Uma nova esperança [2]
Só um conselho
A medida em que caminhávamos pela luxuosa casa mais e mais empregados vinham se apresentar, felizes por ter mais alguém entre eles, como eram diferentes dos outros criados, alegres, solícitos e Socorro em poucos minutos fez mais por mim do que minha própria mãe fizera durante toda minha vida.
Chegamos a um lindo Banheiro, centenas de vezes mais bonito que o de o de Faustina Mascarenhas onde havia uma enorme banheira, Socorro me ajudou em tudo e me deu um lindo vestido de renda branco, com alguns detalhes em rosa, parecia ser de uma princesa.
-O patrão logo que vai trazer mais coisa para você, ele não vai lhe deixar faltar nada. Sabe menina, eu sei que pode parecer difícil gostar daqui agora, você parece ter sofrido muito mas tenha certeza de que esse é um lugar onde todos vivem felizes e estão aqui por querer, todos somos alforriados, sabia?
-O que?! Alforriados? Quer dizer que aquele homem horrível lhes deu a liberdade? Por que a mim ele quer manter prisioneira? Isso não é justo!
-Acalme-se menina, acho que foi um erro dizer isso, o que importa agora é que ele não quer que você se perca novamente, conheço o seu Acácio, se ele está te prendendo deve saber de alguma coisa ou de alguém que quer o seu mal. Ele não gosta que as pessoas sejam tratadas como coisas, fez questão de libertar cada um de nós assim que chegamos e nos paga todos os meses um bom dinheiro, nos deu, também um pedacinho de terra, fez uma escola para ensinar nossas crianças e até um médico ele manda nos ver regularmente. Ninguém quer ir embora da fazenda, em lugar nenhum no mundo você encontra o que nós temos aqui, estou certa de que você vai se acostumar logo e viver feliz como todos nós somos. Não deixe o medo e o ódio tomarem seu coração.
-Está sugerindo que eu me transforme em uma prostituta e agradeça por isso? Prefiro viver sob tortura, voltar para o mercado de negros e aturar mais senhores tentando abusar de mim do que dissimular felicidade e gratidão por alguém que me compra como se eu fosse uma coisa e ainda por cima quer que lhe tenha apreço. Sinto muito, mas o trato comigo é diferente, ele me quer para servir em outros lugares e, asseguro, prefiro mil vezes a morte.
-Eu não acredito que meu patrão vá te fazer mal, há muita coisa que você não sabe, mas teremos tempo para conversar, eu só te peço que não tente fugir, não jogue fora essa oportunidade e não o julgue sem conhecê-lo um pouco.
-Com licença, o jantar vai ser servido agorinha moça, você deve descer logo. -disse uma moça alta, magra e de cabelos ruivos.-
-Vamos minha filha, e lembre-se do que eu te disse.
Eu não conseguia entender a satisfação que toda aquela gente tinha por servir um monstro, se eles vissem como eu fui tratada não pensariam assim, eu garanto. Pobre Socorro, acreditando que aquele “homem” me comprara por pura bondade, eu sabia muito bem o que ele queria de mim, mas jamais conseguiria, jamais.
Apesar de não gostar nada de estar ali, tinha que admitir como o lugar era lindo, me enfeitiçava a cada segundo, bem decorada, iluminada, com móveis antigos e quadros espalhados por todos os cantos. Talvez um dos poucos lugares que não tinha aderido ao rococó, o barroco ainda estava presente e discreto dando o toque final àquelas paredes, era o cenário de um conto de fadas se transformando em palco de história de terror, ironias da vida!
A mesa estava posta como eu nunca vi, por mais ricos que fossem os Mascarenhas classe nunca foi seu forte e as coisas por aqui eram bem diferentes. O tal Acácio estava muito bem vestido, com sapatos engraxados, um terno, com certeza, feito sob medida, com o tecido mais caro, não usava gravata, seu paletó estava aberto, uma fina camisa de algodão deixava marcado o peito forte e então pude reparar melhor. Ele era bem alto, devia ter 1,85 m ou mais, os cabelos deviam ter sido bem pretos na juventude, mas os fios grisalhos já eram maioria, suas feições ainda eram sofridas, seu olhar não sabia mentir, olhos muito verdes, um rosto quadrado e lábios grossos, eu odiava admitir, mas era um homem muito bonito. Assim que me viu descendo a escada apoiada á Socorro se levantou com pressa, se ajoelhou á minha gente e deu um beijo em minha mão.
-Seja bem-vinda, todos estão te tratando bem? Vamos nos sentar, o jantar será servido e você deve estar faminta.
Como ele fazia isso? Sem que eu me desse conta já estava sentada em uma cadeira grande com estofado de veludo, me senti hipnotizada pelo modo como ele falava. Definitivamente eu não estava acostumada com gentilezas, mas não aceitaria tanta hipocrisia.
[continua]