Love By Chance - Capítulo I

Love By Chance

Livro I - Bob

Capítulo I - Lembranças

29 de setembro de 2011.

Acordei às 06h00min com o despertar do relógio. O dia ainda estava frio. Frio para quem estava acostumado a acordar meio dia. Dei um tabefe no relógio, que deslizou pela mesa-de-cabeceira e caiu, espatifando-se ao chão. Levantei-me da cama com muito custo, comos olhos ainda fechados. Tateei no escuro à procura do interruptor aos tropeços e, quando encontrei, apertei-o.

A luz clara cegava meus olhos, que ainda não se adaptara ao ambiente. Semicerrei os olhos à procura do banheiro e localizei-o no outro extremo do cômodo. Passando pela cama, aproveitei e calcei meus chinelos. Entrei ao banheiro e me assustei com a imagem que vi ao espelho: meus cabelos estavam totalmente desgrenhados e meus olhos, mais azuis do que de costume.

– Ah, que caco – murmurei para eu mesmo ao ver que minha barba estava completamente malfeita.

Dei de ombros e comecei a escovar meus dentes. Saí do quarto tropeçando em meus pertences no caminho: caixas, caixas e mais caixas de mudança. Acabei de mudar-me para Porterville, Califórnia. Estou a uma semana de me divorciar de Kate Petterson. Fui até a cozinha, abri a geladeira, peguei meu cereal e um copo de leite. Misturei-os. Estava prestes a colocar o conteúdo contido na colher na boca, quando meu telefone celular tocou. Atendi.

– Bob?

Reconheci a voz de meu advogado, Dave.

– Não. Houve um engano. Aqui quem fala é Christopher, da funerária.

Ele riu.

– Meu velho e alegre amigo Bob está de volta. – Ele deu uma risada falsa. – Sua visita ao tribunal está marcada para o dia quinze de outubro às quinze horas e vinte minutos.

– Tudo bem Dave. Obrigado por me ajudar neste caso. Estarei presente no dia quinze de outubro às quinze e vinte.

– Não há de quê. – Sua voz tinha uma pitada de orgulho. – E as crianças, como vão?

– Na medida do possível. Não é fácil lidar com crianças, apesar de estarem sob a guarda de Kate – e sorri para eu mesmo.

– Ah… Então está bem. Liguei apenas para isso. Até logo.

– Até – disse eu, desligando o celular. Não queria ser perturbado novamente enquanto tomava meu precioso café da manhã.

Ingeri a comida rapidamente, tomando cuidado para não engasgar com o cereal, que percebi estar seco.

Subi para o meu quarto e comecei a desempacotar meus pertences. Meu apartamento alugado não era lá essas coisas: pe-queno e com um cheiro de mofo que fazia arder o nariz.

Retirei camisetas, blusas, calças, máquinas fotográficas antigas e uma foto. Uma foto que me trazia lembranças daquele dia inexplicavelmente incrível. Naquele dia, há quase 15 anos atrás, quando morava com meus pais, pensei comigo mesmo: como pode ser que um homem igual a mim possa se apaixonar tão inesperadamente, e por acaso? Mas logo desisti de raciocinar. Isto não era para mim. Apaixonei-me tão intensamente, que isso me levou a ter sérios distúrbios. Sentia-me que não poderia sair mais com os amigos para baladas, pois estaria sendo um extremo cafajeste.

Fitei o olhar da garota na foto. Ela ainda estava vívida. Por onde esta linda moça andava hoje? Fiquei parado por muito tempo contemplando aqueles olhos negros e puxados. Apenas dei-me conta do tempo que estava ali, quando o interfone tocou.

– Bob Parker?

Era Albert, o porteiro.

– Sim, sou eu – respondi secamente.

– Tem uma moça aqui querendo falar com o senhor, senhor Bob.

– Como ela é?

– Alta, cabelos loiros e ondulados, olhos claros e um batom vermelho chamativo.

– Está com uma roupa decotada e chamativa? – Eu já deveria saber que ela viria aqui hoje.

– Ah… – hesitou ele. – Sim, senhor – completou.

– Pode deixá-la subir.

– Tudo bem.

Desliguei o interfone rindo sozinho. Kate era uma figura. Alguns instantes depois, a campainha tocou. Abri a porta.

– Kate,seja bem vinda a minha nova moradia. – Disse eu, abraçando–a.

Ela sorriu.

– O que te fez vir aqui esse horário? – Perguntei.

– Vim aqui te avisar sobre a visita no dia…

– Quinze de outubro às quinze e vinte – interrompi-a. – Dave já me avisou.

– Ah, claro. Dave.

Ela me encarou por alguns instantes, mas, logo quebrou o silêncio.

– Bob… – começou – Vim aqui falar sobre Maike e Emmily. Eles estão muito abatidos. São muito jovens para lidar com isto.

– Kate… Não podemos voltar atrás. Fizemos a escolha correta, pode ter certeza – eu disse pegando sua mão leve e suave, acariciando-a. – Agora somos apenas amigos. Não há mais nada entre nós.

– Eu sei Bob. Não há mais nada. Mas é que temos que encontrar a solução para isso. Não podemos deixa-los sofrer. Emmily vive tendo pesadelos à noite. Quando pergunto a ela o porquê, ela me diz que é porque você não está mais com ela.

– A melhor maneira para curar essa ferida é deixarmos a situação do jeito que está. Caso contrário, eles sofrerão mais, creio eu.

Ela me encarou nos olhos com uma intensidade e tanta. Estes estavam marejados de lágrimas.

– Não fique assim – eu disse a ela, acariciando seu rosto. – É o melhor, tenha certeza.

Ela compreendeu e sorriu.

– Bem… Deixe–me ir. Deixei as crianças com a Ella.

– Ella?

– Sim. Contratei uma babá. Não vou ter tempo de cuidar das crianças enquanto fico no SPA.

Eu dei uma risada forçada.

– Oh Kate. Só você mesmo.

– Tenho que ir. Massagem às 08h30min – disse ela olhando seu relógio de pulso e me dando dois beijos consecutivos em minhas bochechas.

Ela se direcionou a porta. Adiantei-me e abri-a para ela.

– Bob, sempre cavalheiro – e sorriu. As lembranças invadiram minha mente. Há algumas semanas atrás, estávamos totalmente casados, convivendo sob o mesmo teto, acordando um ao lado do outro – quando ela não tinha compromisso em massagista nem em SPA –. Enfim, éramos um casal apaixonados.

Ela saiu me lançando um último sorriso, e, então, foi embora para seu compromisso. Sentei-me na cama – uma exaustão havia me tomado de repente –, passei as mãos pelo lençol e apanhei a foto da garota novamente. E fiquei ali, contemplando-a até adormecer outra vez.

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D Silva
Enviado por D Silva em 21/08/2011
Reeditado em 12/10/2011
Código do texto: T3172483
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