Sapos de Papel (capítulo 4)
Ao acordar na manhã seguinte, Olívia já havia esquecido o seu pesadelo e muito menos se lembrava do seu passado, afinal aquele epsódio já havia acontecido faziam 5 anos. Agora Olívia tinha 17 anos e estava no último ano do ensino médio, enquanto cursava seu terceirão fazia também cursinho preparatório pro vestíbular.
Já era agosto. Faltavam pouco mais de três meses.
Estudar de manhã e a tarde a estava cansando tanto que tudo estava se tornando incrivelmente automático. Acordar, levantar, escovar os dentes, por uma roupa qualquer (nem pra escolher roupa ela estava pensando mais), arrumar o cabelo, a maquiagem, por os brincos, checar se faltava algo na mochila, jogá-la nas costas e sair. Sem comer nada. Andava de ônibus, dormia sempre, acordava no ponto, andava até a escola e (como se fossem cinco minutos) passavam cinco aulas. Ás da manhã. Logo iria almoçar, conversar, pegar mais um ônibus, chegar no cursinho e (ao som das bobagens que os professores falavam) passar mais seis aulas. Não tinha nenhum motivo para animação, como sempre acontecera: ela não tinha intimidade com ninguém da turma.
Contudo (graças a Deus ou ao acaso) naquele dia por causa do calor infernal fora de época que estava fazendo, Olívia usava uma rasteirinha, fresca mas também escorregadia.
Foi na hora do intervalo. Distraída e automática, Olívia foi descer o terceiro degrau da escada que descia para a cantina e pisou de forma errada o pé escorregou e como ela não se segurava no corrimão o corpo foi junto e lá se foi Olívia escada abaixo.
Como num passe de mágica todas as atenções miraram nela. E mesmo constrangida e com dor, mais tarde agradeceu aquele momento, era a primeira vez em muito tempo em que alguém olhava pra ela, na verdade era a primeira vez em muito tempo que ela olhava pra sí mesma.