Uma nova esperança [12]

NOITE DE FOGUEIRA

-Estou exausta! Céus, sinto-me uma madame inútil!

-Não fale bobagens, menina, vamos subir que te prepararei um banho.

Socorro procurou uma das criadas para levar todas as compras para cima, acho que nem Faustina comprara tantos vestidos em sua vida em um único dia. O passeio pela cidade foi ótimo, Nico tratou mostrar-me todos os lugares bonitos, levou-me para onde havia boa comida mas agora eu estava realmente cansada . Depois do banho que Socorro me preparara com tanto esmero, deitei-me para descansar e acordei já no crepúsculo. Levantei-me, passei uma água no rosto e desci. Todos estavam ao redor de uma bela fogueira, os mais velhos fumavam e as mulheres conversavam animadas, havia rostos desconhecidos mas todos me pareciam amáveis.

-Aurélia! -Disse Nico feliz e vindo ao meu encontro- Junte-se a nós, estamos jogando conversa fora.

-Essa é a famosa Aurélia? Disse uma senhora negra de cabelos brancos.

-É sim, minha menina, -disse Socorro- é linda, não é?

-Linda mesmo, Nico não mentiu. Respondeu a mulher.

Nico corou, até em sua pele negra o vermelho lhe queimava o rosto, foi divertido, tive que reprimir uma gargalhada.

-Tia! Disse Nico envergonhado

-Desculpe-me, querido. Serei mais discreta de agora em diante.

Todos riram.

-Aurélia, perdoe-me, não me apresentei. Sou Sebastiana, irmã de Socorro. Esse é é Eustáquio, meu marido -disse apontando para o senho fumando na roda de homens- e aqueles belos rapazes são nossos filhos, o da esquerda é Damião, o do meio José e o da direita é Pedro.

-Belos rapazes, eu disse.

-E estão solteiros! Disse Sebastiana entusiasmada.

Dei um meio sorriso e sentei-me ao lado de Socorro, durante toda a noite a conversa correu animada, causos, prosas, boa música feita pela viola de Eustáquio e uma comida de tirar o chapéu. Era tanta alegria que eu mal cabia em mim, finalmente encontrara a paz. No momento de maior alegria só Acácio me vinha no pensamento, era como se faltasse ele para que tudo fosse absolutamente perfeito. Essa idéia incomodava-me de tal maneira que resolvi passear um pouco, andei alguns metros e logo atrás veio Nico com um lampião.

-Para que consiga encontrar o caminho de volta, disse com um lindo sorriso nos lábios.

-Ah, obrigada.

-No que pensa?

-Em nada, gosto de olhar essas terras, são as mais bonitas que já vi.

-São mesmo, seu Acácio deu a vida por elas. Depois que dona Isabel morreu esse lugar não foi o mesmo, tudo parecia morto, e permaneceu morto por muitos anos, até que um milagre fizesse o patrão viver de novo. Ainda sente raiva dele? Notei vocês dois tão íntimos ontem, disse com uma pontada de ciúme.

-Como poderia sentir raiva da pessoa que mais me fez bem na vida? Deus foi demasiado generoso comigo, estou feliz e em paz agora.

Nico deu um sorriso e seguimos caminhando lado a lado pela escuridão fazenda.

-Gostaria de passear comigo amanhã? Perguntou-me sem jeito.

-Adoraria.

Ele deu um sorriso e alertou-me:

-É melhor voltarmos, estamos muito longe e seguramente já deram por nossa falta.

Agora tudo parece girar em harmonia.

[continua]

Aimée Legendre
Enviado por Aimée Legendre em 20/01/2012
Reeditado em 20/01/2012
Código do texto: T3451881
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