Banhando Corpos Sedentos
Banhando Corpos Sedentos
De Icaro Lopes
Desci vasado à ladeira da desolação.
Meti-me aos becos. Sentei-me as escadas.
Ruas vazias, cachorros velhos, putas mascadas.
Gestos obscenos que marcavam aflição
Um copo imundo de uísque golei.
O ponteiro calmo do relógio cuco piava.
Sangue brotava. Suor amolava.
Pra agonia com poeira e caos voltei.
O toca-discos queimava o inicio existente
Sirenes e lustres. Voz ardente.
Novas paradas de pensamentos
Chuva de metal banhando corpos sedentos.
Secos dentes mordiam o pão estragado
Que vida. Maldita língua perdida!
Bandida caía. Choros funestos eu ouvia.
Meu livro em um canto vazio, logrado.
Ossos em harmonia montados por baixo de carne nua.
Sujeira antiga na boca, de preferência crua.
Assaltos. Saques loucos. Cédulas na cova do trovão.
Marcha com pés descalços iniciam a ação.
Rimas grotescas. Idéias trôpegas. Servil matuto.
As notas que escrevo à caneta torta,
Não são as que desejei ver em minha porta.
Unhas sujas. Pé cascudo. Greve e agudo.
Versos Ignorantes. Santos andantes. Esquecidos instantes.
Piratas em seus tanques de guerra chegam gritantes.
Fome do cão. Barriga murcha feito grão.
Dou-lhes agora meus pensamentos como expedição.
Um ovo em cima da mesa. Copo de leite. Lasanha a bolonhesa.
Banquete? Nada me farta. Todos para o raio-que-o-parta!
Cântico molhado sobe e desce baixinho
Da janela, bêbado vejo a putaria, do vizinho.
Dormirei agora. Agasalho-me como senhora.
Omisso tardarei sem demora.
Pálpebras juntas. Cerradas até o fim.
Punhos ossudos com veias de arlequim.