Deslumbre de Uma Partida

Olhos tristes e cansados - primeira carteira, segunda fileira do lado esquerdo para o direito.

Não é fácil conter os sentimentos quando tudo já se tornou intenso demais; na maioria das vezes, o que tanto se guarda acaba saindo em forma de fragmentos minúsculos pelos olhos. Ficara por tempo demais sofrendo em silêncio, tentando não demonstrar às pessoas especiais a dor que se acumulava dentro do peito, buscando dentro de si uma força, a qual neste momento, já não é mais suficiente.

Hoje, quando acordei deixei a minha armadura de ferro guardada no armário. Não me preocupei em deixar as coisas insensíveis e intactas, mas sim em demonstrar o que por tanto tempo me frenetizava por dentro. Chorar, às vezes, não significa mais do que se deixar levar por algo que toca a sua alma. Chorei hoje, mais do que esperava, menos do que precisava. A sensação do início de tal momento tão temido, se aproxima, e dentro de mim passa a não ser mais suficiente para guardar tanta angústia e dor.

O mais correto a argumentar quanto aos meus medos, seria o fato das mudanças, das novidades, e não do receio de saber que irá existir alguém que vai sentar naquela carteira - a qual por tanto tempo foi somente minha -, e simplesmente terá a chance de se apoderar daquelas pessoas que faziam daquele lugar o mais incrível de todos. Novidades são sempre atrativas no início, e às vezes são tanto, que o velho acaba ficando pra trás. Não se trata de uma substituição, porque todos são diferentes e tem pontos de vista opostos, no entanto implica em uma ocupação de uma parte minha de certa forma. Tenho consciência de que no próximo lugar também haverá um espaço para mim acompanhado de pessoas novas, as quais talvez sejam tão legais quanto as daqui, porém tenho absoluta certeza de que em meu coração, a lembrança viva no fim das contas será apossada pelas pessoas daqui. Talvez meu egoísmo e minha saudade antecipada estejam dando seus sinais, mostrando receios que nem eu mesma tenho controle, mas não é isso que importa aqui.

Subindo aquela velha escada hoje, deixando meus pensamentos fluirem, vi toda minha vida como um quebra-cabeça. Então, me dei conta de que para conseguir montá-lo, é necessário primeiramente fazer sua base, e essa não julgo como algo que eu fiz, mas o que as pessoas construiram. Não qualquer pessoa, e sim, aquelas que me apoiaram, cuidaram de mim e principalmente, aquelas que me fizeram sorrir.

Hoje, faltando quase um mês para ir embora, deixei o sentimento de despedida tomar conta de mim. Libertei o sofrimento já esmagado, de tanto que o empurrei pra dentro. Meus olhos ficaram vermelhos, meu sorriso quase não apareceu, contudo, ganhei o que mais precisava no momento, cuidado. Vim para casa cheia de retalhos com palavras confortantes, e assim, um momento tão triste, tornou-se uma das lembranças mais bonitas que já recebi.

A hora do adeus pode estar se aproximando, contudo só a cabe mim e a todos que se dizem importantes, escolher entre dizer firmemente um "tchau" ou um "até logo".

Odeio despedidas.

"Meus sentimentos às vezes não cabem dentro de mim, e então, escolhem entre escorrer em forma de lágrimas ou sorrisos."

Bela Afonso
Enviado por Bela Afonso em 05/12/2011
Reeditado em 05/12/2011
Código do texto: T3373617
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