Um amor maior que a vida (Cap. 7)
O DIFÍCIL DESPERTAR
-Santiago? -perguntou Beatriz confusa.
-Sim, como se sente?
-Pensei que tudo não passava de um pesadelo.
-Lamento te ver sofrer.
-Há quanto tempo estou dormindo?
-Mais ou menos 22 horas.
-Minha nossa! -Beatriz escutou um ruído alto vindo de seu estômago.
-Está com fome, não é? Fiz minha especialidade omelete de claras com queijo!
-Aquele curso em Paris não te serviu de nada, não é mesmo?
-Não fui até lá pelo curso. -houve um segundo de constrangimento entre e eles e logo Beatriz se levantou.
-Quero tomar um banho antes. -anunciou um pouco confusa.
-É claro, mas coma essa banana antes, caso contrário pode desmaiar, há muitas horas está em jejum. Estarei no corredor caso precise de alguma coisa.
Beatriz se levantou sem saber qual seria o próximo passo, olhou para o vestido que escolhera com tanto carinho no dia anterior e sentiu um grande vazio no peito. Ela pegou um vestido qualquer e se dirigiu ao banheiro, as coisas de César permaneciam no mesmo lugar e ela sentia uma imensa vontade de morrer também, mas alguma coisa gritava no fundo de sua alma, algo que ela não conseguia compreender mas que, de certa maneira, a mantinha viva. Tomou banho com o sabonete de seu marido e foi procurar por Santiago.
-Você fica ainda mais linda de cara lavada!
-E você não perdoa nada.
-Não quis te ofender.
-Eu sei.
Os dois comeram em silêncio, Santiago não acreditava que as palavras de conforto fizessem o efeito que as pessoas gostariam ao dizê-las e acreditava que seu silêncio era o que mantinha Beatriz próxima.
-Bia...precisamos falar sobre um assunto delicado. Você precisa decidir... Precisa decidir o que fazer com os corpos. O hospital está á espera do meu retorno e Laura também, ninguém quer que você se preocupe mais do que o necessário, mas a decisão é só sua. -As lágrimas escorriam pelo rosto de Beatriz, as palavras de Santiago vinham confirmar tudo que ela negava para si mesma.-
Se me permite, eu sei o quanto é difícil pensar assim, mas já pensou em doar os órgãos de Thiago?
-Como? Mutilar meu filho? Nem pensar!
-Não se trata de mutilação, Bia é um procedimento... -mas Beatriz o interrompeu exaltada:
-Não quero que toquem em meu filho, por favor, não destruam seu corpinho tão lindo.
-Ninguém fará nada sem sua permissão, te asseguro. Só gostaria que pensasse que essa dor que sente é a mesma de muitas pessoas que tem seus filhos doentes e que com seu gesto poderia evitar que mais mães vivessem isso que está te consumindo. Sei que é uma pessoa generosa e sei que seu filho herdou isso de você, o que acha que ele faria se pudesse optar?
Beatriz parou por um instante para refletir sobre as palavras de Santiago, era duro aceitar que seu filho e seu marido não estariam mais com ela, mas, por outro lado, só de imaginar alguém sofrendo tanto com ela seu coração ficava ainda menor.
-O que pode ser doado?
-Bem, se nos apressarmos, os rins, córneas, fígado, pulmões... O mais difícil para a maioria das pessoas é doar a pele.
-A pele?
-Sim, ela pode salvar vítimas de queimaduras. Se seu marido tivesse sobrevivido, precisaria de uma doação de pele.
-E talvez não conseguisse.
Santiago concordou com a cabeça sem encará-la.
-Está bem Santi, acredito que se meu filho pudesse escolher doaria tudo. Só não quero vê-lo sem pele, é melhor que os corpos sejam cremados, assim podem ficar perto de mim de alguma maneira.
Santiago se levantou e deu um beijo na cabeça de Beatriz.
-Estarei sempre com você, está bem?