Podia Ser(segunda temporada Sonho Forçado)capitulo 13

Eu entrei devagar e sorrindo,me fazendo de desentendida.

__Alice,onde você passou a noite?-perguntou o meu pai se levantando.-Você não vai crescer nunca,menina?

Eu nem tive como revidar;minha mãe levantou também e falou um monte.

__Será que você deseja de alguma maneira voltar para aquele reformatório?Porque com essas suas atitudes,a única solução viável que estamos vendo é essa!

__Ah,vê se me erra,D.Norma!

Acho que eu não devia ter falado aquilo.Meu pai agarrou o meu braço com força,bem em cima do lugar da seringa.Putz!Doeu demais...

__Baixe o tom pra falar com sua mãe,Alice!

Eu remexi meu braço,tentando fazer ele me soltar,mas ele continuava segurando forte.

Até que depois de alguns segundos bem dolorosos,ele me soltou;mas isso não significava que houvessem cessado as broncas.

__Olha...-prosseguiu ele.-Nós aguentamos todas as suas loucuras:fuga pra Austrália,viagem pra Califórnia,suas maluquices junto com o Vinícius,os 2 atentados aos carros do seu padrasto...aguentamos tudo isso,Alice,porque achávamos que era uma espécie de consequência da morte do seu irmão.Mas já faz 2 anos!2 anos que o Áustin morreu e você continua fazendo as mesmas besteiras.O que você tem na cabeça no lugar do cérebro,hein?

Eu engoli em seco.Olhei pro Leon e ele estava rindo feito uma criança alegre.Olhei pra Brunna e ela parecia surpresa por tudo aquilo estar acontecendo.Olhei pra minha mãe,e como sempre,ela estava debulhada em lágrimas.Mas meu pai não!A expressão dele era rígida e fria,como nunca tinha estado antes.

__Pai...

__Fique em silêncio,Alice!-eu engoli em seco,novamente.-Eu não estou aguentando seu ritmo de vida.Nem mesmo o Guilherme,que é homem,faz o que você faz.

A gota d’água tinha vindo:o machismo!Acho que eu estourei dessa vez.

__Vocês se acham muito santos,não é?Capazes de julgar alguém,mas não são.Você e a minha mãe são 2 sujos e não podem de jeito nenhum querer me dar limites.

__Alice,cale a boca!

__Cala a boca nada,pai!Vocês se acham politicamente corretos?Não...vocês são uns imorais e agora eu vou falar o que ta engasgado aqui dentro faz 2 anos!Você...-eu olhei severamente pro meu pai.-Teve um caso extraconjugal com a mulher do Fernando Fontenele e por sua culpa,eu tive um caso com meu próprio irmão!

Minha mãe pareceu tomar um susto,mas Brunna e Leon sorriam,como se aquilo me fosse natural.

Eu olhei pra minha mãe e prossegui.

__Você...casou com um cafageste sem tamanho,que vivia pedindo pra eu tirar a roupa pra ele...mas ninguém acredita em mim,ne?Quer saber?eu to aqui hoje,de pé...-minha voz tinha ficado embargada.-Mas eu morri naquele acidente junto com o Áustin...a única pessoa que me entendia nesse mundo.

Eu parei um instante,tentando tomar um ar,mas minha respiração estava pesada.Um nó consumia minha garganta.

__Vocês estragaram minha vida!-eu disse,amarga,tentando prender as lágrimas.-As únicas pessoas que me ouvem de verdade são o Vinícius e o Tavares,porque a minha “suposta família” acha que eu sou uma louca.Querem mais?-eu estendi os braços e todos eles olharam estupefatos para as marcas.-Eu me droguei “antiontem” e me droguei na noite que o Áustin morreu.Não era isso que vocês queriam?Uma razão pra colocar a culpa toda em mim?Agora vocês tem...

Eu desabei.Desabei em lágrimas.Mas eu não ia deixar que ninguém visse esse meu momento de fraqueza.Saí correndo pro meu quarto.

Entrei,fechei a porta à chave e comecei a colocar minhas roupas em cima da cama.Pus algumas poucas peças dentro da velha mochila,enxuguei as lágrimas e saí,escada a baixo.Passei rápido por onde todos estavam e saí,porta à fora.

...

Minha cabeça doía como se enfincassem alguma coisa dentro.Eu devo ter caminhado uns 2 km pra chegar na praia.Me sentei no calçadão e fiquei olhando o mar.Ontem tudo estava indo tão bem:eu tinha me entendido com o Tavares,como irmãos,o que era o certo;a Brunna estava comendo na minha mão e eu finalmente tinha ficado com o Vitório.

Mas hoje,a casa tinha caído pra mim.Algumas lágrimas caíram do meu olho esquerdo.Essa droga de situação tinha me abalado pra caramba.Não é segredo pra ninguém que eu sempre contava com o apoio do meu pai.Mas até ele tinha ficado cheio das minhas maluquices.

Talvez eu fosse mesmo uma louca.Mas isso era injusto;eu passei um ano inteiro sumida e ninguém me encheu o saco,e agora eu tinha ficado uma noite longe de casa e tinha sido essa confusão toda.

Eu respirei fundo...foi quando o celular vibrou dentro do meu bolso:3 novas mensagens.Eu abri a primeira,era do Tavares:

“Alice,o pai me contou da confusão toda.Onde você ta?Tá tudo bem?Dá notícias...não some de novo,por favor...”

Eu abri a segunda,era do Vitório:

“Não aguentei de saudades e to mandando essa mensagem...será que a gente pode almoçar juntos?Me liga...te amo!”

Eu dei um meio sorriso e falei pra mim mesma:

__Também te amo...muito!

Eu abri então a terceira mensagem,era da Brunna:

“Você mentiu pra mim.Falou que ia encontrar o Vinícius,mas ele veio procurar você logo em seguida.O que você ta pensando,Alice?Que pode sair me enganando?Cuidado...a casa já caiu uma vez,pode cair de novo.”

Que idiota!E o pior é que eu tinha que continuar fingindo toda essa porcaria de gostar dela.

Eu peguei o celular e procurei o número dela na agenda.

“Alô...”

Eu me calei.Falar ou não falar?

“Oi,Brunna...eu recebi sua mensagem.Desculpa,ta...por ter mentido...

“Onde você ta,Alice?E onde passou a noite?”

E agora?Eu ia falar o que?

“Bom,eu...passei a noite procurando um lugar pra gente se encontrar...sabe,pra fazer as coisas com mais calma,sem ninguém interferindo...”

Ela não falou nada.Talvez tivesse hesitado com a surpresa.

“Um lugar pra gente?”

Eu respirei aliviada,ela tinha caído.

“É...sabe...melhor,ne?

“Sem dúvida...”

Eu olhei novamente pro mar.Talvez um mergulho me fizesse esfriar mesmo a cabeça.

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Continua...

Egila
Enviado por Egila em 09/08/2011
Código do texto: T3149303
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