Love By Chance - Capítulo II

Love By Chance

Capítulo II - Oportunidade

É tão intrigante acordar com o celular tocando quando se está tendo um ótimo sono.

– Alô? – Perguntei.

– Bob?

Desta vez era meu chefe, Roger. Sua voz estava aparentemente mais arrogante do que de costume.

– Sim? – Estava com muito sono para desperdiçar saliva.

– Você estava dormindo?

– Arrã.

Ouvi-o bufar do outro lado.

– Suas fotografias para a Exposição de Arte Fotográfica da Califórnia estão prontas?

Eu estava totalmente frito.

– Ah… – hesitei enquanto pensava numa resposta adequada. – Senhor… Com todo o processo de mudança e meu divórcio com Kate… As crianças e tudo o mais… – Eu estava me perdendo nas palavras. – Não consegui fotografar nada.

Ele falou alguns palavrões do outro lado da linha que não pude compreender.

– Oh meu Deus. E agora? E agora? – Percebi que ele estava à beira de um ataque cardíaco. – Bob… Você está… Demitido. Como pôde?

– Ah… Eu…

Ele desligou o telefone na minha cara sem ao menos ouvir-me. Eu dissera a verdade. Com todo esse processo de mudança, divórcio e tudo o mais, não tive tempo para fotografar nada. Nada mesmo.

Fechei os olhos. Preferi não pensar no pior. O celular tocou novamente.

– Alô?

– Bob… Desculpe-me – era meu ex–chefe. – Fiquei transtornado com tudo. Queria pedir desculpas.

– Está tudo bem – menti. Não estava nada bem. Ele acabara de me demitir. Como eu iria me sustentar?

– Eu quero saber… Digo, quero perguntar se você tem algumas fotos antigas disponíveis para expor?

– Mas o senhor me demitiu.

– Você tem ou não? – Reconheci facilmente seu tom impaciente.

– Sim. Tenho algumas fotografias que fiz há alguns anos atrás sobre a vida a dois.

– Está readmitido. As fotos estão em bons estados?

– Sim. Mesmo se não estivesse… Guardo os negativos.

– Perfeito – seu ânimo mudou de impaciência para auto confiança e alegria.

Eu não disse nada. Ficamos em silêncio por alguns segundos.

– Bob? – Perguntou ele.

– Sim? – Respondi com um certo tédio.

– Pensei que não estivesse aí – ouvi-o dar uma leve risada. – Traga-me as fotos hoje, no meu escritório. Se possível agora.

Olhei no relógio: 11h37min.

– Tudo bem. Estarei aí em… – Parei para deduzir o que deveria fazer: banho, procurar minha roupa e as fotografias, retirar o carro do estacionamento e o trajeto até lá. – Uma hora – completei.

– Tudo bem. Encontramo-nos daqui à uma hora.

– Tudo bem – disse ao mesmo tempo em que desligava o telefone e corria para o banheiro.

Tomei um banho rapidamente. Não poderia perder essa chance de expor meu trabalho que fracassou há alguns anos atrás. Desliguei o registro do chuveiro e saí com o corpo fumarando. Troquei-me rapidamente. Corri até uma caixa que estava ao pé da mesa-de-cabeceira, abri-a brutalmente e resgatei as fotos – agora um tanto amassadas – e os negativos destas.

Saí em disparado do apartamento e segui pelas escadas – não havia elevador neste prédio –. Peguei meu carro no estacionamento: um Passat CC prata, e segui direto ao escritório de Roger. Não levei nem a metade do tempo previsto.

– Olá Bob – Saudou-me Roger estendendo-me os braços para um abraço quando entrei no seu escritório.

– Olá Roger – apertei sua mão.

– E então? O que tem para me mostrar?

– Isto – respondi mostrando as fotos.

– Maravilha. Encaixa-se perfeitamente no tema deste ano: família. – Disse fazendo um gesto de arco com as mãos.

Eu sorri.

– Perfeito. Vou mandar revelar esses negativos agora.

Ele apanhou o interfone e disse:

– Jasmine, peça ao Thomas que venha buscar umas fotografias para revelar. – Ele parou para ouvi-la. – Sim. É para a Exposição de Arte Fotográfica da Califórnia. Até – e desligou o interfone.

– Bem… Uma nova oportunidade para expor este seu trabalho não?

– Sim, claro. Visando que… – hesitei. – De outra vez não consegui expor com sucesso devido a pouca experiência que tinha. Depois… – Ele me encarava com curiosidade. – Adquiri um pouco mais de experiência. Digitalizei as imagens e hoje estou aqui, trabalhando para o senhor. – E dei um sorriso falso.

– Fico feliz por estar conosco Bob. Seu trabalho é extremamente invejado por muitos aqui que não conseguem ter tanta prática quanto você.

Fiquei um tanto sem jeito.

– Não é bem assim senhor Roger. Muitas outras pessoas aqui também são ótimas. Como o fotógrafo Jake Bolton.

– Não é tão ótimo comparado a você.

Corei. Eu sabia que era bom. Mas não desconfiava ser tanto aos olhos do senhor Roger. Encarei-o nos olhos e formou-se um clima de tensão, que logo se esvaiu com a bela entrada de Thomas, que escancarou a porta de tal modo a fazê-lo cair de cara no chão. Eu sorri discretamente.

– Sim, senhor? – Disse levantando-se e ajeitando seus óculos fundo de garrafa. Percebi que ele estava corado.

– Thomas, leve esses negativos até a gráfica e peça para que eles ampliem as fotos. Diga que são para a Exposição de Arte Fotográfica da Califórnia de amanhã.

– Sim, senhor – e desviou o olhar para mim, cumprimen-tando-me. – Olá Bob. É bom vê-lo aqui novamente.

Eu apenas dei um sorriso e gesticulei com a cabeça. Ele não pareceu à vontade com meu gesto, então, abriu a porta e saiu com os negativos na mão.

Roger me fitou.

Girei minha cabeça lentamente para ele.

– O quê?

– Nada. Apenas queria pedir desculpas pelo transtorno. Você está de cabeça quente e…

– Não foi nada – interrompi-o.

– Tudo bem. Agora… Resta-nos esperar até amanhã.

– Sim.

– Algum compromisso para hoje à noite? – Perguntou–me ele.

– Até agora… Não.

– Então o que acha de você jantar comigo e minha família. Jane e Connan gostarão de vê–lo. Eles o admiram muito.

Pensei por um momento: ter que aturar a esposa e o filho de Roger não seria tão fácil. Mas também pensei em ficar em casa sozinho e sem alguma companhia. Esperei um momento e então:

– Tudo bem – aceitei.

– Então, nos encontre no Refined Dining às oito e trinta.

– Sim. Estarei lá.

Ele sorriu.

– Bem senhor… tenho que ir. Há muito trabalho a fazer em minha nova casa.

Cumprimentei-o com um aperto de mão e parti para minha casa e fiquei arrumando meus pertences durante o resto da tarde.

– O que gostaria de comer Bob? – perguntou Roger enquanto eu estava submerso em meus pensamentos sobre como agir num restaurante elegante e quais talheres eu deveria usar, pois havia muitos e eu costumava usar apenas um garfo e uma faca em minhas refeições.

– Gostaria de um arroz com feijão básico, um filé mal-passado e uma porção de fritas.

Roger olhou para mim com incredulidade.

– Bob… – hesitou. – Não tem arroz com feijão no cardápio. Aqui eles apenas servem mariscos.

Mariscos? Eca.

Apanhei o cardápio e comecei a pesquisar as refeições. Iam desde sardinhas fritas e escargot a lagostas. Optei pela refeição mais barata.

– Gostaria de comer umas sardinhas, se o senhor não se importar.

– É claro que não me importo meu caro Bob. Você é quem escolhe – e sorriu.

Retribuí com meu sorriso torto que eu fazia sempre que me sentia envergonhado.

Durante o decorrer do jantar, conversamos sobre todos assuntos. O filho de Roger me interrogou o jantar todo, perguntando sobre meus filhos, meu trabalho, minhas paixões, minha vida. Conversamos muito até entrar no assunto tema da exposição deste ano: família.

– Então… Como anda sua família Bob? – Perguntou Jane.

– Bem… – hesitei em responder. – Eu e Kate estamos a algumas semanas de assinar nosso divórcio.

– Oh Bob… Sinto muito.

– Não sinta Jane. Não estava dando certo, então, para não piorar a situação, optamos pela separação. Fizemos também pelas crianças. Emmily e Maike estavam muito sozinhos, ficando com babás o tempo todo. Então tivemos de tomar essa decisão. Ou melhor… Eu tomei a decisão.

– Mas por quê?

Agora Roger prestava mais atenção em nossa conversa.

– Porque Kate freqüentava SPA’s e massagistas quase to-dos os dias e eu, ficava fora, trabalhando. Não sobrava tempo nem atenção para as crianças. Portanto, para Kate dar mais atenção às crianças, tomei a decisão e me separei.

Jane e Roger ouviam-me atentamente. Quando terminei, as expressões em seus rostos eram de afeto e amizade.

– Compreendo Bob… – começou Roger. – E concordo plenamente. Por mais que as crianças sofram um pouco mais com sua ausência, elas terão o amor da mãe que, pelo que você disse, elas não tinham. Como costumo dizer, às vezes são necessárias escolhas para que possamos fazer nossa família feliz.

Pela primeira vez, pude perceber o quanto Roger me admirava e me apoiava em minhas decisões e, também, pude perceber o quão bom amigo e chefe de família ele era.

– Obrigado pelo conselho Roger – agradeci.

Ele sorriu e, então, pediu as contas do jantar.

No estacionamento, entrei em meu carro rapidamente, ainda refletindo o que Roger dissera. Passei pela avenida principal e cheguei em casa em menos de meia hora. Tomei meu banho noturno e me deitei na cama com uma ótima sensação de que o dia seguinte – o dia da tão esperada exposição –, seria o melhor dia de toda a minha vida.

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D Silva
Enviado por D Silva em 27/08/2011
Reeditado em 12/10/2011
Código do texto: T3185974
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