Olhos Vermelhos
Chorei em quatro dias o que nunca precisei chorar em quinze anos. Talvez tenha sido a solidão ou até mesmo uma mudança repentina de humor. Seja como for, ainda sinto, aqui em mim, algo que me faz querer desabar. E tentar me compreender me aflige e reprime mais ainda o que quer que viva dentro de mim. Há sentimentos que, cansados de esperar, se foram e transformaram do vazio, o nada. Que adianta tentar descobrir de uma vez por todas o que sinto? Quem me garante que amanhã não serei eu de novo, sorrindo pelos cantos e esperando por uma nova oportunidade? A incerteza me assusta, mas sinto falta de quando, pelo menos, sabia que a sentia, pois agora nada sei.
Lembro-me de ter acordado de um pesadelo, não tão diferente da realidade, e então, ao abrir os olhos, lágrimas caíram e eu me assustei. E talvez, na esperança de que aquilo me trouxesse leveza e calma, deixei que caíssem por mais alguns minutos. Achei que pudesse controlar a mim mesma, mas me provei o contrário, pois depois da liberdade, elas demoraram a parar de rolar. Isso fez com que me lembrasse do quão emotiva sempre fui, e de todos os esforços que fiz para que isso mudasse. Se soubesse tamanha dor que sinto hoje por toda a canalização de sentimentos, teria desistido da ideia sem voltar atrás. Estou cansada de guardar tudo em mim, mas toda vez que tento mudar, algo me trava. Hoje sei que, provavelmente, não mudarei mais. Continuarei assim: hora emotiva, hora completa. Sempre a procura de desculpas que escondam sentimentos por mim considerados sofridos e banais demais.
Hoje, na esperança de sentir, procurei pelo sofrimento. Ao encontrá-lo, pude ver no espelho meus olhos distantes e vermelhos. Sei que algum dia, alguém verá mais do que a versão censurada de mim mesma. As lágrimas que agora me escorrem pelos olhos, são lágrimas com motivos sólidos e antigos. Assim, deixarei que caiam por mim e esperarei até que tenha, finalmente, terminado.