O fundo do Poço

Lá estavam eles; crentes de que alguma boa alma pagasse suas dividas, alguém que pagasse a hipoteca da fazenda e os impostos atrasados da empresa de laticínios de seu falecido pai.

_ É isso que dá, nosso pai ajudou a prefeitura dessa micro-cidade, construiu casas, abasteceu as escolas com leite e derivados na crise, mas o que recebemos em troca?_disse Miguel indignado_ Nada!Eles viram a cara e fingem que nada esta acontecendo, fingem que tudo esta bem!

_Se você não tivesse gasto todo o dinheiro da sua parte da herança em jogos, bebidas e prostitutas nós não estaríamos nessa condição _retrucou Amanda; a irmã mais nova de Miguel.

_Você não esta nessa condição! Você vai se casar com aquele garoto de São Paulo que você conheceu na faculdade e vai viver à custa dele. Você não corre o risco de ir para a cadeia, além do mais, se você não tivesse vendido sua parte da empresa para comprar aquele iate e pagar seu casamento não estaríamos assim. E o pior de tudo é que seu iate afundou semana passada, nem pra vender ele serve mais!_ disse Miguel saindo da casa.

_Aonde você pensa que vai?

_Se é para viver pobre e correr o risco de ser preso eu não quero viver!

Amanda correu desesperadamente para fora, o vento bateu em seus longos cabelos loiros. Ela correu, correu até avistar seu irmão em cima da mureta do poço artesiano.

_ Desça já daí!_ gritou Amanda.

_ Para que? Para ficar pobre e correr o risco de ir parar na cadeia? Eu já te disse que isso não é vida para mim! Então não, não eu não vou descer!_ disse Miguel fazendo pirraça.

_Você vai morar comigo, e logo o seguro do iate sairá junto à indenização.

_ Não! Não terei minha fazenda novamente, não será como antes_ ao terminar de falar Miguel pulou dentro do poço.

_NÃO!_ gritou Amanda aflita.

Amanda refletiu por um instante na vida sem o irmão dela, fechou os olhos, correu e pulou dentro do poço; sua queda ecoou. Alguns segundos depois, Miguel sai do poço sem dificuldade alguma e sem nenhum ferimento. Seu golpe tinha dado certo, as pequenas cordas que prendiam seus pés não o deixaram cair para uma morte certa. Toda aquela historia de ter perdido a herança na farra fora uma invenção, pois agora todo o dinheiro do iate e o reembolso do casamento iriam para ele, e assim todo o dinheiro seria dele e ele poderia comprar a parte da empresa que a irmã havia vendido. E assim voltar a ter tudo como sempre.

Todos acharam que fora suicídio e Miguel viveu rico, sem nenhum peso na consciência até seus últimos dias de vida.

Lipe Graebin
Enviado por Lipe Graebin em 02/08/2011
Reeditado em 03/08/2011
Código do texto: T3135699
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