SUNSET: Breaking Down / Capítulo 2 - Novos Horizontes
- Capítulo 2 – Novos Horizontes
New horizons – Bella's perspective
Apesar do receio que tínhamos a princípio, oito meses se passaram sem que os Volturi dessem qualquer sinal de vida. Soubemos através de Stefan que as coisas estavam muito instáveis por lá, desde a humilhação da última batalha que perderam por aqui. Ele também nos contou que Vladmir estava novamente “brincando de fazer política”, viajando por toda a Europa em busca de novos aliados.
Prometemos manter contato com os nossos visitantes, que tão prontamente nos apoiaram quando mais precisamos. Eu particularmente adorei a ideia, pois encontrei em Zafrina uma nova amiga e professora. Por incrível que pareça, conversávamos mesmo era pelo computador, através de chamadas de vídeo e trocando e-mails. Emmett já havia convidado Benjamin para passar umas férias conosco. Ele prometeu que se ele viesse com sua esposa no verão, poderia voltar para o Egito com histórias interessantes para contar.
Katie também ligava sempre. Chegou a nos fazer uma visita com Eleazar há alguns meses atrás – ele queria se certificar de que estávamos todos bem. Sempre mantinha Carlisle atualizado sobre as notícias de Volterra. Isso não era muito do feitio dele, que apreciava a rotina casa-hospital, mas ele entendia a importância desses cuidados.
Graças a essa aparente calmaria, eu havia me engajado no projeto de Alice e Esme de construir uma “pequena vila” no Canadá. A ideia era termos um refúgio perto da floresta, mas não distante demais da cidade, para que eu pudesse frequentar a universidade. Jacob achou a ideia péssima, e avisou-nos que só deixaria Nessie partir se ele fosse conosco. Edward achou que ele talvez tivesse batido a cabeça com mutia força. No final das contas, impôs algumas condições – como Jake também frequentar a universidade também – mas acabou cedendo.
Emmett havia convencido Rosalie a fazer uma viagem para o Egito sem prazo para voltar. Eles já haviam morado em diversos lugares, como África do Sul, Madagascar, Romênia, Croácia, Turquia e Rússia. Eu apreciava esse espírito aventureiro dele, no entanto, achava que somente Rosalie era mulher capaz de aguentar todas essas andanças. Ficamos responsáveis pelos últimos detalhes do projeto do chalé deles.
Estávamos eu e Esme sentadas em torno da mesa, escolhendo papeis de parede e batentes de janelas, quando ouvi o meu nome – fomos chamadas às pressas para a Biblioteca. Deixei Resnesmee brincando no jardim com Jake e em segundos, já tomava o meu assento. Alice teve uma visão – finalmente os Volturi se decidiram. Ela estava inquieta, andando de um lado ao outro, de olhos fechados, como que revisando suas memórias a procura de algo mais.
“Sim. Está decido.” Ela disse por fim, seus olhos castanhos tinham uma expressão ansiosa.
Edward imediatamente pegou o telefone – ele já sabia do que se tratava.
“Nahuel, você precisa ouvir isso. Os Volturi se decidiram.” Ele colocou o telefone no viva voz, fazendo sinal para Alice.
“Depois de meses de silêncio e indecisão, o Conselho aprovou o pedido de Aro. Ele estava na sala do trono, com mais uma dezena de outros vampiros, explicando que era perigoso demais permitir que outras pessoas possuíssem o conhecimento sobre os meio-vampiros antes deles. Sendo assim, ele concordaram em mandar meia dúzia de homens ao Brasil, em busca do jovem que lhes fora apresentado aqui em Forks.” ela explicou num fôlego só.
“Mas os meio-vampiros são um tabu, não teria sido melhor destruir a todos eles?” Emmett perguntou hesitante, já arrependido – todos nós na sala o encarávamos com olhares motais.
“Seria essa então a desculpa perfeita para me exterminar?” Nahuel soou aterrorizado.
“Não.” respondeu Edward muito seguro. “Eu não sei ao certo o que eles estão tramando, mas isso não cheira nada bem.”
“Só há um jeito de saber.” Jásper balbuciou por entre os dentes, com aquele olhar tão peculiar de quem já tinha planejado tudo.
“Impossível.” Edward respondeu.
Aparentemente, já havia se estabelecido uma conversa mental entre eles. Jásper continuava a lhe olhar fixamente, como que exigindo uma resposta – Edward parecia ainda mais nervoso. Carlisle colocou a mão em seu ombro e falou, tentando acalmar os ânimos.
“Deve haver outro jeito, filho. Nós não vamos mandar Edward sozinho a Volterra.”
“Nunca!” eu gritei, dando um pulo da cadeira.
“E o que devemos fazer então? Esperar que eles venham bater à nossa porta para nos tomar Renesmee?” Jásper pronunciou aquelas palavras com um tom frio e áspero.
Se essas eram as minhas únicas opções, eu preferia não optar. Percebi que Rosalie já havia tomado o partido dele, enquanto Alice tentava inutilmente acalmar as coisas. O clima estava cada vez mais tenso, e as nossas opções mais escassas.
“O que aconteceria se Edward fosse a Volterra?” perguntou Esme, com um ar de esperança.
Alice fechou os olhos e se concentrou com força – a sala permaneceu em silêncio absoluto. Eu fiquei irritada com a demora... até que ela respondeu “Mas Edward vai ter de se decidir primeiro.”
“Está decidido! Eu vou a Volterra!” Ele exclamou impaciente.
“Agora sim... Eu vejo... Aro perplexo. Ele estende a mão... e você aceita. Ele nos vê na biblioteca discutindo o futuro e solta uma gargalhada. No final, vai ficar tudo bem, afinal ele ainda te quer ao lado dele.”
“Bem, não vamos dar mais informações para o adversário.” disse Emmett, com ar divertido.
“Fora daqui!” Rosalie foi logo empurrando Edward para fora da biblioteca.
Ele olhou para mim por um instante e saiu sem reclamar, ainda que irritado – sabia que para garantir-nos uma certa vantagem, isso era necessário. Rose fechou a porta. Pude ouvir que ele permanecia do lado de fora, provavelmente sem saber por onde começar. Esme olhou para Carlisle por um segundo, como se esperasse seu consentimento, e depois de um aceno de cabeça, deixou a biblioteca atrás de Edward.
“Faça a sua mágica.” disse Carlisle, fazendo um círculo com os dedos no ar. Imediatamente estendi meu escudo sobre a cabeça de todos na sala. Os nossos planos deveriam ficar obscuros ao Edward se não quiséssemos Aro dois passos à nossa frente. Carlisle sentou-se por um momento e começou a folhear uma agenda, depois pegou o seu próprio celular e engajou-se numa conversa em russo.
Eu abri a porta da Biblioteca e sai como uma brisa deslizando até a garagem. Esme já trazia uma mochila preta e uma bolsa de mão Louis Vuitton enquanto Edward olhava para os carros indeciso. Eu dei um beijo rápido, mas ele me puxou com força contra o peito, prolongando a despedida. “Eu vou cuidar de tudo, prometo. E antes que você dê por minha falta, eu já estarei aqui, contigo de novo em meus braços.” foi o que ele sussurrou ao meu ouvido. Seu olhar penetrante foi interrompido por uma voz vinda de dentro da casa.
“Peguem o primeiro voo para Nova Iorque e aguardem mais instruções. Assim que ligarmos, vocês podem embarcar para a Itália. Talvez vocês consigam atrasá-los.” eu pude ouvir Carlisle os instruindo da Biblioteca.
“Vamos à pé até Port Angeles, que é mais rápido.” ele disse para Esme, tomando a mochila nas costas. Ela riu e respondeu. “Eu devia ter calçado meu tênis de corrida.”
Edward partiu com Esme, mais rápido que o vento. Se dependesse dele, cortaria o país à pé para chegar o mais cedo possível a Nova Iorque.
Voltei para a biblioteca e me acomodei em uma poltrona, com os pensamentos perdidos em Edward. Alice ajoelhou-se ao meu lado, logo em seguida, e pegou minhas mãos com delicadeza. Seus gestos e suas feições eram gentis – eu me lembrei de que era péssima atriz. Dentro de mim, um turbilhão de ideias, incertezas, possibilidades e medos estava embaralhando os meus pensamentos, eu não sabia o que pensar. Eu não sabia o que esperar – tudo o que eu tinha era a palavra de Edward.
“Acredite, ele vai voltar. Eu vi.” Alice sorriu.
“Vocês ainda estão ai?” era a voz de Nahuel, do outro lado da linha.
“Sim.” respondeu Carlisle. “Não se preocupe, Nahuel. Nós chegaremos ai no primeiro voo para a Amazônia.”
Chovia muito, mas mesmo assim, o calor era insuportável. Minhas roupas e bagagens estavam todas úmidas. Vasculhei o quarto de hotel em busca de algo que me ajudasse a secar minhas botas. Eu me senti muito desconfortável – na verdade, eu queria mesmo era ter ido no lugar de Rosalie para o Canadá. Eu estava ali, no meio da Amazônia, completamente contra a minha vontade. Jasper insistiu que eu seria muito mais importante aqui, no caso de um eventual confronto com a guarda real.
Carlisle determinou que Renesmee ficaria mais segura com Eleazar. Emmett e Rosalie a levariam até os Denali e lá permaneceriam até que voltássemos. Jake convocou Seth e Leah, e subiram mais que depressa para além da fronteira. Eu sabia que Renesmee estaria muito segura por lá. Desde quando ainda a carregava na barriga, Rosalie já havia se tornado os meus braços direito e esquerdo. Por isso mesmo a havia escolhido como madrinha – ela daria a vida por Nessie sem hesitar.
Eu queria ligar para elas, mas o sinal estava péssimo com a chuva. Acabei desistindo e me jogando na cama do quarto. O ventilador de teto girava irregularmente, fazendo um zumbido constante. As paredes, já amareladas pelo tempo, estavam descascando e tudo cheirava a mofo. Virei-me de lado e observei a hora passar no pequeno relógio de ponteiros, em cima da mesa de apoio. O barulho do tic-tac e da chuva lá fora eram hipnóticos – me resignei a permanecer lá até que os demais voltassem.
Alice e Jásper haviam saído para arranjar um guia que os ajudasse a alugar um jipe e um barco. Na época das cheias, o deslocamento no meio da mata era quase impossível. Nahuel nos aguardava na sua vila, a quase duzentas milhas de distância da capital. De balsa, demoraríamos mais de dois dias até Codajás. Depois o percurso seria praticamente à pé – por isso precisávamos de um transporte particular mais eficiente. Carlisle estava decidido a encontrar um avião anfíbio, custe o que custasse. Agora só me restava esperar.
O celular tocou no bolso da jaqueta de Carlisle, que estava pendurada sobre a cadeira. Atendi antes do segundo toque.
“Alô.” eu disse tentando controlar a ansiedade – o número era da Esme.
“Olá, minha querida. Só liguei para avisar que acabamos de aterrizar. Dentro de algumas horas já teremos os devidos esclarecimentos.” Esme falou com a sua voz sempre suave e comedida.
“OK.” eu fiz uma pausa, sem saber ao certo o que perguntar. Queria falar com Edward, mas achei melhor não.
“Carlisle está?”
“Não. Ele saiu para ver se consegue um avião anf...”
“Não!” ela me interrompeu de imediato. “Não me conte nada. Nós não podemos saber de nada. Eu só queria avisar-lhes que estamos bem, e também desejar-lhes boa sorte. É só.”
“Desculpe-me.” eu respondi, com peso na consciência – sabia que Edward perceberia. Ele teria de se esforçar muito para distrair sua mente o suficiente para não juntar as peças do quebra-cabeças.
“Até depois.” ela respondeu, um pouco chateada.
“Até.”
Desliguei o telefone com muita raiva de mim. “Idiota. Idiota. Idiota”. Eu agora estava repetindo isso dentro da minha cabeça como um mantra. Como se já não bastasse tudo à minha volta a me irritar, a minha estupidez havia me tirado fora do sério. Contar a Esme sobre nossos planos era o mesmo que contar a Edward – e assim, entregar de mãos beijadas para Aro todos os nossos planos.
Ficar trancada naquele quarto estava me tirando dos eixos. De alguma maneira, eu sentia que algo estava errado. Eu não queria vir ao Brasil, mas Jasper contava comigo, no caso de um eventual encontro com os capangas de Aro. Nahuel também insistiu que eu seria essencial para o sucesso da nossa “operação tática”.
O plano inicial era apenas retirá-lo da floresta amazônica e levá-lo para o Rio. Para o nosso azar, Demetri já conhecia o rastro dele e facilmente conseguiria localizá-lo – por isso Jásper iria dar um jeito de escondê-lo por lá. Mas antes que pudêssemos concluir as coisas, Nahuel ligou novamente. A conversa demorou pouco mais de dez minutos – mas foi o suficiente para deixar Carlisle atordoado.
Nahuel contou que, assim que retornou para o Brasil, procurou pelo seu pai, o Dr. Joham. Havia descoberto o seu paradeiro no interior da Amazônia, numa tribo perdida no meio da selva. Há dois meses havia se juntado ao “ninho” dele na tentativa de desencorajá-lo em suas pesquisas. Pedia inutilmente que parasse com os experimentos, mas seu pai estava irredutível. Pelo contrário, Dr. Joham havia visto em Nahuel a possibilidade de expandir o seu ninho – ele havia pedido que seu filho procriasse com suas irmãs meio-vampiras. A ideia me revirou o estômago.
Carlisle me disse que Nahuel implorou que eu viesse com eles, para poder mostrar ao seu pai que ele não precisava matar mais ninguém. Ele pensou que se Joham pudesse me conhecer, talvez ele percebesse todo o mal que havia feito àquelas mulheres. Uma parte de mim queria poder ajudá-lo, mas a outra parte, a parte caçadora e mãe, achava que seu pai estaria melhor morto.
Minha cabeça estava girando, cheia de coisas para considerar. Apesar de saber que de nada adiantaria falar com ele, eu vim mesmo assim. Zafrina me disse que nos encontraria aqui – e que, mesmo que eu não conseguisse tirar essa ideia da cabeça de Joham, pelo menos sob o manto do meu escudo, nem Nahuel, nem qualquer um de nós poderiam ser rastreado por Demetri.
Calcei minhas botas, ainda úmidas, e abandonei o meu trench coat sobre a cama – de que adiantaria me proteger da chuva naquele lugar? Era mais fácil aceitar o clima, já que agora eu era feita de diamante, e não de açúcar. Deixei o quarto para dar uma volta pelas redondezas, precisava respirar um pouco de ar fresco.
Andei pelas ruas aleatoriamente sob a chuva forte – as gotículas de água deslizavam sobre minha pele de mármore sem me incomodar. Eu conseguia sentir o cheiro de tudo à minha volta, desde os peixes frescos vendidos no mercado, o cachorro que procurava abrigo, as pessoas que transitavam pelo mercado, suor e sangue e saliva. Lembrei-me que já fazia uma semana desde que me alimentara, e isso estava começando a me fazer falta.
Atravessei o mercado e acabei numa rua de chão batido. Aquela cidade era tão peculiar: as casas eram construídas sobre a água, as pessoas moravam em choupanas do tamanho de um quarto, com teto e paredes de uma espécie de palha, ao mesmo tempo, o centro possuía prédios modernos e históricos, ruas largas e boa infraestrutura – as diferenças eram gritantes. As ruas mais distantes eram cada vez mais calmas, e eu pude ver as crianças brincando de bola na rua ainda molhada. Desci até uma igrejinha antiga, muito judiada pelo tempo, onde alguns humanos se reuniam. Por onde eu passava, as pessoas me olhavam – não porque eu estivesse brilhando, afinal estava nublado, mas porque eu exalava uma aura que despertava paixões e medo.
Desde quando havia me tornado vampira, esta era a primeira vez que havia saído pelas ruas sozinha. Não havia me dado conta disso até agora. Forks era minúscula, as pessoas que me cercavam conheciam o nosso segredo, portanto eu não tinha de me esconder. Eu podia sentir o olhar das pessoas nas minhas costas. Andar em meio aos humanos era uma coisa completamente nova para mim, e eu queria aproveitar para aprender um pouco mais de tudo – de como ser vampira e de como agir entre ele - e entender essa sensação de poder fascinante que eu sentia.
Peguei um atalho para sair daquela rua movimentada, dobrei a esquina numa viela ainda mais estreita. Andei a esmo, observando cada detalhe, cada fachada – isso estava ajudando a me distrair. Um moço descia a rua me encarando. Passou por mim assobiando e disse “Olá moça bonita”, em português.
“Eu não falo português.” respondi seca, escondendo o rosto e fazendo um gesto com a mão como se quisesse espantar uma mosca.
“Oh yeah. Una americana, sì.” ele respondeu, agora com um sotaque estranho. Ele fez meia volta e me cercou, dançando em torno de mim enquanto cantava “Pa pa l' americano.”
Dei meia volta, e apressei o passo. Talvez se fizesse a volta pela rua da esquerda, poderia usar minha velocidade para me livrar dele sem chamar atenção. Ele parecia ter percebido o plano, logo entrou na frente, e sorrindo pra mim, pegou o meu braço como se quisesse me puxar para uma dança. Ele olhou no fundo dos meus olhos e cantou com muito charme. Eu parei por um momento para prestar atenção, sem saber porque.
“Comme te po' capì chi te vò bene
Si tu le parle 'mmiezzo americano?
Quando se fa l'ammore sotto 'a luna
Come te vene 'capa e di: "I love you!?"
Pa pa l' americano”
“Você quer vir comigo.” ele disse por fim, em inglês com sotaque, e me puxou pelo braço.
Eu não me mexi. Cravei os pés no chão, dei-lhe um tapa na mão por reflexo. Achei que ia arrancar-lhe o braço, mas não. Foi quando percebi que algo estava errado. Ele olhou para mim, perplexo, como se algo tivesse dado errado.
“Questa donna è la Bella, idiota.” gritou um homem robusto logo atrás, com um manto preto que lembrava muito as capas oficiais dos Volturi.
O rapaz agarrou meus dois braços enquanto o outro corria na minha direção. Naquele momento eu soube – eu estava ferrada.
Corri poucos metros com o moço agarrado ao braço em direção à outra viela da esquerda - se eu voltasse para a Igrejinha, as pessoas entrariam em pânico. Antes que eu pudesse entender alguma coisa, ouvi passos vindo da rua para a qual eu intencionava fugir – eu estava cercada.
Olhei para a frente, um outro rapaz, de pele morena e traços nativos, correu até mim sem vacilar. Mordeu o braço do vampiro italiano que me segurava – ele me largou imediatamente e começou a gritar de dor.
O nativo puxou o meu pulso com força e continuamos a correr por umas ruas de barro cada vez mais estreitas. Haviam testemunhas por todos os lados, era quase impossível se deslocar em super velocidade. Isso também impediu que os italianos começassem uma briga. Chegamos na beira do rio, não havia pra onde correr, nem onde se esconder – o lugar estava deserto.
Os dois guardas correram em nossa direção quando, de repente, pararam. Seus olhos estavam anuviados – eles haviam entrado em transe.
Zafrina estava parada a poucos metros da esquina. Ao fundo, pude perceber um avião anfíbio, desses que andam sobre a água. Carlisle tinha realmente dado um jeito no transporte. Alice e Jasper corriam a todo vapor pela margem do rio. Ela me abraçou com força.
“Eu vi quando você seria atacada. Os dois te perseguiram até a igreja, mas eu não consegui distinguir ao certo onde você estava! Desculpe-me.” Alice estava muito aflita.
“Por sorte Zafrina estava conosco. Ela conhece um guia local que soube te localizar pela descrição das ruas e fachadas.” Jasper disse, apontando pro rapaz ao meu lado.
“O que eu faço com eles?” Zafrina perguntou, ainda parada a alguns metros de nós, mantendo os capangas de Aro em transe.
“Deixe comigo.” disse o moço de sotaque engraçado com ar divertido.
Ele deu alguns passos receosos, depois virou para mim e falou “Você pode fazer aquela coisa de novo?”
Eu vi que ele havia levantado uma das mãos no ar e fazia círculos com ela em volta da cabeça, como que desenhando um halo.
“O escudo.” Jasper traduziu. “Nós contamos a ele sobre o escudo.”
Nesse momento eu percebi que o meu véu protetor havia automaticamente envolvido todos à minha volta no meu manto de proteção invisível. Eu estava ficando muito boa nisso.
Eu virei pra ele e respondi “Você já está...” e imitei o gesto dele sobre minha cabeça. Ele entendeu.
Continuou andando, pegou os dois homens pelo braço e rumou para a margem. Ele havia entrado no rio com eles até o pescoço. Foi quando os meus olhos pregaram-me uma peça: o rapaz transformou-se em réptil bem na minha frente, afundou os dois na água e tudo o que nós pudemos ouvir foi o barulho de metal sendo arranhado. Foi horrível.
Em poucos minutos ele já estava de volta à superfície. Eu fiquei estupefata – não foi à toa que ele mordeu o braço do outro vampiro e o fez urrar de dor.
“Q-quem eram eles?” perguntei ao Jasper. Zafrina já havia se juntado a nós na caminhada até o pier.
“Acho que o mais velho era o Pietro e o mais novo, o Corin.” ele respondeu tirando o celular do bolso, havia uma mensagem bem longa dos Denali. “O garoto tinha poderes especias, pelo que ele falou. Algo como ele encantar as pessoas com o som da sua voz e fazê-las obedecer-lhe sem hesitar.”
“Que desperdício de talento.” Zafrina comentou, olhando para o rio.
Eu pude ler uma mensagem de Eleazar. Estava escrito que seu informante avisou-o que Aro ficou sabendo da viagem de Edward e Esme à Itália. Os Volturis prepararam até um carro para pegá-los no aeroporto como cortesia. Aro e Marcus já haviam separado parte da sua guarda e os despachado para o Brasil na mesma noite. Ele previu que Alice poderia se adiantar e resolveu acelerar as coisas.
“Dois homens foram mandados a Forks também. Eles reviraram a nossa casa, e quando não encontraram nem um sinal de nós, assumiram que todos tivéssemos vindo ao Brasil.” completou Jasper, com um olhar assassino.
“Mas e se esses homens conseguirem encontrar o rastro dos outros até o Canadá?” aquele pensamento me deixou aterrorizada.
“Sam já cuidou do assunto, Bella. Jacob jamais deixaria que alguma acontecesse a Nessie.” ele sorriu por um instante. “Ele é quem me ligou preocupado, porque não conseguia te alcançar no seu celular.”
Eu lembrei de ter deixado o meu tench coat sobre a cama do hotel – de nada me serviria um aparelho ensopado também. A chuva só tinha parado a cerca de quinze minutos.
“Bem, ele pediu pra você ligar depois. Ele queria te avisar pessoalmente sobre os visitantes indesejados. Pelo menos agora os quilleouts tem um souvenir dos Volturi.” Jasper colocou a mão de leve sobre o meu ombro, tentando me acalmar. Senti-me um pouco envergonhada, mas ao mesmo tempo tranquila - não sabia se era mesmo eu ou Jasper a se sentir assim.
“Eu conversei com eles a pouco. Nós achamos que Aro talvez possa mandar mais homens para cá, depois dessa informação, por isso é melhor ficarmos atentos. Nós precisamos que você nos cubra o tempo todo com o seu escudo Bella, senão a qualquer momento podemos dar de cara com Demetri.
Eu franzi o cenho, há pouco tempo tivemos o desentendimento com os Volturi e por pouco aquilo não acabou em tragédia. Agora, parece que Aro tinha aprendido a lição, e queria nos pegar sozinhos, quando estivéssemos mais vulneráveis. Jasper esfregou a palma da mão em minhas costas, e eu senti paz.
“Hey. Não fique tão preocupada assim. Eles estão a salvo. Jacob mandou avisar que ele tem cuidado de Renesmee muito bem e que ela dorme aquecida junto dele de noite. Ela mandou um beijo também.” Alice disse mais animada. “Agora tudo depende de nós, Bella.”
“Ah sim. Você sabe me dizer quem é esse?” perguntei intrigada, apontando o rapaz que seguia na frente, já se aproximando no avião.
“Eu?” Ele perguntou, se virando para trás. “Eu sou Kanauã, seu guia.”
Bem que eu queria saber mais, mas achei melhor perguntar em outra ocasião. Carlisle nos esperava no avião, ele terminava de colocar as nossas mochilas lá dentro. Ele me abraçou, mas nós permanecemos em silêncio até que o avião levantasse voo. Tentei ligar, mas eu não tive sorte – talvez fosse melhor assim. Era informação demais para eu assimilar – eu precisava de algum tempo sozinha com meus pensamentos para digerir tudo.
O avião decolou em poucos tempo. O clima era tenso, falávamos o estritamente necessário. Quando dei por mim, sobrevoávamos o rio Amazonas. A princípio achei que estávamos mesmo era cortando o oceano, tamanha a imensidão das suas águas. Eu podia enxergar os mínimos detalhes com os meus novos olhos – era incrível a riqueza de detalhes, a variedade de cores, animais e plantas. Nem tudo era perfeito também, pois haviam grandes espaços abertos, descampados e fazendas, isso me fez pensar.
“É uma pena que o homem não saiba dar o devido valor à Natureza.” eu comentei por comentar.
“Eu sei bem como é.” respondeu o guia, sentado no assento do piloto. Ele voou um pouco mais baixo, sobre uma área desmatada e continuou “Cada árvore que queimam, cada planta que arrancam da terra, é como se arrancassem um pedaço do meu coração.”
Ele disse aquilo com tanta dor em sua voz, que eu realmente pensei que ele fosse começar a chorar.
“Eu sinto muito.” respondi.
Zafrina olhou pra mim, e resolveu esclarecer as coisas.
“Kanauã é descendente dos primeiros jesuítas... homens da igreja que vieram da Europa para tomar a terra dos índios. Eles destruíram muitas tribos, assassinaram centenas de nativos.”
Eu comecei a ouvir a história, sem entender muito bem do que se tratava aquela aula de história - mas resolvi prestar bastante atenção mesmo assim.
“Quando os jesuítas pensavam que haviam vencido os índios e dominado a terra, a Mãe Natureza colocou esses homens cruéis no seu devido lugar. Eles foram amaldiçoados a vagar sobre a terra vestindo a pele dos animais que antes eles ajudaram a chacinar. Eles viam os outros homens perecerem, mas eles estavam fadados a viver sobre a terra infinitamente, protegendo a mata e tentando restaurar a vida que um dia eles destruíram.”
“Hum...” eu balbuciei, tentando fazer as conexões. “Então Kanauã... é como Jacob.”
“Eu não sei dizer ao certo. Ambos são metamorfos, mas suas condições são diferentes.”
Carlisle se esforçou para explicar melhor a situação. “O povo de Jacob fora abençoado com essa condição, Bella. Já o povo de Kanauã recebeu como uma maldição, por isso todos o seus descendentes carregam esse fardo. Todos eles podem se transformar em algum animal da floresta, e todos sofrem quando a terra deles está em desequilíbrio. Não há escapatória. Eles vivem para guardar a floresta.”
“E como você sabe de tudo isso?” parece que eu sou sempre a última a saber.
“O rapaz do píer, que preparou o avião, aquele é meu filho.” Kanauã respondeu.
Eu fiquei perplexa. Pensei em como seria eu e Renesmee no futuro. Ela aparentaria a minha idade, teria as minhas feições, mas sua condição seria sempre a de filha.
“Quantos anos você tem?” perguntei para não deixar morrer o assunto. Eu tinha muito o que aprender.
“Trezentos e vinte e três.” ele respondeu rindo, ao perceber minha surpresa. “E você, quantos anos vampíricos tem?”
“Quase um ano...” respondi meio incerta, não havia percebi que tanto tempo assim havia se passado.
“Impossível!” ele exclamou. “Isso é simplesmente impossível! Você caminhou pelos humanos sem hesitar! Eu vi que os olhos de vocês estão negros, mas mesmo assim, você soube se controlar. Inacreditável!”
Eu ri, um pouco envergonhada. Nunca acreditei quando me diziam que eu tinha algo de diferente.
“Esses vampiros sempre nos dão trabalho! Os malditos recém-nascidos são fortes!” ele exclamou, sem perceber que estava no avião com mais cinco deles. “Bem, eu quero dizer, dos recém-nascidos sem treinamento. Por aqui aparecem cada um, você não faz ideia. Não falo por mal, mas é que quanto mais novos, menos eles sabem se controlar. Com o tempo eles aprendem, e podemos até coexistir.”
“Quem sabe um dia você ainda recebe um desses.” Zafrina ergueu o pulso para me mostrar.
Ela usava uma pulseira muito parecida com a que Jake havia me dado há uns dois anos atrás.
“O que isso significa?” perguntei interessada, Alice provavelmente sabia o por quê.
“É um símbolo de poder entre o nosso povo. Pode significar aliado, chefe, protegido ou matrimônio. Quando Zafrina usa o meu bracelete em nossas terras, ele lhe confere uma proteção especial, e todos nós nos prestamos a ajudá-la. É bem simples, na verdade, mas por ser feito por um de nós, ele pode durar séculos.” Kanauã já começava a falar como guia. Achei aquilo tudo engraçado, havia tanto a aprender.
“Ele também pode ser quebrado, se a proteção for suspensa.” Zafrina completou.
Agora eu queria saber o que o meu bracelete significava para Jake. Continuei ouvindo sobre as histórias do povo de Kanauã, descobri que ele era um jacaré e não um crocodilo, que haviam diversos tipos de metamorfos, e que talvez um dia eu pudesse ver um boto cor-de-rosa – que quando saia da água, virava um homem incrivelmente belo e roubava as índias das vilas ribeirinhas.
Ouvir tudo aquilo me fez pensar que eu não sabia coisa alguma sobre esse mundo novo ao qual pertencia. Era tudo muito estranho, cheio de detalhes e histórias que soavam inacreditáveis. Carlisle pacientemente me explicava as coisas mais importantes com o mesmo carinho com que ele ensinava Nessie. Eu queria poder abraçá-lo e agradecê-lo por me permitir fazer parte dessa família. Ele e Esme foram os primeiros a me acolherem e me apoiarem até mesmo quando Edward havia perdido a sua fé em nós.
“Obrigada.” eu disse com voz embargada. Eu me sentia pequena e segura ao lado dele.
Carlisle entendeu, sorriu pra mim com muita doçura e beijou a minha testa como um pai beijaria sua filha.
Eu fiquei olhando o rio tocar o céu ao longe, o pôr-do-sol caindo e toda aquela vastidão de verde a nossa volta. O mundo era grande demais, e eu estava pouco a pouco descobrindo novos horizontes. Era tudo muito novo e assustador, mas ao mesmo tempo, aquele frio na barriga era emocionante. Assim como fora conhecer Edward e desvendar os seus segredos, agora eu estava me aventurando por novos caminhos. Eu me sentia mais forte e mais poderosa, como se meu sangue ainda corresse furiosamente pelas minhas veias numa combustão de energia.
Mesmo que as coisas não saíssem como planejado, eu sabia que tudo acabaria bem, porque eu tinha a minha família ao meu lado. Eu já não me sentia irritada, perdida ou com medo – estava agora era confiante de que, de alguma forma mágica, nós sairíamos vivos daquela floresta. Eu veria Edward sorrindo para mim, nós dois abraçados sob o alpendre da varanda, observando Renesmee brincar com Jacob no jardim.
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N.A.: Consegui um local para postar que permite a formatação original do texto. Se for do seu interesse, continue lendo em:
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