Uma nova esperança [8]

ENFIM, UM LAR

Eu já não sabia há quanto tempo estava em seus braços, nunca me senti tão protegida em toda a vida, assim deveria se portar um pai com sua filha? Ele deve, mesmo, ser tão bom quanto as pessoas dizem, que horrível juízo fiz!

-Entre Socorro, não é nada disso que está pensando.

-Menina, você está bem? Está branca como pó de arroz.

-Estou bem, me senti um pouco mal na escada e Acácio gentilmente me trouxe até o quarto e me segurou quando senti mais uma tontura.

-Você ficou tanto tempo naquele mercado horroroso, de pé no sol é melhor que descanse.

-Acho melhor deixar vocês sozinhas, tudo bem...

-Aurélia, meu nome de batismo é Cândida, mas eu detesto e sempre gostei que me chamassem de Aurélia.

-Aurélia, é de muito bom gosto, sente-se bem, prefere que eu saia para que você descanse?

-Já disse que me sinto bem, Acácio.

-Mas passou mal duas vezes hoje, não me sentirei tranqüilo te deixando sozinha.

-Eu posso ficar com ela, seu Acácio.

-Te deixo em boas mãos. Espero que esteja melhor disposta para o jantar.

-Socorro, pode nos preparar seu frango ensopado? Creio que Aurélia vai gostar.

-Aurélia, você gosta de ler?

-Gosto muito.

-Então venha comigo. -Ele me ofereceu seu braço, caminhamos alguns passos até chegar a um pequeno corredor, ele abriu a última porta e lá havia uma enorme biblioteca com livros a perder de vista.

-É linda.

-É sua, pegue os livros que quiser. -eu o abracei inesperada e carinhosamente- Eu preciso ir, há muito o que fazer hoje.

-É a primeira vez em que me tratam com respeito e carinho e nunca vou me esquecer desse gesto.

Ele sorriu e foi embora.

-Está convencida agora?

-Você viu tudo, não é?

-Eu estava escondida espiando vocês dois, o patrão está alegre outra vez e eu fico muito contente por isso. Você é uma boa moça, a gente vê pelo seu olhar, sofrida, mas tem muito amor no coração e essa casa estava precisando dessa luz que você traz aí dentro.

-E eu sempre precisei desse afeto que encontrei aqui entre vocês, quando meus pais me deram para aquele negociante de negros eu estava decidida a fazer sofrer quem aparecesse pelo meu caminho, mas a vida tinha um plano melhor para mim. -Socorro me abraçou-

-Se você me aceitar, posso ser sua mãe preta e postiça.

-Eu não poderia ter mãe melhor. -disse emocionada.

[continua]