Ryon Andrews (Volume 1) - Capítulo I

Primeiramente quero pedir desculpas por demorar a postar novamente. É que estava tudo muito corrido para mim. Terminei o capítulo faz uma semana mas não quis postar devido não ter começado o segundo capítulo que, a esta altura, já está na metade. Espero que gostem.

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RYON ANDREWS E O MISTÉRIO DAS TRI CHAVES

CAPÍTULO I - DEVANEIO

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“Eu estava num daqueles sonhos em que você não pode sair. Onde você não tem escolha alguma a não ser reunir seus aliados e se preparar para o combate. Há outros sonhos também em que aquele velho com cara de sábio me convida a entrar em seu mundo. Mas, como sempre não aceito. Apesar de estar num sonho, onde tudo pode acontecer, acredito que seu mundo é um mundo surreal, de fantasia, onde nada mais importa a não ser a contemplação de deuses e guerreiros. Quem sabe, talvez, se isto tudo acontecesse realmente, eu não aceitaria o convite?

Eu estaria feliz com minha escolha!”

Um sinal soou do lado de fora da sala anunciando o final da aula da Sra. Handson. Ou melhor, anunciando o final de uma das duas aulas que teríamos com a Sra. Handson hoje.

O dia hoje foi corrido tanto para nós, alunos, quanto para a Sra. Handson que leciona Língua Portuguesa para nós. Tivemos as duas primeiras aulas de Ciências, onde o Sr. Herbert passou uma atividade em grupo. A sala toda se reuniu com seus colegas preferidos, enquanto eu sentei com meus colegas Natalie, Hewitt e Marcus. Depois, tivemos a terceira aula com a Sra. Lowie, de Inglês, onde aprendemos o de sempre: verb to be.

Não entendo o porquê da insistência dos professores de Inglês nesse tal de verbo to be. Desde a minha quinta série que venho tentando aprender algo sobre isso, mas não tem jeito. Nunca consegui absorver nada. Ao contrário de Natalie que, apesar de ser uma loira dos olhos claros, consegue tirar sempre dez em Inglês.

A garota é o máximo.

Ou melhor, como dizem hoje: a garota é o cão.

Já Marcus, sua especialidade é tecnologias. Não há um dia em que este garoto não chegue com alguma nova notícia sobre microcomputadores ou, então, sobre novos aparelhos de som. Em minha opinião, acho isso tudo uma bobagem. Tanto aparelhos sonoros quanto eletrodomésticos, celulares, carros, enfim, tecnologia em geral, tudo isso nunca muda. O que sempre muda é uma coisinha aqui e outra ali. Não vejo o porquê de tanto alarde se um carro aparecer com o design do pára-brisa diferente. Em minha opinião, isso é tudo asneira.

Já Hewitt é um garoto bem reservado, na dele. Não gosta muito de se enturmar. Geralmente, é a pessoa mais mau humorada da nossa turma. Mas eu compreendo seu mau humor de sempre. Não admiro que seja tão reservado assim.

Tem medo de demonstrar seus sentimentos desde que veio morar no Orfanato Santa Cecília (OCS, como chamamos) depois da trágica morte de seus pais num acidente de carro enquanto voltavam de uma casa alugada em Fernando de Noronha, o único arquipélago do Brasil. Bem, não foi exatamente assim. Eles pegaram um avião até o aeroporto de Viracopos, São Paulo, onde um carro estaria esperando por eles. E estava. Mas foi no caminho para casa que sofreram o acidente.

Hewitt por não ter nenhum familiar residente no Brasil teve de vir para a OCS.

Voltando ao assunto inicial: a aula da Sra. Handson.

Após o sinal tocar, a Sra. Handson se aproximou de minha mesa e apanhou minha produção de texto, dando uma olhadela superficial e deixando bem claro em seu sorriso certa surpresa – coisa que não é normal para ela.

Geralmente ela vem com aquele seus cabelos cor de âmbar presos num coque por dois palitos de churrasco e seus olhos severos me encarando com um desdém no rosto como se ela fosse a melhor pessoa do mundo – o que com certeza não é.

Enquanto ela se afastava, eu a segui com os olhos reparando que não fui a única pessoa com que ela estava tão simpática hoje. Também distribuiu sorrisinhos ao Natan, à Jane e ao Mark. Sem contar as piscadelas para Natalie, Marcus e Hewitt, que, no entanto, virou a cara. Com certeza estava mau humorado novamente.

Ela se sentou a sua mesa totalmente descontraída e estranhamente à vontade. Intuí também que não fui a única pessoa que percebeu essa repentina mudança no humor da nossa pior professora.

– O que foi que deu nela? – perguntou Marcus.

Sacudi os ombros querendo dizer “não sei”, mas as palavras simplesmente ficaram presas na garganta enquanto eu via ela entregar o texto ao Mark e lhe dar um beijinho na bochecha.

– Urgh! – Exclamou Mark ao chegar perto de mim, fazendo cara de nojo e limpando os resíduos do “beijo Handson”.

Marcus e eu demos risadinhas abafadas.

– Marcus Jackman – chamou a professora sacudindo a folha ao Marcus e lançando-lhe um sorriso malicioso.

– Haha! – Debochei.

Marcus levantou-se da cadeira e dirigiu-se até a professora com uma expressão de medo no rosto.

Como previsto, a Sra. Handson lhe entregou o texto e lhe deu um beijo na bochecha, deixando-o corado. Desvencilhou-se da professora e veio em minha direção com um olhar surpreso e estupefato.

– O beijo dela é tão bom assim? – perguntei debochando.

Ele continuou olhando para mim com a expressão de surpresa. Mal conseguiu dizer as palavras:

– Pior. Eu ganhei nota nove.

– Nove? – questionou Mark junto comigo.

– Sim – ele sorriu novamente e se sentou em seu lugar nem se dando ao trabalho de limpar o “beijo Handson”.

Mais um fato estranho para o dia de hoje: a professora Handson nunca se deu ao trabalho de nos dar um cinco e hoje deu um nove ao Marcus? Nove?

– Hewitt Hall – chamou novamente a professora, sacudindo a folha.

– Coitado dele – sussurrou Mark o suficientemente alto para que a classe toda escutasse, pois estavam todos em silêncio, assustados com a mudança de comportamento da professora.

Hewitt lançou um olhar medonho para nós – um gesto raro dele – e, após, se levantou rigidamente e se dirigiu até a professora aos tropeços.

Como previsto, ela entregou a folha a ele, mas, antes que ela pudesse dar-lhe um beijo, ele se desvencilhou e voltou ao seu lugar rapidamente.

Ouvi a boca da professora escancarar novamente, chamando o nome da sua “próxima vítima”. E era o que eu temia:

– Ryon Andrews – cantou a professora novamente, agora sacudindo meu texto.

Meu coração disparou e minhas pernas travaram. Isto não estava acontecendo: ela lançou-me uma piscadela e um beijinho seguidos por sorrisinhos.

Eu me levantei rapidamente reparando que a sala toda me acompanhava com o olhar ansioso para ver minha reação ao receber o beijo Handson. Parei de frente à mesa da professora e ela me entregou a folha.

Um dez estava estampado numa letra caprichada e grande enquanto, numa letra miúda, havia uma observação no rodapé. Não percebi quando ela tocou os lábios em minhas bochechas, apenas senti um calorzinho abafado. E, com os olhos brilhando de felicidade, voltei ao meu costumeiro lugar, sentei e comecei a ler a observação no rodapé ignorando a pergunta dos outros.

– E aí, gostou do beijo? – gargalhou Marcus.

– Como foi? Melado ou seco? – zombou Mark.

Continuei ignorando-os. Fiz um gesto com as mãos para que me deixassem em paz e direcionei minha atenção ao rodapé onde estava escrito as seguintes palavras:

Gostei de sua interpretação. Poucos são as pessoas capazes de terem sonhos tão bons quanto os seus. Apenas os mais puros de coração conseguem enxergar o que realmente devem encontrar.

Aproveite seus sonhos intensamente e tente desvendar os mistérios da vida.

PS: O sonho às vezes nos mostra os enigmas que devemos decifrar. Continue sonhando.

Fiquei perplexo, encarando a folha boquiaberto.

Nunca, em toda minha vida, pude imaginar a Sra. Handson me dando conselhos sobre meus sonhos.

Abaixei minha cabeça na carteira esquecendo-se de tudo a minha volta e pensei nas palavras colocadas numa forma tão maternal: “apenas os mais puros de coração conseguem enxergar o que realmente devem encontrar”. Afinal, o que ela quis dizer com aquilo?

Não sei bem. Mas percebi que a sala estava ficando mais abafada e me senti um tanto sufocado. Queria sair dela.

– Sra. Handson, posso ir ao banheiro? - perguntei educadamente

– É claro que pode querido.

Por incrível que pareça, aquele tom amigável não me assustava mais. Já estava me acostumando com a gentileza.

Saí em disparado da sala respirando rapidamente, tentando consumir todo o ar à minha volta. Não sei o porquê do alarde, mas eu estava um tanto histérico. Nunca havia me comportado daquela maneira. E além do mais: por causa de um comentariozinho ridículo.

Dirigi-me ao banheiro e me sentei na tampa da privada ainda tentando colocar todo o ar da escola para dentro dos meus pulmões. Por algum motivo bobo eu ainda me sentia sufocado.

E esse sufoco passou repentinamente quando meus olhos cruzaram com um livro largado no chão do banheiro. Apanhei o livro e o acariciei. Tinha uma capa grossa com uma textura espessa, sem contar que era surrado e possuía uma cor desbotada.

Suas letras escritas em verde musgo em destaque na capa revelavam um nome diferente em letras garrafais que, por acaso, eram familiares: Merenwen. Um título forte e bem chamativo para uma capa tão gasta e simples se quer saber minha opinião.

Mas, enfim, apanhei o livro com o propósito de levá-lo até os achados e perdidos para que fosse devolvido ao dono. Mas a curiosidade foi maior: carreguei-o até a sala a fim de dar uma lida nele. Parecia ser interessante.

Entrei na sala pedindo licença a Sra. Handson, que ainda distribuía beijinhos para os alunos e me sentei na minha cadeira ficando quieto e calado para não chamar a atenção de Mark e Marcus que, a esta altura, estavam numa discussão acirrada sobre os novos jogos de vídeo game. Com toda a certeza não prestariam a mínima atenção em mim.

Abri o livro.

Uma frase me chamou a atenção na contra capa onde havia os seguintes dizeres numa letra simples: “Se tomada uma decisão, é impossível revertê-la. Seu destino já está traçado.”

Um arrepio percorreu minha espinha fazendo meus pêlos da nuca eriçar. Comecei a folhear o livro em busca de alguma história ou algum conto fantástico. Mas estranhamente pude per-ceber que não havia nada. Nem uma palavra – exceto por aquelas escritas na contra capa.

“Estranho” pensei comigo mesmo.

Folheei o livro novamente em busca de informações ou algo parecido. Mas o resultado foi o mesmo: nada. Nada além de folhas amareladas e limpas.

Um pensamento repentino me ocorreu: abri minha mochila e apanhei uma caneta. Talvez não fosse um livro e sim um caderno que não seria usado novamente, jogado fora por algum aluno mais novo.

É. Acho que foi exatamente isso.

Parei para pensar no que escreveria no “caderno”. E uma nova idéia – brilhante, talvez – palpitou em minha cabeça. Eu escreveria sobre o estranho comportamento da Sra. Handson no dia de hoje. Pousei a ponta da caneta na primeira folha amarela-da depois da contra capa e, devagarzinho, comecei a escrever com minha letra bem feita:

Hoje o meu dia está estranhamente estranho. Começando pelo comportamento absurdamente estranho da minha pior professora.

Primeiro, ela começa a tratar os alunos bem enquanto recolhe os textos que fizemos.

Depois sai distribuindo beijinhos para todos os alunos quando eles vão pegar suas produções de texto novamente.

E o pior: todos nós tiramos nota azul. Bem, pelo menos eu, Mark e Marcus.

E para piorar ainda mais a situação, ela me deixa ir ao banheiro e, quando chego lá, encontro esse livro inútil e vazio sem nenhuma palavra sequer, exceto pela frase na contra capa que, para falar a verdade, me meteu muito medo.

Enfim. Agora estou parecendo um maluco relatando coisas inesperadas que me aconteceram hoje para um livro louco intitulado Merenwen.

Tudo aconteceu tão rápido que não tive tempo nem mesmo de respirar. No instante em que finalizei meu relato com o último ponto final, uma pequena luz revelou-se de dentro do livro e, rapidamente, se expandiu para a sala toda. Velozmente a luz retrocedeu ao seu ponto de origem, deixando todos na sala – exceto eu, é claro – parados feito estátuas.

Arregalei os olhos e levantei-me da minha cadeira.

Segui em direção à Natalie, na primeira carteira e percebi que ela era ainda mais linda parada, passando gloss nos lábios. E fiquei ali, contemplando-a.

Não sei quanto tempo fiquei parado, mas tive a sensação de que tudo agora estava em minhas mãos. Marcus que, parado no tempo ainda conversava com Mark, levava no rosto uma expressão engraçada: os olhos revirados, as mãos no pescoço e a língua pendurada para fora da boca, como se estivesse se auto-estrangulando.

Atravessei a sala em busca de uma pessoa com uma expressão mais engraçada que a de Marcus, mas não encontrei.

“Incrível” sussurrei para eu mesmo. “Como eu queria ter uma câmera fotográfica em mãos para poder fotografar isso” ri sozinho, observando agora a expressão de Jerry, que, no entanto, tirava melecas do nariz.

Eu estava completamente fascinado.

“Incrível” repeti.

– O que é incrível? – perguntou uma voz para mim. Uma voz um tanto sábia e delicada.

Me virei a procura do produtor daquela voz e me deparei com um senhor já de idade me observando, de braços cruzados e me fitando intensamente com seus olhos sábios. Suas vestes eram estranhas, um tipo de kimono azul com alguns detalhes em prateado que, por sinal, combinavam com seus cabelos brancos que mediam a altura de sua cintura. Seus olhos, meio puxados tinham uma tonalidade de um preto intenso e combinavam com seu sorriso simpático.

– Quem é você? – perguntei, a voz embargada.

Ele apenas sorriu.

– Quem é você? – repeti.

– Alceu Nowerman Analotti – respondeu. – E você, nem precisa se apresentar, senhor Ryon Andrews.

Como ele sabia meu nome?

– Simplesmente por que você faz parte da história do nosso povo, senhor Ryon.

– O que? Como? C…

– Tenho o precioso dom de ler mentes.

– Mas de onde o senhor me conhece?

– Como eu disse pequeno sábio, você faz parte da história do nosso povo.

– Nosso?

Só poderia ser uma brincadeira.

– Sim, nosso. Você, senhor Ryon é um garoto muito talentoso, posso lhe garantir, apesar de você não confiar em si. Tenho muito a lhe mostrar ainda meu caro. E você tem muito a aprender sobre Merenwen. Mas, para isso, basta escolher três escudeiros que são leais a você e que você garante ser uma boa companhia. Pois tempos ruins virão ao despertar dos quatro elementos, dando brechas para a realização da profecia.

Mas, antes que eu pudesse fazer mais perguntas, ele se foi em mais uma claridade intensamente branca que encheu a sala novamente.

Acordei quase caindo da cama ao perceber que tudo fora um sonho. Passei as costas das mãos na testa enxugando o suor e me levantei. Já estava quase na hora da primeira aula do Sr. Herbert. Eu deveria correr ou então me atrasaria mais uma vez.

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D Silva
Enviado por D Silva em 27/11/2011
Reeditado em 27/11/2011
Código do texto: T3359884
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