Uma nova esperança [10]

A MAGIA DAQUELE LUAR

Todos me olhavam ainda cheios de reserva, não sabiam bem o que eu fazia ali, na verdade, nem eu.

-Você veio da fazenda Mascarenhas, não é?

Assenti e continuei comendo- Então conheceu Geraldo, marido Faustina? O homem mais lindo dessas bandas....

-Tive essa infelicidade, aquele homem é o demônio....

-Ora, Madalena, não importune a pobre moça! Não vê que está exausta? -Disse Socorro um pouco alterada

-Me desculpe, ele é mesmo encantador, não é? -Insistiu Madalena

-Não, nem um pouco, tenha certeza que a beleza que se nota por fora é só ilusão. A escuridão de sua alma é pior do que qualquer coisa que possa imaginar, não se deixe iludir.

Aquela conversa já me estava fatigando, por sorte todos já estavam satisfeitos e saiam aos poucos da mesa. Madalena deixara a comida e passou a me observar com crítica, eu ignorei-a e continuei a me servir até que estivesse satisfeita.

-Tome essa folhinha de hortelã. -Disse Socorro quebrando o silencio constrangedor que sentou-se á mesa conosco.- Vou leva-La para seu quarto, deve descansar, ordens do patrão.

Um sorriso surgiu em minha boca com a menção de Acácio mas senti uma onda de fúria atravessar-me, era Madalena, disfarçando seu olhar cínico com um sorriso torto.

-Vamos, menina. Venha, eu te ajudarei.

Socorro lançara um olhar frio para a criada e pude perceber que não se davam muito bem.

-O que há com ela? -perguntei enquanto subíamos as escadas. Socorro manteve silencio até que chegássemos aos meus aposentos, trancou a porta e com uma expressão séria me disse:

-Menina, tome cuidado. Nem tudo nessa vida é bom, nem todas as pessoas são boas. Algumas, mesmo diante de boas oportunidades, querem demais, e querem a custa da dor alheia. -houve uma pausa de receio mas Socorro logo prosseguiu- Madalena tenta conquistar o patrão há muitos anos, não se enxerga! Ele a rejeitou várias vezes mas ela sempre continuou insistindo.

Uma sensação estranha varreu meu corpo e senti minhas pernas trêmulas, Socorro percebeu e me ajudou a sentar em minha nova e luxuosa cama.

-Você já teve aborrecimentos demais, agora deite e descanse.

Fiquei sem jeito e não quis esticar o assunto, deitei-me e, para minha surpresa, o sono logo me venceu.

Não tinha o costume de sonhar, mas desta vez foi diferente. Eu estava chorando, fazia muito frio, sentia dores horríveis na barriga e uma mulher negra, velha e com roupas estranhas dizia palavras que eu não conhecia. Mais adiante estava Acácio, assustado, e Socorro rezando. Um cheiro forte me fazia sentir enjôo e vontade de tossir até que eu me sentisse sufocada e acordasse suada.

Acácio estava ao meu lado, tudo parecia claro e seguro agora.

-Desculpe-me por invadir seu quarto, mas estava passando, ouvi gemidos e me preocupei. O que houve?

Seu rosto era terno e preocupado, me comoveu.

-Tive um sonho ruim, isso foi tudo.

-Mesmo?

Assenti e me levantei, seu braço forte prontamente estava ao meu dispor, agarrei-o instintivamente.

-Por quanto tempo eu dormi?

-Muito, são mais de 8 da noite, eu acabei de chegar.

-Como foi seu dia? Perguntei cheia de interesse.

-Excelente, e o seu?

-Muito bom, dormi a maior parte dele.

Acácio riu, como sempre, de maneira contagiante.

-Sente fome?

-Não, obrigada.

-Já viu a fazenda á noite?

-Não. Respondi com entusiasmo.

-Quer vir comigo tomar a fresca? Aproveitamos e damos uma volta.

-Claro.

Ele me conduzia pelas escadas, seu braço era firme e estar ao seu lado me fazia um imenso bem. A Temperatura amena daquele horário me agradava, a luz do luar dava um quê de mistério e sensualidade á paisagem, Acácio e eu conversávamos sobre coisas inúteis até chegarmos a um velho caramanchão branco coberto por flores cor de rosa.

-Nossa...!

-Lindo, não? Construi-o para Isabel em nosso aniversário de casamento.

-Ela deve ter adorado...

Acácio concordou, um pouco sem jeito, e nos sentamos no belo banco que ficava embaixo do caramanchão.

-Preciso perguntar-lhe algo.

O que, exatamente, estou fazendo em sua fazenda?

-Sua fazenda, corrigiu-me prontamente. Foi Isabel...

-Agora estou confusa...

-Deixe-me explicar, ás vezes sonho com Isabel mas não sonhos convencionais, são recados. E o último falava de um anjo de resgate, um anjo que eu teria que libertar para que ele me salvasse depois... Você é esse anjo.

Suas palavras mexeram comigo como nenhuma outra coisa até hoje. Tudo que, ao príncipio, me pareceria tão sem sentido era a coisa mais lógica da minha existência. Minha única reação foi abraça-lo fortemente, não havia outra atitude possível.

-Você é que é o meu anjo. Disse olhando em seus olhos e, nesse momento, dei graças a Deus pela folha de hortelã que Socorro me dera mais cedo. Estávamos tão próximos e havia qualquer coisa mágica em sua presença. Nos olhamos por longos minutos enquanto nada mais parecia existir até que meu corpo se deixou levar por um misto de sensações: meu coração palpitava, minha pele suava, minhas pernas tremiam feito vara verde. A mão dele estava em minha cintura e me puxava para seu corpo com avidez, nossas respirações estavam aceleradas e nossos narizes colados, o caminho mais lógico era que seus lábios tocassem os os meus, isso era o que nossos corações desejavam mas ele mudou de curso, beijou minha testa e disse:

-É melhor entrarmos, acredito que choverá logo.

E, novamente, me conduzia como em uma dança para dentro da esplendorosa casa. Como seria de agora em diante? Eu o via como um pai mas nunca senti nada assim antes, estou confusa e é melhor deixar que a noite aclare meus pensamentos.

[continua]

Aimée Legendre
Enviado por Aimée Legendre em 09/12/2011
Reeditado em 09/12/2011
Código do texto: T3379769
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