Uma nova esperança [11]

Em seus braços

Algo em mim mudara, quando pus a cabeça no travesseiro meu único desejo foi que amanhecesse rápido para que Acácio e eu estivéssemos juntos novamente. Tive dificuldade em pegar no sono, comecei a imaginar coisas...

-Bom dia, menina. Disse Socorro com um sorriso.

-Que horas são? Perguntei exaltada.

-Acalme-se, ainda é cedo. O patrão deve estar se levantando, por quê não faz o mesmo e desce para tomarem seu café?

Eu apenas sorri e me levantei com a alma cantando de alegria. Troquei de vestido, escolhi o mais romântico, branco, de tecido leve com alguns detalhes em pérola que refletiam perfeitamente meu humor. Lavei o rosto, escovei os cabelos e voei pelas escadas mas fui interrompida quase ao final pela visão de seu perfil, sério, tranqüilo e absolutamente lindo. Diminui meus passos para não aparentar desespero, quando me notou levantou-se da cadeira, beijou minha mão e me conduziu até uma das luxuosas cadeiras.

-Bom dia, criança.

-Não sou criança, respondi irritada.

-Desculpe-me, foi só maneira de dizer... Como foi sua noite?

-Longa e revigorante, e a sua?

-Boa...

-Não me parece, estou certa?

-Não está errada -disse sorrindo-, apenas acordei por várias vezes. Tenho novidades, você, Socorro e Nico irão á cidade comprar roupas novas. Eu estarei fora por alguns dias, viajarei a negócios.

-Não vem conosco? Perguntei decepcionada.

-Ora, não farei falta. E você estará nas melhores mãos de toda Minas Gerais.

-Está enganado, fará muita falta.

-Não tardarei fora, asseguro-lhe.

Concordei com a máxima naturalidade possível e o restante da refeição transcorreu bem e silencioso.

-Quer pegar algo antes de sairmos?

-Achei que não viria conosco, indaguei com uma pontinha de felicidade.

-Não irei, apenas levarei-os. Afinal, fica no meio de meu caminho, nada mais correto que isso.

Ele parecia desconfortável ao se justificar.

-Não preciso pegar nada, estou pronta. Disse sorrindo.

-Ótimo, respondeu aliviado, mande que avisem Socorro e Nico. Espera-me na varanda?

Assenti e fui procurar por algum rosto conhecido, deprarei-me com Madalena que, a julgar pela ironia no olhar, escutara toda a conversa.

-Madalena, por favor, procure Socorro para que saiamos e diga-lhe que Acácio nos está esperando o mais breve possível.

-Você tem mesmo sorte, mataria para estar no seu lugar.

Disse isso e saiu rebolando de forma vulgar.

Fui procurar por meu protetor na varanda e lá estava, admirando o horizonte.

-Madalena foi busca-los.

-Ótimo. Sobre os empregados desta casa, gostaria que soubesse... -Começou cauteloso

-Socorro avisou-me tudo. Apressei-me em interrompe-lo diante de seu constrangimento pelo assunto.

-Formidável.

-É um lugar maravilhoso, disse enquanto me aproximava dele.

-É sim, é um pedaço meu que está em cada canto dessas terras. Olhar para o horizonte é ver toda a minha vida contada pela natureza.

-Acácio, sobre ontem, foi um ótimo passeio. Disse corando e quase sem palavras.

-Podemos repeti-lo quantas vezes quiser.

Assenti com um sorriso e aproximei-me o máximo possível dele, que para minha surpresa, segurou minha mão e encaixou meu braço no seu. Involutariamente, deitei minha cabeça em seu ombro e ficamos admirando a vida que pulsava por todos os lados. De repente, sem que me desse conta, nos abraçávamos de forma intensa, suas mãos em minha cintura e as minhas percorriam suas costa. Meu coração acelerava e todo meu corpo parecia gritar. Segundos, segundos em que o mundo parecia adormecer para que nossos sentimentos despertassem. Ouvimos passos ao longe e nos afastamos permanecendo de mãos dadas.

-Quando quer sair, patrão? Perguntou Socorro.

-Assim que puderem, irão comigo e voltarão em carro de aluguel.

-Vou buscar o menino e já volto.

-Todos são meninos para ela? Perguntei com uma risada presa.

-Todos, respondeu Acácio feliz.

-Será uma viagem importante, quero que compre tudo o que gostar, está bem? Sem economias ou prudência. Tudo que me pertence é seu também.

Isso me constrangia de certa maneira, mas por outro lado, sua presença e doçura eram o que me faltava para sorrir. Cada instante ao seu lado era uma descoberta, uma aventura, tantos dias longe me pareciam eternos, quis que o tempo congelasse para que estivéssemos abraçados como antes pelo resto de minha vida. Estava decidida a decifrar meus sentimentos e sua ausência seria providencial.

[continua]

Aimée Legendre
Enviado por Aimée Legendre em 17/12/2011
Código do texto: T3393215
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