Na sua pele. Cap. 26

N/A: Falo lá embaixo!

POV Annabelle

A conversa com Dani durou menos do que eu esperava, porque a mãe de Débora não se preocupou com o horário, quando finalmente cheguei ao novo apartamento, sentindo um aperto porque ele tecnicamente era a minha casa agora.

O problema foi que ela tentou me expulsar de casa porque não conseguia acreditar que eu de fato era eu mesma. No caso, Débora.

Falando sério, o queixo dela poderia tocar o chão enquanto ela passava a mão nos novos fios pretos e encarava a sacolas de roupas, incrédulissísima. Nem se preocupou quando lhe contei dos gastos, ela estava tão contente e satisfeita que nem se deu a trabalho de dar algum tipo de sermão. Simplesmente não conseguia acreditar que sua filhinha, até que enfim tinha tomado juízo, e escutado um de seus conselhos. Já fazia tempo que Paula falava para Débora ser um pouco mais vaidosa que conseguiria tudo que mais sonhava e pararia de perambular tão infeliz pelos cômodos da casa.

Só que ela preferia tirar das pessoas ao invés de fazer um pequeno esforço.Hunf.

Eu estava esgotada quando Paula me deixou ir para o quarto de Débora, depois de afirmar, pela milionésima vez que eu estava linda.

Surpreendi-me de ver como minhas pálpebras se cerravam sem que eu as pudesse controlar.

Eu estava com sono, infelizmente.

Parte de mim queria passar horas pensando na minha conversa com Dani.

Queria procurar Luke para lhe contar as novidades. Nesse ponto, comecei a pensar qual seria a reação de Luke ao perceber a nova Débora que eu tinha me tornado. Será que ele gostaria, como, aparentemente todos estavam gostando? Ou será que ele preferiria o jeito simples e desleixado de sempre?

Esperava que fosse um resultado positivo, pelo menos.

Também queria pular pela janela, e ir para minha casa antiga. Para os meus edredons cheirosos e minha cama confortável e acolhedora. Para os meus pais originais que me amavam. Mas a certeza de que já haveria alguém me substituindo, perfeitamente bem, me fazia desistir, e apenas ignorar essa sensação de estranha nostalgia. Era pouco tempo mas a saudade parecia se manifestar mais cedo do que nunca em mim.

Parte de mim também se perguntava quanto tempo o Dani levaria para perceber como eu estava diferente. Na verdade, como Annabelle estava diferente, considerando que nas circunstâncias atuais eu sou Débora. Tudo bem, eu sei que é confuso, mas vocês entenderam.

Queria passar a noite inteira pensando em como Débora reagiria a ver a si própria tão bonita. Uma beleza diferente da que ela tinha roubado, mas não menos avassaladora. Pensar na reações dos alunos do Objetivo, ao verem a nerd-gótica revoltada aos efeitos de um bom trato.

Porém, nada disso aconteceu. Quando entrei no quarto de Débora, sem me preocupar com nada, apenas despenquei na cama, confortável até certo ponto, usando roupas mesmo. Fechei os olhos e adormeci, sem nenhum pensamento vagueando a mente.

(...)

No fundo, mas bem no fundo mesmo de minha alma, o que esperava ver é que na manhã que sucedeu o dia da inversão de corpos, tudo voltaria ao normal. Eu voltaria a ser a velha e loira Annabelle Kouren, teria os meus pais, a minha casa, os meus amigos e o meu namorado de volta.

Mas a esperança era tão minúscula que eu nem conseguia chegar a cogitar a hipótese de acreditar. E se eu não podia, quem então poderia?

Engraçado.

Quando acordei, habitualmente às seis e quinze, tive a impressão de que tudo havia sido um sonho. Um sonho BEM esquisito por sinal. Em que eu era Débora e Débora era eu, algo do tipo, e que eu perdia tudo que de mais era importante em minha vida, e tentava compensar passando longas horas no Salão de Beleza. Entretanto, quando abri os olhos, olhei ao redor e percebi que não eram as paredes do meu quarto. Nem os lençóis da minha cama.

E tão pouco eu era eu mesma, foi a primeira coisa que notei.

Ou seja, não havia sido um sonho. E também era a prova real de que a maldição que provocara aquilo duraria mais de um dia. Uma semana. Um mês. Um ano. Uma década, quem sabe.

Ai.

Mas decidida, a me conformar e encarar isso com um sorriso, e tendo a ideia de que uma solução para esse problema seria encontrada em breve, arranjei forças para levantar da cama de Débs.

Eu nem havia trocado de roupa no dia anterior, então necessitava urgentemente de um banho. Suspeitava de que fosse acordar com um aspecto matinal muito desagradável, olheiras, uma juba de cabelos entulhados no rosto, suados e grudados no pescoço, e a maquiagem que eu havia olvidado de remover, borrada até alcançar as bochechas. Estava me preparando psicologicamente para não me assustar ao fitar-me no espelho, contudo o inusitado ocorreu.

Quando o reflexo foi transmitido, não dava para acreditar. Eu estava idêntica a noite anterior. Os cabelos lisos, pretos e longos. Nenhuma olheira. E agora os lábios repuxados num sorriso de alívio.

Demorei longos minutos no banho, porém suficientes para manter a natureza devidamente preservada. A agua quente para mim era um refúgio. Entrar no chuveiro era sinônimo de fazer algo que me deixasse com uma sensação boa, de liberdade e relaxamento.

Quando fui vestir o uniforme, demorei um pouco. Pareciam haver só calças largas do colégio. Nenhum short. Depois de uma longa procura, encontrei apenas um, bem escondidinho no fundo. Com as pernas lisas, eu o enfiei em mim, e me surpreendi ao notar o quanto o caimento era. Realçava as curvas e o quadril. Como Débora não poderia ter percebido essa peça antes no meio de tantas coisas sem-graça? Hm, talvez de propósito com a falsa ideia de que ela ficaria feia vestindo. Tipo, falsa mesmo, por que o caimento, modéstia a parte, ficou um espetáculo.

Coloquei rapidamente a blusa, porque tinha certeza de que estava atrasada. Removi a maquiagem antiga, e passei apenas um delineador novo acima das pálpebras, e um rímel, que deixaram os cílios de Débora maiores do que já eram, fazendo um belo contraste com o cinza dos olhos. Penteei e prendi metade dos cabelos negros com uma fivela que encontrei vasculhando as gavetas, e meus lábios que eu acabara de preencher com gloss, ficaram separados um do outro, devido ao meu espanto ao constatar a beleza anormal na figura que me encarava no espelho.

Meu deus, era assustador pensar no que um Salão de Beleza podia fazer com a gente. E uns bons retoques de maquiagem. Ela estava linda! Ou melhor, eu, infelizmente (ou não). De repente, uma enorme onda de expectativa me cobriu. As pessoas voltariam a me notar, mesmo eu não sendo eu mesma. Não que olhares curiosos importassem, mas nesse caso me fariam sentir de volta ao meu mundo.

Eu estava atrasada para à Escola. Atrasadíssima. Bebi um pouco de suco, e escovei os dentes, e quando Paula me desejou um bom dia na escola eu quase já não estava mais lá para ouvir.

Desci dois lances de degraus com a mochila nas costas.

E já estava caminhando pelos corredores do prédio, esquecendo-me completamente de que haveria alguém me esperando. Entretanto, a primeira pessoa que se encontrava, encostada numa coluna de cimento que sustentava os andares do prédio, era Luke. Ele estava anormalmente bonito, com o uniforme do colégio e mochila preta nas costas. Os cabelos desgrenhados, mas charmosos.

Não que antes ele não fosse bonito.

Mas ele parecia emanar felicidade, e seu sorriso branco era radiante. Os braços cruzados concediam à ele um ar despojado. Como a Débora poderia querer o meu Dani, sendo que tinha um cara tão legal como o Luke ao lado dela? Cuja única ambição na vida era tê-la? Eu simplesmente não conseguia entender!

Quando parei na escada á uns três metros de distância, ele olhou para mim com certa indiferença, um olhar rápido, como se nem me conhecesse, e continuou a encarar o teto de forma alheia. Apenas quando eu cruzei meus braços e já pretendia chama-lo, ele olhou de volta. Ainda achei que não tivesse me reconhecido, o que impressionou-me, absolutamente, porém após o segundo olhar seus olhos azuis repousaram com atenção nas minhas feições.

Eu sorri, involuntariamente.

A primeira reação de Luke foi encarar-me dos pés a cabeça, franzir o cenho, duvidoso, talvez pensando que estava tendo sérias alucinações. Depois, foi a negação, ele mordeu o lábio inferior, balançando a cabeça de um lado para o outro. Logo após, o arregalar de olhos, dirigidos para o meu todo, impressionados. E por fim a indredulidade. Ele ficou paralisado, sem mover um musculo, os lábios separados um do outro em centímetros, os olhos em orbitas, quase sem piscar.

-Luke? – Eu perguntei, já me assustando com ele.

*~~**

Narrando em Terceira Pessoa >>

Enquanto isso, na entrada do colégio...

Uma garota loira, muito bonita, caminhava em passos rápidos em direção a um garoto que olhava furtivamente o visor do celular, como se estivesse esperando uma ligação, encostado, de forma relaxada na parede do muro do prédio. Não reparou que ela estava apenas alguns passos dele, até a garota murmurar seu nome.

-Dani...? – Perguntou duvidosa. Ele tirou a atenção do visor do celular, e encarou a garota. Ela visivelmente estava ansiosa e feliz. Ele sorriu para ela, e colocou o aparelhinho no bolso da calça.

-Você demorou, Bells. – Reclamou o moreno, já apressando-se para mexer nos seus cabelos.

-Estava me arrumando para você. –Explicou-se, maliciosa.

-E desde quando você precisa se arrumar? –Debochou o garoto. -Você é linda de qualquer jeito!

A garota parecia ter ganhado o dia com essa afirmação.

-Você que é! –Contrapôs.

-Nada. –Ele fez um gesto desdenhoso com as mãos. Em seguida, observou-a dentro dos olhos azuis por alguns segundos. - Agora me diz, o que é esse brilho estranho na sua íris?

Belle franziu a testa.

-Brilho estranho? – Inquiriu, desconfiada.

-É... – Afirmou o garoto, pousando delicadamente a mão esquerda na cintura fina dela, e utilizando a outra mão para tirar os fios de cabelo loiro do rosto. -Você parece feliz, mas ao mesmo tempo tem alguns pingos de magoa e tristeza nesse olhar. – Disse o garoto, como se fosse algo natural.

A loira se boquiabriu.

-Nossa, Dani... Além de tudo, você é observador... –Ela ficou um tanto incrédula.

-Eu conheço a minha Belle. –Apenas disse, lhe concedendo uma amável sorriso. -O que aconteceu meu amor? – Perguntou, afagando-lhe as belas faces avermelhadas, com cuidado. Abriu mais os olhos com preocupação ao pensar o que poderia ter deixado-a tristonha. - Não foi por causa de ontem, foi? – Indagou, lembrando-se de que na última noite, ele tinha trocado Annabelle, por motivo nenhum, e encontrado aquela “invasora” dentro do seu próprio condomínio. Será que ela tinha ficado triste apenas por isso? Ele já sabia que tinha sido uma simples atitude idiota, mas ele não podia voltar no tempo para corrigi-la.

-Não, não se preocupe.- Apressou-se em lhe falar. - Não fiquei brava com você.

Pode-se ouvir um suspiro originado dos lábios entreabertos dele.

-O que é então? – Quis saber o moreno.

Por um momento, ao constatar que seus olhos estavam em contraste com o dele, ficou perdida em pensamentos. O quanto não desejou aquele momento? O momento em que ele olhasse para seu rosto com uma expressão apaixonada e preocupada? Quando recebia aquele olhar, e sentia que ele conseguiria ler sua alma se quisesse, até se esquecia de que havia a maldade no seu coração, e que fora por puro estímulo da inveja que ela estava ali, naquele momento. Mas ela não conseguia se arrepender de desfrutar isso. Sabia que sendo quem ela era, jamais conseguiria despertar algo naquele garoto que tanto almejava em toda a sua existência. Confiava nele. Ele era tão... Bom.

Mas não podia contar o que era o tal brilho estranho de desconforto em sua íris, agora, tão completamente azulada. Era incrível que até mesmo sendo Annabelle, ela era uma pessoa legível. Querer, ela até queria, colocar tudo para fora iria fazê-la se sentir menos pior. Era como se uma bola de uma tonelada, lotada de palavras, estivesse presa em sua traquéia, e sabia que faria bem desabafar com alguém, tudo que estava sentindo.

A espécie de felicidade imensurável, mutuamente chocando-se com sua tristeza e arrependimento.

Não fazia um dia direito que era Annabelle, e entretanto estava amando cada detalhe dela. A popularidade, a aparência, as roupas o dinheiro. E o namorado. Principalmente o namorado. E até acordara naquela manhã, deliciando-se ao constatar que seus cabelos ainda eram lisos, vivos e loiros e seus olhos dois pedaços de céu. Mas algo que ainda havia de bom e não-egoísta em seu interior ainda se debatia ali dentro. Eram os efeitos daquela conversa com Lucas. Pensar em sua mãe e em como nem pensara duas vezes, nela, quando decidira-se por trocar de vida. Sentir-se vazia e perdedora, mesmo estando na melhor mulher do mundo. Saber que ele a achava uma invejosa fracassada, independente de qualquer coisa.

Ela não achava que sentiria todas essas angústias, e ainda mais tão rápido.

Novamente, era a tristeza camuflada com a mais pura felicidade.

Mas era mais forte do que ela. Estava se vingando daquela usurpadora de sorrisos. Ela poderia ter sido sua melhor amiga, mais roubara-lhe o que mais fora valioso, e não faria isso de novo. Agora, ele era dela, para sempre. E Annabelle nunca o teria de volta, independentemente de qualquer coisa.

Então, lembrou-se de que devia uma resposta, e movida pelo ódio, inventou algo sobre Annabelle. Ou Débora. (Isso é confuso demais!)

-Eu fui ameaçada. – Decretou, seus olhos latejando de ódio no fundo, mas transparecendo fragilidade.

-Ameaçada?? – Dani se equivocou. - Quem foi o filho da mãe que te ameaçou?

-A Débora. -Especificou, com um certo ressentimento forjado nas palavras.

-Ah. -Ele suspirou, com um tédio evidente. Tentando repelir as imagens daquela linda garota que invadira seu condomínio, a voltarem dominar sua mente, mais do que já tinham dominado aquela madrugada inteira.- Aquela garota, mais uma vez.

-Eu já disse, Dan.. Ela ama você. Seria capaz de me matar, se isso facilitasse as coisas para ela...!! Quer que eu largue você!!! -Reclamou a loira, afoita.

Os olhos de Dani brilharam um pouquinho, apesar dele olhar para o chão disfarçando isso completamente bem. Lembrou-se do pedido de Débora da noite anterior. Para ele deixar Annabelle até que ela voltasse ao normal. Coisas tão sem sentido para ele. Invenções. Não havia nada de errado com a sua Belle. Não tinha motivos para seguir os conselhos daquela garota. Apesar de sua mente querer brigar com ele, evidenciando o fato de que se ela havia ido lá apenas para lhe dizer isso, a coisa era realmente séria.

E de acordo com Belle, a garota a sua frente, com uma enorme mágoa retida no rosto, a culpa era dele mesmo. Aquela garota supostamente sentia algo por ele e queria afásta-lo de sua namorada. Seria isso mesmo? Então... A tal Débora realmente o amava? E sua paixão era o motivo de todo aquele teatrinho?

-Sério? Ela... Quer isso? -Ainda não era capaz de crer.

-Sim, esta obcecada! É capaz de espalhar os boatos mais horríveis sobre mim, só para fazer a cabeça das pessoas. Já espalhou! -Os olhos azuis dela pareciam refrar lágrimas.

Então... Era verdade? Ela estava armando uma cilada para sua melhor amiga só porque gostava do namorado dela? Tudo por ciúmes e inveja?

Ok, em certa parte, pensar que aquela garota linda que a ex-amiga de sua namorada havia se tornado, morria de amores por ele, era realmente satisfatório, afinal, ela estava MUITO gata, ele, era um CARA. Mas ao fitar dentro dos olhos da sua tão querida Belle, só o que conseguia era sentir raiva daquela garota, independente de quão bonita ela fosse.

Era uma invejosa.

Ciumenta.

Duas-caras.

Se alguém tem uma amiga assim porque são necessárias inimigas?

-Ninguém mais vai acreditar numa garota como ela. E acredite!, eu prefiro você milhões de vezes do que ela. -Ele tranquilizou a garota afagando seus cabelos.

-Own, Mas eu não sei o que fazer. –Ela disse num biquinho de frustração.

-Preciso dar um basta nessa garota. –Disse ele, enquanto respirava fundo.- Se você me diz que ela... BEM... Gosta de mim, vou ter que dar um jeito. Mas olha, meu amor. Vamos parar de falar nisso? Eu prometo que vou dar um jeito nela. –Tranquilizou-a, enquanto segurava-a delicadamente na cintura, no espaço que tinha entre uma perna sua e a outra, navegando dentro do azul dos olhos repletos de felicidade dela.

-Obrigada, Dani. -Agradeceu a loira, parecendo contente. Dani ficou apreciando a sua beleza angelical por alguns momentos, antes de virar seu rosto para o lado esquerdo da rua e encontrar 3 garotas que não conseguiam tirar os olhos do casal.

-Belle, o que aquelas lambisgóias perderam aqui em?

-Hãn? Quem?

-Aquelas garotas ali. - Especificou o moreno, apontando o local onde Bridget, Amanda e Camila observavam com uma certa curiosidade.

-Ah. São as minhas novas amigas esqueceu?

-Sim, eu sei. -Respondeu ele, dando de ombros com charme. Íncrivel como não conseguia gostar daquelas meninas. Além de serem um bando de sem cerébros petulantes, ainda conseguiam interromper seus melhores momentos com Belle. Não que preferisse quando a garota não tinha amigas, a um dia atrás, e era exclusivamente sua, mas esse não era o tipo de amizade que escolheria para ELA ter. -Mas porque elas estão olhando para a gente com essa cara??

Belle esboçou um sorriso cínico no rosto. O moreno estranhou um pouco o sorriso, mas algo nele cutucava, algo que muitos chamam de intuição, como se avisasse que aquele sorriso terno que ela tinha jamais voltaria a se esboçar nas linhas daqueles lábios.

-Por inveja. - Disse, parecendo se deliciar com cada sílaba que a palavra possuía.

-Inveja. -Dani franziu a testa. -Inveja do quê?

-De nós. Ou melhor, de mim, bobinho. -Explicou Belle, com um sorriso pervertido. -EU, sou a única garota no mundo que posso fazer isso com você... -Mal se deixou completar a frase, e já estava colocando os braços em torno da nuca do moreno, um pouco atordoado, para beijá-lo sem nenhum pudor, na frente das próprias récem amigas.

**~~**

POV Anabelle

-Achei fosse só uma alucinação. -Afirmou Luke, esfregando os olhos azuis com as mãos, para poder me olhar melhor depois daquele vislumbre momentaneo. Os lábios entreabertos, consideravelmente.

-Bem, não era. - Eu disse, rindo um pouco.

-Débora??

-Annabelle, mais precisamente falando. -Corrigi, amargamente.

-Belle. É claro. -Ele deu um tapa na própria testa, para trazer as lembranças a tona, aparentemente. Eu sabia que era maluquice, mas ontem havia sido um dia bem significativo que comprovava bem essa troca de corpos. -O que fez com a Débora?? - Questionou ele, escandalizado, mas de um jeito bom se é que isso é possivel.

-Nada de muito importante. -Dei de ombros. Nada que eu não fizesse pelo menos uma vez por semana, em minha vida normal, com meu corpo normal, minha cara normal, etc, etc, etc.

-É claro que é importante. - Ele protestou, inconformado com meus argumentos. Deu alguns passos, aproximando-se do lugar em que eu havia me estacionado.- Eu tenho a visualização da obra prima mais perfeita da humanidade e vai dizer que não é nada?? - Ele perguntou desafiador, me arrepiando. E foi aí que percebi que ele já estava mais perto do que meus olhos, já não mais azuis, tinham conseguido captar.

Ele estava praticamente a centímetros.

E de alguma forma estranha e absurda, eu não me sentia mal com isso. Luke havia se transmutado tão rapidamente em meu melhor amigo. Era como se eu o conhecesse à séculos.

-Então você gostou? -Perguntei, em um tom, que saiu, involuntariamente sexy.

Ele havia envolvido uma mecha do meu cabelo em seus dedos e passara a alisá-la. Quer dizer, do cabelo da DÉBORA. Ele olhou diretamente para mim, dando um sorriso de conformidade que chegava a parecer triste.

-Vai ser difícil ficar perto de você agora. -Declarou ele, num suspiro.

-Por quê, exatamente...? -Eu quis saber, cruzando os braços. Foi então que percebi que ele estava parecia estar se forçando a conter um grande impulso que eu temia saber o que era.

-Se eu já desejava ela antes, do jeito que era, e sendo a pessoa que era... Imagina agora, quando ela está milhões de vezes mais linda e ainda é a pessoa mais simpática do mundo... -Ah. Agora tudo parecia bem mais claro. Ele simplesmente estava se controlando para não me beijar. Sim, fazia sentido. Se ele fizesse isso nossa amizade não poderia prosseguir do jeito que estava prosseguindo. Eu gostava muito dele.

Como um amigo.

Mas por acaso, corei fortemente com sua afirmação.

-Ah, deixa disso Luke... Foi só um corte de cabelo. -Desdenhei.

-Um corte?? - Ele debochou, pegando mais fios do meu cabelo. Se segurando para não cheirá-lo, provavelmente. - Seus cabelos estão longos e deslumbrantes. Você tornou a menina mais linda que eu já vi. -Declarou. Sem querer, eu tremi com a revelação. Simplesmente não sabia como agir.- Quer dizer, eu já achava isso antes, e realmente achava você muito bonita quando era mesmo a Annabelle, mas quer dizer... Você está magnifica.

-Obrigada. -Foi a única palavra que escapuliu. Dei Graças a Deus por pelo menos poder falar depois de tantos elogios.

-Mas o quê você fez de fato????

-Nada. - Respondi. Ok, então entendi eu realmente só estava conseguindo dizer palavra por palavra.

Respira fundo, Annabelle. Hello, você foi chamada de linda e perfeita a sua vida inteira, não é agora que você vai se constranger com isso é? ...Tudo bem que as circunstâncias são outras, but..

-Hm, sei. Vou fingir que acredito.

-É bom, Luke. Além disso, não sei se você percebeu mas nós estamos mega-atrasados. -Repreendi, querendo mudar logo o assunto.

-É, perceber eu percebi, mas não quero ir para escola sem mostrar a surpresa que eu tenho para você...

Arregalei os olhos. Surpresa era saber que HAVIA uma surpresa.

-Sério? Que surpresa?

-Está curiosa?? -Ele perguntou, dando um sorriso torto e bobo.

-Aham. -Apenas confirmei.

-Aposto que vai te deixar feliz.

-Então deve ser ALGO MUITO BOM.

-Sim, muito... Você não pode acreditar no que eu achei.

Achou? Peraí, ele tava me dizendo que ia me presentear com algo que ele CATOU DO CHÃO? Toda a minha alegria por saber que tinha uma surpresa desapareceu em menos de dois segundos. Eu realmente ODIAVA o chão. Se eu tenho alguma frescura em toda a minha vida, é em relação as coisas provinentes do chão. Quer dizer, as pessoas PISAM ali. Tudo fica infectado de bactérias e outros microoorganismos nojentos, eca.

-Achou? Como assim achou? Luke, Luke, você sabe que não é legal pegar as coisas do chão, elas podem estar sempre infectadas de micróbios ou serezinhos do tipo, argh..

-Não é nada disso, Belle. –Ele gargalhou da minha cara de nojo. - Tcharan. -Falou, tirando de dentro do bolso da calça do uniforme, um objeto que parecia-se um pouco com um colar, e reluzia intensamente. Aquilo me parecia... Incrivelmente familiar.

Mas ainda assim não via o motivo, nem como eu poderia ficar feliz com isso.

-AAH. Ué... Mas onde eu já vi isso mesmo??? - Eu quis saber, com toda minha vontade.

-No pescoço da Débora. Enquanto você ainda era você.

-O quê?! - Não acreditei. Então, ele tinha achado o...

-Sim, esse é o amuleto da Débora. Com a PEDRA. - Afirmou ele, esboçando uma expressão de auto-realização, apontando para a pedra que faiscava dentro dos metrais que a prendiam formando o amuleto.

-CARAMBA! -Eu mal podia conter a minha agitação. Aquela pedra, que girava, presa ao colar, nas mãos de Luke poderia decidir o meu DESTINO. --Aonde foi que você encontrou? Tem certeza de que é esse mesmo?

-Certeza absoluta. É igual o da foto que nós vimos naquele site...

-É verdade, é verdade... - Concordei, embora não tivesse tanta certeza, 100 por cento, e mais um pouco, de mim queria acreditar...- Mas...Como? Como foi que...?

-É melhor eu te contar durante o caminho. - Cortou ele. Estavamos atrasados demais da conta, então não mostrei resistência.

-Ok. - Começamos a caminhar, juntos, pelas calçadas do condomínio.

Ele mal sabia o quanto eu estava ansiosa para descobrir. Ele tinha achado a coisa que poderia me devolver a vida!

-Conte, então. - Exigi, sem mal termos dado dois passos.

-Bem, tecnicamente, tudo começou quando eu falei com a Debs, ontem a tarde... -Começei a realmente me fixar em suas palavras, prestando atenção. A mochila parecia pesar em minhas costas agora que começara a andar, mas nem isso me preocupava. -Ela estava numa lanchonete, com o seu corpo, e acabara de pedir um lanche... Bem foi aí, que eu percebi que toda essa maluquice era mesmo real, por causa de um histórico de convites que eu tinha feito à ela para nós irmos comer, e ela não aceitava dizendo que era gorda ou algo do tipo... Mas enfim, nós tivemos uma conversa bem firme, a respeito da minha ENORME decepção com ela... Foi um pouco difícil ter essa conversa, e falar tudo que eu queria falar, olhando para alguém que não foi ela durante todos esses anos, mas... Isso é inevitável...Mas então, acidentalmente ela acabou por me dizer como tinha sido a transformação, o que conformou as minhas expectativas, e me disse também que havia jogado o amuleto da avó dela pela janela do condomínio... E então eu comecei a vasculhar pelos jardins daqui, calculando onde provavelmente poderia ter caído... E eu achei o amuleto, ao lado daquela roseira ali... -Apontou ele, mostrando para uma linda e alva roseira perto do Pátio Principal do Condomínio. Eu não poderia imaginar como a Débora teria a força para jogar o amuleto ali, mas estava tão feliz naquele momento que nem podia pensar.

-Ai meu deus! Luke, eu já disse que te amo? -Perguntei, ainda extasiada.

-Hm, ainda não. -Ele pareceu feliz ao responder isso.

-Pois que isso fique bem registrado. -Eu tinha certeza de que o coração dele tinha disparado e o brilho dos olhos dele se destendido para toda a íris após a declaração. Mas eu estava tão feliz, ainda que por uma coisa tão simples, que era impossível me importar com isso.

Avançamos, saindo do prédio, rumo à escola. Confesso que estava tomada por um pingo de nervosismo quando pensei nisso, mas ainda assim, prossegui, a cabeça no alto.

Por sorte (ou não) a escola era bem perto da minha nova casa, e nossos passos eram acelerados ao ritmo de nossas conversas. Eu estava tão destraida que mal percebi que já tinhamos chegado até o Portão da Escola quando parei para respirar. Até Luke me puxar pelo braço.

O sinal ainda não tinha batido, e portanto as pessoas ainda estariam nos corredores. Elas iriam me ver. Eu sabia o quanto estava diferente. Sabia o quanto tinha feito o meu "novo corpo" se tornara provocante. Sabia que chocaria à muitas pessoas. E confesso, estava louca para ver a expressão DELA. E louca pra ver o meu Dani. Seria torturante vê-lo nos braços dela, mas eu ainda precisava vê-lo.

Tudo bem que faziam menos de horas que tivemos aquela conversa horrível, mas era quase como se eu tivesse uma necessidade vital de encontrá-lo.

Cerrei as pálpebras por dois segundos, tomei coragem, e atrevessei o portão, com Luke de mãos dadas comigo, para me dar apoio. Era como se de fato, eu fosse mesmo a Débora, e ele fosse meu amigo à muito tempo. Mas não. Eu não poderia me acostumar com essa ideia de SER a Débora. Eu ainda era Annabelle Kouren, e sem dúvidas Luke era meu amigo, mas fazia pouquíssimo tempo que eu o havia conhecido.

E a vida é irônica, né?

Era só a mão quente dele que conseguia me reconfortar uma hora dessas.

Troquei mais um breve olhar, e ele me encorajou a prosseguir, quase desdenhando das minhas aflições.

Funcionou, porque chegou a hora que eu percebi que tinha que desdenhar delas também.

A nova Débora Richelli pronta para desfilar pelo colégio com uma nova aparência.

E uma nova alma.

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N/A:Tudo bem, tudo bem, já estou esperando vocês jogarem as pedras!

HUSAIHSIUASUIAHUISUISA

Eu sei que demorei, tipo, SÉCULOS para postar, e sei que esse capítulo não corresponde exatamente às expectativas de ninguém, mas pensem pelo lado positivo, eu voltei a me empolgar com Na Sua Pele, e se esse capítulo obter comentários e leituras, eu realmente pretendo postar a continuação logo ! (eu deixo vocês me esfaquearem se eu não fizer isso)

É que eu estava ocupada demais escrevendo a minha fanfic presságio por esses últimos tempos, e é realmente difícil manter 3 histórias atualizadas. Mas eu tenho que dar conta õ/

Eu sei que o capítulo ficou curto, mas vou compensar no próximo. Quero ouvir o que vcs acharam, e fazer umas humildes perguntinhas...

Rola ou não rola um clima entre Luke e Belle (em corpo de Debs)?

Rola ou não rola uma atração entre Dani e Belle (em corpo de Debs)?

Rola ou não rola um confronto bem tenso Belle x Debs?

Espero respostas heim!

Beijos da...

Lívia Rodrigues Black
Enviado por Lívia Rodrigues Black em 21/07/2011
Código do texto: T3110540
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