Quando o amor chega à noite sem convidar. Cap.1

“Essa não é uma história de heróis abnegados que amam e purificam tudo aquilo que tocam, mas por outro lado também não pode ser considerada a história de um vilão só por confiar em alguém que não conhecia. O que se pode dizer é que ele errou por luxúria, mas acertou por amor, pois só o amor irá salvá-lo do frio assim que o deixar entrar.”

Vince, o vampiro.

Rio de Janeiro, 15 de Outubro de 1931.

– Não acredito que acabamos de nos conhecer, parece que vivemos juntos uma eternidade! – disse o rapaz encantado.

– Acontece raramente só com as pessoas mais especiais! – respondeu a moça equilibrando-se na guia da caçada toda serelepe. – Mas você não deseja que isso seja de verdade? – continuou.

– Como assim? – perguntou o rapaz sem entender.

– Ah! Você sabe! Eu e você pra sempre, todas as noites descobrindo uma novidade atrás da outra pelo mundo, sem pressa pra nada! – respondeu fazendo gracinhas.

O moço riu desconcertado a apoiando para não cair num movimento brusco.

– Tá! Se você puder me dar esse presente eu vou com você pra onde você quiser! – gritou.

A garota se aproximou com expressão de mistério fazendo um charme inebriante. O rapaz sem forças envolvido pelo encanto da moça apenas fechou os olhos e entregou-se a seus dotes apagando devagar sob a calçada vazia no silêncio da madrugada. A última coisa que se lembra é do calor do corpo dela abraçado no seu e uma queimação dilacerante no pescoço.

Música – Cai a noite – Capital Inicial – Letra.

Cai a noite na cidade

Vinda de lugar nenhum

E o dia vai embora

Indo pra lugar algum

Não sentia fome

Não sentia frio

Sentado num canto

De um quarto vazio

Quando a chuva cai

Nas noites mais solitárias

Lembre-se que sempre...

São Paulo, 27 de Junho de 2011.

– Não Mabelle! Nós não podemos, isso não é normal! Maaaabeeelllleeee!!!! – gritou acordando de mais um pesadelo.

Mais uma noite nascia no sudeste do país para que Vince convivesse com seus pesadelos acordado, duvidando de sua condição, ojerizando quem era. Tem sido assim desde o dia em que saiu com o anjo em forma de pessoa, o mesmo que depois se mostrou decaído dos céus para se vingar em humanos tolos na Terra. Tudo o que ele conhecia dela era o desgraçado nome, Mabelle. Jamais iria esquecer, o subconsciente não deixava.

Lembrou-se que naquela data começava a faculdade de Letras.

– Será que vou durar nesse curso? Já tive tantas vontades durante esses oitenta anos, mas se me formasse em alguma coisa seria pra sempre e o infinito é tempo demais para ter uma profissão. – pensava. – Dessa vez sinto algo diferente, nem que seja só uma vez tenho que ir até lá.

Sombras e pensamentos

De um sonho só esperança

Nas paredes ecoavam

O silêncio e a lembrança

Saiu de casa como há muito tempo não fazia, achava incrível como a modernidade podia deixar alguém dentro de casa sem precisar olhar a rua o quanto quisesse. Sabia que não seria fácil, o cheiro de sangue fresco logo veio lhe atiçar as narinas. Seus sentidos aguçados lhe arrepiando o corpo por inteiro, o fazendo sentir vivo de novo. Conforme ia passando pelas avenidas a tontura tomava conta da cabeça que às vezes perdia o rumo de onde estava indo.

Finalmente chegou a faculdade onde percebeu os olhos curiosos sob ele, provavelmente inventando boatos para torná-lo mais interessante ou destruí-lo perante os outros.

– Certas coisas nunca mudam! – pensava enquanto caminhava no meio dos novos colegas.

Segurou a cara sisuda até a sala de aula e se sentou rapidamente num canto onde tinha uma carteira vazia sem rastrear os que estavam ao lado.

Entre ruas desertas

Ele está só de passagem

Na vertigem e tontura

Surgiam todo tipo de imagens

O sinal bateu em seguida imperceptível para Vince incomodado com os cheiros, sensações e barulhos intensos que vinham de todo lado aos quais estava desacostumado.

O professor entrou na sala soberano e pomposo disposto a despencar seus títulos e diplomas numa apresentação que durou mais do que devia. Após a admiração queria arrancar também a intimidação dos pupilos. Escolheu milimetricamente alguém com cara de perdido o bastante para que pudesse realizar seu show.

– Você! – apontou incisivo.

Todos se viraram procurando o infeliz que o enfrentaria pela primeira vez, até avistar o cara dos boatos.

– Sim, você! Vamos começar com uma apresentação básica de cada um para que eu possa sentir o nível de comprometimento de vocês. – explicou o professor.

– Eu! – se admirou Vince.

– É rapaz! Estou esperando, não temos todo o tempo do mundo para perder com você!

– Ah! O senhor não faz ideia de quanto tempo eu disponho! – pensou irônico. – Obrigado, mas eu passo! Sou das antigas, do tempo em que as damas iam primeiro! – respondeu querendo se desvencilhar.

– Muito espirituoso jovem, mas os bravos defendem as damas e não as atiram no fogo! – debateu o professor. – Jorge Thomas estaria com vergonha de você agora, ele que tanto defendia as damas em seus versos.

– Eu conheci o Jorginho e dizendo a verdade esse cara não era exemplo nem pra mãe dele. O mais covarde de todos os caras que eu já conheci. Se pudesse viveria debaixo da cama do internato. Certas pessoas escondem o passado de forma que outros idiotas até o citem no futuro. Esse professor devia voltar pra escola! – concluiu no pensamento fugindo da cena.

– HumHumm!!!! Estamos esperando, quando o senhor quiser! – rosnou o professor.

– Aff!! Esse professor tá querendo ser eliminado, talvez eu providencie isso depois, existem indivíduos que merecem desaparecer do planeta! – quase disse se levantando irritado.

Caminhou até a frente da classe segurando o papel em que havia escrito um miniconto.

– Pessoas mumificadas, pessoas mumificadas... – repetia para si querendo ganhar confiança meio trêmulo.

A galera fazia silêncio, porém ainda era possível ouvirem comentários sobre como ele se sairia.

Limpou a garganta levantando a cabeça em seguida disposto a ler, nessa hora avistou entre todas as múmias uma garota que destoava das outras. Tratava-se de alguém de aparência familiar.

– Mas quem podia ser? – perguntava-se. – Rosas são detalhes de amor expostos sob a Terra. Fúrias caladas que segredam paixões colhidas, revigoradas com orvalho de toda manhã pairando na noite até que estejam fortes o bastante. Assim é o amor. – leu inesperadamente em voz alta oscilante.

– Isso foi perfeito jovem! – disse o professor aplaudindo.

Vince ainda olhando para a garota correu até sua carteira aliviado por ter passado por aquilo sem acidentes. Porém o pensamento esquecia o episódio para dar mais atenção à moça.

– Que raio de vampiro mais humano eu sou! Se pudesse aprender com alguém essas coisas não me aconteceriam!

Novamente a sala se aquietou para a nova escolha do professor.

– Agora sim as damas! – disse apontando para a tal garota do olhar. Talvez ela realmente se destacasse dos demais na visão de qualquer um.

A menina se levantou e timidamente foi até a frente da classe segurando um papel rosa que devia estar guardado num diário.

– Agora é a vez da senhorita... – quis saber o professor.

– Mia. – respondeu sussurrando. – Todas as noites espero pelo amor que está lá fora, mas eu nunca o enxergo e acabo dormindo antes que ele me faça um sinal. Antes que eu o convide para entrar. Meu coração teme de portas abertas que ele pense que eu não o quero e tenha desistido de voltar pra casa. Noites são pardas, duram na eternidade desabrochando de tempos em tempos no pôr do sol. – recitou a menina com ar de experiência própria.

Ao ouvir essa frase Vince tomou um susto se lembrando de onde podia tê-la conhecido. Seus dentes serraram a caneta que ele mordia e os caninos se avantajaram descontrolados estourando tinta pra todo lado.

– Mabelle! Ela é super parecida, e essa frase! – sussurrou se afogando.

– A não! De novo você jovem, achei que já havíamos terminado! Parece que temos alguém aqui querendo a aula pra si. Todo semestre é assim! – debocha o professor.

– Professor eu preciso sair agora! – gritou soltando tinta pela boca quase mostrando seus dentes pra toda classe.

– Eu devia não deixar, mas estaria lutando contra mim mesmo! Vai, some logo daqui! – autoriza o professor.

– Obrigado! E com todo respeito, eu não quero sua aula, tenho coisa melhor por aí! – devolve Vince correndo para o bebedouro em meio a risos e zoeira.

Na saída ele voltou para sala atrás de seu caderno, decidiu não ir na hora, ou o professor não passaria daquela noite se continuassem a se conhecer. Notou que a garota havia esquecido um caderno azul debaixo da carteira quando saia. Não hesitou em pegá-lo para devolver, assim criaria uma desculpa para conhecê-la.

Não entregou imediatamente, decidiu segui-la por entre as ruas, a observando de longe na alegria espontânea com as amigas até que chegaram onde parecia ser sua casa. A garota parou frente à porta por um instante enquanto Vince se escondia atrás de uma árvore.

– Tudo bem, pode sair! O jogo acabou, essa é minha casa! – disse a garota sem se virar.

Vince permaneceu escondido esperando para ver com quem ela falava.

– Não costumo falar com árvores e sim com quem se esconde atrás delas! – ironiza voltando o rosto para trás.

– Eu só estava querendo te entregar o caderno que você esqueceu! – disse acanhado.

– E porque não fez isso na faculdade? – perguntou incisiva.

– Eu queria saber mais sobre você! – respondeu baixo. – Não vai me convidar pra entrar? – terminou.

– Eu até poderia, mas depois dessa loucura de homem oculto acho melhor outro dia!

– Só pra tomar uma água ou sei lá! – insistiu Vince.

– Não! Você não entende! – gritou.

Nesse momento, levado pelo impulso de sentimentos que ele não entendia se aproximou rápido e beijou Mia profundamente de um jeito puro e descomplicado.

– Parece que já nos conhecemos a uma eternidade! – disse tonto correndo em seguida.

Mia ficou lá parada na frente de sua casa tentando entender o que tinha acontecido. Depois de algum tempo entrou, ia passando feliz pelo corredor que dava para os quartos quando uma voz vinda do escuro do escritório a indagou.

– Ele não quis entrar?

– Não! Eu insisti muito, mas não teve jeito! – respondeu desmontando a cara de felicidade.

– Talvez o truque do caderno esteja ultrapassado, quem sabe algo mais moderno e atirado possam fazer efeito!

– Eu vou pensar nisso! – disse a garota hesitante indo para o quarto em seguida.

O homem, que não engoliu uma só palavra do que Mia havia falado perguntou ao mais jovem que estava protegido pela escuridão total de um canto suas impressões.

– Ela nunca mentiu, se fez isso agora foi por um motivo forte. – respondeu frio.

– Você tem razão Théo! Precisamos saber qual urgentemente!

– Tem todo meu apoio Frans!

Enquanto os dois confabulavam Mia e Vince pensavam um no outro intrigados com a noite que tiveram. Sempre à noite...

Quando a chuva cai

Nas noites mais solitárias

Lembre-se que sempre

Estarei aqui

Se virou e alcançou o céu

E a última estrela

Nada deixava passar

Tudo lembrava ela.

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Continua...

Olá! Voltei! Nova série com direito a muitos capítulos de segredos, romances e mistério. No próximo tem a apresentação básica dos personagens e tudo disso e mais disso.

Quem quiser saber quem são os personagens, resumo da história, temas, etc.

Site: http://kamyllasantos.vilabol.uol.com.br/

E dessa vez uma apresentação:

http://www.dailymotion.com/video/xjih3j_vince-quando-o-amor-chega-a-noite-sem-convidar_shortfilms.

Brigadão!!!Acompanhem e comentem, plis!!!!!Bjus!!!Bye!!!!

Prólogo da história aqui mesmo com o nome Vicente o vampiro diferente.