Nascer do Sol
Estranho dizer isso, mas não há mais dor aqui. Essa cidade de céu macio e estrada áspera já me viu das mais diversas maneiras, mas hoje, há só um sorriso calmo e transparente dentro e fora de mim. Engraçado pensar que há tempos atrás eu não podia ver que, embora haja uma porção de músicas tristes tocando alto e trazendo saudade, dor e confusão, também existe espaço para músicas felizes. Talvez seja mais fácil deixar doer para tentar entender algo que, muitas vezes não é necessário, a sorrir por motivo algum. Sem razão nem sensação, olho para o céu e para o mar e não é necessário entender o por quê de estarem ali - simplesmente estão. É mais fácil quando dói, e se você não compreende o que quero dizer, é porque ainda tem medo da simplicidade do sorrir- como outrora tive.
É melhor ver cada manhã como uma nova oportunidade, afinal. Deixar soar as notas, sentir o som. É mais fácil enxergar que os dias passam rápido a chorar porque o ontem se foi a cada despedida. E quando não for possível entender em meio a dor, deixar que ela tome seu tempo certo é natural, não é fraqueza.
Estranho sentir essa liberdade tão decidida em mim. Estranho achar estranho o que deveria ser normal. E a cada dia é uma nova experiência, e a cada hora é um novo plano. É assim que as coisas são - uma hora o mundo desaba e em um outro instante valeu a pena. É bom saber que minha estrada áspera me trouxe aqui, onde não encontro mais espinhos.
O dia nasceu ensolarado, hoje. Talvez tenha sido isso, talvez seja só eu. Há esperança, ansiedade e saudade em mim - nada que eu não deveria sentir. É a mesma cidade de sempre, com esse céu colorido e sua simplicidade, contudo, é certo dizer que não sou mais a mesma. Mudo a cada instante, me enjôo de meus pensamentos, procuro me surpreender dentro de mim mesma. Hoje acordei diferente para melhor, acredito. Não sei se foi o novo ano que me afetou, só sei que quero ver o nascer do sol mais uma vez. E pela primeira vez, tudo isso basta.