Ritmo da Melancolia

Você consegue escutar esse ruído? É tão mágico, inspirador, arrepiante. Não sei distinguir se são teclas de um piano ou acordes de um violão. Uma melodia calmante, tem um toque doce e aconchegante. Dá vontade de dançar, voar pelas notas musicais. Harmonia, ritmo, postura. A cintura mexe de um lado para o outro, o coração dispara e o corpo arrepia. Olhos misteriosos, sorriso sedutor, jeito encantador. De um lado para o outro, sem métrica e enquadramento, somente desejo e paixão.

Pausa. A música se ausenta, as batidas cessam, ela respira. Na escuridão da noite, vai embora. Não sobra nada, só a ausência dele. Saudade. Lembranças. Vazio. Pedaços de seu coração escorrem pelos olhos, mas ainda assim se finge inteira. Enquanto sente dor, sorri. Esconde por traz de seu escudo o medo, as desilusões, os sonhos perdidos. Sente o chão desmoronando, e continua ali parada. Ela chora, grita, escreve. Foram tantas cartas nunca enviadas, apenas guardadas em uma caixa velha dentro do armário. Um desperdício de palavras, lágrimas, amor.

Todas as noites ela sentava na calçada, olhava para as estrelas, sempre procurando algo. Eu a observava da minha janela quando podia, não sei ao certo o que me chamava atenção nela. Os olhos escuros e brilhantes, o sorriso escondido por trás daquela expressão pensativa ou o ar espontâneo que ela tinha. Perdi muitas horas de sono somente admirando-a, e também a encontrei em muitos dos meus sonhos.

Diariamente, ali sentada. Uma melancolia encobria aquele pedaço de gente, sempre um rosto triste e preocupado, tinha uma face doentia. Eu sabia o que atormentava a garota, - um bom observador tem o dom de descobrir o que se passa em suas observações. Ela não merecia sofrer, não naquelas circuntâncias, não por quem havia deixado aquele peso em seu coração. Eu tinha vontade de ir até lá, e dar meu ombro para ela chorar ou talvez tirar aquela dor que a atormentava tanto. Entretanto, há coisas que nos tornam impotentes, nós não podemos fazer nada, é necessário deixar que o tempo o faça.

Durante muito tempo a vi, sempre no mesmo lugar. Sua melancolia me entendiava, mas nunca consegui desistir do seu sorriso. Eu sabia que um dia ela voltaria a sorrir. E ela também.

Bela Afonso
Enviado por Bela Afonso em 25/09/2011
Código do texto: T3239316
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.