Ao Garoto do Sorriso Redondo
Tenho andado por aí com aquela sensação passada que, um dia, quase me matara de alegria. Tenho olhado para o chão das ruas, me lembrando de pensamentos de outras vezes que por ali passei - pensamentos felizes. Tenho me visto na frente do espelho e me perguntado para onde teria ido aquela parte de mim, a qual eu nunca pensara ter que perder. Tenho olhado para sua foto, com aquele sorriso redondo, e pensado muito em você, por onde têm andado e como tem passado esses dias, os quais antes costumavam ser nossos e de mais ninguém. Tenho pensado tanto e feito tão pouco que me dói, porque não tenho notícias suas. O que tem feito?
Começar um outro ano assim certamente não é algo bom, mas não consigo evitar. Os pensamentos que me cercam são claros, puros e passados demais, tão inofensivos e tão perigosos que me deixam sem saber ao certo o que fazer. Há muito tempo desde que ouvi sua voz, olhei em seus olhos e te disse palavras verdadeiras sobre o que senti. Se passara tempo demais desde que tive aquela estranha certeza de que algum dia, seria real. Contudo, o tempo correu e minha tentativa de acompanhá-lo acabou sem resultados. De repente, acordei e senti saudade de alguma coisa que só encontrei em você. E olhar para aquela foto foi como me cortar lentamente e deixar a ferida ir sangrando, porque a verdade é que eu precisava de algo que não podia ter.
Não sei, de fato, o que me levou a escrever essa noite. Não foi a saudade, porque aprendi a conviver com ela. Talvez, eu só espere que você chegue em casa depois de um dia bom e, por se preocupar ou não ter realmente esquecido, leia essas palavras de maneira a sentir o que sinto agora. Estou olhando para aquela foto sua, com o coração nas mãos, de tanto ter te evitado todo esse tempo. Já se fôra aquele tempo no qual eu sabia que poderia fazer dar certo a qualquer momento. Hoje, o que sei que posso fazer é esquecer essa dor que me sufoca aos poucos, com a esperança de que você saiba que eu queria poder voltar, só não o faço por ter consciência e, de certo modo, o orgulho que você me ensinara a ter.
Não tenho mais o dom das palavras. Na realidade, não tenho mais muitas coisas. Todo esse tempo que passei sozinha, só me serviu para mostrar o quanto você me fez bem. Sinto falta daqueles tempos leves, destinados à espera. Me dói olhar para esse ano e não ter lembranças recentes suas. Me dói ver 2011 como um ano de inúmeras tentativas incabadas que resultaram em textos tristes. Esperava que as palavras me trouxessem a lembrança viva de como noites assim costumavam ser. Um texto pela metade, até o momento em que você voltava e me fazia me sentir bem de novo.
Hoje, na tentativa de fugir de todas essas palavras escritas, me deparei com essa foto sua e foi como se o tempo voltasse para quando não haviam todas essas complicações. Com seu rosto, vieram as dúvidas de sempre, mas dessa vez, meu desejo de encontrar as respostas me pareceu mais distante do que outrora fôra. Isso é a vida real e por isso sei que nada voltará a ser como antes, porque, no seu lugar, restara um coração vazio e, no meu, um cheio de dor. Para terminar, se estiver lendo isso, só gostaria que tentasse se lembrar do que só nós dois sabemos. Este texto está em aberto, mas a história é nossa e assim sempre será. Tente se lembrar de como costumava ser e, por favor, procure não se esquecer nunca mais.