coisa, não foi como as outras. Você nem contou para mamãe?

- Não! Disse que estava trabalhando a noite. Já tinha terminado o ensino médio, então ela não pegava no meu pé.

- Caraca Nando! Eu não sabia que você era assim, tão....ESPERTO! Estou feliz por você, de verdade.

- Valeu!

- Mas por que história?

- Eu não sabia o que fazer, então eu comecei a procurar, pesquisar, e eu tenho um professor muito fera, ele manja muito em história, falei com ele e descobri que é isso que eu quero. Coisas velhas, o passado, é bem divertido.

- E eu vou ser muito orgulhosa de ter um irmão historiador.

- E, bom, você me influenciou um pouco sabia?

- Influenciei?

- Adivinha que faculdade que eu quero.

- USP? Caraca Nando! Nossa eu estou muito feliz! Vai dar tudo certo, eu....nossa eu estou surpresa, orgulhosa, feliz. Eu quero muito que você consiga, muito mesmo maninho.

- Estou me esforçando muito. Teve uma hora que não deu mais para esconder da mamãe, então eu contei tudo para ela. Ela ficou muito feliz e me dá muito apoio. Eu estou estudando muito Adele, de verdade. Mas não sei se esse ano eu passo, eu tento resolver algumas provas passadas, acerto mais que a nota de corte do ano passado, só que tem a prova aberta e escrever, é péssimo.

- Você tem que acreditar em você Nando, tenho certeza que você vai conseguir. Acredite, você pode. Eu não acertava mais do que a nota de corte do meu curso no meu primeiro ano de cursinho, e você já consegue isso. A prova aberta é difícil, mas você não pode deixar em branco, tem que colocar alguma coisa, para eles poderem considerar algo.

- Entendo. Mudando de assunto maninha, você conhece um tal de Murilo?

- Murilo? Por quê?

- Eu estou lá no cursinho, né? E, tipo, muita gente conhece você, daí esse cara perguntou de você um dia desses.

- Muita gente me conhece? Deve ser porque eu vivia atrás deles tirando dúvidas.

- É! Isso mesmo. Eles falam isso. "Ah, você é irmão da Adele! Ela vivia tirando dúvidas, por isso se deu bem. Sua irmã é muito inteligente." Blé, até parece, você muito inteligente.

- HÁ-HÁ-HÁ! Aposto que quem falou isso foi o professor de física, ele vivia me dizendo isso, para me colocar para cima, porque eu vivia dizendo que era uma burrinha.

- Ele mesmo, o velhão. Muito louco ele!

- É! Acho que bastante gente ficou do ano passado para este ano, porque eram todos novos no cursinho. Mas me conta sobre o que o tal de Murilo falou.

- Nada de mais, ele só perguntou como você estava na faculdade.

- Só isso? Nada mais, tipo "Qual o face dela? O número de telefone?".

- Não. Por que ele perguntaria? Ah, entendi, ele não é aquele menino que você vivia falando para a mamãe, por quem você chorava, não é mesmo?

- Talvez seja. Esquece. Melhor entrarmos, mamãe deve estar louca no hospital procurando pela gente.

- Está bem. E quer saber, eu acho que eu tive uma ideia.

- Ideia?

- Depois eu te conto, vamos voltar, se não a mamãe vai parar no manicômio.

- Rsrs. Vamos. Depois você me fala tudo, entendeu?

Meu irmãozinho cresceu tanto. Ele está fazendo cursinho, o mesmo que eu fiz, com certeza vai passar. Até que enfim ele está usando a mente para alguma coisa. Ele é muito inteligente, vai passar. Ai, eu estou tão orgulhosa dele ser meu irmão.