Telefonema Bloqueado

Hoje quis te ligar. Queria saber como estava, se tinha dormido bem, se tinha tomado suco de morango ontem, essas coisas. Sendo sincera, acho que o mais eu desejava era ouvir sua voz. Entretanto, não te liguei. Seria egoísmo demais da minha parte, até porque, quem sou eu agora para poder saber de qualquer uma dessas coisas? E aí sempre entra o velho clichê: querer não é poder. Eu queria, e muito, mas não podia. A chuva não cai porque queremos, e sim, porque ela simplesmente tem que cair. E como uma pessoa que tem consciência, seria incoerente agir assim: só pelas minhas vontades, entende?

Sinto sua falta constantemente. Penso em você nas horas vagas, e às vezes, até nas não vagas. Dói saber que estou longe, como também dói saber que se estivesse perto os fatos não se reverteriam. Levo a culpa nas costas e tenho a coragem de dizer que sou culpada. E não, não venha me dizer que foi um erro conjunto, porque não foi. Eu sei e você sabe, a verdade está mais transparente que o vidro, é só abrir um pouco os olhos e enxergar. Já pedi desculpas milhares de vezes, mas não adianta. E sabe por quê? Apesar de ter dito o meu grande "sinto muito" e ter sido do fundo do meu coração, depois de ter agido de uma forma meio maluca, essas palavras tiveram apenas o valor de palavras. Quando uma palavra tem o valor de uma palavra, ela é uma gota de chuva qualquer, que cai e escorre pra dentro de um bueiro. Acontecimentos, atitudes e esse tipo de coisa são meio complexos, porque entre agir e dizer tem uma grande diferença de níveis e aí é que se encontra o problema.

Talvez eu devesse lhe escrever uma carta com uma explicação toda científca sobre tudo o que aconteceu, porém seria uma perda de tempo. O que aconteceu já era, já tá feito, não é assim? Pode ser. Minha opinião é um pouco diferente, mas não vamos entrar nesses argumentos. Só queria mesmo que soubesse, mais do que já sabe da situação. Eu sei que eu sou uma complicação ambulante, um baú de palavras ocultas, um coração de sentimentos bombásticos. Também sei que não sou fácil de lidar, muito menos de entender. Por esses motivos, não insisto. Não mais. Só que se quer saber de uma coisa? Eu gosto de quem eu sou, e acredito que você também gostava, porque me aguentou por tempo demais até. E não me importo se várias pessoas estiverem me criticando agora por ter escrito tudo isso, se estão achando que sou idiota ou uma ridícula qualquer. Posso errar muitas vezes, ter grandes defeitos e viver me batendo contra minhas complicações, no entanto, não me envergonho disso. Apesar de sempre acabar entortando o meu jeito de fazer as coisas, tenho um grande coração guardado em mim e não é preciso de muito pra ver isso.

Tenho saudades, muitas na realidade. Procuro nos meus arquivos mentais imagens do seu sorriso e dos seus olhos inconstantes, só pra poder sentir que ainda há uma garota boba dentro de mim. Não tenho mais muito a dizer, sinceramente, até tenho, mas deixa pra lá. É, pode brigar comigo agora e me fazer dizer, vai! Não tem como, eu sei. Então, deixa o silêncio mesmo, ele corta, contudo anda sendo necessário agora, não é? Tudo bem...

Hoje eu quis te ligar, mas sabia que não iria atender, sua mente e seu coração, em conjunto dessa vez, não deixariam. Portanto, não liguei. E acabei no final, fazendo o de costume: deixando o meu coração escrever por mim.

Bela Afonso
Enviado por Bela Afonso em 27/01/2012
Reeditado em 27/01/2012
Código do texto: T3463818
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