De Fora para Dentro

A verdade é que faltava o cuidado de enxergar tudo com um pouco mais de clareza. Coisas não voltam, mas isso nunca havia sido problema no enredo. Há livros inacabados, histórias pela metade e uma vida lá fora - esperando. Uma xícara de percepção, uma cama desarrumada. A garota sentada, olhando para a parede roxa e esperando pelo amanhã, na realidade, estava entre silenciar ou viver. Sem que vissem, colocava em prova tentativas para um novo ano. Criava mentalmente palavras únicas, mesmo que, quando escolhidas aleatóriamente, parecessem banais e utilizadas diariamente sem significado algum.

Havia a claridade e a escuridão em uma única mente. Não se culpava, quem não era assim? Uma hora sorria, outra já não encontrava motivos para tal. Vez ou outra tentava escrever, outras, só de pensar já lastimava. Não era dor, não era vazio. Não sei, ao certo, mas era algo. Nunca fez bem ao duvidar, mas não havia como. Havia uma mente em trabalho que, quando decidia parar, sentia deixar algo importante para trás.

O que fazer com a dificuldade e o que fazer com a chance. Como ser única se todos se sentem assim. Poemas, filmes, e mais histórias. Uma noite tranquila, enfim. Um amanhecer maciço - calmo por dentro, agitado por fora. Olhares, palavras, silêncio e felicidade no fim. Não é muito, é só jeito dela ser. Quando para, se contorce - não gosta. Quando exagera, reconhece de imediato. Quando se afasta, se culpa. Quando estraga tudo, tenta esquecer e começa qualquer outra coisa.

Não sei, não há motivos. Não há uma irritação do interior - já cicatrizado. Talvez queira se colocar provas e ver até onde consegue chegar. Pode ser que só de ver o brilho do sol se pergunte como seria, pode ser que nem note. Quem sabe veja a vida como coisa séria, mas aja brincando porque é assim que deve ser, para ela. Se soube um dia, esqueceu-se. Pegou seu livro ou outra história, porque costuma-se saber das coisas na fictícia imitação. Mais uma volta, outra esquina, outro dia. Mais um olhar perdido na imensidão do que é o mundo nessas horas silenciosas: calmo, futuro e irrelevante.

Garota Sorriso
Enviado por Garota Sorriso em 27/01/2012
Código do texto: T3463865
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