Paixões & Traições - Faço Tudo por Você ( Capítulo 3 )

(Narrado por: Jasmine)

O sinal estrídulo disparou, despertando em mim uma náusea de medo.

Decidi parar de perder meu tempo com aqueles desconhecidos e tomar meu rumo. Observá-los daquela maneira era o mesmo que me curvar diante deles. Porque tinham minha admiração, se sequer fomos apresentados? Já tinham tantos olhos sobre si, um par a menos não fariam-lhes falta mesmo. Além de quê pareciam tão esnobes, não era o tipo de pessoa com quem costumava me dar bem. - Sempre me encolhia ao ver alguém me olhando com prepoderância.

Fui para o enorme pátio de entrada, aquele que observara dali do estacionamento a poucos instantes, onde haviam paineiras, bancos, flores, fonte...e o prédio escolar. No qual entrei.

O edifício era bastante alto e moderno, e com uma longa escada no centro do térreo; e os corredores dos armários era magnificamente iluminado por conta de suas enormes paredes de vidro - e naquele momento com muitas pessoas circulando. - As paredes eram brancas, e de mármore; o piso lustrava ao ponto de me refletir, e tanto espaço me fazia se sentir como uma formiguinha em seu formigueiro, embora ele não fosse tão SEU assim.

Vencendo com muito esforço a multidão, consegui chegar ao meu armário. Coloquei as apostilas, livros e materiais necessários para as aulas da manhã na bolsa, e re-li meu horário. A primeira aula seria artes, com a professora Olívia.

Não tinha muita noção de onde ficava cada lugar daquela escola. O diretor, um homem forçadamente simpático, me mostrou as salas ambientes, a midiateca, o auditório e as quadras. Acontece que não consegui gravar nada em minha mente com muita exatidão; aquele colégio era grandessíssimo. Como eu iria saber de tudo assim de cara?

Hesitante, tomei a direção da sala de artes, que era a número vinte.

Deve ficar no terceiro andar, deduzi.

Depois de um bom tempo pude perceber que estava no piso errado. É que toda aquela agitação das pessoas me confundia, muito.

Voltei para o primeiro andar e rapidamente todos tomaram suas devidas salas e os corredores estava novamente inabitados; enfim eu poderia procurar com calma minha aula. Porém, fiquei desesperada. Não queria começar com o pé esquerdo logo no primeiro dia, então teria de encontrar rapidamente meu destino.

Apressada e desatenta, olhando os números de cada sala, esbarrei numa garota de cabelos cacheados e louros, bastante alta e muito bonita, parecia uma modelo. Deveria ser filha de alguma top model, pois sua feição não me parecia desconhecida. Acabei fazendo-a derrubar no chão algumas coisas que trazia nas mãos.

- Ai! - me aflingi, ajudando a recolher suas coisas do chão.

- Me desculpa, eu não estava prestando atenção por onde andava, foi sem querer - me expliquei exorbitante, procurando demonstrar o tamanho da culpa que sentia com minhas palavrinhas chulas.

Ela ergueu o rosto me olhando com arrogância e desprezo. Minhas palavras não foram bem aceitas. Me assustei, com tamanha agressividade, e me calei de vez.

- Está tudo bem - me tranquilizou dando um sorriso, embora estivesse com a voz pouco paciente, ao mesmo tempo que pegava junto comigo seus papéis. - Sorte sua que foi eu hein? Se fosse a JULIA...

Como se eu conhecesse a JULIA.

- Escuta: você sabe onde fica a sala de arte número vinte? Estou perdida aqui dentro! - Aproveitei para perguntar, mesmo não vendo nela muita voluntariedade; mas precisava chegar logo em meu destino.

- Você é nova aqui - afirmou ela. Seu rosto relaxou, e um sorriso de boas-vindas quis aparecer.

Estranhei. Como ela sabia? Mas, logo caí na real, não precisava procurar muito para descobrir que eu era uma aluna nova. Assenti, mesmo sabendo que aquilo não havia sido uma pergunta.

Me levantei arrumando a saia da jardineira, apressada.

-Seja bem-vinda, me procura no almoço posso te mostrar o colégio, assim você evita esbarrões em corredores errados - disse tudo de forma rápida e simpática, enquanto se levantava. - Sua sala é no segundo andar. E queria eu estar nela...

Tá ela bastante extrovertida para quem acabara de me conhecer, adorei sua recepção e gostaria que os demais alunos também fossem tão hospitaleiros quanto. Mas, eu não tinha tempo a perder com a conversa que já queria iniciar, tinha certeza que meu tempo já tinha expirado.

-Obrigado - disse por fim já saindo de perto dela.

-Ei! - disse num tom bastante alto. Olhei para trás, pouco interessada em papo. - Meu nome é Sofia e o seu?

-Jasmine - respondi e caso restasse alguma dúvida completei: - JASMINE CASTELLI.

Ela sorriu, agradecendo a resposta. E eu corri em busca do segundo andar, sem perceber que estava sendo um pouco grossa com aquela menina simpática. Provavelmente eu nem a veria mais.

Chegando a sala estava cheia. Só havia uma mesa vaga, bem na frente do menino bonito, Bruno. Ironia do destino certamente. Para alguém tapada como eu, devia ser azar sentar-se perto dele pela segunda vez num mesmo dia. A garota da Van e o menino pardo estavam junto dele, sentando nas mesas lado a lado formando um paredão no fundo da sala.

Ninguém notou minha chegada, muitos tagarelavam, outros observavam os três, ao norte da sala. A menina e garoto moreno conversavam, mas Bruno escrevia no antigo papel, absorto na escrita, sem notar nada em volta. E eu, por um segundo absorta nele.

-Você é Jasmine Castelli, sim? - perguntou D. Olívia, colocando sobre meu ombro sua mão enrugada.

Dei um pulo de susto ao sentir seu toque quente e úmido. Alguns aluno atentos a voz da professora, me olharam e notaram minha alienação, riram baixinho em tom de zombaria.

Maravilhoso, eu já tava sendo a piadinha!

Bruno me olhou atônito e especulativo ao ouvir aquilo. Rapidamente tirei meu olhar de sua direção. O menino moreno observou a reação dele; já a menina de cabelos alaranjados e todo o resto da turma me fitaram com pouca curiosidade, mas o bastante para analisarem minhas características de aluna recém-chegada.

Pode sentar-se em frente a Bruno Giorgio - sugeriu a professora.

Os três se entreolaharam, como se tivessem detestado a idéia.

Eu tinha que sentar em qualquer lugar daquela sala, menos naquele! Procurei de norte a sul, leste a oeste alguma cadeira livre. Mas não havia.

- Bruno é aquele, ao lado de Samanta - me explicou a mulher, percebendo minha tola procura. - Bruno erga o braço pra que ela possa saber que é.

Ele olhou para a tal samanta de uma maneira estranha, e ela com um doce sorriso deu de ombros. Seu sorriso me acalmou um pouco.

Silenciosamente e sem atrapalhar, me sentei na tal mesa.

Tive uma imensa vontade de me virar e perguntar qualquer besteira do tipo, vocês são novos aqui?, ou qual sua próxima aula? Mas percebi que com eles era melhor ficar quieta. Como todos faziam os outros. Seus rostos metidos me bloquearam de fazer qualquer coisa.

Ouvi quando Bruno disse baixo e tenso aos colegas:

-Quantas pessoas com esse nome existem no Brasil?

Para que ele queria saber disso? Era algum tipo de zombaria com meu nome, só porque ele era estrangeiro? Quase respondi aquilo. Porém, aguentei e escutei a conversa, quieta em meu canto.

-Não sei, e acredito que o Renan também não saiba. Está perguntando para as pessoas erradas - sibilou a garota de olhos verdes; ela não era rude como ele tinha sido.

-Ora, fala logo com ela! - sussurrou o outro menino, Renan.

-Até parece! - resmungou para si.

A aula já estava na metade e nada deles falarem mas nem um A. Acho que não queriam que eu escutasse. Deveriam falar por bilhetinho, mímica ou algo ultra-secreto do tipo 007. Não aguentei tanta curiosidade. Peguei meu espelho e fingi arrumar a faixa em meu cabelo, enquanto olhavá-os; mas eles não diziam nada, nem escreviam. Só prestavam atenção na professora. Todos menos Bruno, que cruzou seu olhar no meu no reflexo. O que serviu para eu cair na real!

Ele estava me observando o tempo todo!

A aula acabou!, e tudo o que queria será perguntar a ele porque se desafia da minha presença, quando estava tão claro que algo o chamava a atenção e mim.

E quando eu ia saindo... Parou na porta a menina branca de cabelos pretos lisissimos e de olhos grandes e azuis; do estacionamento. Ela bloqueou a passagem. E fingiu não ouvir meu "com licença". Esperava ELE! E só saiu de lá com ELE! Que sorria adoidado com ELA, mas que comigo... (deixa quieto).

O tal do Renan foi atrás, mas a menina de voz irritante ficou.

- Notei que você é nova aqui - guinchou para mim. Desacreditei! - Espero que esteja gostando do Equality. E não faço isso com todas, mas... - estendeu a mão direita, pequena e pálida. - Seja bem-vinda em nome do colégio.

Hesitei. Mas o sorriso doce que me deu, me serviu para deixar de achar ela uma patricinha vazia, e enxergá-la mais como a bailarina do meu porta-jóias.

-Obrigada.

-Bom só queria dizer isso. - Deu de ombros, sorrindo. - Agora preciso ir, você tem aula, e eu estou convocada a estar na direção. Não que eu tenha aprontado tá? São coisas para o grêmio estudantil, sabe?

-Grêmio?

-Você não veio ontem, então não está sabendo que estão abertas as inscrições para as chapas desse ano. Se tiver interesse pode entrar para minha chapa, que para falar a verdade não tem ninguém, mas vai melhorar se você estiver nela.

Enquanto processava a idéia, ela já tinha ido.

-Ei! - chamei. Mas ela não me ouviu, e permaneceu a andar num saltitar gracioso.

As aulas se passaram e Aquela idéia não me saía da mente. E se eu entrasse para o grêmio? E se esse colégio pudesse melhorar? E se eu realmente pudesse fazer amigos por aqui?

Então sem hesitar, fui para a secretaria, no intervalo, e encontrei justamente Bruno lá. Fingi não reconhece-lo, e não ter feito a estratégia do espelho na aula de arte, só para ver o que fazia.

A secretária não estava ali. O que significava que era melhor me sentar numa das poltronas.

Bruno não ficou me encarando como antes. Na verdade, só cruzou seu olhar com meu, e depois se pôs a ficar um quadro abstrato qualquer.

- Silvia está ocupada no momento, melhor voltar outra hora. - Ele ainda olhava a imagem. Estava falando comigo? - É, com você mesma! - completou friamente; respondendo minha dúvida.

Me olhava seriamente, sem nenhum pingo de simpatia.

Levantei. Mas hesitei, antes de sair. Mas mesmo assim fui, não tinha muita coragem no momento para enfrentar sua fúria.

- Ei! - chamou. Ainda, esperançosa de que restasse algo bom desse encontro, me virei. - O que queria? Dependendo do que for posso te ajudar.

- Não é... - Comecei errado. Recomecei: - Queria me inscrever para o grêmio.

Ele franziu a testa.

- Ninguém se inscreve para o grêmio!, isso é idiotice, coisa de nerd, de quem quer aparecer, não acha? - falou sem medo de me fazer se sentir uma completa imbecil.

- Não, não acho - enfrentei na mesma agressividade. - Agora se não pode me ajudar, avisa logo.

- Na verdade posso! Mas quero fazer isso.

???

- Ótimo - engoli em seco. - Quem sabe Samanta não possa então, afinal a chapa é dela. Não sei nem porque estou falando com você; com toda certeza não é nenhum nerd idiota que queira aparecer.

- Quem te convidou para a chapa da Samanta? - pareceu pego de surpresa. Não respondi. - Ah tá, Samanta... Só poderia ser a Sam... - se auto-respondeu. - Não pode se inscrever. Sam não deve ter dito que a chapa DELA já está completa.

Aff! Então ele também estava nessa? Mas... Ainda que ele e seus amiguinhos fizessem parte... Não haveria gente suficiente para uma chapa! Não sei onde ele queria chegar...

-Até mais papai - disse a menina morena, fechando a porta da diretoria saindo junto com a secretária; com uns papéis brancos nas mãos. - Vamos amor? - Olhou para Bruno. Depois voltou-se para mim. - Desde quando fala com gente assim?

Respirei fundo; para não respondê-la no mesmo nível. O que aquele projétil de Branca de Neve estava insinuando?

- Posso te ajudar? - perguntou a secretaria simpatizante.

- Não. Já fiquei sabendo o que queria - respondi, fingindo não ligar para aquele que tinha sido o maior insulto da minha vida.

O melhor que tinha a fazer era ignorar toda aquela hipocrisia e ficar anônima em meu canto; até poder sair e ir para um lugar realmente normal.

Nandah Ferreira
Enviado por Nandah Ferreira em 14/07/2011
Reeditado em 22/07/2011
Código do texto: T3095422
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