Ryon Andrews (Volume 1) - Capítulo II
este ficou um pouco menor...
----------------------------------------------------------------------
RYON ANDREWS E O MISTÉRIO DAS TRI CHAVES
CAPÍTULO II - FUGA
----------------------------------------------------------------------
Cheguei dez minutos atrasado na aula do Sr. Herbert que, graças a Deus, não me deu nenhuma detenção, mas disse para qualquer aluno que quisesse ouvir:
- Não que eu não queira não é mesmo? – e me lançou uma piscadela amigável.
Retribuí com um sorriso.
As duas aulas de Ciências se foram rapidamente.
Depois a Sra. Lowie entrou à sala ensinando um tal de “the simple past”. Sua aula voou e, antes que eu pudesse pedir a Deus para que a Sra. Handson faltasse, ela adentrou a sala com seu mau humor rotineiro, o que estranhei pelo fato de ter sonhado com ela tão amigável e simpática. “Seria tão melhor assim” pensei relembrando sua simpatia em meu sonho.
Como previsto, a aula da Sra. Handson fora um tanto desanimada como sempre: dando sermões em todos os alunos.
- Qualquer dia desses vou conversar com a Sra. Collins sobre esses maus tratos da Sra. Handson – sussurrou Natan.
Era verdade. Todos temiam a Sra. Collins, a diretora da escola e da OCS.
Na verdade, ela é dona de tudo por aqui, pois, como sabemos, a escola fica situada dentro do Orfanato. Realmente qualquer órfão gostaria de vir para um orfanato moderno e enorme onde se tem, dentro dele, bibliotecas com todos os tipos de livros desde contos de fada a terror, uma brinquedoteca para os menores de 12 anos, salas de computação (onde se pode mexer com hora marcada, é claro) e quartos compartilhados. Bem, é claro que há quartos para meninos e meninas, onde, cada quarto é compartilhado por grupos de dez alunos organizados por idades, o que com certeza é extremamente correto. Eu é que não queria ter que acordar toda noite com o choro de um dos bebês da ala um.
As alas são divididas de acordo com as idades. Os órfãos de zero a doze meses são colocados na ala um. Os de um ano a dois, na ala dois e assim sucessivamente. Eu, por ter quatorze anos, fui colocado na ala quatorze, como previsto. E quando os órfãos vão adquirindo idade são alterados de ala nos dias respectivos de seu aniversário. Esse ponto é ruim porque já pensou ter que trabalhar no dia do seu aniversário? É… É essa a realidade da OCS.
O sinal tocou anunciando o final da última aula. A Sra. Handson se dirigiu até a porta e partiu para a sala dos professores sem dizer um adeus aos alunos.
Mark e Hewitt – que hoje está um pouco mais simpático – aproximaram-se de mim e acompanharam-me até o refeitório para o almoço. Andávamos pelo enorme pátio, observando os outros pegar seus alimentos na cantina e sentar-se nas mesas de madeira branca.
- Por que eles insistem em colocar o almoço para as onze horas? – indagou Hewitt.
Sacudi os ombros, não querendo responder.
- Quando meus pais ainda eram vivos, eu almoçava depois do meio-dia. Nunca antes.
Não respondi. Apenas fiz uma expressão de lamento.
- O que você tem Ryon? – perguntou Marcus que percebi estar do nosso lado.
- Não sei. Estou me sentindo diferente, estranho.
E estava mesmo. Parecia que havia um peso em minhas costas.
- É eu sei como você está se sentindo. Chegando o dia do seu aniversário não é fácil ter de arrumar seus pertences para mudar de ala.
- É – respondi baixo não sabendo ao certo se era por aquele motivo que eu estava tão para baixo.
- Ainda bem que fazemos aniversário no mesmo dia não é? – falou Marcus novamente, tentando me animar.
Eu sorri e balancei a cabeça positivamente.
- Vamos Ryon, animação. Hoje é sexta-feira, dia de correr alguns riscos.
- Andar pelos corredores à noite – disse Mark.
- Ir ao dormitório das meninas para assustá-las – interpôs Marcus.
- E correr da Sra. Collins – disse por fim Hewitt dando uma risada maliciosa e incomum.
Eles pararam, formaram um círculo a minha volta e me encaravam de braços cruzados.
- O que? – perguntei.
Eles não responderam. Agora fazia gestos com as mãos como que quisessem me socar.
- Tudo bem, tudo bem. Me convenceram. Vou com vocês fazer a nossa fugidinha semanal – e sorri, por fim.
Almoçamos normalmente. Ou melhor, quase normal-mente. Hewitt, Mark e Marcus pegavam o espaguete e tacavam um nos outros, se lambuzando. Enquanto eu apenas reclamava com eles tentando fazê-los parar.
- Cresçam – grunhi quando Mark jogou um espaguete que acertou meu rosto em cheio me melecando de molho.
Saí da mesa lançando um olhar fulminante para os três “bobões” e me dirigi ao meu quarto.
Ao entrar fui em direção ao calendário. Apanhei uma caneta na mesa-de-cabeceira e risquei mais um dia. Agora faltava apenas um dia para meu aniversário. Amanhã eu já estaria com meus quinze anos e me mudaria – mais uma vez – de ala. Graças a Deus Marcus mudaria comigo. Não sei o que seria de mim sem meu amigo Marcus fazendo palhaçadas durante a noite.
A noite de hoje seria a minha última na ala quatorze. Todo ano a mesma angústia de mudar de ala. Todo ano a mesma coisa: eu perderia as melhores brincadeiras com Mark e os outros. Que injustiça.
Deitei na cama e fiquei ali, refletindo mais um pouco sobre a mudança do dia seguinte. Então adormeci.
- Vamos Ryon, acorde. Já está quase na hora – sussurrava Marcus em meu ouvido, me cutucando com uma lanterna nas mãos.
- Ah… O que? – gaguejei.
- Vamos seu dorminhoco. Dormiu a tarde toda. Está na hora da despedida de ala. Vamos atacar. Levante-se, ande – disse me empurrando da cama.
Levantei e cambaleei pelo quarto em busca do meu casaco que por sinal, estava pendurado atrás da porta.
- Vamos. O sino da meia noite já vai tocar – apressou Hewitt.
- Me-meia noite? – gaguejei novamente. Não é possível que eu tenha dormido tudo isso. Eu nem estava cansado.
- Sim. Meia noite. Você dormiu demais. Até perdeu a partida de futebol de botão entre Hewitt e Marcus. Sem contar a bela comida que serviram hoje no jantar – respondeu Mark.
- É. Ganhei de sete a zero do Marcus – garantiu Hewitt.
Marcus fez uma careta de desdém no mesmo momento em que o sino da meia noite soava do lado de fora, na igreja vizinha.
- Vamos. Chegou nossa hora. Ao ataque – ordenou Marcus apontando a porta com a lanterna ligada.
Hewitt abriu a porta que rangeu baixinho, e saiu sorrateiramente para o corredor, fazendo o sinal com as mãos para termos cautela antes de continuar.
- A barra está limpa – sussurrou ele, gesticulando a mão para que pudéssemos passar.
- O que aconteceu com Hewitt? – sussurrei para Marcus. – Está tão diferente desde o começo da aula. Nunca gostou de vir conosco e hoje está na comissão de frente?
- Não sei. Ele está muito empolgado hoje. Sabia que eu nem havia notado? Estranho.
- Muito estranho – sussurrei.
- Ei, vocês dois, vamos. Rápido – chamou Mark interrom-pendo a conversa.
- Já vamos – respondi com a voz arrastada.
Saímos rapidamente do quarto, fechando a porta e seguindo ao nosso primeiro destino: o quarto das garotas que ficava do outro extremo da OCS.
- Vamos pegar o atalho – disse Marcus indicando uma das portas onde havia um aviso que dizia: Permitida a entrada apenas de professores e diretores.
- Já é! – falou Mark, abrindo a porta e seguindo num enorme corredor onde não era possível ver o seu final.
- A lanterna – lembrou Hewitt a Marcus, que, então, ligou a lanterna.
- Onde você encontrou essa lanterna? – perguntei a ele, pois, pelo que eu me lembrava os alunos não poderiam levar consigo materiais que emitissem luz para os dormitórios.
- Pedi emprestado.
- Emprestado? – perguntei, quase gritando.
- É… Emprestado. Não sabe o que significa emprestado?
- Mas… De quem?
- Da Sra. Collins.
- O-o que? Você está maluco? Da Sra. Collins? Você está pirando? Estamos numa fria agora. E-e ela sabe? – perguntei freneticamente.
- Bem… O empréstimo foi pedido indiretamente. Apenas deixamos um bilhete em cima de sua mesa onde estava escrito: Sra. Collins, peguei sua lanterna emprestada. Acho que alguns alunos da ala quatorze tentarão fugir esta noite ao badalar do sino e estarei de prontidão esperando-os na saída do atalho que vai em direção ao dormitório feminino. Assinado Sra. Handson – respondeu Mark tentando imitar a voz da professora Handson.
- Só podem estar maluco. Agora creio que nós estamos realmente numa enrascada. Como você pôde deixar um bilhete para a Sra. Collins relatando exatamente o local onde estaríamos nesse horário?
Vi exatamente o momento em que Marcus olhou para Hewitt e Mark, o pânico tomando conta de seu rosto.
- Estamos fritos – disse, dando meia volta e correndo novamente para o dormitório.
Olhando para trás, pude perceber uma sombra se projetando na parede da primeira curva á direita.
- Quem está aí? – soou uma voz de trovão.
Congelei.
Era a voz da Sra. Collins.
- Vocês não irão fugir. Não enquanto eu estiver aqui.
Continuamos correndo em disparada sentido ao nosso dormitório. Hewitt que estava na dianteira, deu um pontapé forte na porta, abrindo-a com um estrondo.
Entramos no dormitório ofegantes e suando.
- Eu… disse… que… não… iria dar… certo – disse Marcus ofegando tanto quanto eu.
- Você não disse nada – retrucou Mark, já recuperado.
- Tudo bem meninos… vamos parar. Amanhã o dia vai ser longo.
Pelo menos para mim seria.
E muito.
----------------------------------------------------------------------
Espero Comentários