Um amor maior que a vida (Cap. 9)

Coragem e generosidade

-Oi, amiga. Que bom que chegou, esse doutorzinho veio também a troco de quê?

-Laura, por favor! Sei que não gosta dele, mas estou nos piores momentos de minha vida...

-Você sabe bem quais sempre foram meus sentimentos...

-Bia, venha comigo para assinarmos os papéis para a...

-A doação de órgãos, está bem.

-Como assim?! Interrompeu Laura exaltada, vai permitir que mutilem seu filho? Bia, o que ele te fez? Perguntou apontando para Santiago.

-Nada. Laura! E não tem nada a ver com mutilação, eu respeito tudo em que meu filho sempre acreditou, estou fazendo o que ele faria se pudesse escolher e evitando que outras mães sofram o que eu estou sofrendo. As pessoas precisam entender o tamanho desse gesto, é duro, mas muito importante, evitaria mais dor...

-Você nunca gostou dele? Por quê isso agora? Anda para cima e para baixo com ele, não me escuta mais, está dando os restos de seu filho aos corvos... Bia, você não está legal, quando voltar a si será demasiado tarde.

-Laura, ele não me enche de idéias e perguntas sobre as quais não quero refletir. Não quero pensar, não quero conversar, só quero dormir e fingir que nada disso existe, por favor, seja minha amiga como sempre foi.

-Desculpe-me, é que me preocupo com você e não confio nele...

-Quer se despedir dele? Perguntou Santiago enquanto as interrompia.

-Não sei...

-Se aceita um conselho, por mais difícil que seja agora, acredito que será pior sem um adeus. Irei com você.

Beatriz assentiu e os dois foram ao encontro de Thiago, chegando á porta do quarto Santiago avisou-a:

-Podemos doar tudo, exceto o coração que parou, não se assuste, ele está ligado á algumas máquinas para que os órgãos não sejam perdidos.

Abriram a porta juntos e viram o menino tal como Santiago dissera que estaria. Foi um choque, claro, e fez Beatriz se desmanchar em lágrimas. Ela se aproximou da cama, beijou-o, cantou para ele e pediu para que acordasse, nesse momento Santiago se aproximou e colocou a mão em seus ombros.

-Ele nunca fez nada de mau, não merecia ter partido... Por quê?

-Minha mãe sempre diz que é só o nosso corpo que se vai, a alma é eterna e reencarna muitas e muitas vezes, talvez ele ainda volte para você...

-Você não me parece o tipo de pessoa que acredita nisso...

-Não acredito muito, mas todos consideram minha mãe muito sábia.

-É melhor sairmos, não sei se posso continuar aqui.

-Está bem, admiro sua coragem.

-Bia, disse Laura abraçando a amiga e lançando um olhar fulminante para Santiago, está segura disso?

Beatriz assentiu sem dizer uma palavra, foi com Laura e Santiago assinar os papéis necessários.

-Amanhã precisará ir á delegacia falar com Antônio, ele tem mais informações sobre o acidente e quer ouvir sua versão para ajudar nas investigações, pegaremos o culpado.

Santiago e ela trocaram um olhar de raiva.

-Amanhã? Está bem, vá até minha casa, você me acompanhará nesse caso, não é?

-É claro, não se preocupe.

-Gostaria que tomasse conta de nossas lojas, pelo menos por enquanto, muita gente depende de nós e eu não tenho condições de administrar nada nesse estado.

-Querida, conte comigo.

-Bia, você quer que eu vá...? Indagou Santiago.

-Não, pode me levar em casa? Gostaria de mais um pouco de calmante, ainda me sinto cansada .

Santiago concordou com a cabeça, Beatriz se despediu de Laura e foi embora com ele. Quando passaram em frente ao parque pediu que parasse, desceram do carro e andaram meio que sem rumo. Era meio de manhã, a temperatura estava alta, ela sentou-se em um banco de madeira, apoiou o cotovelo nos joelhos e tampou o rosto com a palma das mãos, deixando seu cabelo louro e cacheado cair delicadamente sobre seus braços. Era difícil acreditar que seu conto de fadas terminara de forma tão trágica, Santiago lhe transmitia uma confiança nova que nem César a fizera sentir “Claro que César nunca me fez sentir o que ele faz, César sempre foi o amor de minha vida e ele é só o vizinho chato!”.

O celular de Santiago toca e ele se afasta bastante para atender, Beatriz faz que não nota a movimentação e continua parada.

-Os órgãos serão doados? Pergunta uma voz feminina do outro lado da linha.

-É, serão, parece que tudo corre conforme seu plano. Espero que esteja contente.

-Não é meu plano, sabe muito bem disso, todos somos parte do plano de alguém muito maior e nada pode dar errado.

-Não me sinto bem tratando-a como marionete.

-Você conhece nossos motivos, é tudo para um bem maior.

-Preciso leva-La para casa, depois conversamos. E desligou o telefone nervoso.

-Você precisa ir? Perguntou Beatriz preocupada.

-Tirei alguns dias de folga, estarei com você.

E os dois tomaram o rumo de volta á casa, sem notar que cada vez se tornavam mais íntimos, mas será que Beatriz sabe escolher suas companhias?

[Continua]

Aimée Legendre
Enviado por Aimée Legendre em 23/01/2012
Reeditado em 12/02/2012
Código do texto: T3456606
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.