Cata-ventos

Tudo estava planejado. Ela lutara para que aquela amizade, não fosse só amizade para sempre. Ela jogava a isca pra ele todos os dias, com esperança. A coisa parecia sob controle, pois, todos os dias os ventos pareciam soprar exatamente pra onde ela queria que eles soprassem.

Mas um dia, eles simplesmente sopraram ao contrário. E ela o perdeu. Ele tinha se apaixonado e não tinha sido por ela. O mundo se acabou. As coisas já não tinham mais cor. Já não tinham mais som. Já não acontecia mais nada. Aquilo que mais gostava de fazer já tinha se tornado um sacrifício do cotidiano. Nada mais parecia estar funcionando. Mudanças e mais mudanças acumularam depois daquela situação, mas ela não queria mudar.

Então chegou enfim aquele dia. Aquele belo dia. Ela estava apática, como já tinha se tornado um costume, quando alguém lhe deu um cata-vento.

Sim, um cata-vento de verdade. Daqueles de papel colorido mesmo, iguais aos que as crianças costumam fazer.

Não era por nenhum motivo especial, só estavam distribuindo cata-ventos por aí. Talvez para divulgar uma nova loja de brinquedos ou coisa do gênero. Mas isso não era importante. Fato é que ela recebeu um desses nas mãos. E reagiu apática como sempre.

Também, como já tinha se tornado um costume, rebatia pela milésima vez mentalmente naquela mesma tecla. Quando começou a observar o cata-vento.

Aquele dia era um ótimo dia pra brincar de cata-vento. Afinal o vento estava forte e fazia o cata-vento girar sem nenhum esforço.

Por causa disso, a imagem colorida do cata-vento se tornava mais bela.

Ao observá-lo os pensamentos dela tornaram-se confusos e foram se dissipando. Era como se ele tivesse algum tipo de encanto. Logo ela começou a se perder por aquele colorido todo. Assim, aos pouquinhos foi sumindo toda aquela mágoa que a prendia. E tudo deu lugar aos pensamentos divertidos, que ela deixara no tempo em que ainda podia ser considerada criança.

Agora era uma menina, cheia de sonhos, cheia de dúvidas, cheia de esperança. Ela não era mais criança, mas também não era ainda adulta. Estava na fase de aprender e não podia deixar tudo passar por causa de uma bobagem. Além disso, a vantagem de estar,não na infância, nem na fase adulta, era poder se dar ao luxo de pensar como se alternasse cada fase ao longo dos dias. Aquele dia lhe convidava a voltar à magia da infância. Só a imaginação a salvaria.

Aceitando isso como lema para a própria vida ela sorriu. E transformou-se, sentiu que mudar era gostoso. Assim, de repente personagens e fábulas começaram a surgir na sua cabeça. Então, ela aprendeu a misturar a imaginação àquilo que sentia. Agora mágoas, dúvidas, esperanças e sonhos, enfim todos os seus dilemas de menina. Tornavam-se poesias, histórias e personagens.

A partir daquele dia, ninguém mais precisava pintar o mundo dela. Ela já não dependia de nada. Aquilo que um dia fora tão importante já não era mais.

Ela apenas agradecia por um dia ter achado que podia e não ter podido. Porque começando por aí é que ela aprendeu a sua forma de driblar todos os seus problemas. Afinal o cata-vento podia girar para qualquer lado, contanto que ela o pintasse do seu próprio jeito.

Ana K Santos
Enviado por Ana K Santos em 15/08/2011
Reeditado em 20/09/2011
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